2
Fico sob efeito do seu olhar hipnótico por um tempo, sem conseguir sequer abrir a boca pra dizer um oi.
Estagnada.
Céus! Minha cabeça está repleta de memórias indecentes.
E o pior, é que estou diante do caixão da minha avó.
Eu olhava para os lábios dele e lembrava de como era delicioso beijá-lo, adentrar os meus dedos em seu cabelo sedoso, aspirar o cheiro de sua pele.
Desço os meus olhos para o seu corpo, sinto o ar faltar, pois agora ele está mais alto, mais forte.
Meu corpo está sendo impulsionado a fazer coisas que eu não devo, e a boca a dizer coisas que eu não quero.
—– Alex?
Alguém o chama, mas os seus olhos continuam grudados nos meus, e por mais que eu me esforce, não consigo desviar.
—– Nossa, que bom te ver primo — Samuka diz se colocando entre a gente.
Por fim, Alex desvia os olhos dos meus e eu sinto o efeito hipnótico acabar, é como se tudo estivesse rodando em câmera lenta e voltasse ao normal.
Solto todo o ar que por algum motivo eu estava prendendo.
—– Também é bom te ver, cabeção — Ele o abraça.
Alex sempre inventava um apelido pra todo mundo, o meu era " feiosa ".
Abaixo a cabeça um pouco retraída, enquanto os dois conversam, e aproveito pra fugir.
Sim, fugir, pois eu não consigo lidar com essas emoções agora.
A ansiedade desenfreada me fez correr desesperada, esbarrando em algumas pessoas pelo caminho.
Algumas pessoas me olham com pena, talvez por acharem que de alguma forma eu estou sofrendo pela perda da minha avó, e não estou conseguindo lidar com a dor.
Eu estava triste pela minha avó, mas com o Alex ali, eu não conseguia sofrer direito.
Pois minhas emoções estão todas voltadas pra ele.
Alex me magoou, e por mais que eu negue, eu ainda não superei.
Meu coração batia muito rápido, e minha respiração tensa estava me sufocando.
Ar, eu preciso de ar.
Abro alguns botões do meu vestido preto e me aproximo de uma janela.
—– Você está bem? — Uma garota aleatória pergunta, me assustando com o seu toque frio
Isso fez o meu coração bater ainda mais forte.
—– Sim, estou — Respondi ofegante e depois me afasto.
Corro os olhos em volta, procurando alguma pra focar, para que eu não ficasse tão à mercê desse sentimento ruim, mas é em vão.
Começo a hiperventilar.
Foi ele quem me deixou assim, antes eu era tranquila e hoje sou um poço de ansiedade.
Então lembrei do jardim.
O cheiro das flores pode me ajudar a esquecer o cheiro dele nem que seja por um momento.
Respiro fundo e tento controlar minha respiração descontrolada e o meu corpo agitado.
Não acredito que mesmo tendo passado tanto tempo, ainda sinto as mesmas coisas de antes.
Sento em um banco, enterro o rosto nas mãos e começo a chorar
Não tem outra forma de lidar com isso.
É um turbilhão de emoções que não consigo controlar.
As imagens de Alex se misturam com as da minha avó, e minha cabeça fica uma bagunça.
—– Lembra quando ela fez um suéter pra gente? — Uma voz soa de repente.
Tiro as mãos do rosto e levanto os olhos, me deparando com Dylan na minha frente.
Sorrio entre as lágrimas ao recordar.
Eu ainda tenho esse suéter guardado comigo, e fiz bem em guarda-lo, pois será a única lembrança que vou ter da minha querida avó.
—– Sim.
—– Mas só para os preferidos dela, eu, você e o...
—– Alex — Suspiro automaticamente.
Alex sempre esteve presente em minha vida.
Quando fecho os olhos, me vêem memorias de uma infância feliz, repleta de brincadeiras, mas também me vêem lembranças de um passado que eu estou tentando esquecer.
—– Eu só não entendo porque o meu era cor de rosa.
Reviro os olhos.
Ele se senta do meu lado e apoia a mão no meu ombro, estranho sua atitude.
—– Pode chorar prima, põe pra fora essa dor.
