42: Flores
Christine
Desde o dia em que minha mãe "nos juntou", Larry e eu conversamos bastante e depois de algum tempo voltamos a ser amigos. Ficamos um pouco mais íntimos, mas nada mais que isso. Acredito que ele deva sentir algo por mim, assim como eu sinto por ele, mas ficou como algo implícito que jamais voltaríamos a nos relacionar como antes e estava tudo bem. Eu nunca tive um relacionamento sério ao ponto de me apegar tanto a alguém, mas admito que fiquei magoada ao terminar com Larry e perceber que me dediquei a uma relação infrutífera com Jeffrey.
Meus dias seguiam o mesmo, trabalho, estudo e casa. Era uma rotina cansativa e monótona, mas benéfica. Em algumas semanas eu conheci o Damon. Ele era apenas quatro anos mais velho que eu, era amigável e inteligente. Tinha olhos cor mel, pele bronzeada, cabelo curto cacheado e um corpo que não passava despercebido. Senti que podia me entregar um pouco e decidi aceitar seu pedido. Progredimos a passos lentos. Foram os melhores dias que tive em tempos e eles me fizeram finalmente relaxar de verdade, sem me preocupar.
Damon propôs a ideia de tirar um tempo só pra gente e eu dei continuidade escolhendo alguns lugares que gostaria de ir.
Escolhemos um fim de semana, seria como um "tour". Fomos ao shopping, a um restaurante que abriu recentemente e no fim da noite a uma boate. Apesar da escolha dos lugares ficar sob minha responsabilidade, optei por locais mais calmos e outros mais movimentados de modo que ficasse misto, mesmo gostando de espaços mais tranquilos.
Além de dançar e beber, não se tinha muito o que fazer em uma boate, então Damon e eu passamos a maior parte do tempo dançando e quando parávamos para descansar, bebíamos algo enquanto conversávamos.
— Quem diria, você, aqui? — Fui pega de surpresa, mesmo depois de algum tempo ainda reconheci sua voz.
Damon o encarou com o semblante sério, intimidador. Spencer pouco se importou com isso.
— Curtindo a noite? — Ele sentou-se ao meu lado no sofá circular. — Como vai o garoto?
De sério, Damon passou a ficar confuso.
— Ah... eu quase não te reconheci... — Menti.
Ele riu. Sabia que eu estava mentindo.
— Estamos bem e você? — Reprimi a vontade de perguntar "vocês", já que sei que ele provavelmente tem contato com Jeff. — Ah, esse é Damon. Meu namorado.
— Prazer! — Ele se dirigiu a Damon, que se limitou em apenas acenar com a cabeça. — Quem diria, o mundo é pequeno não?
— O que faz aqui? — Perguntei indo direto ao ponto.
— Vim espairecer um pouco, tive muito trabalho ultimamente e um colega de trabalho muito cabeça oca pra lidar. — Isso me causou arrepios.
Provavelmente ele anda e conhece esses lugares de cabo a rabo, mas justo hoje, tínhamos de nos encontrar?
— Ele deve até estar por aí agora. Ele está um pouco viciado em trabalhar, então eu o chamei pra beber. — Spencer deu de ombros enquanto falava com naturalidade.
Isso acendeu um alerta em mim. Eu entendi tudo o que esse infeliz quis dizer.
— Entendo, boa diversão pra vocês. — Damon se levantou assim como eu, não perguntou nada. — Temos de ir.
— Até Christine. — Ele acenou.
— Quem é ele? — Damon perguntou assim que nós nos afastamos.
— Um amigo de um ex namorado problemático. Eu desejo nunca mais vê-los.
Saímos da boate indo até o carro. A noite estava perfeita até eu ver ele.
— Vamos para o hotel então. — Eu assenti.
— Já vi que isso estragou seu humor.
Eu sorri. Ia deixar de pensar besteira e aproveitar o resto da noite.
(...)
Damon não perguntou nada sobre o ocorrido. Acho que não quis me incomodar com perguntas sobre o passado. Após andar em círculos pelo quarto, me deitei ao seu lado, sobre seu peito.
— Está sem sono? — Ele despertou.
— Sim...mas vou ficar quieta pra não te acordar. — Ele me abraçou.
— Se quiser, podemos conversar até você dormir. — Damon sugeriu.
Era visível que ele estava cansado, com certeza a semana foi cansativa com o trabalho e tudo mais, mas mesmo assim, ele fazia questão de ficar acordado comigo quando eu não conseguia dormir.
— Descansa amor, eu já vou dormir.
O maior assentiu. Fechei os olhos focando atenção em minha respiração, inspirando e expirando com calma. Isso às vezes me ajudava a adormecer.
(...)
"Tenho uma surpresa pra você, não se atrase meu amor, um carro vai te buscar." Dizia o bilhete preso a um buquê de rosas brancas, no verso estava o endereço, a hora e o nome do motorista. Dei de ombros. Damon nunca fez uma surpresa nesse estilo para mim. Isso me pareceu estranho a primeiro momento, ele não me respondia a horas e isso não era de seu feitio.
Talvez ele estivesse ocupado demais preparando essa surpresa, mas por que? Não se passou nem um mês desde que saímos todo o fim de semana com o pretexto de passar um tempo a sós.
"Será que ele vai me pedir em noivado?"
Meu coração acelera só de imaginar isso. Com certeza é um pensamento bobo e precipitado, mas não custa nada sonhar.
