Capítulo 16
Darwin
Quando eu tinha oito anos eu sonhava toda a noite que estava correndo por um gramado verde enorme, tinha tantas árvores naquele lugar que poderia ser comparado com um bosque. Não um bosque obscuro, mas sim um belo lugar para se sentir em paz.
Eu sonhava com o momento que ficaria adulto e poderia levar alguém naquele lugar que sonhava. Imaginava se por algum instante eu poderia encontrar a paz.
Sonhos são considerados os nossos desejamos reprimidos, escondidos em alguma parte do nosso cérebro, uma espécie de caixinha mágica onde você guarda seus sonhos.
Era bom ser criança e poder sonhar. Poder dormir á noite toda.
Já fazia um bom tempo que não dormia a noite inteira.
Aquele momento pela manhã, logo quando suas pálpebras se sentem pesadas e você insiste em abrir, mas elas continuam fechadas. Aquela sensação de preguiça de corpo adormecido e dolorido por dormir de um só lado a noite inteira. Isso eu não sentia á algum tempo.
Fica tudo confuso e nebuloso, mas você gosta da sensação de tranquilidade pela manhã. Sinto meu corpo mais quente que o normal, e inalo o cheiro doce de um perfume.
Morango parece ser, mas tem algo á mais misturado. Sinto algo pinicando meu queixo e a maciez de um cabelo sedoso. E um braço fino me envolvendo em um abraço. O peso de uma perna entrelaçada na minha, e o pequeno corpo encaixado com tanta perfeição no meu que me pergunto "onde estou?".
Mesmo com preguiça forço em abrir meus olhos e é quando eu vejo Allie aconchegada em mim. Estou deitado de costas, com os braços em volta dela, segurando tão firme seu pequeno corpo como se precisasse daquilo.
Como diabos eu dormi aqui?
Tentei reorganizar minha mente e lembrei que havia trago, Allie para o alojamento depois de um idiota tentar beijar ela. Conversamos bastante na noite anterior.
Ela conversou bastante, pois quase sempre só respondia o que ela perguntava.
E como perguntava.
Nunca tive que responder tantas perguntas, pois ninguém nunca me perguntou nada sobre mim, o que é um alívio, mas, Allie é diferente. Ela me contagia, mas me irrita também por querer saber tanto de mim.
Então me lembrei do beijo.
Puta merda.
Que beijo foi aquele?
Senti cada parte de mim se dissolver em um piscar de olhos. Confesso que nunca senti tanta vontade de beijar alguém como senti de beijar ela.
Ela se mexe contra meu corpo aconchegando sua cabeça entre meu pescoço, sinto sua respiração quente contra a minha pele e faço alguns círculos em seu braço.
Seria essa a sensação de paz, que tanto procurava?
- Darwin? – ela pergunta com a voz embargada pelo sono.
Allie abre bem os olhos, piscando várias vezes até me encarar confusa. Ela solta da cama com uma rapidez que penso que ela está passando mal, mas então ela pergunta.
- Como é que...como você...a gente...- ela gagueja, mais confusa ainda.
Descanso minhas mãos atrás da cabeça e me acomodo contra a cabeceira.
- Fica calma aí, não rolou nada – digo para reconforta-la.
Será que ela se lembrava do beijo?
Seus olhos verdes escuros me encaram por um breve instante, até percorrem meu corpo, então vejo sua pele ficar vermelha quando ela me olha mais assustada ainda.
- Ai. Meu. Deus. Você. Está. Duro! – Ela exclama pausadamente como se tentasse processar tudo aquilo.
Não consigo conter o riso. A expressão em seu rosto é tão assustada, mas ao mesmo tempo hilária.
- Acredite em mim, homens acordam assim pela manhã.
Claro que dormir com, Allie , mesmo sem fazer nada me deixou excitado, mas não poderia confessar isso para ela. Percebo que ela está usando uma calça de moletom e uma blusa de alça a qual não parece à alça do sutiã. Sem conter meus olhos, vejo o bico dos seus seios duro contra o tecido da blusa.
Ela também estaria excitada?
Allie percebe o que estou olhando e rapidamente se abraça. Abro meus lábios para dizer algo, quando ela se apressa em dizer.
- Nem pense em dizer algo.
