7| A balada
São quase 9 da noite quando a Ana passa para me pegar. Decidi colocar uma saia curta brilhante preta e uma blusa branca com um decote profundo. Nos pés, botei uma sandália preta bonita, e caprichei na maquiagem, e o cabelo deixei solto mesmo, caprichei no visual, e estou me sentindo linda. Mas será que não exagerei? Será que não vão pensar que sou vulgar? Antes que eu deixe minha cabeça viajar por esses pensamentos, ouço a buzina da Ana e me permito sair correndo, com a certeza de que estou linda, e com esperança de ninguém falar nada além disso sobre minha aparência.
— Até que enfim, hein. Achei que não ia sair nunca!
— Ah, nem vem. Eu não demorei tanto assim!
— Você diz isso porque não era você que estava esperando! E a propósito, você está linda, valeu a pena esperar uns minutinhos para te ver assim! Haha.
— Você está linda também! Tenho certeza de que todo mundo vai ficar caído de 4 por você!
Ana estava mesmo linda, usava um body preto, com as costas abertas, saia de couro preta e uma dessas botas que vão até as coxas, usava uma maquiagem que destacava bastante seus olhos verdes.
— Por você também, principalmente um certo professor.
— Meu Deus, para com isso e nem me lembre dele que ainda estou brava com você por chamar ele!
— Pois saiba que você é a única, inclusive recebi várias mensagens das meninas da sala me agradecendo ou elogiando por chamar ele, viu? Tome cuidado, que a concorrência é grande!
— Não tem concorrência, porque eu não estou interessada!
— Nem você acredita mesmo nisso, Mel!
E ela tinha razão, nem eu acreditava naquilo, eu obviamente me sentia atraída por ele, mas ele é um homem bonito, é normal se sentir atraída, isso não significa nada. Ele continua sendo meu professor, e além do mais, ele nem vai prestar atenção em mim com tanta concorrência!
Logo que chegamos, encontramos o pessoal, ainda do lado de fora, todo mundo que disse que viria tinha chegado, menos ele, talvez ele nem viesse afinal.
O lugar era muito bonito, tinha algumas mesinhas no canto perto do bar, mas a maior parte do lugar era pista de dança, que já começava a encher de pessoas.
Fomos até o bar, pedimos algumas bebidas, e a maioria do pessoal já foi logo para a pista de dança, eu, que ainda precisava de mais umas bebidas para tomar coragem de ir para a pista fiquei numa das mesas conversando com a Ana, pelo menos até um dos caras chamar ela para dançar e eu acabar sentada sozinha, fim de carreira total. Como não queria ficar sozinha, parecendo abandonada no meio da multidão, fui ao bar e virei algumas doses de bebida para tomar coragem.
Depois de algumas rodadas, eu já estava mais solta, pronta para o que quer que a noite me reserva. Fui para a pista de dança e dancei como uma louca, dancei com as meninas, com uns caras, com gente que eu nem conhecia, eu estava me divertindo muito, até que, a certa altura, depois de muitas danças e de muita bebida para todo mundo, a Ana chega e fala para mim:
— Não olha agora, mas alguém finalmente chegou.
E eu olhei, claro que olhei, mas vi mais do que a Ana, que obviamente falava do professor Geovani, que vinha em nossa direção, lindo, com uma camisa de botão com os botões de cima abertos, mostrando parte do seu peitoral musculoso e calça jeans com um tênis preto.
O que a Ana não viu foi o Bernardo logo atrás, de mãos dadas com uma loira platinada lindíssima que parecia até uma modelo, e vestia um vestido minúsculo. Eu fingi não ver e fui com Ana buscar mais uma bebida, porque naquele momento eu precisava muito de um drink.
Quando estou voltando para a pista de dança, quase dou de cara com meu professor, que fica parado me olhando com um sorriso no rosto.
— Opa, desculpa, professor.
— Pode me chamar de Geovani, aqui eu não sou seu professor. Haha, você gosta de trombar comigo, hein, Mellanie?
— Não entendi profe… Digo, Geovani.
— Haha, deixa para lá. Quer ir dançar? Com o pessoal, quero dizer…
— Claro! Vamos lá!
Nem me dou tempo de processar o que ele queria dizer com aquilo, ou o modo como ele me encarou de cima a baixo, muito menos como ele ficou vermelho quando me chamou para dançar. Só segui com ele até encontrarmos o resto do pessoal.
— Finalmente chegou, professor! — falou uma aluna que eu sinceramente nem lembrava o nome por cima da música, que tratou logo de puxar Geovani para si e monopolizar a atenção dele para ela.
— Cuidado, vai escorrer o veneno! — Ana chega ao meu lado e fala.
