36: ???
Jeffrey
Ele geralmente sai à noite e volta tarde, então achei que seria mais fácil pegá-lo de surpresa em sua própria casa. Esperei que ele chegasse e aguardei, já de madrugada, com as luzes apagadas, fui até a porta de entrada. Não foi difícil arrombar a fechadura, de modo que não levei muito tempo. Entrei na casa, pra que tudo termine logo eu espero que ele esteja dormindo. Passei o olho no que parecia ser a sala, pelo silêncio, era óbvio que estava no quarto. Cautelosamente fui até os outros cômodos, o mais próximo sem porta, era a cozinha, outro era uma espécie de escritório, estava vazio. A casa não era grande, eu não conseguia enxergar tudo tão claramente, mas podia afirmar que era simples, com poucos móveis. Logo encontrei o que julguei ser o quarto, a porta estava fechada, parei próximo a ela e tentei escutar qualquer ruído que fosse, nada, tudo em silêncio. Girei a maçaneta lentamente e ela se abriu. Peguei o canivete, já preparado. Minha intuição me dizia que tudo estava sendo fácil demais, que algo ali não estava certo, mas ignorei. O quarto estava penumbroso, de modo que não consegui ver todos os detalhes do local. Vi algo sobre a cama, só podia ser ele. Estava bem enrolado, me aproximei vagarosamente da cama, planejava cortar seu pescoço. Preparei o canivete, já quase a beira da cama, senti novamente que algo era estranho e isso me deteve por alguns instantes.
— Hesitando? — Fui surpreendido por uma voz masculina.
Por instinto puxei a arma que estava na cintura, rapidamente me virei na direção da voz.
Ela vinha do canto do quarto.
— Quem diabos é você? — Fosse quem fosse uma bala ia levar.
— Vamos lá, desde quando você hesita em matar alguém covardemente? — Mesmo falando de forma tranquila, o homem parecia com raiva.
— Mostra a cara. — Eu exigi sem paciência.
Eu sabia que tinha algo errado, o homem também armado, se aproximou um pouco de modo que pude perceber que ele era quem eu deveria matar. Esse desgraçado já sabia que estava com a cabeça a prêmio?
— Achei que você tinha desistido ou mudado de tática. — Me senti confuso, esse cara parecia me conhecer de algum lugar. — Mas você continua ardiloso, que dizer, quando quer. — Ele debochou.
— Quem te mandou?
Será que dei fim em alguém importante para ele?
— Olha... confesso que estou surpreso, hein? Eu não esperava isso vindo de você... mas isso não foi um problema, na verdade se tornou algo útil para mim e eu só tive que adaptar meus planos.
— Eu vou explodir a porra da sua cabeça e não estou nem ai se vou me foder no processo, fala ou...
— Christine não gostaria disso...
Meu corpo se enrijeceu ao escutar o nome dela. O homem riu baixo.
— Tenho certeza que você está curioso agora de como eu sei sobre ela, tenho que dizer, ela é realmente graciosa. Ela é tão meiga quanto aparenta ser?
— Eu vou te mandar para o inferno.
— Já lhe adianto que é melhor manter a calma, um ato impensado e... — Um misto de raiva e receio se apossou de mim.
— E como você faria isso? Se vai estar morto em breve?
Eu queria matar o desgraçado, descarregar minha arma em sua cabeça e tocar fogo em seu corpo.
— Eu não fui o único a receber uma morte por encomenda. — Hesitei, estava atordoado pensando em Christine. — Pode acreditar, se eu morrer aqui, Christine também morre.
— Fala logo o que você quer. — Eu estava impaciente, era óbvio que esse cara armou tudo — Se pretende me matar, faça logo e pare com essa ladainha, eu estou aqui.
Ele riu com gosto, como se o que eu disse fosse uma boa piada.
— Não seja apressado, seja como eu, paciente... Você realmente não se lembra, não é?
Revirei minha memória a procura de algo relacionado àquele homem e nada, nada nele me recordava algo. Como ele sabia quem eu era?