Viro o rosto e olho dentro dos seus olhos com uma certa ironia.
—– Acho que quem deve pôr alguma coisa pra fora aqui, é você...
Ele fica nervoso de repente e se afasta.
—– Qual é Dylan, todo mundo sabe, a vó sabia, foi por isso que fez a porra do suéter rosa pra você — Falo ríspida, e ele se assusta
Uma lágrima escorre dos seus olhos, mas ele a enxuga rapidamente.
—– Eu... vou ajudar a pôr a mesa, os convidados devem estar com fome, se cuida, Grace — Ele diz totalmente sem graça
Suspiro fundo e me levanto, me dando conta da merda que acabei de fazer.
—– Ei, espere!
Ele olhou pra trás, e eu vi que ele estava prestes a transbordar, e isso fez eu me sentir mal, mas uma vez eu estava descontando minhas frustrações nas pessoas.
—– Me desculpe, eu não queria ter dito isso, é que hoje é um dia difícil pra todo mundo, e as emoções estão a flor da pele e...
—– Tá tudo bem prima — Ele sorri fraco, fingindo que não se abalou.
Mas ele não era muito bom nisso, e nem eu.
É por isso que eu estou aqui no jardim, e não enfrentando os meus problemas como uma pessoa inteligente faria.
—– Eu... posso ir com você, pôr a mesa? — Pergunto com um certo receio dele recusar, considerando a forma como falei com ele.
—– Claro — Ele estende a mão, e eu a agarro contente
Dylan era o meu melhor amigo, as melhores fofocas, eu sempre guardava pra ele.
O Alex era mais distante, e eu nunca pensei que ele fosse chegar tão perto.
Caminhei relutante até a sala de jantar, pois todos estavam lá, inclusive o Alex, me desconcertando com o seu olhar tentador.
Ele umedeceu os lábios quando me viu e minhas pernas ficaram trêmulas, sim, ele causa esse efeito em mim sem ao menos me tocar.
—– Dylan, vou ver onde está a minha mãe — Toco seu ombro, sem conseguir desgrudar os olhos do Alex.
—– Não ia me ajudar a pôr a mesa?
Por fim, desvio o olhar de Alex, e encaro Dylan, que me olha confuso e um pouco desapontado.
—– É...eu só vou ver onde ela está e depois eu volto pra te ajudar.
—– Está bem — Ele suspira
Assim que viro as costas, escuto a cadeira arrastar e meu coração acelera.
Paro por um instante no corredor, sentindo alguém se aproximar
É ele.
O que eu vou dizer.
O nervosismo volta a atacar o meu corpo, mas ele apenas passa por mim, me fazendo prender a respiração e depois soltar.
Aposto que ele fez isso de propósito.
Escoro na parede um pouco tonta, e a sensação que sinto é que vou desmaiar.
—– Bya, você está bem? — Tia Suzan pergunta
Sempre tem que ter um pra perguntar isso, eu odeio isso, pois a coisa que eu mais preciso agora é de paz.
E quem estaria bem em um momento como esse? Que pergunta mais idiota.
Levanto os olhos e olho pra ela.
—– Sim, tia, não se preocupe — Suspiro, prestes a chorar — Por acaso, você sabe onde a minha mãe está?
—– No quarto da sua avó, ela não saiu de lá desde que chegou, ainda não conseguiu se aproximar do caixão, coitada.
—– Obrigado, eu vou até lá — Passo por ela e sigo pelo corredor, rumo ao quarto da minha avó.
Respirando fundo no caminho pra tentar ficar mais calma.
Me aproximo e bato na porta.
—– Mãe?
—– Entra.
Abro a porta devagar e adentro o quarto.
—– Você tinha sumido, então vim te procurar — Falo, em seguida fecho a porta.
—– Sem problemas, querida — Ela diz com a voz embargada.
Me aproximo e me sento do seu lado, enquanto ela encara um retrato, onde ela aparece ao lado da minha avó.
Ambas ficamos em silêncio. Não há nada que se possa dizer que vai tornar esse dia menos pior.
Minha vó se foi e abriu um buraco em todos nós.