Comentei com minha mãe sobre a surpresa, ela me perguntou se eu gostaria que ela ficasse com Adam, mas eu decidi levá-lo comigo. Sinto que tenho deixado ele de lado todas as vezes que saio com Damon e isso não é bom. Adam é meu filho e eu também quero que ele faça parte dos bons momentos que tenho.
Passei o dia ansiosa e quando a tarde chegou, comecei a me arrumar depois de já ter arrumado Adam. Deixei meu cabelo solto, como sempre. Fiz uma maquiagem leve, mas exagerei no batom vermelho. Damon adorava quando eu usava, pois ele dizia que destacava minha boca. Vesti meu vestido preto de alça fina e fenda lateral. Meu corpo se adequa tão bem a vestidos que meu guarda roupa tem inúmeros de vários modelos, tamanhos e cores. Calcei meu salto, borrifei meu perfume floral favorito e sai de casa.
Por desgraça eu ainda não havia tirado minha carteira e nem comprado um carro, mesmo sabendo dirigir. Então peguei um táxi até o local para não andar. Ao chegar, notei um rapaz parado ao lado de um carro estacionado. De primeira eu não fui até ele, apenas o encarei por algum tempo, ele se deu conta e veio até mim.
— Christine? — Eu assenti. — Damon pediu que eu a levasse até ele.
Eu perguntei o nome dele.
— Me chamo Eliot. — Era o mesmo nome que estava no bilhete.
— Esse lugar é muito distante? — Pergunto indo em direção ao carro.
— Um pouco. — Ele abre a porta do carro. — Mas é um belíssimo local.
— Certo.
Todo esse mistério estava me deixando enjoada, algo em mim dizia que isso era estranho. Apesar de toda gentileza do homem, eu não conseguia confiar nele.
— Seu filho? — Ele se referiu a Adam. Eu assenti. — Linda criança, se parece muito com você.
Seguimos em silêncio, pouco tempo depois meu celular vibrou e eu rapidamente o peguei. Havia uma mensagem de Damon.
"Você pegou o carro?"
Meu coração se acalmou, ele havia me respondido.
"Sim! O que planeja com tudo isso? Eu fiquei preocupada" Eu perguntei.
"Uma grande surpresa meu amor, relaxe. Espere um pouco mais."
Me tranquilizei. Ao menos eu tinha uma confirmação de que estava tudo bem. Aposto que Damon quer realmente me impressionar, mas eu preferia que ele mesmo tivesse vindo me buscar.
Quase trinta minutos se passaram, eu checava o celular constantemente.
— Vai demorar muito? — Perguntei.
— Um pouco — Eu suspirei. — Mas posso dizer que vale a pena, a casa que ele escolheu para a senhorita é num excelente lugar e por fora ela parece muito bela e espaçosa.
— Casa?
Ele riu.
— Não direi mais nada, não vou estragar a surpresa. Não diga a ele que eu te contei isso está bem?
— Certo...
Eu me calei. Mais algum tempo se passou e conforme a paisagem mudava eu menos a reconhecia.
"Onde estamos?"
Eliot adentrou em um bairro e passou por algumas casas. Elas eram bem afastadas umas das outras. Todas pareciam bonitas e pelo pouco que pude ver, o bairro parecia ser bonito e seguro também.
Quando o carro parou na entrada de uma casa grande com um muro médio eu me perguntei.
"Que porra é essa?"
— A porta de entrada está aberta. Tenha uma boa noite, senhorita. — Eu saí do carro.
Havia o portão da garagem e a porta de entrada e saída. Eu a empurrei devagar, entrei e fechei. A fachada da casa era linda, uma fachada simples, mas moderna. Uma casa de dois andares, com amplas janelas de vidro fumê e um jardim com a grama verde bem aparada.
— Uau...
Eu segurei Adam num braço e me aproximei da porta. Ao entrar, não fui recebida por Damon então eu o chamei. Sem resposta.
Segui até a sala. A ampla sala estava decorada em tons neutros, com móveis modernos e bem posicionados. A decoração desse lugar parece ter saído de uma revista de design de interiores para gente sem criatividade. É bonita, mas diferente do que estou acostumada, não me parece acolhedor. Notei que na mesa de centro havia um bilhete.
"Venha até a cozinha, te aguardo lá."
Meu coração palpitou de ansiedade. Eu estava começando a gostar de tudo aquilo.
"Acho que não deveria ter trazido Adam."
Sorri pelo meu pensamento maldoso. Eu o coloquei no sofá, me certificando de que ele não cairia tão fácil.
— Fica aqui um pouquinho, tá? Eu já volto pra te pegar, acho que titio não imaginou que eu traria você comigo. — Acariciei seus cabelos. — Brinca com sua pelúcia.
Dei a ele um pequeno coelho que trouxe e sai a procura da cozinha. Não foi difícil achar, o cômodo estava a luz de velas, era amplo assim como a sala e parecia bem arrumado. A mesa estava arrumada com velas, duas taças e vinho. No centro dela havia uma caixa média de cor vermelha com um laço. Me precipitei sobre ela e, tomada pela curiosidade, eu a abri. Meu coração estava acelerado, mas parou assim que eu me dei conta do que estava nela, o ar me escapou dos pulmões. Silêncio.
— Você gostou?
Eu queria gritar, mas nem isso me foi permitido. Meu mundo parou no instante em que eu abri aquela caixa. O ar parecia tão denso, se tornou difícil respirar.
"Damon?"
Isso foi o suficiente para me fazer apagar. Tudo escureceu.
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O que acharam? Parece que nossa Christine não tem sorte...
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