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48: Final Stretch I

  Jeffrey

— Nossa que visita inesperada... — Não deixei nem o desgraçado terminar de falar, soquei sua boca com vontade.

— E sinta-se feliz por ser só um soco, poderia ser um tiro em sua cara.

— Você ta ficando louco? Porra! — Spencer cobriu a boca com a mão. 

— Quem começou foi você e você sabia que quando te visse cara a cara ia descontar. — Eu dei de ombros.

— Eu deveria te mandar pro inferno. Tá ciente de que eu poderia mandar te matar? Você sairia daqui em um saco de lixo.

— Eu tenho cara de quem tá com medo? — Debochei.

Vim preparado pra descontar a raiva que passei, basta ele revidar.

— Vou procurar outra forma de lhe ferrar. — O idiota riu.

— Se você chegar perto dela eu juro que...

— Não assim seu bastardo, para de esquentar o cu com rola fina. — Ele se jogou na poltrona.

— Depravado.

— Essa eu vou deixar passar. — Ele massageou o rosto. — Se acertou com ela?

— Isso te interessa por que?

— Por que quando você tá de mal humor por causa dela você fode meus negócios e se isso continuar acontecendo eu vou ser obrigado a te jogar num barril com ácido e eu não quero. — Eu franzi a testa. — Por enquanto.

— Ok... vou me vigiar pra isso não acontecer mais.

Spencer juntou as mãos em sinal de reza como quem agradece uma benção.

— Mas você tinha que esperar justo por mim?

— Digamos que pra certos assuntos eu acho que você se encaixa melhor. — Eu ergui a sobrancelha.

— Não me ponha seus pepinos pra resolver.

— Deixa de ser chato homem, quero que você tome a frente de algumas coisas pra me aliviar do trabalho e por que eu confio em você.

— Você tem noção do que tá falando? Eu acabei de te ameaçar de morte. – Nesse momento estou desconfiado, Spencer sempre me deu regalias mesmo eu pisando na bola, mas isso já é demais.

— Eu não posso me dar ao luxo de confiar em qualquer um e você é cabeça dura, mas nunca tentou me passar a perna e sempre cumpriu seus deveres. Apesar de você esta comigo a poucos anos, o pessoal tem receio de te peitar por que você é filho da puta. — Ele riu. — É burro e mal humorado, mas eu gosto de você. É só eu não mexer com a sua mulher e tá tudo certo, não é?

"Ele quer me elogiar ou me ofender?"

— Tá bem, pra que você precisa de mim?

— Vou me ausentar por um período, questões familiares. Junto o útil ao agradável e tiro umas "férias".

Spencer nunca deixou claro quem eram seus parentes, nunca falou muito sobre isso então eu acredito que eles não sejam tão próximos.

— Desde quando pessoas como você tiram férias?

— Eu também sou filho de Deus!

"Eu só quero ir pra casa."

— Tanto faz, eu faço qualquer coisa pra você me deixar em paz.

Não é bem do meu feitio fazer o que os outros me pedem tão facilmente, mas sinto que devo algo a Spencer por todo galho que ele me quebrou. Não é totalmente por culpa dele que eu briguei com Christine. Depois de tanta conversa, o doutor palestrinha finalmente me deixou ir embora. Eu saí apressadamente antes que ele mudasse de ideia. Já não era tão cedo, talvez Christine estivesse dormindo. Sem pressa, aproveitando a noite eu vaguei, optando pelo trajeto mais longo e quando cheguei em casa, Christine estava na sala deitada no sofá.

— Chegou tarde... — Ela disse ao se dar conta de minha presença.

Eu me encostei na parede observando.

— Você descansou?

— Mais ou menos.

Sei que ela deve estar cansada e com o corpo dolorido, só por seu tom de voz, sei que ela está desanimada também.

— Não consegue dormir? — Ela assentiu.

Christine vestia uma regata minha, acredito que esteja com um pequeno short por baixo. Posso ver sua pele pálida marcada em tons arroxeados.

— Você não vai conseguir dormir se continuar ai assistindo como um zumbi. — Eu desliguei a tv, ela protestou. — Vamos dormir.

— Eu não quero!

— Eu não te perguntei se queria. Se você não me obedecer em um minuto eu vou te arrastar até o quarto.

Christine me encarou afrontosamente sem a intenção de ceder. Cruzei os braços e esperei. Acredito ter se passado um pouco mais de um minuto enquanto nos encaramos.

