Capítulo 01
Suspirei pela milésima vez, ou talvez até mais, enquanto olhava a imagem na televisão.Eu não conseguia evitar a sensação de encantamento pelo apresentador de talk show, Kauan Borges. Desde que o vi pela primeira vez na TV, algo nele me cativou. Não sabia se era o sorriso, as piadas, as entrevistas afiadas ou tudo isso junto. Só tinha certeza de que ele era perfeito!
O único problema era o horário do programa, que passava de madrugada. Eu sacrificava o meu sono, ficando acordada até tarde para assisti-lo. Poderia ver pela internet, mas não era a mesma coisa. A magia de assistir ao vivo na televisão era única.
"Assistir ao vivo!" Pensei comigo mesma. Sonhava estar lá, acompanhando as gravações no estúdio. Se não fosse pelo trabalho, com certeza encontraria um jeito de ser uma das espectadoras da plateia, para viver a experiência de ver tudo de perto, sentindo a energia do ambiente.
Após o programa, fui dormir com um sentimento de realização, mesmo sabendo que acordaria cansada para o trabalho no dia seguinte.
Recém-formada em Psicologia, atuo no departamento de Recursos Humanos da rede de supermercados Happy. Minha rotina inclui a entrevista de candidatos, a aplicação de testes e a condução de dinâmicas de grupo. Diariamente, meu trabalho consiste em selecionar novos funcionários para as lojas da região.Apesar de ser cansativo repetir as mesmas tarefas, já estou acostumada, pois estou na empresa desde o período do estágio.
Ao entrar no escritório, vi Yasmin, outra psicóloga da equipe, sentada em sua mesa organizando documentos.
— Bom dia, Ayla! — cumprimentou animada.
— Bom dia, amiga. — respondi com a voz sonolenta, ainda se despertando.
— Que sono, hein? — riu. — Esse programa ainda te mata!
Yasminera a única pessoa com quem eu podia compartilhar minha "vida oculta de fã". No ambiente de trabalho, eu era vista como uma psicóloga séria, responsável e totalmente dedicada ao meu trabalho. No entanto, meus colegas e os funcionários da empresa não tinham ideia de que, fora do expediente, eu era completamente obcecada por Kauan Borges. Embora muitas pessoas assistissem ao programa e até gostassem dele, a ideia de uma psicóloga de 22 anos exibindo comportamentos típicos de uma fã fervorosa poderia parecer estranha para alguns. Por isso, preferia manter esse segredo e só o revelava a Yasmin. Ela, que tem a mesma idade que eu, não compartilha a mesma paixão por celebridades, mas compreendia meus sentimentos—pelo menos à sua maneira.
— Nem me fale! — esbocei um sorriso. — Mas ontem teve uma entrevista superinteressante com um cara que escreveu um livro sobre como explorar Londres usando apenas o metrô.
— Londres? Você está pensando em ir para lá? — Perguntou, surpresa, pois nunca havia ouvido eu mencionar esse desejo antes.
— Quem não quer ir para Londres, amiga? — perguntei rindo. — Todo mundo fala que Londres é maravilhoso! Só não é minha prioridade no momento!
— E qual é a sua "prioridade" no momento? — Questionou, fazendo o sinal de aspas com os dedos.
— Conhecer o Kauan! — respondi rapidamente e tenho certeza que meus olhos brilharam como sempre acontecia quando eu falava dele.
— Nossa, Ayla! — revirou os olhos parecendo irritada — Que sonho mais supérfluo! Tanta coisa na vida e você vai sonhar com isso?
— Por que não? Bom, na verdade meu maior sonho é ser entrevistada! Já pensou? Eu naquele sofá conversando com ele?
— Aí sim seria algo bom, mas... Entrevistada pelo que? — levantou uma das sobrancelhas em sinal de questionamento. — Por fazer seleção de cinquenta pessoas por dia?
— Eu quero escrever um livro. E depois, quero ser entrevistada por ele! — disse com entusiasmo.
— Ok, aí sim estamos melhorando. Seu sonho é escrever um livro! — pontuou.
— Sim, mas é um sonho que leva a outro! — sorri ao imaginar.
Desde a adolescência, venho explorando a escrita através de textos metafóricos narrados pela voz de uma fada em busca de autoconhecimento e crescimento. Em momentos de tristeza, alegria e conquista, a escrita se tornou meu refúgio, permitindo-me expressar por meio dessa personagem fictícia. Ao retratar situações e emoções cotidianas, espero que, ao publicar este livro, muitos leitores se identifiquem com ele, reconhecendo que não estão sozinhos em seus desafios e entendendo a importância de celebrar as vitórias. O título do livro, "Os Pontos de Fada", reflete o mundo sob a ponto de vista desse ser mitológico.
