20: Montanha russa III
Christine
Inacreditável! Eu disse que não queria segredos entre a gente. E aquela conversa sobre os assassinatos? Eu não ando vendo TV, com certeza noticiaram os casos e Spencer está com raiva por isso. O que eu não entendo é por que ele se propõe a "ajudar" Jeff.
Me sentei na cama, estava ansiosa. Geralmente quando estava assim eu procurava algo para focar minha atenção, peguei a escova na mesinha de quarto e comecei a escovar o cabelo. Os fios se prendiam à escova enquanto eu penteava o cabelo freneticamente. Esses dias não tenho estado muito bem, me sinto cansada, as vezes fico enjoada e irritada. Atribuo isso ao fato de ser bastante ansiosa, junta isso e mais alguns estresses que me fazem ficar enraivada facilmente.
Jeff entrou no quarto, ignorei sua presença.
- Querida vamos sair hoje? - Perguntou.
"Querida?"
Parecia que eu não estava presente na discussão de minutos atrás.
- Melhor não. - Ele revirou os olhos. - Quando ia me contar?
- Contar o que?
- Contar o que? - Eu distorci a voz imitando seu jeito de falar. - Você me surpreende a cada dia e não de uma maneira boa.
- Sério? Estávamos tão bem esses dias, quer mesmo brigar por isso?
- Por isso? O que mais você esconde de mim? Jason.
- Ah por favor, não comece a brigar por algo tão fútil.
- Fútil? - Joguei a escova no chão furiosa e cruzei os braços. - Moro com um cara que eu nem mesmo sei o nome real dele.
Jeff andou pelo quarto aparentemente incomodado com minha explosão de raiva.
- O que vem agora? Descobrir que você guarda um cadáver em algum canto da casa? Que você é traficante? - Ele me semicerrou os olhos enquanto me encarava. - Quer saber, esquece. - Me levantei pra sair, Jeff avançou me segurando pela cintura sem cuidado algum.
- Christine, eu estou ficando cansado das suas birras. - Meu rosto foi segurado de forma bruta. - Qual o seu problema fazendo drama por qualquer coisinha?
- Tá machucando. - Tentei me soltar - Para!
- Não até você para com isso. - Sua mão saltou indo para meu cabelo.
Fui puxada pelo pulso até a cama e jogada. Paralisei, Jeff avançou sobre mim abrindo minhas pernas. Fechei os olhos e seu corpo pressionou o meu.
- Vai ficar chateada por isso? - Perguntou sussurrando em meu ouvido - Eu só não queria que você entendesse tudo errado.
- O que você acha? - Era óbvio que eu ficaria irritada.
- Vou tentar me redimir por isso. - Minha orelha foi mordida de leve.
Continuei parada, não iria mais reclamar, porém não iria aceitar suas desculpas.
- Nada que você faça vai diminuir minha raiva. - Declarei ainda irritada.
- Mesmo? - Seus lábios roçaram em minha testa deslizando devagar por meu rosto parando em minha boca. - O que posso fazer para que me perdoe?
Virei meu rosto para o lado.
Jeff apertou meu pulso e respirou fundo.
- Esquece isso!
Não satisfeito, meu rosto foi virado de forma brusca e fui obrigada a lhe encarar.
- Antes que eu me estresse mais e faça algo que com certeza você não vai gostar. - Fechei os punhos. - Vista-se, vamos sair. - Concluiu saindo de cima de mim.
Sua forma autoritária de agir me deixou com raiva, queria negar, xingar e lhe dizer o quão escroto ele estava sendo, mas me calei.
- Não quero sair, me sinto mal.
- Mal? Está dando uma desculpa?
- Não quero sair, só me deixe quieta.
- Considere um passeio para tomar ar puro, talvez você melhore. - Insistiu, senti meu corpo se arrepiar. - Creio que vai gostar, eu pretendia te levar lá antes, mas não deu.
Me levantei da cama. Procurei uma roupa simples, vesti uma calça jeans, uma jaqueta e peguei minha bota. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e me olhei no espelho, estava bem assim, peguei o celular antes de sair do quarto e o coloquei no bolso.
Desci as escadas vagarosamente e me sentei no sofá da sala esperando por Jeff, ele não demorou e logo desceu. Estava enfiado em um moletom cinza escuro, nada fora do habitual. Suas roupas nunca deixavam de ser em um tom sombrio, porém misterioso, assim como tudo à sua volta. As roupas, a casa, até mesmo sua personalidade.
- Pronta?
