9
Na faculdade eu tentava me concentrar o máximo possível, mas só vinha o Alex na minha mente. Como vou conseguir lidar com esse sentimento com ele por perto?
É muito difícil.
Nem tenho vontade de voltar pra casa, só pra não ter que olhar pra cara de safado dele.
Não quero ter que lidar com isso agora, na verdade não quero ter que lidar com isso nunca.
O que eu faço?
Estou no meio de uma crise de ansiedade, onde mil pensamentos passam pela minha cabeça e eu não consigo controlá-los.
Quando fui até a biblioteca pra pegar alguns livros, me encontrei com a Marina no corredor, eu fiquei animada em ver que ela estava bem, mas ao mesmo tempo com raiva por ela não ter me dado nenhuma notícia.
Essa garota ainda vai me matar do coração.
— Apareceu a margarida
— Amiga, me desculpe, acordei super atrasada hoje não deu pra te buscar, o professor até me deu uma bronca.
— Não sei porque você ainda frequenta as aulas, falta mais que tudo, faculdade não é igual escola, Marina, você tem que se dedicar mais...
— Sabe o que é, amiga? É que eu fui numa festa muito louca ontem — Ela deu risada
Ela começou a contar os detalhes da festa enquanto andávamos pelo corredor, mas eu estava tão distraída que não consegui prestar atenção.
— Marina, você tem que escolher ou a faculdade ou essas festas muito loucas, ao contrário das aulas você não está perdendo uma, é o seu futuro que está em jogo
Eu odeio ter que colocar juízo na cabeça de uma garota de vinte poucos anos, nem eu sei o que fazer com a minha vida.
Mas pelo menos o pai da Marina tem muito dinheiro e o futuro dela não vai ser tão prejudicado assim, ao contrário de mim que dependo dessa faculdade pra ter um futuro.
— Eu sei amiga, prometo que vou me esforçar
Entramos na biblioteca, e eu comecei a procurar os livros que eu iria precisar pra estudar, quero tirar uma nota boa nessa prova, e o meu foco deveria ser só esse.
Pena que o Alex está roubando todos os créditos.
— O Raul está afim de você — Marina diz empolgada
— Marina, não diga besteira — Falo incrédula colocando mais um livro na pilha que ela estava segurando
Vamos até a mesa, e ela coloca os livros sobre ela, depois se senta à minha frente com um sorriso de orelha a orelha
— Amiga, é sério, você não percebe a forma como ele te trata? — Cochichou
— Normal
— Não, amiga, ele é do tipo de pessoa que jogaria a jaqueta na poça de lama pra você pisar.
—– Ah, para, ele só é... gentil
—– Só se for com você, porque comigo ele não é assim, não...
—– Você é grossa com ele.
—– Isso é verdade, mas não justifica nada
A Luana passa com outra menina pela gente e a Marina não hesita em acompanhá-la com os olhos e depois volta a olhar pra mim tentando fingir que não se abalou.
A Marina é bi. Ela tinha um lance com a Luana, mas viviam brigando, pois a Marina nao quer abrir mão desse lado festeiro dela, e isso incomodava a Luana.
— E você e a Luana? — Provoco
— A Luana é complicada demais, ainda tem quem diga que mulheres são mais fáceis — Disse entediada — Mas é porque não conheceu essa mulher na tpm, e sinceramente, não tô afim de estresse
—– É, mas o coração ainda bate forte quando ela passa.
—– Para, você só está querendo fugir do assunto
—– Não tem a menor possibilidade do Raul tá gostando de mim
—– Tem sim — Ela gritou e se esqueceu que estávamos em uma biblioteca
—– Shh! — Disse uma garota aleatória
Marina fuzila ela com os olhos fazendo a mesma ficar sem graça.
—– Olha, se você não tem mais nada pra dizer, eu preciso estudar e você está me distraindo — Falo abrindo um dos livros
—– Todo mundo já percebeu, só você que não
—– A senhorita está totalmente equivocada, minha cara.
—– Você vai ver.
Ela sentou na cadeira, e nós duas começamos a estudar.
Eu comecei a pensar no que a Marina disse, e realmente faz sentido, desde quando o Raul e eu nos conhecemos, percebi que ele me olha de um jeito diferente, mas nunca passou pela minha cabeça que fosse isso.
Raul é o tipo de homem que toda mulher gostaria de ter ao lado, mas só como amigo, a gente sempre tá atrás dos bad boys, aqueles que nos trata mal e sempre nos deixa como segunda opção. O Raul sabe priorizar quem ele quer, ele é gentil, carinhoso e educado, entre outras qualidades que precisaria de um livro pra descrever.
Mas eu não consigo me imaginar namorando com ele, ia ser bem estranho.
Eu o conheci quando estava no clube de leitura, ele é um ótimo escritor, e já tinha feito um poema pra mim.
Eu amei, mas não dei a importância que ele queria. Agora que a Marina falou, percebi que ele sempre tentou me agradar, mas eu estava tão cega pelo Alex que não vi.
