11
Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei um pouco decepcionada com isso, a gente sempre espera que a pessoa mude, até porque já se passaram alguns anos, e eu achei que fosse tempo suficiente para ele amadurecer, mas acho que isso nunca vai acontecer Alex.
Uma vez moleque sempre moleque.
Ele olhou nos meus olhos e mentiu pra mim.
Outra vez.
Se eu fosse aquela adolescente de antes eu correria pro banheiro e choraria em frente ao espelho até minhas lágrimas se esgotarem, mas eu prefiro ficar e encarar essa situação como uma pessoa madura que sou, mesmo que isso doa muito.
—– Ficou chateada, eu sabia — Marina afirmou
Eu confesso que estou com raiva, mas não dela, e sim de mim mesmo por mais uma vez permitir que Alex me fizesse de idiota.
Por acreditar que ele faria diferente desta vez, mas eu sei que ele fez isso pra me magoar, e eu não entendo porque ele faz essas coisas. Ele é um enigma que eu gostaria de decifrar.
Ele deve ter muitos traumas do passado, visto que seu pai era ausente e sua mãe nem sempre estava sóbria, mas ele deveria evoluir com isso e não tornar tudo pior.
E não sangrar em mim.
Ele me tinha nas mãos e simplesmente me deixou deslizar por entre seus dedos.
Eu não vou mais dar ele o poder de me ferir.
—– Não, amiga, tá tudo bem — Suspirei, me esforçando pra não demonstrar minha indignação
Ela respirou aliviada.
—– Ufa! é porque você não disse nada, então fiquei com medo de você achar ruim ou sei lá, eu sei que vocês não se dão muito bem, mas ele não deixa de ser da sua família, não é, então achei justo te contar
Achei nobre essa atitude dela de me contar, com certeza eu ia surtar se do nada os dois surgissem de mãos dadas.
Seria pesado muito pra mim.
—– Não, eu só estou um pouco surpresa com a velocidade que tudo aconteceu, vocês se conheceram ontem e já ficaram...
Tentei camuflar o meu ciúmes com um sorriso forçado.
—– Mas desde que bati o olho nele a primeira vez, eu senti uma coisa, sabe? e não falo só de tesão, e sim de ... — Ela hesitou, depois suspirou — Ah, ele é muito foda
É, ele é muito foda, até destruir o seu coração em milhões de pedaços.
—– Amiga, só tome cuidado pra não se apaixonar — Ri, mas de nervoso, porque não quero que isso de fato aconteça
Primeiro: Porque eu ainda gosto dele e não suportaria vê-lo com outra pessoa, muito menos a minha melhor amiga. segundo: Eu sei que ele vai magoa-la, porque claramente ele só está usando ela pra me fazer ciúmes, porque sabe que isso me afeta diretamente
O sorriso que ela tinha no rosto foi diminuindo aos poucos, e isso me deixou preocupada, eu temo que ela já esteja apaixonada por ele, porque ela é muito intensa e sempre acaba se ferindo no final.
—– Por que?
—– Por que ele é puro golpe, zero responsabilidade afetiva, e eu não quero que se machuque.
—– Como você sabe dessas coisas? Já ficou com ele?
Essa pergunta me pegou de surpresa, eu não esperava por isso. Só de pensar nisso, a minha respiração acelera.
—– O- o que? Não — Respondi nervosa
—– Eu só estou brincando — Ela riu — Se tiver ficado também, tá tudo bem, também já fiquei com alguns primos meus.
—– Ok, mas não é o meu caso, eu jamais ficaria com o Alex, ele é como um irmão pra mim, poxa.
—– Relaxa, amiga, até porque se você tivesse ficado com ele, você me contaria, não é mesmo?
—– Sim, claro.
Isso me fez refletir um pouco, a Marina é minha melhor amiga, sei de todos os segredos dela e ela sabe dos meus, mas eu ainda não me sinto confortável pra falar sobre o Alex, pois não se trata apenas de um caso, o que tivemos foi surreal, foi amor pra mim, embora pra ele não tenha significado nada. Foi um encontro de duas almas incompreendidas onde eu abracei a escuridão dele e ele a minha, e falar sobre nós é como abrir uma ferida que nunca foi fechada.
Eu teria que acessar as raízes do trauma e eu não sei se estou preparada pra isso e nem sei quando vou estar.
Sinto que a escuridão dele me persegue, mas eu não posso abraçá-la, pois sei que ela irá me consumir.
Eu criei um mundo onde eu não quero que ele faça parte, e quando mais cedo ele for pra Londres, melhor.
Quando seguindo em direção ao portão de saída, Raul surgiu, nos abraçando por trás.