— Você continua o mesmo. — Seu tom era amargo.
— Eu realmente não sei de onde diabos você saiu. — Eu ainda mantinha minha guarda, mesmo sabendo que não faria nada, e se ele não estivesse blefando quanto a matar Christine? — Fala logo quem é você.
— Coloque a arma no chão. — Ordenou autoritário enquanto guardava o celular no bolso da calça.
Eu não sabia o que ele faria comigo, se ele não tivesse citado o nome de Christine, um de nós dois já estaria morto. Eu obedeço sua ordem.
Eu me aproximei lentamente. Ele puxou uma faca e a colocou próxima de mim.
— Eu ainda farei você pagar, mas não agora. — O ataque foi rápido e preciso, por instinto recuei, mas logo quis revidar. Voltei a estar sob a mira de sua arma.
Minha pele ardia pelo corte, a faca estava bem afiada, rasgou minha blusa facilmente e por pouco não fez um estrago pior, creio eu. Minha mão estava manchada pelo sangue, mas isso não me parecia tão ruim, pior era não poder matá-lo ali mesmo.
— Acho melhor você ir, não é muito prudente deixar uma mulher sozinha, ainda mais estando grávida.
"Merda." Foi tudo que consegui pensar ao sair daquele quarto o mais rápido que conseguia. Eu sabia que ele poderia estar mentindo, mas tinha de me agarrar à ideia de que ela estava bem. Se aquele cara quisesse me matar, ele teria feito, com certeza fiz algo a ele e ele quer acertar as contas, mas antes ele quer me atormentar.
(...)
Christine
Despertei assustada com um barulho alto, meu coração pulou, Jeff ainda não havia chegado? Me levantei num pulo da cama e antes que pudesse fazer algo, ele invade o quarto e avança sobre mim.
— Não! — Eu gritei, ele me abraçou apertado, parecia estar aliviado. — Jeff?
Ele estava sangrando? Havia sangue em sua blusa e agora, na minha também. Ele parecia estar sussurrando algo, pelo nervosismo eu não conseguia entender ou raciocinar.
— O que houve? — Ele se afastou bruscamente, havia um corte em seu peito, parecia grande. — Meu Deus...
Eu estava quase em choque, como aquilo tinha acontecido?
— Você está bem? Aconteceu algo?
— Estou bem, vamos tratar disso primeiro. — Ele pouco parecia se importar. — Melhor, vamos a um médico, acho que precisa de pontos.
Ele negou, eu me sentia inquieta com tudo aquilo, sabia que algo estava errado e para que ele chegasse assim em casa algo o estava preocupando, mas não parecia ser com sua própria segurança.
— Meu Deus. — Eu o puxei até o banheiro, Jeff parecia estar em estado de alerta como se houvesse alguém na casa além de nós.
Já no banheiro, eu abri o armário, lembrava-me de ter visto algo como um kit de primeiros socorros ou algo assim.
— Senta e tira a blusa. — Ele obedeceu sentando-se no vaso e retirando em seguida a blusa.
Não pude evitar olhar aquilo por alguns segundos, quem fez isso e porquê? Por sorte o corte não parecia tão profundo. Limpei o machucado retirando o excesso de sangue e então passei uma solução esterilizante, coloquei bastante gases para estancar o sangramento, enfaixei seu torso da melhor forma que pude. Jeff não reclamou, apenas gemeu de dor algumas vezes. Ao terminar, fui até a pia lavar as mãos.
— Eu vou procurar algum analgésico e...
— Não precisa. — Ele me interrompeu.
— Ok... Então você vai me contar agora o que aconteceu?
Ele pensou por alguns segundos, antes de falar.
— Foi apenas uma briga de rua... — Jeff parecia ponderar se me dizia algo mais. — Nada que você precise se preocupar.
— E se você estivesse morto? Você pensou em mim? É tão difícil assim se manter longe dos problemas?
— Eu...
