Capítulo 1
Allie
Encaro o teto do meu quarto. Essa noite consegui contar cada rachadura espessa no teto. Fiquei acordada a noite inteira, me virando na cama e conversando comigo mesma que tudo daria certo. Algumas pessoas escutam música instrumental para dormir, eu cantarolo cada detalhe da minha vida. Minha mente sempre está a mil, com cada detalhe preciso e convicto e hoje é o dia mais esperado em minha vida, em meus dezoito anos.
- Allie!- grita minha mãe do andar de baixo. Tentando conter o nervosismo em meu corpo, levanto-me da cama pequena que durmo, mas que adoro e arrumo os lençóis sem muita pressa. Na verdade nem precisaria arrumar, mas quero deixar meu quarto impecável para quando voltar para casa.
- Allie! - ouço minha mãe me chamar novamente.
- Já levantei, - grito em resposta. O barulho que ela está fazendo na cozinha indica que ela está mais ansiosa que eu.
Entro no chuveiro deixando a água morna atingir cada músculo do meu corpo tenso e rezando para que o nervosismo diminua. Toda a minha vida foi preparada para hoje, meu primeiro dia na faculdade.
Foram dias estudando sobre todas as matérias possíveis, testes rápidos e aulas on-line. Finais de semanas escutando sobre dicas de ter um bom desempenho e como alcançar o que deseja.
Muitos dos meus colegas perdiam os finais de semana com festas, bebidas, garotas e garotos, enquanto eu ficava estudando no meu quarto. Quando chegou a carta contanto sobre a conquista de entrar na Harvard, foi o momento mais lindo da minha vida até agora, meus pais ficaram tão emocionados que choraram ao ler cada frase. Claro que me senti muito orgulhosa, por alcançar o que desejava, pois até então havia me inscrito somente em uma faculdade, e por causa da nossa baixa renda, eles me deram uma boa bolsa, iria precisar fazer um empréstimo estudantil, mas nada muito grande.
Teve um dia que pensei comigo mesma a ideia de estudar em Vancouver, Canada, mas ao ver a alegria nos olhos dos meus pais ao saber que tinha me inscrito na faculdade de seus sonhos, desconsiderei a ideia.
Parada embaixo do jato quente sinto ele me atingir com suavidade e deixo ir pelo ralo cada parte negativa do meu nervosismo. Desligo o chuveiro e escuto minha mãe gritar pela terceira vez. Não resmungo nada em resposta, pois ela também está tensa. Ver sua única filha sair de casa e começar um novo caminho, é o sonho de toda mãe.
E a minha mãe é aquela que pegava no meu pé quando não escrevia com uma letra bonita, quando borrava mais do que caprichava, que me corrigia á cada palavra errada me fazendo voltar ao inicio de cada frase.
Meu pai é o conceito exato de que se pode amar alguém completamente diferente de si. Ele é a calmaria em pessoa, jamais ergueu a voz para minha mãe ou comigo. Nunca o vi bater algum móvel com força e sempre respirou fundo e contou até mil antes de responder minha mãe.
Muita coisa aprendi com ele. A controlar meu nervosismo, ao pensar nas coisas boas e ver através de cada obstáculo. Eles se programaram durante anos, assim como eu para esse momento.
Minhas mãos estão trêmulas quando fecho o zíper do vestido. Escolhi um tom de azul claro para vestir, pois não quero chamar a atenção de ninguém. Quando termino de me vestir, passo as mãos sobre o tecido e respiro fundo soltando o ar devagar calço os sapatos e escovo meus cabelos. Dou uma última conferida no vestido quando uma batida na porta me deixa em alerta.
- Entre- digo.
O sorriso do meu pai aparece logo que ele abre a porta, colocando metade do corpo para dentro.
- Meu amor, se você não descer logo, juro que ela terá um infarto - meu pai franze o cenho ao se referir a minha mãe.
- Tudo bem, já estou descendo.
- Suas coisas estão tudo dentro do carro já.
- Obrigada, pai.
Com passos preguiçosos caminhei até ele, quando abriu seus braços para me abraçar. Ele tinha um perfume amadeirado e seu abraço me dava tanto conforto quanto jamais pensaria ter.
- Vai dar tudo certo, querida. – ele murmurou contra meu cabelo.
E se não der?
Afastei o pensamento negativo, o abraçando mais forte.
- Vai sentir minha falta? – perguntei com um riso.
- A cada instante.
- Cuide dela, não deixe que ela surte por pouca coisa.
- É o que faço cada dia, Allie.
No andar de baixo vejo minha mãe arrumando algumas coisas sobre a mesa de jantar.
- Bom dia, mãe. – digo com a voz suave.
- Allie, você está com olheiras – ela se aproxima de mim segurando meu rosto com as duas mãos.
- É eu não consegui dormir.
- Temos cinco minutos para sair- ela diz afastando-se.
Essa mania de ter tudo sobre controle, herdei dela. Claro que tenho o mesmo tom de castanho nos cabelos e os olhos verdes devo agradecer ao meu pai.
Depois de cinco minutos revisando se tinha pegado tudo, me encarei no espelho do corredor e puxei o ar profundamente soltando-o devagar. Disse á mim mesma inúmeras vezes que tudo daria certo. Quando a buzina do carro do meu pai soou era um aviso que estava na hora de ir.
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