— Tudo bem, não preciso que obedeça.

Estranhei quando eu a peguei nos braços e ela não se debateu ou me xingou.

— É o mínimo que você pode fazer, já que meu corpo dói por sua culpa.

— A culpa também é sua, quem mandou agir daquele jeito? Eu podia ter matado ele.

— E quanto a mim? — Eu a coloquei na cama.

— Deixe de procurar discórdia e vá dormir. 

Ela se deitou, devido ao que houve eu sei que ela não vai se sentir confortável dormindo ao meu lado. Dei as costas com a intenção de sair.

— Você pensa em me deixar? — Eu congelei.

— Não... já tentei, mas como você pode ver, não consegui. — Eu respondi o obvio. — Onde você quer chegar?

— O que te impede?

— Você tem prazer em me fazer perguntas idiotas? — Cristine gargalhou. — Mais alguma coisa?

— Sim. — Eu suspirei já sem paciência. — Você pode dormir aqui?

Eu franzi a testa, mesmo incrédulo eu obedeci. 

(...)

Quase sete meses se passaram. Eu tenho trabalhado mais, mas sempre reservo tempo para Adam e Christine. Em alguns momentos eu e ela estamos tão íntimos que não sei onde começa um e termina o outro. Adam vem se tornando mais esperto a cada dia, Christine vem tentando ensiná-lo a tocar piano e logo vamos colocá-lo na escola. Tudo se encontrava estável e nossa convivência tornou-se mais pacífica depois de adotarmos algumas regras simples. Por exemplo, dividimos algumas tarefas, claro que a maior parte fica por responsabilidade dela, mas em meus momentos livres eu gosto de fazer algumas com a desculpa de ajudar, mas a verdade é que só quero estar mais tempo com ela. Não discutimos mais o que eu faço ou deixo de fazer em meu "trabalho", ela deixou claro que quer apenas que eu não deixe nada relacionado a isso por ela e Adam em perigo e que ele não poderia saber nada sobre isso.

— Jeffrey, podemos conversar?

— O que foi amor? — Deixei meu celular sobre a mesa, prestando atenção nela.

Christine cruzou os braços com uma expressão neutra e falou.

— Estou grávida.

Eu não pude conter um riso. Nunca disse nada a ela, mas admito que queria isso, sempre me perguntava se ela não estaria fazendo uso de anticoncepcional e desejava que não.

Sem dizer nada eu a beijei.

— Quando descobriu? Já estava sentindo algo antes?

Ela parecia surpresa então apenas respondia minhas perguntas sem muito a acrescentar.

— Já está com desejo de algo? Com Adam você estava sempre querendo comer doces. — Christine estava terrivelmente apática. — O que foi?

— Eu confesso que não estou tão animada, como você, pelo visto.

— Por minha causa? — Ela não respondeu. — Por que?

— Não é nada. — Eu me afastei um pouco. — Talvez ainda não tenha caído a ficha, só isso. Meu corpo vai ficar estranho e quando isso acabar eu vou estar com dois filhos pra cuidar.

— É com isso que você se preocupa? — Eu revirei os olhos. — Você era, é e sempre vai ser linda.

— É que eu estou preocupada. Tudo bem pra você?

— Por que não estaria? — Eu perguntei como se fosse óbvio. Qual seria o problema?

— Não é isso... — Eu me sinto confuso. — Eu vou ter de mudar toda minha rotina. Pra você é fácil, quem teve de passar por tudo sozinha da primeira vez fui eu e não quero passar de novo.

— Você fala como se eu não estivesse aqui. A maior parte do tempo você age com indiferença para tudo e na outra você esta estressada, nada mais parece te agradar e eu fico pensando que diabos mais faria você reagir. — Admito.

— Bem, descobrir que estou grávida não é algo que me deixou feliz então... me desculpe se eu pareço indiferente. — Ela deu de ombros.

Confesso que entendo sua reação e em partes me sinto culpado. Às vezes me pego pensando em alguns momentos que tivemos e fico desejando que ela volte a ser como era.

Não quero que a gente se desentenda por isso, tenho tentando muito ser uma pessoa diferente.

— Vem cá. — Ela se aproximou, eu a abracei. — Eu estou aqui, eu prometo que jamais vou deixar você sozinha. — Christine me encarou com um olhar desconfiado. — A menos que você me mate.

Ela riu antes de esconder seu rosto.

— Está bem...

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