— Não venha com desculpa esfarrapada, você é... — Toda preocupação que eu sentia deu lugar a irritação, por impulso dei-lhe um tapa no rosto.
Seu rosto estava vermelho, eu esperava que ele reagisse de forma agressiva, mas Jeff apenas me encarou com o semblante sério.
— Eu sempre penso em você, eu nunca quis te colocar em risco...
— Você sempre foi o perigo. E quando você não está sendo, você se coloca. — Suspirei tentando não me exaltar. — Eu conheço seu temperamento, sei que você gosta de brigar.
— Christine, você pode ao menos me escutar?
— Você não está em posição de me pedir nada, você me faz mil promessas, age como o homem mais responsável do mundo durante alguns dias e depois... eu estou cansada.
Ele se calou. Fixei meu olhar ao seu. Por uma fração de segundos me senti culpada por dizer aquilo, mas era verdade.
— Eu vou me deitar, minha cabeça dói. Seja lá o que você tem a me dizer, diga amanhã, se é que vale a pena escutar.
Dei as costas o deixando só, retornei ao meu quarto e me deitei na cama. Tentei deixar de lado o que houve, não valia a pena perder uma noite de sono por isso.
(...)
Jeffrey
Christine me fazia lembrar de minha mãe em vários aspectos, desde sua ingenuidade até sua forma de me irritar com a verdade. Mentir não era minha intenção, mas confesso que não quero fazer ela se preocupar. Esse cara com certeza me conhece, se me lembro bem, o próprio Spencer disse que alguém quis contratar especificamente a mim. Ele já tinha tudo armado, ele sabia que eu aceitaria. Meu peito doía, nem me lembro a ultima vez que senti algo assim já que faz algum tempo que não encontro alguém que realmente seja um pé no saco.
— Caralho, isso parece feio. — Spencer estreita o olhar. — Christine quem fez isso?
— Fale baixo e é óbvio que ela não fez isso. — Não queria ter de chamá-lo aqui, mas também não queria deixar Christine sozinha em casa. — E você sabe quem fez isso.
Antes que ele perguntasse algo eu começo a contar o que me ocorreu na noite anterior, seu semblante de confuso passou a curioso. Quando terminei, ele pensou por alguns instantes.
— Confesso que o cara me pareceu um pouco estranho, mas acho que posso encontrá-lo.
— Você vai, esse maluco está me caçando e eu não sei o por que.
— Por que você não o matou? Pelo que entendi você teve chance.
— Ele ameaçou Christine... Ele tem mais alguém ajudando ele.
— Então foi por isso... — Ele riu. — Estava me perguntando o por que de toda essa preocupação, em outros tempo você estaria caçando ele.
— Eu tenho outras coisas para me preocupar, não posso perder tempo. — Eu estava impaciente. — E como você me arranjou essa merda você vai me dizer quem te procurou.
Ele assentiu. Eu queria resolver isso o quanto antes, não podia me dar ao luxo de arranjar problemas.
— Essa situação toda é estranha, mas são ossos do ofício. Eu disse a você que manter isso traria consequências, você tinha duas opções...
— Melhor você ficar quieto. Eu já estou irritado, não preciso que você piore meu humor. — Eu o interrompi, ele deu de ombros. — Depois de resolver isso, eu acho que vou dar um tempo em tudo. Eu pensei um pouco e ao menos até...
— Eu não acho que isso vai dar certo, eu conheço você e se tem algo que posso afirmar é que em um mês, no máximo, você desiste. Por mais que minta para si mesmo, não vai poder esconder isso por muito tempo.
— Só faz o que eu te pedi e o resto eu resolvo.
Spencer ficou calado por alguns instantes.
— Você quem sabe, eu vou procurar o cara, assim que achar eu te aviso. — Ele deu as costas. — Vê se cuida disso aí.
Spencer se foi. Eu queria simplesmente seguir como se nada houvesse acontecido, mas não podia, Christine estava envolvida nisso.
(...)
— Eu vou na livraria. — Segurei Christine antes que ela saísse. — Quer que eu traga algo?
