47: Torre V
Christine
As vezes é mais fácil se iludir do que aceitar a dura verdade, mas estava na hora de aceitar as consequências de minhas escolhas e parar de "tapar o sol com a peneira".
— Meu bem, para de gritar. — Eu peço para Adam. Ele me encara por alguns segundos e então volta a brincar. — Presta atenção no desenho.
Meu humor estava insuportável e nada me distraía. Jeffrey estava sumido há quatro dias. Não que eu fosse me importar, mas gostaria de saber se ele está morto ou vivo, estando morto eu poderia ficar aliviada.
Desde aquela discussão que tivemos eu não o vi, é costume dele sumir quando o convém. Eu seguia como se nada tivesse acontecido e a única coisa senti falta de verdade era que ele ficava com Adam as vezes e nesses momentos que tinha algum tempo pra mim.
Ouvi o som da campainha tocar e revirei os olhos.
"Lá vem."
Fui até a porta já pronta para mandar pastar quem quer que fosse, mas me surpreendi ao ver Spencer do lado de fora. Abri a porta.
— Oi?
— Christine. — O maior sorriu de forma calorosa. — Atrapalho? — Eu neguei. — Certeza?
— Não, fica à vontade. — Eu o convido a entrar. — O que isso?
Ele ergueu uma sacola que parecia ter garrafas de bebida.
— Um presente, já que eu vim aqui procurar Jeff e por consequência, te importunar.
— Tenho más notícias pra você.
— O que? Você não vai beber comigo? — Ele fingiu estar chocado.
— O que? Não! Eu ia dizer que seu querido amigo sumiu faz quatro dias e eu não tenho nem ideia de onde ele possa estar. — Eu cruzei os braços. — E eu não bebo.
— Relaxa, ele vai aparecer logo. Eu tive de vim porque temos negócios a tratar e o cachorro não me responde. — Eu dei de ombros. — Enquanto isso, posso pedir que me faça companhia? E não me vem com desculpa que eu sei que você bebe vinho.
Eu levantei as mãos em sinal de paz. Não ia recusar, não porque eu não pudesse, mas porque não era má ideia ter companhia. Eu tenho estado meio sozinha ultimamente.
— Ótimo! A cozinha é pra que lado mesmo? — Eu apontei a direção. — Obrigado.
Spencer e eu não somos amigos, tenho quase certeza que ele sente ciúmes de Jeffrey comigo, mas na maioria das vezes que tivemos contato ele sempre foi cordial.
— Que negócios vocês têm pra resolver?
— São sobre pequenas demandas que necessitam ser concluídas, minha rosa. — Ele me serviu uma taça. Onde ele encontrou um saca rolhas? — Demandas essas que foram negligenciadas por meu suposto braço direito.
— Nossa, tudo isso em só quatro dias?
— Digamos que ele tem outras pendências e nosso negócio exige rapidez em certos casos. — Spencer respondeu de forma rasa. — O que houve entre vocês pra fazer ele debandar assim?
Eu dei de ombros tomando um grande gole de vinho. A bebida desceu de forma calorosa por minha garganta, o suave ardor me causou prazer.
— Acontece. — Ele queria me confortar?
Conversa vai e conversa vem, mantivemos o assunto na neutralidade. Spencer sabe conversar de forma leve e interessante, sem ser intruso demais em assuntos íntimos. Ele faz você se sentir confortável o suficiente com ele para querer falar mais abertamente sobre si mesmo.
— Você me espera um pouco? É só o tempo de eu colocá-lo pra dormir.
— A vontade.
Adam durante todo o tempo queria atenção, mas depois de comer, finalmente se cansou. Eu o levei até o quarto, não demorou muito para que ele dormisse.
— Vamos para a segunda? — Spencer ergueu a garrafa de vinho já aberta.
— Oh não, eu não bebo muito. — Eu me sentei quase ao seu lado. — Sou fraca pra bebidas.
— Se saísse comigo e Jeffrey, em um mês ia se acostumar.
Ele passou a taça. Eu a peguei.
— Não, eu jamais poderia beber tanto quanto ele. Em nossa antiga casa, ele guardava bebida em todo canto.
"Nossa casa?"
Entre algumas lembranças de momentos engraçados que trocamos, a segunda garrafa secou. Eu me sentia tonta, mas ainda estava ciente das coisas ao meu redor. Spencer parecia o mesmo e com certeza poderia beber muito mais e permanecer lúcido.
