Comemoração.
Hoje seria o jantar de comemoração da empresa Ferraz para todos os funcionários. A sucursal italiana conseguiu bater a meta que era prevista para o ano, sendo assim Conrado, seus socios e investidores decidiram fazer um grande evento de comemoração. Por sorte meu amigo querido botou meu único vestido de "gala" em minha mala e eu estava preparada. Não era nada luxuoso mas também não era baratinho, minha avó que me presenteou. Eu estava super simples, meu vestido era rosa bem clarinho com alguns detalhes que brilhavam quando a luz batia, longo e com um decote generoso. Prendo meu cabelo em um coque e faço uma make bem normalzinha, nada digno de blogueiras.
Pego minha bolsa de mão e saio do quarto, logo na frente do hotel tem um táxi me aguardando eu cumprimento o motorista e me sento no banco de trás. Mando a foto que tirei para Taylor e logo recebo uma mensagem dele.
Tay.
Uauuu, simples mas poderosa. Esse vestido é msm lindo, arrase e bjs sua maravilhosa ♥️😘
Mando como resposta aquele coração pulsante e grande e desligo o celular o colocando na bolsa.
Essa bolsinha era muito pequena para quantidade de coisas que tenho que levar, ela está quase estufando. Coloquei o cartão do quarto, meu celular, documento, batom, absorvente pois estou com o mar vermelho revolto e uma base. Difícil será fazer xixi com esse vestido e pior ainda é trocar o absorvente, quando estou menstruada parece até que tem uma torneira aberta em minha vagina que faz descer sangue a todo momento. Será que eu poderia ser homem? Só pra ver como é passar um ano sem me preocupar se estou suja ou que daqui a alguns dias vou virar um demônio em corpo de princesa.
Agradeço a Deus que chegamos, pago o motorista e encontro Fred e os outros logo na frente do imenso jardim
— Minha nossa mais que gata. — Frederico grita e me abraça, cumprimento os outros e agradeço os elogios.
— Eu juro que nunca pisei em uma casa tão grande quanto essa. — Uma das mulheres que nos acompanha diz, e realmente a casa que na verdade era uma grande mansão por fora parecia a casa Branca. Enorme e muito bem feita.
Assim que entramos na casa somos recepcionados por Conrado, sua mãe e digamos que este deve ser seu pai. Que é muito bonito por sinal, um pouco mais baixo que Conrado, cabelo grisalho e olhos bem azuis assim como os do filho e sorriso contagiante. Abro um super sorriso e os cumprimento como qualquer funcionária da empresa evitando olhar muito tempo para a mãe de Conrado, será que ela sabe que sou a funcionária de seu filho? Ela pareceu não me reconhecer e eu agradeci por isso.
Os olhos e a expressão de Conrado me dizem o que sua boca não diz, ele está com um minúsculo sorriso e me perfura com seus olhos azuis. Um gato sem tamanho com esse terno preto sob medida e gravata vermelha com um broche do símbolo da Ferraz pregado sobre ela.
Sigo os outros mais para dentro da bela casa e olho de forma sutil tudo em volta. Grandes pilastras sustentam a casa, uma escada digna de televisão dá um toque chiquérrimo para a construção, com um tapete vermelho. Estátuas gregas estão espalhadas por todo canto e uma orquestra da um show em um palco montado no canto da sala mas em grande evidência.
— Senhorita? — Um garçom que aparenta ser um pouco mais velho que eu me oferece algo que está em sua bandeja, pego o guardanapo personalizado com o nome da empresa ao lado e levo o que está na bandeja até a boca. Quando sinto aquele treco em minha língua eu jogo ele pra fora na mesma hora, sendo que no guardanapo, olho pro lado pra ver se alguém viu mas o único que presenciou a minha pagação de mico foi o garçom.
— O que é isso?
— Escargot. — Fiquei na mesma.
— Escargot?
— Caramujo, ou caracol se preferir. — Ai Deus, que nojo. Que porra tem na cabeça desses ricos?
— Muito obrigada mas eu não quero mais nada disso.
— Pensei que vocês gostassem dessas coisas estranhas e sem contar que o cheiro não é tão bom.
— Eu não, prefiro mesmo um hambúrguer cheio de gordura daqueles bem baratinho. — Ele me olha surpreso, será que pensa que sou rica? Quase dou risada, nem cara de rica eu tenho.
— Não precisa se preocupar eu sou ralé e não rica, sou só a secretária.
— Bem que eu estava achando estranho, gostei de te conhecer. Quando vier algo que é do agrado do nosso paladar mais normal eu vou lembrar de você e te procurar por aí. — Concordo e ele se afasta.
Pego uma taça de champanhe e dou um grande gole.
Um tempo depois Conrado me procura, agora tenho que fazer o papel de secretária e ajudá-lo em algumas questões. O sigo por todo o salão como uma cachorrinha de estimação enquanto sou ignorada por quase 90% das pessoas, eu pareço a mulher invisível. Mas meu ânimo logo melhora quando meu amigo garçom que agora sei o nome dele que é Nicholas, se aproxima com uma bandeja de camarão. Ele sorrir e mexe as sobrancelhas para mim quando se aproxima, eu pego um camarão depois outro.