Após a publicação do livro, meu maior sonho era ser entrevistada por Kauan Borges no programa "La Noche". Qualquer pessoa que ouvisse sobre isso perceberia o quanto esse desejo era intenso para mim. Sempre imaginei o lançamento do livro seguido por esse convite, e isso era, sem dúvida, o que eu mais almejava.
— Não entendo por que tanto amor por esse cara. Ele fala tanta bobagem... — Yasmin revirou os olhos.
— Ele é lindo e muito inteligente. Você já viu as entrevistas dele? Cada pergunta ajuda a gente a conhecer muito bem o trabalho do convidado! A história de vida dele também é bem forte. Ele batalhou muito para chegar aonde está hoje. — falei com admiração — Sabe, Yasmin, o Kauan é muito mais do que apenas um apresentador de TV. Sua trajetória de vida é incrível, e foi isso que me fez admirá-lo ainda mais. Não foi fácil para ele, desde o início.
— Como assim? — ela franziu a testa ao me escutar.
— Bem, seu pai faleceu quando ele tinha apenas 18 anos, um golpe duro para toda a família. Seu pai era o pilar da casa,sustentando a família de várias formas. Naquela época, Kauan não tinha um emprego fixo, apenas alguns bicos que mal ajudavam em casa.
— Nossa, que difícil... — abriu a boca em uma expressão de assustada.
— E não para por aí. — continuei. — Poucos meses depois, sua única irmã, Izabella também faleceu.
— Meu Deus, que tragédia... — seus olhos se abriram mais, mostrando sua surpresa e incredulidade diante das dificuldades enfrentadas pelo Kauan e sua família.
— Sim, foi terrível. Kauan e sua mãe ficaram sozinhos, um apoiando o outro. Foi uma batalha muito grande com vários altos e baixos até ele chegar aonde está hoje.
— Nossa, Ayla! Foi muita coisa! Ele realmente é um guerreiro. — expressou com compaixão.
— Sim, ele é. Mas, o que mais admiro no Kauan é como não se deixou abater pelas tragédias. Com esforço e determinação,construiu seu império e realizou seus sonhos. É um verdadeiro exemplo de resiliência.
— Eu não fazia ideia... É realmente inspirador.
— Sim, e é por isso que a ideia de ver o Kauan pessoalmente é tão emocionante para mim. Ele é muito mais do que um rosto bonito na TV, é alguém que superou tantos desafios e alcançou o sucesso por mérito próprio.
— E por que você não vai na plateia?
— É tudo o que eu mais quero! — suspirei olhando para os papéis na minha mesa. — Mas como eu vou? A gravação começa de tarde e eu estou aqui trabalhando.
— Falta. — Yasmin disse, dando uma solução prática como se fosse algo fácil.
— Eu não posso faltar assim! — olhei assustada. Nunca havia pensado nessa possibilidade.
— Bom, se é o que você quer de verdade, não acho que uma falta pese tanto! — Yasmin disse.
Talvez Yasmin estivesse certa. Muitas vezes, nos deparamos com oportunidades que parecem inalcançáveis devido aos nossos compromissos diários. No entanto,quando se trata de perseguir nossos sonhos, será que não devemos considerar todas as opções disponíveis? Se algo é realmente importante para nós, vale apena tentar encontrar uma maneira de tornar isso possível. Afinal, o que é um dia de falta comparado à chance de realizar um sonho?"
— É verdade... — refleti. — Eu nunca faltei no trabalho, não acho que apenas um dia vá me prejudicar! Vou pesquisar como faz para ir ao programa.
— Ótimo! — se levantou estendendo alguns documentos para mim. — Aqui estão os currículos e cartas de recomendações dos candidatos de hoje. Agora vamos trabalhar porque Kauan Borges está ganhando o dinheiro dele e nós precisamos ganhar o nosso.
Após receber os documentos de Yasmin, a ideia dela ficou na minha mente o dia inteiro. Fiquei ansiosa, mal podendo esperar para chegar em casa e começar a pesquisar sobre como conhecer Kauan Borges. Passei horas na internet, mas não consegui encontrar informações concretas. No entanto, estava determinada a transformar essa ideia em realidade. Sempre fui assim: quando começo algo, vou até o fim.
Apesar de dormir tarde assistindo ao programa e acordar cedo para trabalhar, meu corpo já pedia uma pausa. Arrastava-me até o trabalho e, ao chegar, sempre pegava um copo de chocolate quente que estava na recepção. Minha única amiga do trabalho me viu entrando na sala e soltou uma risada.
— O Sr. Batista te mata se ver que você rouba tanto chocolate quente dos clientes.
— Altas doses de cacau pela manhã. Só assim para acordar! — disse sonolenta. — Talvez o café fizesse mais efeito, mas ainda não consegui nem me acostumar com o cheiro.