- Tudo bem – ergo as mãos na defensiva – só ia dizer que você fica linda quando acorda.
Era incrível, como ela ficava envergonhada com facilidade. Nem acreditava que tinha acabado de dizer aquilo.
- Você poderia se vestir? – ela pergunta afastando um a mexa do cabelo castanho.
- Hoje é sábado – digo.
- Eu sei bem que dia é hoje.
- Não vou levantar agora – me espreguiço na cama pequena.
Uma batida na porta a impede de discutir comigo. Penso que nesse instante, Allie pode surtar, pois ela me encara assustada.
- Será que é a Zara? – ela pergunta.
- Deveria abrir a porta para saber – dou de ombros.
Se fosse a, Zara ela já estaria com a porta escancarada, mas quem sabe pode ter perdido as chaves, o que não é de se admirar.
- Ela não pode ver você aqui – Allie caminha de um lado para o outro.
- Você está na faculdade, não tem nada de mais alguém ver você com um garoto no seu quarto.
Outra batida a impede de prosseguir.
- Já vai – ela grita – se veste, por favor – ela diz antes de sair do quarto encostando a porta.
Me viro de lado aproveitando a sensação de uma noite bem dormida, quando escuto a voz da, Allie subir um oitavo.
- Mãe? Pai? – posso escutar do quarto o coração dela saltar pela boca.
Cacete, seus pais estavam ali.
- Sua mãe insistiu em vir hoje – uma voz masculina diz.
- Venha aqui e me dê um abraço – a voz aguda da mulher diz. – Senti tanta falta sua, nessa semana.
- Eu também, só não esperava vocês aqui hoje – Allie diz com a voz baixa.
Penso em como ela deve estar se sentindo na sala. O rosto pálido pela surpresa dos pais e os pensamentos á mil por saber que estou deitado na sua cama. Levanto-me e visto minha calça e coloco rapidamente a camiseta. Dou uma olhada rápida em meu cabelo no espelho e respiro fundo. Pode parecer bobagem mais acho que isso pode ajudar Allie ter mais convicção.
Giro a maçaneta e caminho com passos lentos até a sala, mas antes de chegar até onde eles estão vejo os olhos da mulher que creio ser a mãe de Allie me olhar indignada.
Allie se vira rapidamente para a direção que sua mãe olha e me vê. Vejo-a engolir em seco e fechar os olhos. O pai de Allie me olha sem nenhuma expressão no olhar.
- Allie o que este garoto está fazendo aqui? – o modo como a mulher me encara dos pés a cabeça pode até dar medo, mas não me sinto intimado.
- Mãe eu...não é...- Allie gagueja mais uma vez.
- Bom dia – digo e recebo um olhar furioso de, Allie.
Seu pai dá um passo á frente e vejo o mesmo tom de verde da filha em seus olhos.
- Dominic Grammer – ele me estende a mão.
- Darwin Lancaster.
Ele me olha seriamente, sem dizer muita coisa , mas logo somos interrompidos pela sua esposa.
- Dom esse garoto está no quarto da sua filha e você o cumprimenta? – vejo de quem Allie herdou o temperamento explosivo.
- Olá, hãn...-, digo me aproximando da mulher.
A mulher me encara com certo nojo no olhar.
- Jane – enfim ela responde olhando para a filha.
Allie volta a olhar para mim e vejo a fúria se formar em seu rosto. Sua mãe espera impaciente a resposta, enquanto seu pai apenas aguarda uma resposta concreta da filha sem fazer escândalo.
- Bem...ele dormiu aqui, por que...- Allie está tão nervosa que parece que vai surtar.
- Dei uma carona para Allie depois da festa e ela não estava se sentindo bem então acabei dormindo aqui – digo a verdade, pois ela não estava bem na noite anterior.
- Festa Allie? – sua mãe pergunta cruzando os braços.
- É, mas foi algo rápido, pois como ele disse não estava me sentindo bem – vejo o quanto ela se sente mal por explicar que saiu na noite anterior.
Allie se sente intimidada pela mãe. Vejo o modo como sua postura muda, como seus ombros ficam tensos e a sua pele ganha um tom mais rosado. Ela não deveria agir assim com ela, pois, Allie é a garota mais comportada que já conheci e até o momento não fez nada de que eles poderiam se sentir envergonhados.
