Violência
*Aviso, esse capítulo contém cenas fortes de abuso sexual. Que podem ser desconfortáveis para algumas pessoas.
Já faz uma semana desde que eu vi o Geovani pela última vez, e ele bateu a porta na minha cara; como essa semana não teve aula, nem na faculdade eu pude vê-lo, isso acaba sendo bom por um lado, já que eu não tiro ele da minha cabeça, e depois do fora, totalmente justificado que ele me deu, estou feliz de ficar distante um tempo pra por a cabeça no lugar e focar em outras coisas mais importantes, mas também é ruim, pois é difícil admitir que eu estou morrendo de saudade dele, e pelo menos ver ele na faculdade ajuda com isso.
Hoje pelo menos eu começo a trabalhar, com os currículos que eu mandei, acabei conseguindo um emprego como estagiária no recursos humanos de uma empresa, e eu estou feliz, não só pelo dinheiro extra, já que minha mãe disse fazer questão de continuar me mandando uma quantia, mas como também ter algo pra ocupar a cabeça. Quanto mais ocupada eu estiver, menos tempo pra pensar no Geovani eu tenho, e isso por si só já é uma graça alcançada.
Chego no novo emprego no horário combinado, e tudo é perfeito. Meus colegas são muito simpáticos, minha chefe é uma pessoa maravilhosa, do tipo que dá ânimo de se ter por perto.
Minha função é explicada e logo faço amizade com uma das moças que também trabalham no RH, a Patrícia, que parece ser alguém incrível pra se ter amizade, já até imagino eu ela e a Ana saindo juntas.
Quando vai chegando ao fim do expediente sou chamada pra um happy hour, após o trabalho, pra comemorar minha chegada. Eu fico meio em duvida, mas acabo aceitando o convite, graças a insistência da Patrícia.
Não demora muito até chegarmos no barzinho, que já é um lugar onde as "festinhas" da empresa - como a Patrícia chama --são realizadas e onde nos encontramos com o resto do pessoal.
O lugar é bem tranquilo, a música não é muito alta e não está lotado demais. Sentamos numa das mesas, e logo todos chegam, e começam a beber e conversar.
Eu converso com Patrícia o tempo todo, ela é uma mulher negra belíssima, alta, com um corpo de dar inveja, casada, mas sem filhos, sempre muito simpática e divertida, conversamos sobre muita coisa, ela me conta várias histórias e fofocas do pessoal da empresa e me arranca risadas o tempo todo.
- Então, e teve uma vez que a Julia, ruiva que trabalha com a gente no RH ficou trancada no banheiro masculino da empresa, ela disse que entrou por engano, mas todo mundo suspeita que ela tava saindo com alguém da empresa e não quis falar nada, eu acho que ela fez o certo, por que se falasse todo mundo ia ficar enchendo o saco dela com isso pra sempre.
- Mas eu duvido que o pessoal não tenha ficado enchendo o saco dela de qualquer forma.
- Ficaram, claro. Mas mais por curiosidade que qualquer outra coisa, o que já é muito melhor. E eventualmente o pessoal parou de falar, mesmo que só tenham parado de falar na frente dela, o que não ia acontecer de fosse um caso na equipe, ou seja, já fica a dica pra você que é linda e solteira não se envolver com o pessoal, principalmente se quiser evitar falatório. Mas enfim, não olha agora, mas tem um cara ali na mesa do lado que tá te comendo com os olhos desde que chegou.
- Quem? onde? - falo e dou uma olhadinha na mesa do lado, onde vários rapazes estão sentados - Qual deles?
- O de cabelo preto, o mais bonitinho na minha opinião - e realmente o tal rapaz de cabelo preto era realmente bem bonito. Olhos castanhos, nem magro nem gordo, pele bronzeada, de calça jeans e camiseta preta. O que mais se destacava nele era a boca, os lábios carnudos e um sorriso lindo.
Ficamos nos encarando durante a noite toda, e trocando sorrisinhos, até que quando estou prestes a ir embora ele toma coragem e chega em mim.
- Oi moça, já está indo?
- Oi, infelizmente sim, já vou.
- Não quer ficar e tomar algo comigo? Também podemos ir pra minha casa e tomar algo lá... Uma cerveja, um refrigerante, um banho... O que você achar melhor. - diz ele com um daqueles sorrisos encantadores.
- Não sei se quero ir pra casa de um cara que eu nem sei o nome, e se você for um psicopata maluco?
-Bem, pois meu nome é Bruno moça, e o seu?
-Mellanie.
-Então Mellanie, e agora que você já sabe meu nome? Te prometo que não sou nenhum psicopata, muito menos maluco!
- Não sei se posso acreditar nessa informação, se você fosse um psicopata não ia contar pra mim.
- Claro que eu contaria! E depois eu te mataria. Mas isso é só um detalhe - Fala ele e ambos rimos, ele é um cara cativante. Simpático e bem humorado. Depois de mais alguma conversa acabo aceitando ir pra casa dele, que é bem perto dali na verdade.
Chegamos na sua casa, e o lugar é bem pequeno, mas de certa forma acolhedor. Bruno vai até a geladeira e pega uma cerveja pra cada um, que tomamos enquanto sentamos no sofá e conversamos sobre a vida.
- E o que você faz da vida, Mel? Posso te chamar de Mel?
- Pode, pode sim. Eu estudo psicologia e trabalho no RH de uma empresa e você?
-Psicologia, legal! Só não vale ficar me analisando viu! Eu trabalho com computação.
- Ah, que legal! E pode deixar, que eu não analiso ninguém, não de graça! Mas, então você é daquele tipo que gosta de um computador?
- Olha, eu gosto bastante viu, se deixar eu fico o dia inteiro na frente da tela. E o melhor é que é algo que eu sou realmente bom. Mas sabe outra coisa que eu sou bom?
- o que?
- Beijos, eu sou muito bom com beijos. Quer ver?
- Na verdade, eu quero ver sim. Preciso saber se é tudo isso mesmo!
Bruno se inclina sobre mim, e me beija. Quando seus lábios tocam os meus eu espero sentir o calor que sinto quando o Geovani me beija, o entusiasmo, o desejo, mas nada vem, eu não sinto nada, nem mesmo uma faísca.
Eu sei que não é culpa dele, ele realmente é bom em beijar, dá pra ver, então continuo beijando ele mesmo sem sentir nada, com esperança de em algum momento o calor surgir.
As coisas vão avançando, sinto as mãos do Bruno nos meus seios, sinto ele abrindo minha calça e tentando colocar sua mão ali, ouço o barulho do preservativo sendo aberto, o tempo todo eu estou ali, sentindo, acompanhando os movimentos dele, tocando nas partes certas e tirando suas roupas, mas sem sentir nada de verdade, nada do que eu esperava. Até que minha cabeça viaja e eu penso no Geovani, no seu corpo, em nós dois na cama, e o desejo vem todo de uma vez.
Estou na cama com o Bruno, mas minha cabeça está no Geovani, isso não é justo, mas não consigo evitar; quando Bruno encaixa seu membro em mim, eu fecho os olhos imagino sendo Geovani fazendo isso e solto um gemido alto. Sentindo prazer pela primeira vez naquela noite.
- Isso sua safada geme pra mim vai, gostosa.
- Ah, Geovani. - Eu grito seu nome.
E tudo para por um momento. Eu não percebo o que aconteceu, até ser tarde demais. Mas Bruno percebeu é claro e quando o Bruno enfia em mim novamente ele é bruto, ele me segura pelos ombros com muita força, ao ponto das juntas dos seus dedos ficarem brancas. Sua expressão mudou, é como se ele fosse outra pessoa, seus olhos estão escuros, da pra sentir a raiva emanando dele.
- Bruno, desculpa, me desculpa.
- Cala a boca.
- Me solta Bruno, você está me machucando.
- Eu mandei você calar a porra da boca!!
Então ele volta a se movimentar dentro de mim, com muita violência.
- Bruno, para, por favor. Tá doendo, você está me machucando.
Eu peço, eu imploro, mas ele não para, eu estou chorando, mas ele não parece se importar, ele é cada vez mais violento, mais bruto. Quando vai gozar ele morde meu pescoço e eu grito de dor.
Assim que ele termina ele sai de perto de mim, não diz uma palavra e se tranca no banheiro. Eu estou assustada, chorando e minhas pernas estão tremendo pelos motivos errados, eu só quero ir embora daqui o mais rápido o possível.
Coloco minhas roupas e praticamente corro pra fora da casa dele. Pego o primeiro ônibus que passa, não me sinto confortável de pegar o celular na bolsa pra chamar um Uber, desço no primeiro ponto que eu reconheço, em um bairro que não é o meu.
E eu sei pra onde eu vim, eu sei de quem eu vim buscar consolo, mas continuo o caminho, não me permitindo pensar no motivo de eu vir justamente pra esse bairro.