— Que veneno, ele pode dançar com quem quiser!
— Em sua defesa, pelo olhar dele, eu acho que ele preferia dançar com você!
— Você não sabe do que está falando, não tem nada a ver!
— Não? Vi o jeito que ele te olhou, tá bom, não adianta fingir, ele te comeu com os olhos! Ah, não…
Antes que eu tenha tempo para perguntar à Ana o que foi, percebo Bernardo vindo na nossa direção.
— Bernardo, eu…
— Olha, Mellanie, você quer se fazer de difícil para mim, tudo bem, pode ficar fazendo o que você quiser. Eu não vou ficar esperando, tá entendendo? Então, se diverte aí, leva sua vida de biscate, que é o que você quer, e quando você cansar, pode me procurar, tá certo? Só não demora muito que posso achar alguém mais interessante nesse meio tempo!
— Bernardo, o que você está dizendo? Você tá bêbado? — entretanto Bernardo nem se dá ao trabalho de me responder, ele se vira e beija Ana na boca, que corresponde ao beijo dele e depois do que parece uma eternidade ela empurra ele e sai correndo em direção ao banheiro, eu olho para o Bernardo chocada que só dá uma piscadela e se dirige em direção à saída.
No mesmo momento, eu sei o que fazer, vou atrás da Ana tomada pela raiva e por uma coragem que eu não tenho, pelo menos não quando estou sóbria. Entro no banheiro e fecho a porta, ela está chorando na pia. Nem me dou tempo de processar antes de começar a gritar.
— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? ACHEI QUE VOCÊ FOSSE MINHA AMIGA!
— Mel… eu… não… pelo amor de Deus…
— NÃO ME CHAME DE MEL SUA, SUA VAGABUNDA!
— Vagabunda? Mellanie, do que você está falando? Você não acha que eu…
— EU NÃO ACHO NADA, ANA, EU VI!
— VIU? VIU O QUE? O BABACA DO SEU EX NAMORADO QUE TRATA VOCÊ QUE NEM LIXO ME BEIJANDO A FORÇA PARA MEXER COM VOCÊ?
— CALA A BOCA, VOCÊ NÃO SABE DO QUE ESTÁ FALANDO!
— NÃO SEI? VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI? QUE EU NÃO ENTENDI, QUE ELE ERA ABUSIVO, QUE ELE JÁ BATEU EM VOCÊ? POR QUE VOCÊ ESTÁ DEFENDENDO UM CARA QUE NÃO VALE NADA MELLANIE?
— PORQUE ELE ME AMA! E EU AMO ELE!
— ENTÃO POR QUE VOCÊS NÃO ESTÃO JUNTOS? SE ELE TE AMA PORQUE ME BEIJOU A FORÇA? NA SUA FRENTE? POR QUE CHEGOU AQUI COM OUTRA MULHER ALEATÓRIA? POR QUE, MELLANIE? VOCÊ SABE O PORQUÊ!
— CALA A PORRA DA BOCA!
— POR QUE ELE NÃO AMA VOCÊ, PORQUE ELE NÃO AMA NINGUÉM E DÚVIDO QUE ELE TENHA TE AMADO UM DIA!!!
— CALA A BOCA, PORRA! ME DEIXA EM PAZ! QUE DROGA! — Antes que eu possa evitar, eu vou para cima da Ana, pego-a pelos ombros e chacoalho. Ela fica quieta, eu fico quieta, eu sei que devia pedir desculpas, mas não tenho forças para dizer mais nada, e o que eu diria também? Me desculpa por ser uma amiga de merda e defender alguém que não merece? Ou me desculpa de eu quase te bati, por que sei que você está certa e não quero admitir isso?
— Vou deixar você em paz, olha, sei que você está confusa, é difícil passar pelo que você está passando, mas você não está sozinha. Vou embora agora, vou chamar um uber porque bebi muito e não posso dirigir, depois você me liga, ok? E por favor, só não me mete nessas merdas, eu não tenho e nunca vou ter interesse naquele cara, eu já tive minha cota de merda, não preciso de mais. Eu não estou brava com você, só estou… Preciso de um tempo, então me liga quando você estiver melhor.
Ana sai do banheiro e me deixa sozinha, limpo meu rosto, que está molhado de lágrimas que eu nem reparei que chorei, penso por um momento, sei que a Ana esta certa, sei que o Bernardo não vale nada, e que preciso esquecer ele de uma vez por todas, eu preciso pensar em mim, e preciso parar de acreditar em cada palavra que aquele cara diz, ele quase me destruiu uma vez, não vou deixar isso acontecer de novo.
