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Kauã, eu te odeio

Não sei como expressar a falta que você faz, e pode ser que nem seja tanta.

A maior parte do tempo eu nem penso em você.

Nós crescemos juntos, mas acho que parte das memórias, parte dos momentos bons que tivemos, morreram bem antes de você ficar sem oxigênio no cérebro.

Eu estava com raiva de você. Raiva por causa do seu comportamento, a sua falta de equilíbrio. Você ameaçou machucar os outros ao seu redor além de você mesmo e eu nem me importei de ir atrás, de entender que tipo de pensamento estava passando na sua cabeça.

Eu nunca mais te mandei uma mensagem, mesmo sabendo que você...

Pensar em você ficou mais difícil com o passar do tempo. Já vão fazer três anos desde que você se matou e agora parece que todo dia tem alguma coisa para me lembrar disso. Todo dia.

Eu ainda estou com raiva de você. Depois de anos sem nos falarmos, você se matou antes que eu chegasse. Um mês antes de eu te ver.

Eu estava com medo de você. Fiquei sabendo dos seus olhares e de como você estava assustando nossa família e fiquei com medo pelos meus pais. Como que eu dormiria tão perto de um cara tão descontrolado? pensamos que você estava possuído.

Eu tô sentindo sua falta, porque quando a gente se via, você sempre me tratou com carinho.

Você era tão inteligente. Bonito. Carismático. Hoje sua carne apodreceu e no seu caixão só tem matéria. Você se foi e depois que a nossa geração morrer, você será apagado da história. Seu celular tem outro dono, suas contas foram deletadas. Se mencionarem o seu nome, será só para dizer o fim trágico que você teve.

Muito provavelmente dirão que a culpa foi sua. A escolha foi sua.

Muitos nem fazem ideia de quem você era antes de você se tornar o "problema". Eles perderam a paciência rápido e eu não posso dizer que agi diferente deles. Seu pai era um demônio e se matou um ano depois de você, sabia? mas ele merece arder no fogo do inferno, você não.

Você não merecia nada daquilo.

Você merecia ter amigos legais e que se interessassem pelo que você falava. Merecia estar num bom relacionamento, com uma pessoa legal e confiável. Você merecia pais melhores. Seu pai era um alcóolatra e sua mãe só sabe cuidar dela mesma. Sabe o que ela anda fazendo com sua irmã? Faz ideia das merdas que a sua irmã mais nova tá passando depois que você se matou, depois que seu pai se matou? Sabe que foi ela que te viu pendurado? Naquela secura feia do nordeste, pendurado por uma porra de uma corda.

Eu te odeio, Kauã, eu te odeio.

Te odeio por ter feito isso com ela, consigo mesmo e comigo.

A Vi me disse que você sentia minha falta também. De tantos primos que nós temos, eu era a mais próxima de vocês. Porra, custava ter me esperado? Me deixado ver você uma última vez?

Eu te odeio tanto.

Sei que eu não tinha nada a ver com os seus problemas, nem culpa deles. Mesmo se tivesse, não dá pra mudar nada hoje. Mas eu também sei que minha família era a única que te tratava com dignidade. Me lembro da gente criança. Me lembro de você mais novo, você tinha tanta fome. Você era tão esperto que eu me sentia burra do seu lado.

Eu te amo.

Eu sinto sua falta pra caralho.

Eu me lembro da vez que você segurou minha mão como se não quisesse que eu me afastasse. Mas eu me afastei.

Eu me lembro de não ter chorado quando minha mãe se virou e me contou que você morreu. Por que eu não senti nada.

Eu lembro de ter chorado muito quando vi seu túmulo pela primeira vez. Eu não consegui respirar.

Não estou conseguindo respirar agora. Minha garganta está apertada, minhas lágrimas caem sem parar e eu to tentando não parar de escrever porque eu tenho que colocar para fora essa porra ou eu vou explodir.

eu lembro do seu sorriso. ainda me lembro da sua voz. consigo te ouvir, mas nem sei o que você tá falando.

ainda tenho a foto do seu sorriso, aquela que você me mandou antes de pararmos de nos falar. quantos anos fazem isso? foi em 2018? acho que nunca vou conseguir apagar aquela foto. seu sorriso era tão lindo.

me desculpa por ter raiva de você. me desculpa por não ter te chamado, me desculpa por não ter feito quase nada ao ver aquela porra daquelas suas postagens sobre suicídio. Eu sinto tanto por não ter dado atenção a seus avisos.