- Allie você está me decepcionando mocinha – sua mãe diz entre dentes. – Frequentando festas, saindo á noite e tem uma criatura tatuada no seu quarto! – ela exclama sacudindo os braços no ar.
Allie engole o nó na garganta e vejo que seus olhos estão se enchendo de lágrimas.
- Mãe eu não fiz nada de errado – ela diz com a voz baixa.
- Claro que fez! Não percebe? – a mulher grita mais ainda.
- Jane fale baixo – Dom diz.
Percebo que ele é calmo. Até demais na verdade, mas quem sabe ele não vê exagero em tudo o que a mulher acha que vê. Ele confia na filha dele.
- Não me diga para falar baixo, Dom. Tem um vagabundo no quarto da sua filha e você não fez porcaria nenhuma! Já pensou se eles estivessem transando?
Não consigo conter a raiva que percorre minhas veias. Vejo Allie cruzar os braços contra o corpo e deixar rolar as lágrimas que insistiram em cair.
- A senhora deveria sentir orgulho dela, pois ela não fez nada e para sua informação eu dormi no chão do quarto, ela não fez nada de errado. Ela está na faculdade – fiz uma pausa para me conter- porra não deveria ficar pressionando ela.
Digo o que penso. Claro que minto sobre dormir no chão, pois se aquela mulher soubesse que eu e a filha dela acordamos emaranhados nos braços um do outro faria a terceira guerra mundial.
Allie me olha de conto sem dizer nada. Sinto um nó em meu peito, pois sinto a estranha sensação de abraça-la, mas afasto isso e sinto o toque de uma mão em meu ombro.
- Acho melhor você ir embora agora – Dominic diz.
Olho para Allie tentando encontrar seu olhar, mas ela desvia. Bufo por dentro, cerrando os punhos contra o corpo. Saio do quarto batendo a porta e descendo as escadas correndo.
Entro no meu carro e saio sem rumo.
***
É incrível a maneira como as pessoas se deixam manipular. Como não expressão seus sentimentos, mas quem era eu para poder dizer algo?
Um garoto fodido, com uma porra de uma vida virada do avesso que não expressa porcaria nenhuma dos próprios sentimentos.
A vida é irônica.
Quem sabe é assim que todos deveriam ser. Esconder todos os sentimentos dentro de um lugar bem fechado dentro de cada alma humana.
Dirigi por quase três horas, até parar em um lugar que nunca tinha visto. Desci do carro e senti o vento da manhã me atingir em cheio.
Caminhei com passos largos até a beira de uma rocha e ali me sentei. Deixei a raiva me consumir e desejava desesperadamente que ela fosse levada com o vento. Olhei para a paisagem á minha frente. O sol nascia entre as nuvens e havia tantas árvores por ali que era digno de ser fotografado.
Sentia falta de registrar momentos.
Houve um tempo que eu torcia para me olhar no espelho e ainda me reconhecer. Tentar ver além do reflexo escuro que eu via, mas isso não aconteceu.
Não sabia quem iria encontrar conforme os anos fossem passar. A verdade é que eu tinha medo de me encarar no espelho. Ver o reflexo do garoto fodido que eu sempre fui. Da pessoa vazia que eu sou.
De onde é que tudo isto veio?
Sabia bem de onde tudo que sentia vinha. Eu ergui cada parede ao meu redor para ninguém saber o que eu era de verdade. Para me afastar de todos. Eu queimei cada parte de mim no dia que ela se foi e transformei tudo que sonhava em cinzas.
- Porra! – berrei contra o vazio em minha frente.
Tinha tanta coisa guardada em mim que não sabia como ainda estava em pé. Como ainda eu conseguia prosseguir. Na verdade eu sabia exatamente.
Era por ela que eu seguia.
Olhei a tatuagem em meu pulso.
A primeira que havia tatuado.
Hold on.
Fechei meus olhos e era como se ela estivesse ali ao meu lado, dizendo.
" Aguente firme, meu querido Darwin."
***
Olá meu amore...como estão.
Capitulo novo hoje.
O que acharam?
O que Darwin tem escondido em suas lembranças?
O que lhe a atormenta?
Á partir de agora vamos começar á conhecer mais o Darwin.
Beijos!!!
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