Assenti, saímos de casa indo em direção a moto. Não deixo de me perguntar aonde Jeff vai me levar, isso me preocupa, sinto algo hostil vindo dele e isso faz meu ser entrar em estado de alerta total.
"Como sempre, cavo minha própria cova."
(...)
- Que cara é essa? - Perguntou, Jeff estava parado na entrada da cabana. - Vamos, não é tão ruim por dentro.
Forcei um sorriso mesmo com meu instinto me alertando para sair correndo, mas algo me dizia que eu poderia não sair viva dali se tentasse. Voltei meu olhar para a floresta ao meu redor e a trilha por onde eu vim. Jeff me segurava pela mão com força a todo momento, me deixando livre apenas quando se aproximava da porta.
- Christine. - Sua voz denunciou sua impaciência.
Me aproximei com cautela, ele estendeu a mão e eu com receio a aceitei.
Entramos na cabana, um ar empoeirado invadiu minha narinas, Parecia que ninguém entrava ali a algum tempo.
- Faz algum tempo que não venho aqui, acho que algumas semanas na verdade. - Jeff puxou conversa quebrando o silêncio.
Não parecia ter energia elétrica, me contentei em ir onde até a claridade vinda da porta chegava.
- Você já morou aqui? - Perguntei. Percebi algumas velas espalhadas e diferentes cantos de onde parece ser uma sala.
- Sim. - Jeff andou em direção às janelas e as abriu, clareando ainda mais o local. - Mas quando queria me isolar, agora uso mais esse lugar como armazém. Parei de vir aqui um pouco antes de te conhecer.
- Entendi. - O que ele precisa guardar tão longe de casa? E por que ele vinha tanto aqui antes se aparentemente não tem nada importante?
Uma espessa camada de poeira se instalava nos poucos móveis presentes ali e em algumas caixas empilhadas no canto da sala de modo que pareciam quase parte deles. Explorando mais a pequena cabana, descobri uma pequena cozinha, uma sala e um quarto com suite. Jeff acendeu com um isqueiro, algumas velas espalhadas pela casa que ajudaram a clarear ainda mais o ambiente.
A varanda era pequena, mas parecia aconchegante e no momento era o local mais arejado, então parei ali.
- Você gostaria de morar num lugar parecido com esse?
Fui pega de surpresa pela pergunta.
- Como assim?
- Você moraria num lugar assim?
- Não sei. - Respondi indecisa. - Talvez sim, se eu não sentir medo.
- Hum. - Jeff se aproximou colando seu corpo ao meu, suas mãos se apossaram de minha cintura me encurralando. - Talvez eu compre uma casa assim, uma maior e melhor é claro. Num local mais afastado.
"Uma casa? Para onde esse cara vai ?" Pensei.
- Pretende se mudar?
- Nós pretendemos. - Corrigiu. - Se eu for, você vai comigo.
- Como? - Fiquei perplexa. - Quando decidiu isso? E quando aceitei uma coisa dessas?
- A partir do momento que aceitou ficar comigo meu amor. - Sua petulância me fez ferver de ódio.
- Acha que as coisas são como bem quer? Que sou seu animal de estimação que leva aonde quer e quando quer. - Me virei descontente o encarando.
Sua expressão séria e rude suavizou, um sorriso surgiu em seus lábios e seu tom de voz mudou enquanto dizia meu nome.
- Você pode escolher então, a casa que mais gostar. - Me surpreendi, achei que ele diria algo grosseiro e agiria de forma autoritária. - Vai ser como você quiser, podemos decorar como você gostar. Na sala podemos colocar seu piano.
Imaginei uma ampla sala em tons claros, com janelas enfeitadas por cortinas esvoaçantes e um piano de cauda que estaria presente deixando o ambiente mais belo.
- Sério? - Perguntei.
- Sim. - Sussurrou. - Já que vamos morar juntos, é justo que você goste da casa também. Não concorda?
Assenti em silêncio.
- Ótimo. - Ele sorriu satisfeito. - Seria perfeito pra gente, não acha? Recomeçar num novo local, uma vida nova.
A ideia de se afastar de todo o problema e de lembranças ruins que me perseguiam me pareceu atrativa, mas não a opção correta.
- Pense em como seria bom conhecer novos lugares. - O fitei, ele parecia ler minha mente.
- Bem sim, mas eu...
- Pense em como faria bem pra gente. - Ele pareceu se animar. - Podemos criar memórias melhores num lugar novo. Sei que não tivemos tantos momentos bons.