— Eu vou dar mais uma volta e já te trago mais alguma coisa normal. — Ele diz sorridente.
— Eu iria agradecer por isso. — Estamos cochichando para ninguém ouvir.
Uma juba loira passa por mim como raio e se agarra a Conrado.
— Ai que felicidade que sua empresa conseguiu bater as metas. — Valquíria Andreatta diz para Conrado e abre um sorriso sedutor.
— Obrigado por isso.
— Disponha, boa noite a todos, eu quase não vim mas eu não podia faltar a este evento e vir aqui lhe parabenizar por isso, não só você mas também aos meus sogros. — Fica estampado o desconforto na cara de Conrado e mais ainda na cara de sua mãe que está com um sorriso super forçado no rosto.
Faço meu belo papel de "parte da decoração" enquanto seguro uma pasta com alguns papéis e documentos. Abro um sorriso de felicidade e alívio quando Thomaz se aproxima de onde estamos, ele diferente da maioria das pessoas me cumprimentou e depois que trocou algumas palavras com Conrado e seus pais ele voltou a se aproximar de mim, deu seu braço para que eu botasse o meu.
— Agora você será minha acompanhante, sabia que é a mulher mais bela do local? — Solto uma risada e balanço a cabeça, olho pros lados e sou ofuscada por brilho e glamour. Meu vestido é simples e eu estou super sem graça.
— Quem dera, olha a roupa da acompanhante do senhor Ferraz um luxo só. — Magda está acompanhando Conrado, fiquei um pouco chateada e decepcionada? Sim. Sei meu devido lugar e sei também que não é do lado dele pois sou somente a secretária? Com certeza.
Mas mesmo assim não consigo ficar a vontade os seguindo como um cão de guarda ou um cãozinho abandonado. E é por isso que sigo com Thomaz até a mesa de quitutes e canapés.
— O que adianta estar tão bela e ser tão amarga? — Ele diz, fico observando ele por um momento e resolvo falar pois não sou baú.
— Vocês já tiveram um lance né? — Sua cara de surpreso me faz rir.
— Foi uma longa história.
— E por que você não gosta da Valquíria, também? — Pergunto e como um negócio que é delicioso e só sei que tem queijo no meio.
— Ela é uma vaca, minha vontade é dar uma surra nela mas sou incapaz de fazer isso com qualquer dama mesmo o nível de safadeza dela sendo muito apurado. Eu ainda sou um cavaleiro.
— Qualquer dia eu dou uns tapas nela por você. — Digo o fazendo dar risada.
Ficamos conversando e comentando sobre as roupas dos convidados durante vários minutos, até que ele precisa ir ao banheiro e Conrado se aproxima.
— Senhorita Carter, o que faz aqui? Você está sendo paga para ficar ao meu lado caso eu precise e não para ficar andando por aí como se fosse a anfitriã do evento. — Nossa.
Ele está sério e concentrado diretamente em meus olhos, primeiro vem o choque das palavras dele e depois a realidade. Mas minha língua é solta e eu não guardo os comentários como alguém sensato.
— Não precisa me lembrar do cargo que eu ocupo, já sei que faço parte da decoração sendo que não mexo nem a cabeça quando estou ao lado do seu pessoal já que eles são educados o bastante para ignorar uma pessoa que faz parte da equipe mesmo sendo de um cargo bem inferior, mas vamos lá senhor Ferraz o chefão primeiro. — estico meu braço e vejo a surpresa em seu olhar ele não esperava pelas minhas palavras. — Mas antes, será que o senhor me daria permissão de ir ao banheiro? Ou será que isso só quem faz é o anfitrião?
Júlia Carter, engula a língua!
— Vá. — Passo por ele como uma flecha e entro no banheiro me trancando em uma cabine, pra fazer xixi é uma merda com esse vestido longo. E é por esse motivo que não gosto de usar calcinha com vestido, é bem mais prático só levantar e mijar. Mas eu fui inventar de colocar lingerie agora deu nisso. Mas a culpa é de quem? Do Chico que sai da minha amiguinha.
Quando saio do reservado dou de cara com Valquíria, ela está passando batom enquanto se olha no espelho. Me aproximo da pia e lavo as mãos antes de retocar a maquiagem também.
— Olá… Júlia né? — Aceno com a cabeça e ela abre um sorriso. — Júlia Carter de La Fuente.
Dessa vez ela tem minha atenção.
— Qual o motivo do nome todo? — Ela sorrir e se aproxima de mim.
— Por que você fugiu de sua cidade natal? Conrado sabe dessa história? — Sinto que o sangue some do meu rosto. Como ela sabe disso? A safada está pesquisando sobre minha vida, se metendo em coisas que não deve! Isso é problema somente meu, não posso permitir que essa atriz de meia tigela faça isso.
— O que você quer? Me diz Andreatta.