— Cansada? — Eu assenti. — Vamos, eu vou deixar você descansar.
— Não, tá tudo bem. Eu ainda quero beber.
Spencer sorriu.
— Que seja feita sua vontade. — Abrimos a terceira garrafa. — Eu deveria ter trazido mais.
Minhas risadas eram mais alegres e uma leve sensação de leveza me consumia. Eu estava me sentindo distraída e relaxada até ser assustada por um estrondo alto.
— Que porra você faz aqui? — Jeffrey entrou furiosamente na sala.
— Olá... — Spencer o cumprimentou. — Achei que não o veria mais.
Encaro Jeffrey, ao perceber a taça em minha mão ele avança em minha direção.
— Quem disse que você pode beber? — Ele toma a taça de mim.
— E quem disse que isso é da sua conta? Você desapareceu sem dar satisfação. — O maior me deu um olhar culpado, talvez estivesse arrependido, não sei. — E eu faço o que eu quiser.
— Spencer, posso saber o que você faz aqui?
— Eu vim te procurar e aproveitei pra passar um tempo com minha cunhada.
— Vai se foder. — Nesse momento eu estava achando tudo engraçado.
— O que? Eu sabia que se dissesse que viria aqui, você ia aparecer rapidinho. — Spencer se dirigiu a mim. — Obrigado por me deixar ficar e me fazer companhia, Christine.
— Imagina! Adorei conversar com você.
— Ah, agora vocês são amigos. — Era visível os ciúmes de Jeffrey. — Você já me viu, agora diz o que quer e dá o fora.
— Calma, por que toda essa agressividade? Não estrague prazeres, bebe com a gente.
— Spencer eu não estou com saco para brincar. — Jeffrey sentou-se no sofá em frente a gente.
— Homem para que tanto ciúmes? Você parece que vai me matar.
Eu o encarei incrédula antes de gargalhar.
— Claro, meu dono não permite que outros homens se aproximem de mim. — Eu queria irritá-lo e a única forma de fazer isso era causando ciúmes. — Você também vai matar seu amigo por ele estar comigo?
Claramente ele estava com raiva, mas se continha. Minha mente estava um pouco nublada por causa do álcool então ao invés de parar, eu continuei.
— Que tal assim, eu, você e ele, aí não vai ter problema já que o considera como irmão. — Spencer parecia confuso e surpreso, já Jeffrey, eu não sabia distinguir bem o que ele poderia estar sentindo, talvez desprezo? — Tudo bem, ne?
Sua respiração parecia descompassada, ele se manteve em silêncio.
— Que tal Spencer, lhe parece boa ideia?
— Sim, mas acho que para tal ato todas as partes devem estar de acordo. — Ele se dirigiu a Jeffrey. — Podemos?
Claramente Spencer não levava aquilo tudo a sério, já que claramente só queria irritar Jeffrey assim como eu.
— Se ela o quer. — Meu sorriso congelou. — Fiquem à vontade.
Ele está mentindo certo? Sua voz soou tão fria.
— Certeza? — Perguntei. — Não vai se arrepender?
Jeffrey negou lentamente ainda com um olhar de desprezo. Por raiva puxei Spencer, ele pareceu surpreso de início, mas cedeu. Me beijou avidamente agarrando minha nunca e ao se afastar deu uma leve mordida em meu lábio inferior.
Jeffrey se levantou vindo em minha direção, se inclinou sobre mim e me agarrou pelos cabelos, achei que ele também me beijaria pela proximidade, mas ao invés disso ele disse.
— Pode foder a vontade com ele, a partir de hoje você pra mim não passa de uma cadela. — Havia mágoa em suas palavras.
Jeffrey se afastou, achei que não me sentiria afetada por suas palavras, mas elas me doeram. Sempre que brigávamos ele insistia em dizer que eu era sua mulher.
— Eu iria falar com ele, mas é bem provável que não me escute. — Senti vontade de chorar. — Se você for com calma ele vai te ouvir.
— Não... não entendo por que ele está tão irritado se ele provavelmente esteve com outras. Ele me encarcerou e me impediu de me aproximar até de minha mãe.
— Ele não esteve. — Spencer afirmou. — Depois que ele a conheceu nunca o vi tão obcecado. Admito até que me frustrou.
Ele riu. Eu sequei as lágrimas que não consegui segurar.
— Eu sei que está com raiva, ele não é fácil de lidar e nada do que ele tenha feito a você é justificável. — Spencer segurou meu rosto. — Eu não me importaria de transar com você agora mesmo, mas acho que não é isso que você quer. Olhe só, você está chorando pois ao invés de me expulsar na base do coice, ele a deixou aqui comigo sem se importar.