eu falei pra você não fazer e você fez mesmo assim.

tive uma aula essa quinta feira sobre morte. eu pensei que dava conta, mas só de mencionarem suicídio eu me lembro de você. e eu comecei a chorar, Kauã, eu chorei uma aula inteira e tive que ficar fora da sala. eu acho que não superei ainda, sei lá.

eu acho que te amo ainda. acho que não quero que você morra, mas você já está morto. eu não quero que você morra, não quero te esquecer. mas já te esqueci. não quero sonhar com você, não quero que assombre minhas lembranças. mas eu queria te ver de novo.

meu professor disse que não é a morte que tem que ser triste, é a vida que essa pessoa teve que deve ser celebrada.

e eu quero saber, que porra dá pra celebrar da sua vida? sua vida era uma merda, você nunca foi feliz. a única alegria que você e a Vi tinham era quando vinham passar uns dias na minha casa mas isso acabava e você tinha que voltar a morar com a porra do seu pai e a vagabunda da sua mãe.

será que se ele tivesse se matado primeiro, você sentiria um alivio? você melhoraria pelo menos um pouco depois que ele finalmente te deixasse em paz?

porque acho que toda família ficou aliviada quando seu pai morreu. o que é de se lamentar é que ele tenha acabado com a sua vida e a da Vi antes de partir. eu estava em ligação com ela quando ela viu o corpo dele. o grito que ela soltou me fez ter um ataque de pânico, o primeiro da minha vida. nenhum filme de terror poderia reproduzir aquilo, Kauã. nenhum.

você se lembra de como eu gosto de filmes de terror, né?

você mal tinha partido, a sua memória ainda estava fresca na memória dela quando ela viu seu pai do mesmo jeito. ela foi obrigada a ver aquilo de novo. ela é só uma criança. e você deixou ela. por isso eu tenho raiva de você.

é que eu te amo, sabe?

quando éramos menores, você me provocava para que eu te batesse. mais tarde, disse pra mim que entendia que era essa minha forma de demonstrar carinho. você entendia, você não reclamava. você me abraçava - ou isso é uma memória falsa de consolo?

por que eu não me lembro muito de você.

eu acho que você me amou. por um tempo, acho que até foi apaixonadinho por mim. ainda penso assim. e sim, é muita presunção da minha parte pensar que você se matou antes que eu chegasse de viagem só para que eu não te fizesse mudar de ideia.

como se eu tivesse esse poder. engraçado, né? você não iria rir se eu te falasse isso. acho que você me diria que não é minha culpa e que tudo bem eu seguir em frente. porque você era que nem a Vi e a Vi me consolou quando nós estávamos diante do seu túmulo.

seu túmulo não tinha seu nome. não tinha nenhuma flor sobre ele. era só um monte de terra. aquilo foi como um golpe no meu estômago. sua irmã que me consolou, acredita?

ela disse "tudo bem, Iza, ele tá num lugar melhor"

"ele te amava também, Iza."

ela que te viu pendurado numa arvore e eu, que nem cuidei de você, que estava sendo consolada. me afastei, saí do cemitério e quis gritar, mas só chorei e tentei com todas as forças reprimir aquilo, como se não merecesse sentir dor pela sua partida brusca. eu ainda sinto que não mereço, mas estou tentando mudar.

porque tudo bem chorar. nós crescemos juntos. eu amava você.

quantos anos você tinha mesmo? dezenove? a idade que eu tenho agora. é agora que eu estou pensando no quão estranho vai ser quando eu chegar aos vinte, mas quando foi a última vez que você me mandou feliz aniversário? por que foi que a gente parou de se falar mesmo? se não tivéssemos parado de nos falar, alguma coisa teria mudado? faria alguma diferença agora? aposto que só teria doído mais.

eu não te via fazia muito tempo, você estava tão alto quanto me contaram? tão forte? tão bonito?

você sempre foi bonito. você sempre foi encantador.

eu não sei mais o que dizer. se tiver como, me deixa te ver de novo? me consola, por favor. diz que eu tenho que sentir em frente e que também me ama. que eu posso sentir sua falta mesmo que não estivesse lá por você no seu pior momento.

quando sua vida não foi seu pior momento?

tá doendo, Kauã. tá doendo muito.

eu sinto muito. me desculpa.

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