Com os ânimos revigorados, lavo meu rosto, retoco minha maquiagem e volto para a pista. Falo para as pessoas que a Ana foi embora, pois não estava se sentindo bem e aproveito o resto da noite, um passo mais perto de me sentir livre.
Algumas horas se passam e me sinto feliz, cansada e bêbada. Meus amigos estão começando a ir embora, e tenho a primeira chance de ficar perto do Geovani, agora que ele não tem um monte de alunas monopolizando a atenção dele o tempo todo.
— E aí, se divertiu hoje?
— Me diverti, sim, e você? Você está bem? Como você vai embora?
— Muitas perguntas, Geovani, sim, eu me diverti e estou bem, como não me sinto há um bom tempo, tomei um choque de realidade hoje e, no fim, foi bom para mim.
— Tem a ver com o cara que gritou com você e beijou a Ana?
— Tem, na verdade, tem, sim, mas tem mais a ver com a Ana que com ele. Mas, eu não achei que você tivesse reparado nisso, você parecia muito… entretido…
— Reparo em muitas coisas, Mellanie, mas você não disse, como vai embora? Ouvi que você veio com a Ana, e ela já foi embora e você não está em condição de dirigir.
— Vou de uber!
— Meio perigoso, não? Onde você mora? Posso te dar uma carona?
— Você é mais seguro que um uber?
— Gosto de acreditar que sim!
— Bêbado?
— Eu não bebi Mellanie, eu não bebi quando estou dirigindo, só bebi refrigerante, pergunte para quem quiser.
— Ninguém nem está sóbrio para responder… Mas, acredito em você. E aceito a carona.
Eu só preciso mandar uma mensagem, ok?
— Para o namorado?
— Para Ana, não tenho namorado.
— Bom saber.
Mel: estou indo embora, desculpe por hoje, eu fui uma otária! Você é a melhor do mundo. Vou pegar uma carona com o Geovani e, pasme, me sinto ótima com isso.
Ana:OMG, muitas revelações. Você não foi uma otária, seu ex foi! Você só está acostumada a acreditar nele, mas vamos mudar isso. Fico feliz de saber que está com o Geovani, ele foi o único que não bebeu hoje, e fico mais feliz em saber que finalmente admitiu seu crush.
Mel: Não admiti nada, cala a boca! Ele disse que não tinha bebido, mas achei que era mentira hahaha.
Ana: Não é mentira não, ele é responsável, gostei disso… Mais um ponto para ele! Se cuide e use camisinha!
Mel: cala a boca!!!
Geovani está me observando com atenção, claramente curioso para saber o motivo da minha risada. Como ele sabia que eu estava avisando que ia com ele para casa, ele deve imaginar que a conversa era sobre ele, e a risada também. Quando chegamos ao carro, tomo coragem finalmente.
— Ela me disse para usar camisinha.
— É... O quê? Desculpa, do que você está falando?
— A Ana, ela acha que tenho um crush em você e me disse para usar camisinha, por isso eu estava rindo.
— Ah… E por que a Ana acha isso?
— Porque uns dias atrás contei para ela que sonhei com você.
— Você… Sonhou comigo?
— Sonhei.
— O que você sonhou?
Fico em silêncio, sei que a bebida está me encorajando, mas mesmo assim não sei se quero contar, ainda não pelo menos. Depois de alguns segundos, ele quebra o silêncio.
— Ela está certa?
— Sobre o quê?
— Você tem? Um crush em mim, no caso.
— Sim, ela está certa.
O carro fica em silêncio de novo, e antes que eu possa me impedir, me vejo perguntando:
— Posso te beijar?
— Pode.
Eu me inclino e beijo ele, no começo o beijo é suave, doce, mas não demora muito para as coisas começarem a esquentar, ele pega no meu cabelo e me segura contra si enquanto faço o mesmo, o beijo logo se torna quente, e eu solto um gemido abafado na boca dele, é ainda melhor que beijar no sonho, não importa o quanto eu esteja bêbada, esse é um beijo que não vou me esquecer nunca.
— Precisamos parar agora, ou eu não vou conseguir parar mais.
— Eu não quero parar.
— Você está bêbada, a gente está num carto, no meio do estacionamento de uma balada. Eu não quero que isso aconteça assim, e você também não quer. Isso precisa parar agora.
Ele se afasta de mim e prende o meu cinto. Ele está certo, é claro, quando o efeito da bebida passar, eu vou estar tão envergonhada, que não vou querer olhar na cara dele nunca mais. Se a gente tivesse transado no meio de um estacionamento, no carro, isso só pioraria as coisas, mil vezes. Concordo com a cabeça e encosto no vidro do carro, eu digo “sonhei, que a gente estava transando, e gozei dormindo, foi isso que contei para Ana” e essa é a última coisa de que me lembro antes de adormecer.
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