O maior terminou de secar o restante das lágrimas que insistiam em cair.
— Vai falar com ele, se ele fizer algo, deixe que eu ponha juízo na cabeça dele. — Eu assenti. — Se serve de consolo, você tem lábios maravilhosos.
Eu sorri. Sabia que Spencer tinha uma preferência mais forte pelos lábios de outra pessoa, mas achei gentil seu elogio. Ele se despediu me deixando sozinha. Eu sabia que Jeffrey estava em seu quarto, com certeza não quer me ver. Me aproximei da porta timidamente, estava aberta. De forma silenciosa entrei, ele mexia em algo no guarda roupa, sobre a cama estavam algumas roupas jogadas.
— A foda foi tão rápida? — Ironizou.
— Jeffrey? — Ele continuou. — Me escuta.
— O que você quer? Não está satisfeita? Eu sinto muito, mas não quero fazer isso depois dele e te digo mais — Ele me encarou. — Ele reage melhor sendo passivo.
— Vai pro inferno. — Eu gritei.
— Eu vou, com certeza vou. Estava lá e vou voltar. — Ele explodiu. — Talvez seja melhor do que ter você me desprezando todo dia.
— Você quem me tortura. — Ele avança em mim.
— Eu não peço pra foder com outras em sua frente.
— Eu só fiz isso porque estava com raiva, queria te magoar. — Eu admito.
— Mais? Eu disse que ia esperar sua raiva passar, mas isso já é demais. Eu prefiro ser queimado vivo de novo a ver você dormir com outro.
Meu coração pesou, eu sei que nunca fomos um casal normal, seu amor por mim sempre foi estranho.
— Me desculpe... — Eu disse baixo. — Mas você sumiu e...
— Eu quis te dar um tempo. — Ele me interrompeu. — Pra você pensar melhor.
Eu me sentia culpada agora e por mais que Jeffrey estivesse errado, eu queria me desculpar.
— Eu não queria fazer aquilo.
Eu toquei sua mão, mas imediatamente fui afastada.
— Não é um bom momento para conversar. Melhor você ficar longe. — Eu senti o clima tenso entre nós.
— Por que? — Eu insisti em tocá-lo. — Já magoamos tanto um ao outro.
— Mandei sair, se você não sair, saio eu.
— Quero ver, saí da porra desse quarto e eu mato você.
— Ameaças não combinam com você. — Ele zombou. — O assassino aqui sou eu.
Mesmo sendo maior, mais forte que eu e tendo matado muitas pessoas, no momento eu não estava com medo. Pela segunda vez desde que voltamos eu tomei a iniciativa em beijá-lo. Não esperava que ele fosse gentil, mas ao invés de simplesmente me afastar, Jeffrey permaneceu como pedra, indiferente ao meu toque.
— Não entendo, por que agora você quer? É por que você sabe que vai me doer te afastar?
— Não!
— Pois agora você pode ficar com qualquer um, não era isso que você queria?
— Eu quero você. — Eu admito em voz alta.
— Achei que eu fosse seu torturador.
— Você é, você é. — Jeffrey revirou os olhos. — Mas eu ainda o quero, eu te odeio, mas eu te quero. Só diga que vai me matar se eu te deixar, assim eu posso ficar com você sem peso em minha maldita consciência.
Jeffrey me agarrou pelo pescoço bruscamente.
— Já entendi. Você precisa que eu seja o monstro, assim você não sente remorso. Escute, vou falar com bastante calma. — O maior começou a sussurrar. — Se não você não sair agora vai se arrepender.
Sinto como se estivesse prestes a ser torturada, em outra situação se eu pedisse, Jeffrey ficaria de joelhos pra mim. Como eu não respondi, ele não perdeu tempo, me beijou com agressividade, mal me dando tempo de respirar.
Sua mão ainda segurava o meu pescoço, achei que ele fosse ser mais gentil, mas a dor no meu lábio inferior me trouxe de volta para realidade. Eu gritei sentindo o gosto de sangue, seu canino atravessou minha carne.
— Dói...
— Eu sei, em mim também doeu. — Ele passou a língua sobre o machucado. — Mas vai passar.