— Eu vou com você.
— Eu acabei de trocar o seu curativo por que você não descansa?
— Eu não quero ficar em casa sem fazer nada.
— Vai ser mais tedioso que ficar aqui.
— Ainda sim, não posso ir com você?
Christine suspirou dando-se por vencida.
— Se é o que você quer. — Ela se virou para sair. — Vou esperar no carro, não demore.
Me arrumei rapidamente, não posso me dar ao luxo de deixá-la sozinha, se eu sei que ela não está segura em casa, quem dirá na rua. Antes de sair, algo me parou. Voltei para o guarda-roupa e peguei uma pistola.
"Christine não precisa saber, é apenas por segurança."
Guardei a arma e desci para encontrá-la no carro. Christine me esperava no banco do motorista, acho que sentia-se mais segura para dirigir. Eu não disse nada, me sentei no banco do passageiro e coloquei o cinto, ela deu a partida.
Christine estava um pouco fria desde o'que houve, eu sei que ela acha que eu não a escuto e não me importo com o que ela acha, em partes isso é verdade, mas ela não sabe o quão tenso estou. Não por mim, mas sim por ela e meu filho. Ela parecia serena, dirigia calmamente.
— Desde quando você se interessa por livros? — Ela quebrou o silêncio.
— Eu não ligo para os livros, quero apenas estar com você. — Eu admito.
Vejo Christine esboçar um pequeno sorriso.
"É um bom sinal, eu acho."
Ao chegarmos, Christine estaciona o carro. Eu respiro fundo, saio do carro olhando ao redor. Me resta apenas ficar atento a qualquer um que se aproximar de mim ou Christine.
— O que você tem? — Ela guarda as chaves na bolsa.
— Nada.
Entramos na livraria, o local estava calmo apesar de estar com um bom número de pessoas. Christine parecia estar no paraíso, ela ia de estante em estante olhando e calmamente escolhendo alguns livros, eu apenas a seguia calado. Ela estava tão dedicada a encontrar seus livros que minha presença não a incomodava. Em algum momento, vi uma capa que me chamou atenção, a arte era bonita, por impulso eu o peguei. Folheei algumas páginas rapidamente.
— Gostou desse? — Eu assenti. Ela gentilmente o pegou da minha mão e após dar uma breve olhada, disse que ia levá-lo.
— Isso conta como ajuda?
Ela acenou indo olhar em outras estantes, me distrai por alguns instantes naquele mar de livros. Eu achei que me sentiria extremamente entediado, mas não. Meus olhos focaram em um livro com o título estranho.
"O fantasma da ópera."
Eu o peguei, após ler brevemente a sinopse cheguei a ficar um pouco surpreso. Olhei em volta à procura de Christine, ela havia sumido. Comecei a procurá-la imediatamente, não por preocupação, mas porque queria mostrar o que achei. Não demorou muito e eu a encontrei, ela estava sentada em uma mesa separando calmamente alguns livros.
— Olha esse. — Ela me encarou. — A personagem tem seu nome.
Ela sorriu assim que leu o título, não parecia surpresa.
— Eu já li esse. — Fiquei um pouco frustrado. — No fim da história a Christine consegue ficar com o mocinho, o gênio deformado não tem um bom final.
Eu me sentei na cadeira a sua frente, Christine explicou do que se tratava a história.
— Eu acho que ele não merecia o fim que teve. — Ela riu.
— Eu sabia que você diria isso. — Ela separou uma pilha com seis livros e dentre eles, os dois que eu tinha lhe mostrado.
— Esse você já não leu?
Ela deu de ombros dizendo que não custava reler, já que gostava daquela história. Ao sairmos da livraria, Christine parecia estar de bom humor, não havíamos ficado mais que uma hora ali, mas isso parecia ter lhe animado.
— Quer ir a algum outro lugar? — Eu pergunto.
— Onde?
— Onde você quiser, temos o dia livre, não? — Ela assentiu.
Ja que estou com ela, por que não levá-la a outros lugares?
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