—– E ai, meninas, sobre o que estão conversando? — Perguntou empolgado
—– Nada que seja do seu interesse — Marina disse, e ele fez uma careta pra ela
Depois olhou pra mim, me senti um pouco constrangida com o seu olhar profundo.
Desde que descobri que ele gosta de mim fico um pouco sem graça na sua presença, e isso nem deveria acontecer já que somos amigos e eu nunca precisei esconder minhas emoções dele.
—– Que tal sairmos hoje a noite, nós três — Ele direcionou os olhos pra Marina e parecia que os dois estavam combinando algo
Marina fez corpo mole.
—– Vixe! não vai dar, vou ter que estudar pra prova de amanhã.
—– E desde de quando você estuda para as provas, Marina.
—– Ué, desde agora.
—– Então vamos só nós dois? — Ele olhou pra mim com o brilho de sempre nos olhos
Eu pensei em recusar, mas também penso que essa pode ser uma boa oportunidade de dar o troco no Alex, e mostrar pra que se ele não pode brincar com os meus sentimentos e ficar por isso mesmo.
—– Tá, eu aceito.
Raul vibrou com a minha resposta, pra ele isso tudo é muito especial, e vê-lo tão feliz faz eu me sentir culpada porque eu não quero acabar magoando ele no final.
Ele é incrível e merece uma pessoa que goste dele de verdade, e não alguém que o faça sofrer.
Eu melhor do que ninguém, sei o que é isso.
Gostar de alguém e não ser recíproco.
Depois da faculdade eu fui até o meu emprego pra ver se eu ainda tenho um emprego, e fiquei surpresa de ver que eu não só tenho, como o meu chefe super entendeu os meus motivos.
Ele é terapeuta, e eu fui sua paciente por um tempo, ele me ajudou a sair da depressão, e quando eu percebi que já estava me sentindo melhor parei de frequentar as consultas, até que um dia eu o encontrei por acaso na rua, e falei sobre a faculdade e que eu estava a procura de um emprego, pois era a minha mãe que pagava, e eu não queria que ela arcasse com os custos sozinha, então ele me contou que tinha aberto um consultório próprio e precisava de alguém pra ajuda-lo e cá estamos.
Inclusive foi nele que eu me inspirei pra fazer a faculdade, acho incrível a forma como ele lida com os seus pacientes, de uma forma leve e bem humorada.
E espero ser tão boa quanto ele.
Aproveito pra estagiar também, já aprendi muitas coisas úteis e fico feliz que ele seja o meu mentor nessa jornada.
—– Meus pêsames pela sua avó, Bya, imagino que deva ter sido muito difícil pra você — Lamentou
As palavras ficaram entaladas na minha garganta e meus olhos se encheram de lágrimas.
Sim, é muito difícil falar sobre a minha avó, ainda dói muito.
—– Ah, não fique assim.
Ele deu a volta em sua mesa e veio me abraçar, algo que eu nunca pensei que ele faria.
A gente ficou assim por um tempo, até ele se afastar e olhar pra mim.
—– Você pode voltar amanhã, está bem?
—– Obrigado! — Suspirei aliviada
Ele sorriu gentilmente.
—– E vê se me conta as coisas, não sou adivinha — Ele brincou enquanto voltava para a sua mesa, depois me lançou um olhar sereno — Antes de ser o chefe, sou seu amigo e você pode contar comigo
—– Ok, pode deixar — Sorri comovida.
Cheguei em casa feliz por ter recuperado o meu emprego e ansiosa pra contar a novidade pra minha mãe, mas ela ainda não havia chegado do trabalho.
Notei a casa silenciosa então percebi que Alex também não estava, o que não é nenhuma surpresa, visto que ele nunca estar em casa.
Eu nunca sei onde ele está.
Antes eu costumava me incomodar com isso, mas hoje em dia, quanto mais longe ele estiver, melhor.
Eu já quis muito o Alex por perto, mas era quando não doía tanto.
Hoje dói só de olhar pra ele e reviver toda a dor que ele me causou, espero que um dia eu possa olhar pra ele e não sentir mais nada.
Subi pro quarto, tomei um banho, depois comecei a me arrumar pra sair com o Raul.
Fiz questão de caprichar, pois quando o Alex me visse ele ia se dar conta do mulherão que perdeu.
Uma mulher de estatura média, corpo curvilíneo, cabelos loiros e olhos azuis não se encontra em qualquer esquina.
Chega ser cômico.
Porque essa beleza não serviu de nada, já que na primeira oportunidade o Alex me traiu. Ele preferiu pegar o meu coração e amassar como se fosse uma folha de papel.
Uma folha de papel que nunca mais vai voltar a ser a mesma.
E isso diz mais sobre ele do que de mim e é por isso que eu decidi que não vou me culpar mais.
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