Jeffrey ainda segurando meu pescoço me arrastou até a cama. Fui jogada sem qualquer cuidado. Passei por isso tantas vezes que já me acostumei. Antes mesmo que eu pudesse me ajeitar ele avançou subindo meu vestido e rasgando minha calcinha, machucando minha pele. Por instinto tentei segurá-lo e isso pareceu irritá-lo ainda mais. Ele tirou o cinto, me virou de costas, juntou meus pulsos e habilmente os prendeu, me posicionou de quatro com o rosto na cama e disse.
— Grite e o quanto quiser, mas saiba que vou te bater por isso.
Por causa da posição eu não conseguia vê-lo muito bem. Meu corpo deu um leve solavanco ao sentir sua língua me invadir, brincando comigo e me excitando, mas isso não durou muito, claramente sua intenção não era me relaxar. Sem aviso prévio, senti ele me preencher, rápido e com força.
Gritei sentindo meu interior se contorcer.
— O que eu disse? — Recebi um tapa.
O movimento bruto de vai e vem fazia a cama tremer. Eu queria gritar, pedir que parasse ou que fosse mais gentil, mas não o fiz, apenas chorei.
Isso estava me deixando enjoada, meu interior doía e a posição só piorava isso. Os minutos se passavam lentamente e entre uma posição e outra, eu permaneci de pulsos presos, eles já estavam dormentes e minha cabeça pesada, não sei quanto tempo se passou, mas sei que ele já gozou em mim mais de uma vez e nas breves pausas, castigava meu corpo com seus toques sádicos me fazendo gemer e gritar.
— Agora você não precisa se sentir culpada, eu te usei como quis. — Jeffrey soltou meus pulsos. Eu me senti tão cansada que nem reagi. — Não foi algo consensual.
Eu queria responder, mas eu sentia tanta dor, minha garganta estava seca e dolorida. Eu só queria apagar um pouco.
(...)
O enjoo e a dor persistem. Acordei sem roupa, mas coberta por um lençol. Coloquei os pés para fora da cama na intenção de me levantar, precisava de um banho.
Não previ que me custaria ficar de pé e cai, Jeffrey que cochilava ao meu lado despertou.
— Quer dormir no chão?
— Eu... preciso de um banho e algo pra dor.
Ele suspirou. Se levantou, ele também estava sem roupa.
— Me espera aqui, já volto. — Eu achei que seria deixada no chão, mas Jeffrey me carregou e me colocou novamente na cama.
Aguardei ele voltar. Com frio e com dor, abracei meu próprio corpo.
— Toma. — Ele me passou o remédio e um copo d'água.
— Eu preciso de uma pílula do dia seguinte. — Avisei.
— Pra que? — Ele franziu a testa. — Você não vai engravidar tão facilmente.
— Eu...
— Vemos isso depois, ok? A banheira tá pronta. — Sem esperar minha resposta ele me pegou nos braços.
— Já posso andar.
Ele me ignorou, me levou até o banheiro e entrou na banheira comigo me fazendo sentar em seu colo.
Ao sentir a água quente, meu corpo automaticamente relaxou, mas também começou a arder. Fechei os olhos tentando aguentar.
Jeffrey começou a me limpar devagar e com cuidado, mas mesmo assim eu ainda me sentia incomoda.
— Ai... não aí. — Eu fechei as pernas.
— Tecnicamente preciso limpar todo seu corpo, principalmente aqui. — Ele respondeu sem se importar.
— Eu faço isso então.
— Eu já vi até demais a sua buceta e sei bem o que tem aí então deixa de fazer drama. Experimenta testar minha paciência pra você ver, te fodo aqui também.
Eu me calei por um momento, mas logo desisti de manter silêncio.
— Eu estou com dor, é por isso. — Todo meu corpo doía. — Você praticamente me violentou...
— Você parece querer que eu aja assim, se eu tento ser melhor, sou desprezado, mas assim que eu me comporto como um animal, você cede.
— Não diga asneira. — Eu o repreendo.
— Mas é o que parece.
— Você pode pelo amor de Deus parar? Eu não quero mais falar sobre isso... e nunca mais me toque dessa forma. — Quero acreditar que ele sente um pingo de remorso. — Jeffrey, você entendeu?
— Entendi, meu amor.
— Não me chama assim, parece falso.
— Não é falso. Pior você, só me chama de coisas ruins.
"Desde quando você é algo bom?"
Mantive isso em minha mente e fiquei em silêncio. A água morna estava me deixando sonolenta, eu não queria cochilar, mas se tornou quase impossível quando ele começou a me acariciar os cabelos, então eu fechei os olhos só por um momento.
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