Então eu apenas a abracei e ofereci meu ombro pra ela chorar.
Ela fungou e passou a mão pelo meu cabelo e rosto.
—– Vamos ter que passar alguns dias aqui, sua avó vai ser enterrada amanhã bem cedo, e depois disso teremos algumas coisas pra resolver.
Sim, é óbvio que muitos aqui só estão interessados na herança.
—– Sim, só vou avisar os meus amigos, para eles não ficarem preocupados.
Ela assentiu, depois voltou a chorar.
—– Como vou superar isso ...
Meus olhos automaticamente se encheram, e uma dor se formou em meu peito.
—– Vai sim mãe, já superamos muitas coisas, juntas.
Eu não gosto de ver a minha mãe sofrendo, ela sempre foi uma mulher tão forte, sempre cuidou de mim com muita garra, e sozinha, pois meu pai foi comprar cigarros e nunca mais voltou.
Mas entendo que uma perda assim, desmotiva qualquer um, se a perdesse um dia, não sei o que seria de mim.
—– Eu vou lá ajudar o Dylan, eu falei pra ele que ia voltar pra ajudar.
—– Pode ir lá, meu amor, daqui a pouco eu vou também.
Dou um beijo em seu rosto e passo a mão pelos seus cabelos compridos e volumosos, depois me levanto da cama e vou em direção à porta.
Quando eu cheguei na sala de jantar, todos já estavam se servindo.
" Droga "
O Dylan deve tá puto comigo, mas eu ainda posso ajudar com a louça.
—– Prima, você não vai comer? — Samuka pergunta, provavelmente ele estava no seu segundo prato.
—– Não, primo, estou sem fome.
—– Olha, passar por um momento como esse é difícil, mas com a barriga vazia é ainda pior, prova essa costela está uma delícia.
—–Eu como outra hora — Recusei, e ver sua mão toda lambuzada me deu nojo — Você viu o Alex?
—– Está sentado lá fora na calçada — Respondeu com a boca cheia — Também não quis comer, é bom que sobra mais pra mim
—– Obrigado, Samuka
—– Não tem por onde.
Eu ainda não estou preparada pra falar com Alex, mas se vou passar mais dias aqui, então é melhor tentar esclarecer as coisas entre a gente.
O passado tem que ficar no passado, até porque eu já estou seguindo a minha vida, focando na minha carreira profissional e não quero que nada atrapalhe isso.
Saio lá fora, mas para minha decepção não avisto ninguém.
Corro os olhos em volta e nem sinal dele.
O que eu estou fazendo aqui?
Dou meia volta, mas antes de entrar, o meu coração dispara ao sentir a aproximação.
Fico petrificada, pois só pelo cheiro sei exatamente de quem se trata.
—– Tá procurando alguém? — Sua voz soa atrás de mim, fazendo meu corpo arrepiar.
Viro lentamente e outra vez encaro aquele olhos. Seus olhos estavam escuros como à noite e isso o deixa ainda mais sexy.
Umedeço os lábios.
—– Não — Balanço a cabeça — Quer dizer sim.
Ele sorri de canto, e as borboletas se agitam no meu estômago.
—– Quem? — Ele pergunta, dessa vez sério.
Eu não ia dizer que era ele, por que isso aumentaria ainda mais o seu ego.
—– Dylan.
—– Ele foi pra lá — Apontou na direção do jardim — Está com um garaoto.
Se Dylan está com um garoto, coisa boa é que não estão fazendo.
O povo não se dá conta que estamos em um velório, que puta falta de respeito
—– Ah...
Alex ficou esperando eu ir atrás do Dylan como eu havia mencionado, mas eu não consegui sair do lugar.
Porém seu olhar estava começando a me intimidar.
—– Então, eu... vou lá — Quando dou o primeiro passo, ele me agarra pelo cotovelo e me arrasta pelos arbustos
—– Ei, o que está fazendo? Me solta.
Ele me solta, e eu percebo que estamos em um lugar escuro e menos movimentado da mansão.
—– Alex, se você está pensando que eu...
Antes que eu termine a frase, ele me empurra contra a parede e me beija loucamente.
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