Ele me coloca em um pedestal, não critica a forma como me visto. Sempre gostei de roupas curtas, e nem todo cara aprova isso, principalmente o Alex. Mas quem liga pra opinião dele, eu me visto como eu quero, sou eu quem compro as minhas roupas.
Talvez eu devesse dar uma chance pro Raul, quem sabe eu não acabo me apaixonando por ele. Por falar nele, ele apareceu no final da aula, radiante, com o sorriso que só ele tem.
—– Onde estava em? — Abraçou a Marina por trás
—– Não te interessa – Ela responde tentando se soltar, mas ele a aperta mais, só me resta da risada
—– Me solta, idiota
Ele a soltou e depois a encarou com um sorriso malicioso.
—– Na cama de quem você acordou dessa vez em? Menino ou Menina?
—– Nao enche — Ela empurrou ele
Marina é pra frente, ela engana todo velho que acha pra poder ir em festas sem precisar pagar nada. Eu queria ser igual ela, desapegada, pena que eu estou apegada a um cara que não dá a mínima para os meus sentimentos.
Ela e Raul começaram uma briga infantil e besta. Sempre estão discutindo ou brigando, mas essa é a forma que eles encontraram de demonstrar o amor fraternal que sente um pelo outro.
— Parem vocês dois, parecem crianças — Repreendi
Os dois pararam e Raul veio pra perto de mim, ofegante, depois parou de rir pra me admirar.
Ele ficou me encarando por um tempo, até perceber que isso estava ficando estranho.
—– Deixa que eu levo pra você — Disse, tomando a mochila de mim
—– Obrigado — Sorri timidamente pra ele, que seguiu do meu lado
Eu olhei pra ele algumas vezes, e apesar dele ser incrível, eu não o via como um possível namorado.
Olhei pra Marina e ela piscou pra mim, e eu revirei os olhos pra ela.
Seguimos até a saída, até que Marina viu alguma coisa.
—– Quem é aquele?
Seguimos os seus olhos até darmos de cara com alguém vindo. Raul colocou os óculos pra poder ver melhor.
Meu coração acelerou assim que reconheci.
—– Fiu fiu — Marina disse olhando-o de cima a baixo. Confesso que me deu uma pontinha de ciúmes, mas eu me controlei
—– Tá fazendo o que aqui? — Perguntei antes mesmo dele se aproximar, deixando os meus amigos surpresos por eu conhecê-lo
Eles nem sabem da existência dele, e eu queria que continuasse assim, pena que as coisas não são do jeito que a gente quer.
Ele tirou os óculos escuros e me encarou profundamente com o seu olhar azul.
—– Ora, eu vim te buscar — Ele diz despreocupado
—– Conhece ele ? — Raul perguntou deixando claro o seu ciúmes
—– Sim, e o meu primo — Falo sem conseguir desgrudar os olhos de Alex que sorri de canto
—– Miga, por que não diz que tinha um primo tão gato? — Marina diz
—– Alex — Ele estende a mão pra ela que a agarra imediatamente — Muito prazer
Marina fica hipnotizada por um instante.
Limpo a garganta para ver se ela se toca.
—– Marina — Disse quase que suspirando
É visível que Ela ficou caidinha por ele, isso porque ela nem o conhece de verdade.
Eu sei bem como é isso, parece mágico no começo, mas é pura ilusão. E eu vou fazer de tudo pra Marina não cai no encanto dele.
Eu estava tão focada nos dois que esqueci completamente do Raul.
—– Raul, esse é o meu primo Alex — Apresentei meio sem jeito.
Raul sorri fraco e estende a mão pra ele, mas já dá pra sentir uma rivalidade se formando entre os dois.
Alex pega na mão deixando transparecer um sorriso falso.
—– Ela não contou, tô passando um tempo na casa dela.
—– Não, ela não contou — Raul olhou pra mim, decepcionado
—– Não contei porque não achei que fosse importante.
–— Isso é o que você diz — Alex me fuzila com o olhar — Agora vamos " prima".
—– Eu vou com o Raul hoje — Agarro o braço dele e ela fica animada com a ideia — Se você olhar bem, vai ver que tem muitas garotas querendo uma carona
Ele olhou pra trás e se deparou com um grupo de garotas sorrindo e acenando maliciosamente pra ele. Ele voltou a olhar pra mim e tentou disfarçar a raiva.
Depois ele olhou pra Marina que estava a um tempo encarando ele.
—– Mari aceita uma carona?
Mari?
Antes dela abrir a boca, eu intervi.
—– Ela não precisa, o motorista dela vem pega-la
—– Mas eu posso ligar pra ele e falar que vou com um amigo pra casa, ele não vai se importar — Ela disse, Fuzilo ela com os olhos
—– Ele não é o seu amigo, acabou de conhecer ele
Ciúmes é algo que por mais que você tente controlar, você não consegue.
—– Amiga, o que deu em você, seu primo só está sendo gentil.
Alex pode ser tudo, menos gentil, ele só quer me irritar e isso ele sabe fazer muito bem.
E ele parecia se divertir com essa história.