— Calma! A vida adulta está só começando. — Yasmin deu risada. — Mas diga, "la noche" com o Kauan foi boa?
— Foi! Como sempre, né? Ah, amiga... — suspirei desanimada — Rodei a internet inteira procurando um jeito de ir para o programa e não consegui nada.
— Nada? Sério? Mas tem que ter um jeito... Como todo aquele povo vai para a plateia?
— Sim, existem caravanas! O problema é que não consegui entrar em contato com nenhuma.
— Poxa..., mas tem que ter um jeito! Espera! — abriu os olhos como se tivesse uma grande ideia — Tenho uma amiga que conhece pessoas que fazem caravanas. Ela deve saber como ajudar.
— Que ótimo! — abro um sorriso.
Com urgência, Yasmin entrou em contato com a amiga e me passou a indicação para ligar e tentar conseguir uma vaga. Eu precisava agir logo, pois não podia me atrasar para começar a convocar os candidatos para a entrevista. A ligação foi bem-sucedida: na quinta-feira, às 14 horas, eu deveria estar na portaria da TVL com os documentos em mãos.
— Prontinho! — comemorei ao desligar o celular. — Consegui!
— Nada que um choro não amoleça o coração das pessoas, hein?
— Sim! — dei risada. — Devem ter percebido na minha voz o quanto isso era importante para mim!
Yasmin soltou uma gargalhada ao me ver naquele estado. Eu apreciava o apoio que ela me dava, mesmo diante dos meus sonhos loucos, embora fosse evidente em seu rosto o quanto ela achava tudo aquilo absurdo.
— Isso significa que... Eu vou ver o Kauan? — olhei petrificada para .
— Sim! Quinta-feira será o grande encontro! — me incentivou.
Sem pensar em nada, a abracei em um impulso.
— Aaaaah, amiga! Eu te amo! Muito obrigada!
— Eu não fiz nada. Só lembrei de quem poderia ajudar! — deu risada.
Com um sorriso radiante, percebi que meu sonho finalmente estava se tornando realidade. Ao chegar em casa, a alegria me envolvia completamente, preenchendo cada parte de mim.
Como uma demonstração de carinho, decidi preparar um presente especial. Usando minhas habilidades culinárias, fiz um cupcake personalizado, recheado com doce de leite e coberto com chantilly, decorado com o logotipo do programa. Escolhi uma forminha amarela para combinar com a cor da logomarca e coloquei-o em uma caixinha transparente. Minha mãe admirou o capricho, e eu compartilhei com ela meu amor por Kauan, expressando a esperança de entregar o presente pessoalmente.
Criei uma montagem no celular que ilustrava meu grande sonho: estar sentada no sofá ao lado de Kauan no programa de entrevistas. Sorri enquanto admirava a imagem por alguns instantes e pensei: "Um dia será realidade."
Depois de criar a imagem, decidi imprimi-la e escrever uma mensagem no verso para ele.Se não conseguisse expressar meus sentimentos pessoalmente, ao menos eles estariam registrados na carta. Dessa forma, eu garantiria que minha gratidão e admiração chegassem até ele de alguma maneira.
Kauan,
Não sei se conseguirei expressar tudo o que gostaria pessoalmente. Sou sua admiradora e sempre sonhei em conhecê-lo. Admiro profundamente quem você é e por tudo que fez e faz pelos outros! Fico impressionada com sua habilidade em extrair informações valiosas dos entrevistados, em meio a uma conversa informal e cativante, fazendo com que se sintam confortáveis. Sem dúvida, você é o melhor apresentador do mundo. Estou prestes a lançar um livro e meu maior sonho é ser entrevistada por você um dia! Se puder considerar essa possibilidade, ficarei imensamente feliz em ter essa oportunidade. Agradeço por tudo!
Com carinho,
Ayla Pontes
Na quinta-feira de manhã, liguei para o trabalho e disse que não me sentia bem. Expliquei que talvez fosse devido à tensão pré-menstrual, mas que os sintomas estavam mais intensos do que o normal. Eles aceitaram a desculpa sem questionar muito.
Com atenção, escolhi cada peça do meu look, equilibrando elegância e estilo. Optei por uma blusa preta, uma calça branca estampada com detalhes em cinza, e finalizei com sandálias de salto alto e uma bolsa preta. Depois de arrumar o cabelo e os acessórios, senti-me determinada e confiante. Embora a culpa por mentir no trabalho me pesasse, não via outra opção para faltar e realizar meu sonho de participar do programa de televisão.
O fato é que eu não estava faltando "apenas" para ir a um programa; estava faltando para realizar um sonho. Mas isso, meu chefe jamais entenderia."
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