Me senti um pouco mal por ele, achei que ele não se importasse com tais coisas.
- Pensa um pouco no que eu falei. - Assenti.
Assenti enquanto pensava nas palavras que ele acabou de dizer. Ele me abraçou devagar, se afastou e me deu um beijo na testa.
- Você é tudo que eu tenho, não quero perdê-la.
- Eu sei, mas...
- Mas?
- Mudar de casa ou lugar, não vai mudar o que somos Jeff. Seremos as mesmas pessoas, só que num local diferente. Temos de mudar nós mesmos, antes de pensar em recomeçar. Você entende o que eu digo?
Jeff assentiu sem dizer mais nada. Acho que compreendeu o que eu quis dizer, mas com certeza não se importava com o que eu pensava.
(...)
Jeffrey
Eu não gosto da forma que Christine tem se comportado, se ajo de forma bruta ela fica pior então a melhor forma de responder a isso é ir com calma. Por mais raiva que ela esteja sempre vai amolecer e se esquecer do que fiz. Não quero ter que me preocupar com ela e muito menos tomar uma atitude agressiva, também seria cansativo ter de lidar com isso e quero evitar dor de cabeça desnecessária. Se quero mantê-la mansa, é melhor que eu aja de forma mais dócil. Vou continuar me mantendo calmo se isso a agrada, suas explosões de raiva me deixam irritado, mas ainda sim relevo. Me pergunto se é por que sinto que estou sem paciência para lidar com isso ou por que realmente não quero ir contra suas vontades.
- O que você guarda aqui? - Perguntou.
- Nada importante. - Ela assentiu e deu um breve sorriso, ainda estava em meus braços e diferente de antes que sentia sua expressão tensa, agora estava mais relaxada e pareceu gostar das sugestões que fiz em relação a mudança.
- Ainda não esqueci o que fez. - Christine desviou o olhar. - Por que não me contou sobre aquilo?
- Não achei que se importaria, afinal posso ter qualquer nome e ainda serei o mesmo. - Pra mim isso não era relevante. - Serei sempre seu.
Ela me encarou e um suspiro baixo escapou de seus lábios. Não sei exatamente oque se passa em sua mente, ela me parece descrente, mas aceita o que digo.
- O que você estaria disposto a fazer para me manter ao seu lado?
- Qualquer coisa. - Seu olhar pareceu suplicante e por um momento tentei entender exatamente o que ela queria.
- Você deixaria de... - Ela não completou o que ia dizer.
Por diversas vezes deixei claro qual era o meu instinto e ela sempre se recusa aceitar.
- Como vamos deixar o passado para trás, se ainda repetimos os mesmos erros?
Não respondi, ficamos em silêncio, parados na varanda. Acariciei o topo de sua cabeça afagando seus cabelos que deslizavam em meus dedos, fechei os olhos enquanto sentia seus braços se fecharem ao meu redor. De forma automática escondi meu rosto na curva de seu pescoço sentindo seu inebriante perfume. Seu cheiro me faz querer explorar cada pedaço de seu corpo sem me reprimir, essa vontade nunca me deixa. Isso me persegue fazendo eu querer que ela seja minha quando e como eu quiser. Quero que seu corpo corresponda apenas a mim. Estive me controlando mesmo querendo avançar sobre ela e acho que por isso esses dias foram tão insuportáveis.
- Estou com saudade. - Eu admiti. - De seu toque.
- Estamos juntos quase sempre.
- Não da forma que deveria ser. - A virei de costas para mim. - Me refiro a ter seu corpo debaixo do meu, sua respiração ofegante em meu ouvido, suas mãos me apertando. Não só isso, mas também não gosto de brigar com você.
- Mesmo? - Assenti deixando minhas mãos percorrerem seu corpo de forma lenta. Queria tirar sua roupa, mas não queria forçá-la como da última vez então me contentei apenas com isso.
- Você é especial para mim.
- Para quantas você já disse isso? - Sua pergunta me pegou de surpresa.
- Talvez algumas. - Respondi sinceramente. - Mas nenhuma delas jamais chegou ou vai chegar aos seus pés.
- E por que eu deveria acreditar em suas palavras?
- Você está aqui, correto? - Ela assentiu. - Isso por si só já prova o quanto você é importante pra mim.
- E se eu não fosse?
- Não sei onde quer chegar, mas acho que a resposta é meio óbvia não? Não faça perguntas das quais você já sabe a resposta.
Christine riu baixo, ela se afastou de mim abraçando o próprio corpo.