—– Olha que seja, vamos Raul — Puxei o Raul pela mão
A raiva estava me consumindo por dentro, não acredito que ele está aqui, e que está usando a minha amiga pra me fazer ciúmes, isso é um golpe muito baixo.
Tomara que não aconteça nada entre eles, eu não suportaria.
—– Parece que você não gosta muito do seu primo — Raul interrompeu os meus pensamentos, e eu notei que ele estava contente com isso
—– Eu não suporto ele...
—– Ele te fez alguma coisa?
—– Raul, se não se importa, eu não gostaria de falar sobre isso.
—– Nem eu — Ele sorriu e depois me entregou o capacete
Peguei o capacete e coloquei na cabeça em seguida subi na moto. Ele me deixou em casa, e se despediu de mim com um beijo no rosto, mas eu senti que ele queria mais do que isso pela forma como ficou me olhando.
Talvez Marina esteja certa, ele gosta de mim, e infelizmente não é recíproco, e eu não posso dar esperanças a ele, mas também não sei como dizer a ele que não sinto o mesmo.
Isso é tão difícil, deixa minha cabeça mais confusa do que já está. Eu gosto da companhia do Raul, ele é o único que não me trata como um pedaço de carne nessa cidade, apesar de estar apaixonado por mim, e eu não quero que nada estrague a amizade que temos.
Quando entrei em casa, percebi que o Alex ainda não havia chegado, e isso me deixou com muita raiva.
Se ele ficar com a Marina, eu nunca vou perdoa-lo, ele pode ficar com quem quiser, menos com a minha amiga, porque sei que isso é só pra me atingir, eu não quero que ele a use dessa maneira. Marina é desapegada, mas é muito sensível, e ele pode magoa-la, assim como fez comigo.
—– Sabe pra onde o Alex foi? — Pergunto pra minha mãe
—– Ele chegou, depois saiu de novo, e não disse pra onde ia
—– Droga! — Pensei alto
—– Por que está tão irritada?
—– Não estou
—– Já sei, você está com medo dele fazer igual da outra vez, se envolver com coisa perigosa, ele mudou não vai mais fazer isso
Eu tinha me esquecido disso até a minha mãe citar, o Alex já foi de uma gangue há um tempo, ele já usou todo tipo de droga, mas hoje acreditamos que ele está limpo. Depois que foi morar com o pai, virou outra pessoa, até porque o pai dele não tolera esses tipos de coisas por lá.
Mas ainda sim, acho que ficar com a minha melhor amiga é pior.
Passei o resto do dia com várias paranóias na cabeça enquanto a ansiedade me sufocava. Eu não quero me sentir assim, mas não consigo evitar.
Eu ainda amo Alex e me mataria ver ele ficando com outra pessoa, ainda mais sendo a minha amiga, e o pior que eu nem posso dizer pra ela como eu me sinto em relação a isso.
Eu não quero que os meus amigos descubram esse amor doentio que sinto por ele, isso me envergonha.
Alguém chegou em casa, eu pensei que era ele, mas era apenas o Raul.
—– Oi, Sra Margaret — Ele cumprimentou a minha mãe e ela o abraçou
A minha mãe gosta muito do Raul, assim como o Alex, ele é como um filho pra ela.
—– Eu resolvi passar aqui antes de ir pro trabalho, trouxe um bolo pra senhora, fui em que fiz.
—– Ah, que fofo, não precisava — Ela o abraçou novamente
Eu estava escorada no batente da porta, observando os dois, admirada.
—– Oi, Bya — Ele olhou pra mim e os seus olhos brilharam
—– Oi, Raul
—– Você está bonita, como sempre.
Eu tinha colocado um vestido qualquer, aliás ele está até desbotado de tanto que eu uso, mas ainda sim o Raul vê beleza nisso.
O mundo seria melhor se existisse mais caras como ele.
—– Obrigado — Sorri timidamente
Eu queria perguntar se ele falou com a Marina, mas isso levantaria algumas suspeitas, então deixei pra lá
Não quero que ele pense que sou louca, porque eu realmente estou agindo como uma.
—– Entra, menino — Minha mãe o chamou pra dentro
—– Não, eu tenho que ir
—– Está bem, outro dia você vem ficar com a gente
—– Venho sim — Ele abraçou a minha mãe e depois acenou pra mim
Acenei de volta, tentando manter um sorriso no rosto até ele sair, mas quando ele foi embora, esse sorriso sumiu e outra vez fiquei preocupada.
Mas tentei deixar essa preocupação de lado e fui tomar café com a minha mãe, e comer o bolo que o Raul fez, que a propósito estava delicioso. Minha mãe e eu conversamos sobre várias coisas, e eu acabei me destraindo por um instante.
A noite caiu e nem sinal daqueles dois. A minha mão estava coçando pra mandar mensagem pra Marina, mas eu me controlei. Eu não quero dar na cara que estou com ciúmes, isso é humilhante demais, vou deixar pra ele me contar quando chegar, isso se ele contar.
E vou tentar fingir que não me importo.
Quando eu estava no meu quarto estudando pra prova, eu ouvi um barulho na sala. Dominada pela curiosidade, fui até lá e acendi a luz.
Era ele.
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