Um momento depois estou batendo na porta da Ana, eu ainda estou tremendo, e estou chorando muito.
- Mel, meu Deus, o que aconteceu?
- Eu, eu tava com um cara e... -
Eu não consigo falar, as palavras não saem da minha boca. Eu só fico ali, chorando.
- Calma, se acalma, entra, toma um banho, vou preparar um chá pra você e depois a gente conversa pode ser?
- O-ok. Eu, eu não quero por essa roupa Ana.
- Fica tranquila, vou arrumar roupas limpas pra você.
Eu tomo um banho, e consigo ficar ligeiramente mais calma. Coloco as roupas que a Ana separou pra mim e tomo o chá, sentada com ela no sofá.
- Você está melhor agora? Quer me contar o que aconteceu? Tem alguma coisa haver com o Bernardo?
- Não, não tem nada haver com ele, eu tava com um cara, eu conheci esse cara no bar, eu fui com o pessoal do emprego pra comemorar, e ele estava lá com uns amigos. A gente conversou um pouco e fomos pra casa dele...
- Ele te obrigou a fazer algo que você não queria?
- A gente tava ficando e, ele era legal e engraçado, mas eu não sentia nada... Eu, eu comecei a pensar no Geovani, e eu acho que chamei ele pelo nome errado. Nessa hora, a personalidade dele mudou completamente, ele ficou.... Violento. Eu pedi pra ele parar, mas ele não parava, ele não parava Ana - eu começo a chorar novamente. E a Ana me puxa pra um abraço.
- Você quer ir a policia fazer um boletim de ocorrência?
- Não, não, foi culpa minha, eu, eu não devia ter.... Foi culpa minha.
- Mel, isso não foi culpa sua. Me olha, por favor. Não foi culpa sua, independentemente de você ter consentido antes ou de ter ido com esse cara pra casa dele. Nada dá a ele o direito de fazer o que ele fez, entendeu, nada. Eu entendo você não querer ir na polícia, até porque eu também não fui. Mas nada disso torna o que ele fez menos horroroso, e de forma alguma é culpa sua. Você me entendeu?
- Si-sim.
- Você está machucada? Quer ir ao médico?
- Não, não tô machucada, meu pescoço esta doendo porque ele me mordeu, e meu ombro, porque ele me segurou com muita força, mas nada que precise ir ao médico, nada físico, pelo menos.
- Ok. Vou te dar um remédio pra dor e essa noite você vai ficar aqui em casa tá bom. Amanhã eu te levo pra sua casa e vou ficar um pouco lá com você. Até você se sentir melhor. Você pode contar comigo, ok.
- Obrigada Ana. Você é uma ótima amiga, por me ajudar nesse momento.
- Não Mel, como sua amiga é minha obrigação te ajudar nesse momento. O que faz eu ser uma ótima amiga é eu ser uma pessoa MA-RA-VI-LHO-SA.
- Hahaha, você é maravilhosa mesmo!
-Aí, eu sei tá bom, eu sei! Sou tá maravilhosa que nem vou ficar brava de você não ter perguntado nada sobre a Camila!
- Ana! Me desculpa, é tanta coisa que eu acabei me esquecendo. Como estão as coisas?
- Eu estou tão feliz Melzinha, ela é uma pessoa tão incrível e ela me faz tão bem. E ela, ela entende sabe. Ela tem uma ordem de restrição com o ex dela, o negócio foi feio, mas ela conseguiu ir até a justiça e pediu ajuda. E agora ela está melhor, nós temos tanto em comum.
- Eu estou tão feliz por você, e por você ter se permitido sabe?
- O primeiro passo é o mais difícil, admitir que tem sentimentos por outra pessoa depois de tudo, e confiar em alguém, isso é muito duro, foi muito trabalhoso, principalmente aceitar que eu estava apaixonada, isso foi o mais difícil. Mas depois, as coisas foram fluindo sabe?
Conversei muito tempo com a Ana, ela conseguiu me acalmar e ter conversado sobre outras coisas tirou minha cabeça do que aconteceu. No outro dia ela arrumou algumas roupas numa mala e disse que vai passar uns dias na minha casa, eu disse pra ela que já está tudo bem, mas ela não acredita, ela diz que eu preciso de companhia, principalmente nesses primeiros dias, até a ficha cair, no fundo talvez eu até ache que ela tem razão. E no fim de tudo, uma frase do que ela me disse fica, na minha cabeça "aceitar que eu estava apaixonada, isso foi o mais difícil", será, será que eu estou passando pela mesma coisa?
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