- Não acha que devemos voltar? - Me perguntei por que sua pressa em voltar para casa. - Acho que vai chover.
Ela olhava o céu de forma preocupada. Suspirei, enquanto não achasse uma forma de me redimir, ela continuaria agindo assim.
- Como queira, mas eu tenho uma condição.
- Qual? - Christine me encarava com um olhar suspeito.
- Mas tarde vamos sair, você não vai me perguntar para onde. - Ela parecia pensar em algo para usar como desculpa. - Não aceito não como resposta.
- Ou seja, devo ir à força?
- Digamos que sim, mas eu acho que você vai gostar e então vai me agradecer.
Ela assente e logo volta a olhar para o céu.
(...)
Christine
Novamente, não era a resposta que eu esperava, mas não me surpreende. As vezes canso de me perguntar se ele realmente me ama ou só é obcecado por mim. Sinto algo por ele e quero permanecer ao seu lado, minha racionalidade me diz justamente o contrário. Eu gosto dele, de seu toque, seu corpo, me sinto atraída, mas sinto repulsa por suas ações. Isso vem me corroendo aos poucos já que quero abandonar esse peso, mas não consigo, isso sempre volta para me assombrar. Justo quando penso em deixá-lo, ele faz algo e eu me deixo ser manipulada de novo dizendo a mim mesma que ele pode mudar, mas acho que isso não vai acontecer. Acho que já está extrapolando de forma que está me afetando fisicamente, está me cansando ao ponto de que às vezes chego a pensar que é algo que pode ser completamente normal.
A forma como ele me "convidou" para sair não me surpreendeu, após aceitar ele finalmente me trouxe para casa, mas me disse para estar arrumada às nove em ponto. Não reclamei, ele foi para o quarto e eu decidi comer algo. Devagar e sem ânimo, fiz um lanche fácil e após terminar fui para o banho. Tirei a roupa e me encarei no espelho, eu era quase uma marionete vivendo a base de estresse e paranóia por causa das escolhas que fiz e de certa forma não devo reclamar, eu sabia das consequências. Passei as mãos em meu cabelo e decidi lavar ele, não que eu precisasse, mas achei que poderia me animar. Peguei o que precisava e entrei no box, a água morna me ajudou a relaxar. Aos poucos deixei de pensar nos problemas e comecei a me perguntar como estava minha mãe e Larry, acho que além deles eu não tenho ninguém mais para se preocupar. Nunca fui muito boa em manter muitas amizades, talvez isso tenha tido influência em meus relacionamentos passados. Terminei o banho e me enrolei com uma toalha. Subi para meu quarto e me sequei, em frente ao espelho comecei a pentear meu cabelo ainda úmido, o deixei solto pra secar e fui até o guarda roupa procurar algo para vestir. Dentre as roupas que tinha escolhi um vestido preto curto de manga comprida, mas com ombro nu. Devo admitir que Jeff, de certa forma, tem bom gosto e seu estilo me agradou. Deixei o vestido em um lado da cama e me deitei do outro. Ainda havia tempo, decidi fechar os olhos um pouco e descansar, não que eu estivesse cansada, mas porque não tinha muito o que se fazer. Admito que pedi para voltar mas, apenas por não me sentir segura naquele lugar. Não que aqui eu estivesse fora de perigo, se tratando de Jeff eu deveria tomar cuidado em qualquer lugar e hora. Isso me fez rir.
- Do que está rindo?
Me assustei abrindo os olhos, Jeff estava em pé na porta, me olhava de forma curiosa. Suspirei.
"Falando no diabo."
- Então? - Revirei os olhos, ele encarou o vestido na cama. - Eu me perguntava quando você usaria ele.
- É? - Voltei a fechar os olhos sem dar muita atenção ao que ele dizia. - Por que?
- Quando o vi no manequim achei que seria perfeito para você, ao meu ver ele é sensual, mas não de forma tão exagerada. Seu corpo é curvilíneo e ele vai acentuar suas curvas, sua pele pálida combina com a cor preta. Você tem um ar de menina, simples, mas muito encantador e sexy.
O encarei surpresa, Jeff ainda estava parado ao pé da porta.
- Não achei que você, logo você. - Ele franziu a testa. - Fosse reparar em coisas assim.
- Claro. - Jeff cruzou os braços, seu semblante ficou sério. - Por que você pode esperar tudo de mim, menos algo assim.
Não neguei, Jeff saiu do quarto me deixando novamente só. Não pude evitar rir, desde quando ele reparava em mim dessa forma? Isso me foi uma surpresa.
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