— Eu quero mostrar pro Conrado que você é uma pobre louca por dinheiro. Quer dar o golpe para se mandar da Espanha onde eu sei que você aprontou algo, não sei o que mas vou descobrir. — Meu temperamento espanhol ataca e como os bons de briga que somos eu agarro seu braço e a encosto contra a parede.
— Não se meta em minha vida, eu não preciso de homem para viver. Independente do quão rico ele possa ser, não sou uma aproveitadora igual você. Não queira me ter como inimiga, não tente se meter em minha vida ouviu bem?
— Você é uma selvagem, deve está sendo procurada por assassinato. Será que Henrique te lembra algo? — Aperto ela ainda mais contra a parede, sinto meu sangue ferver e meus olhos lacrimejarem de raiva.
— O que você sabe sobre isso? Deixa esse homem fora disso! Não se meta em minha vida, você não conhece nenhum de nós.
— Para ter Conrado sou capaz de tudo. — Ela se livra de mim e me empurra e como duas selvagens e com vestidos longos nós brigamos no banheiro, ela grita como uma galinha, saindo em desvantagem.
— Merda, separe elas. — Ouço a voz de Conrado mas o que eu mais quero agora é continuar batendo nessa mulher de quinta.
— Conrado, tira ela de mim.
— Thomaz me ajude. — Sou arrancada daquela nojenta a força.
— Não se meta em minha vida, fique fora disso ou eu acabo com você. — Grito como uma louca.
— Tire ela daqui imediatamente. — Conrado diz e Thomaz me abraça pelo pescoço e me leva para fora do banheiro.
Ele entra comigo em um escritório e fecha a porta.
— Eu sabia que você ia cumprir o que falou mas eu não sabia que ia ser tão breve.
— Nem eu.
— O que exatamente ela falou? — Me sento em um cadeira e tiro o salto que está me machucando.
— Me chamou de aproveitadora. — Digo para despistar.
Essa mulher está mexendo em coisas do passado que me machucam e me assustam de forma inexplicável, coisas que só eu tenho direito de guardar. Só eu tenho direito de saber e aguentar, não quero que ninguém saiba de nada que aconteceu e eu não vou permitir que uma mulher que eu nunca vi na vida, faça isso. Não estou fugindo a tanto tempo para uma qualquer acabar com minha vida só porque está com ciúmes de um macho.
— Você está nervosa, venha cá me dê um abraço. — Me aconchego nos braços de Thomaz e só aí boto a mão na consciência e vejo a burrada que fiz, meu Deus, eu não deveria ter agredido aquela mulherzinha.
Ouço o barulho da porta sendo aberta e me afasto de Thomaz, ele faz o mesmo e olha para a porta onde Conrado está parado nos olhando com cara de poucos amigos, eu nunca o vi com a cara tão fechada.
— Bom, vou deixá-los sozinhos. — Thomaz diz e sai da sala.
Me sentia nervosa antes mesmo de ouvir as palavras de Conrado.
— O que diabos deu em você? Quer estragar tudo? Pelo amor de Deus, você tem noção de quantos jornalistas tem no salão principal? Acho que não, você não deve ter a mente tão apurada para saber que se aquela briga chega no ouvi de um só deles o evento estaria arruinado pelo boato, eu tenho o anúncio do novo modelo de carro da Ferraz e você arrumando briga dentro do banheiro como uma selvagem. Você faz parte da equipe, tem que ter no mínimo bom senso. — Uau, ácidas palavras.
— Me desculpe, eu perdi o controle. Valquíria me provocou e conseguiu me tirar do sério.
— Perdeu o controle? Júlia, você quase arruinou está porcaria. Eu preciso voltar lá pra fora, e você já está dispensada não quero que volte a dar choque com a Valquíria. Irei pedir para que providenciem sua passagem para terça-feira. — Agora fiquei nervosa, prendo meu cabelo que durante a briga foi solto.
— Está me demitindo?
— Não, só que seus serviços nessa viagem não são mais necessários. Na terça-feira mandarei para seu quarto sua passagem, você já trouxe problemas o suficiente. — Engulo o nó na garganta e aceno com a cabeça.
Pego minha bolsa de mão e saio mais rápido do que entrei. Passo voando pelos convidados e saio de forma humilhada daquela mansão. Andreatta que fique com seu homem de ouro, eu é que não fico nesse país nem mais um minuto, quero minha casa de volta.
Teríamos mais alguns dias de viagem, mas ele quer que eu vá embora depois de amanhã e sem ter perguntado o que realmente aconteceu no banheiro, com certeza ele deve ter acreditado na versão daquela mulher. Mas como ele mesmo disse, eu não sou paga para ser a anfitriã da festa.
***
Entro no quarto de hotel e já pego o notebook da mesa. Compro a passagem mais barata que sai daqui para a Espanha, o vôo sai às 4 da manhã, agora não passa nem das 23h, mas nem ligo. Eu não quero ficar aqui nesse quarto nenhum minuto a mais.
Troco o vestido por uma calça preta jeans, coloco um moletom branco da Adidas que vai até o meio das minhas coxas e enfio tudo dentro da mala, depois de pronto eu desço e deixo a chave do quarto na recepção. Chamo um táxi e me mando pro aeroporto.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro