17: Pedido
Larry
- Não seria melhor fechar mais cedo hoje? - Verônica apoiou os cotovelos na mesa. - Está chovendo, os últimos clientes já saíram.
Assenti, arrumei algumas coisas antes de fechar. Geralmente quando o movimento estava fraco eu liberava os funcionários e fechava mais cedo.
- Espero que esteja melhor amanhã.
- Se não estiver chovendo vai, a esse horário ainda mais chovendo é normal que fique tudo mais calmo por aqui.
- Eu me referia a você. - Verônica sorriu. - Você está sempre quieto e pensativo, espero que consiga resolver o que tanto te preocupa.
- Ah sim, entendo. - Agradeci, esperamos mais algum tempo até que o carro que ela pediu chegasse, assim que chegou me despedi e corri para o meu.
Verônica é bem gentil e prestativa, a contratei para ficar no lugar de Christine, como tinha me afastado também, achei que seria melhor não deixar o trabalho sobrecarregar os outros funcionários. Por mais irritado que eu estivesse, não podia negligenciar minhas obrigações.
Apesar de tentar ocupar minha mente com o máximo possível de coisas, não tenho conseguido muito bem. Ainda me pego pensando nela e apesar da raiva que sinto, algo sempre me diz que eu deveria ter escutado ou procurado entender o que realmente aconteceu, mas sei que isso é só o que eu sentia por ela tentando remediar a situação, procurando um meio de isentá-la para que eu possa voltar a pensar nela como antes.
Guardo mágoa pelo que houve e sempre me pergunto o por que dela não ter me dito antes, o que quer que fosse. Precisei escutar daquele cara coisa da qual nunca imaginei que ela faria. Ora, ora eu com certeza estou pagando por todos relacionamentos que tive, mas não me importei de terminar sem pensar nos sentimentos dos outros.
Às vezes me pergunto como comecei a gostar dela e me apaixonei então relembro de seu sorriso e da sua forma tímida quando atendia aos clientes, de como parecia frágil e delicada. Eu adorava quando ela se irritava comigo, por mais que tentasse eu não conseguia levar a sério e isso sempre me fazia rir.
Talvez eu não devesse ter me aproximado tanto ou ter deixado claro que gostava dela, talvez eu tenha sido precipitado. Às vezes me preocupo pensando em como ela está, se está bem, mas sei que deve estar, ela com certeza tem alguém que vai cuidar dela.
Eu não sei o que faria se caso a visse em minha frente, talvez eu não a desculpe pelo que houve, pelo menos não por agora.
A verdade é que eu sinto um pouco de falta dela, mas nada que o tempo não resolva. Me neguei a atender qualquer ligação sua e com raiva troquei de numero, tenho evitado de ir trabalhar porque sei que talvez eu possa vê-la, mas também porque não queria trabalhar sem sua companhia. Um dia desses Verônica me disse que uma moça tinha me procurado, perguntou por mim e parecia inquieta, tenho certeza que era ela, mas ainda bem que eu não estava.
É cômico, quando ela sumiu eu pensei que ficaria louco se não a encontrasse já que não sabia oque houve, mas quando ela voltou, me senti traído pelo que aconteceu. Ela nem mesmo se importou como eu me sentiria ou como sua própria mãe ficaria.
A infeliz lá na casa do caralho e eu aqui, pensando nela. Sério, já tive épocas melhores.
Desliguei o carro e saí, vim todo o caminho com minha mente tomada por esses pensamentos que só me eram inúteis.
Foda-se, ia mudar nada mesmo, o que ela faz ou deixa de fazer não é da minha conta. Isso virou parte do passado agora e não vale a pena perder tempo nisso.
A noite passou devagar, entre uma coisa e outra procurei não pensar em mais nada. Se antes eu estava bem, por que agora me sentiria incomodado?
Deitei para dormir, mesmo sem sono ou cansaço. Perambular por aí não me faria sentir melhor.
(...)
Depois de uma noite tediosa sem sono, pensei bastante e decidi tirar o fim de semana para viajar, mesmo que não fosse uma viagem de muitos dias, ao menos eu faria algo diferente. O dia estava o mesmo de ontem e anteontem, sem paciência eu checava o relógio incansavelmente. Mal podia esperar pelo fim de semana.
- Larry tem uma moça aqui, ela disse que quer falar com você. - Verônica empurrou a porta entreaberta. - Ela disse que o conhece.
- Diz que não estou. - Respondi mal humorado.
- Eu não vou mentir para a senhora, então por favor deixe de ser chato e venha atender ela.
- Senhora? - Perguntei.
- Sim, achei que fosse até uma tia sua ou algo assim. - A ruiva deu de ombros. - Enfim, por favor vá atendê-la.
Saí para ver quem era, me pergunto quem mais vai aparecer me procurando. Ao sair me deparei com a mãe de Christine, ela deu um sorriso assim que me viu.
- Em que posso ajudar? - Ela se aproximou me dando um abraço. Retribui de forma engessada, um abraço não era bem o que eu esperava.
- Apesar do que aconteceu, espero que possamos manter a amizade. - Pediu.
- Que isso tia, gosto muito de você. - Ela sorriu novamente. - Será sempre bem vinda.
Apesar de estar com raiva por tudo, ela não tinha nada haver com o que houve e não menti quando disse que gostava dela.
- Preciso conversar com você rapidinho, prometo não tomar seu tempo. - Pediu.
- Claro. - Sentamos em uma mesa vazia, mais separada. - Quer tomar algo?
- Não querido, não vou lhe incomodar. Vou direto ao assunto, fico chateada pelo que aconteceu e sei que você deve ter sua mágoa. - Me recostei na cadeira. - O que houve não foi surpresa somente para você, foi para mim também.
- E? - Onde ela queria chegar falando isso.
- E que eu venho me desculpar, Christine agiu de forma errada com você e me sinto mal com isso. - Eu tentei interrompê-la dizendo que estava tudo bem, mas ela não parou de falar. - Resolvi vir agora porque acho que está mais calmo com relação a esse assunto.
"Claro, eu que estava morrendo de preocupação e sua filha com outro, sumida. Ela foi uma cadela e eu corno, ta de boa."
Suspirei. Aonde ela queria chegar com isso?
- Enfim, não vou tomar muito do seu tempo. Eu só queria me desculpar e saber se está bem.
- Claro. - Assenti. - Estou bem, eu acho.
Ela baixou a cabeça, não sei se era somente isso que tinha a dizer ou diria algo mais.
- A verdade, Larry. - Ela apertava as mãos sobre a mesa. - É que Christine sempre foi mais quieta, mas dividia seus segredos comigo. Além de mim e você, que foi amigo e namorado dela, ela não tinha muitos contatos e duvido muito que se abrisse com mais alguém além de nós. - Senti uma tristeza em sua voz. - Eu não sei o que vem acontecendo com ela, não sei onde e como ela está agora.
- Ela com certeza está bem, deve estar com ele. - Por mais preocupada que ela esteja, não sou eu quem sabe do paradeiro da filha dela. Não sabia antes imagina agora.
- Larry, ela manda mensagens, mas não diz quando pretende voltar ou quem realmente é aquele rapaz. Eu não confio naquele homem, nem mesmo sei nada sobre ele e tenho medo de que minha filha possa estar envolvida com alguém que pode fazer mal a ela. Tento não transparecer que estou muito preocupada porque não quero que ela se sinta mal.
"Por que ela está me dizendo tudo isso?"
- Eu sei que pode parecer ridículo o que vou pedir, mas por favor. - Suspirei, eu nem tinha mais nada haver com ela. - Você pode conversar com ela? Ela não me contou nada quando perguntei e eu tenho certeza que tem algo errado, naquele dia ela repetia dizendo que queria te explicar algo, mas...
- Não acho que isso seja o correto a se fazer, Christine e eu não temos mais nada. Talvez seja melhor dar um tempo a ela. - Discordei querendo encerrar aquela conversa, por mais que me doesse vê-la tão preocupada eu não podia fazer nada.
- Entendo. - Ela aceitou. - Obrigada por ao menos me escutar.
Assenti, nossa conversa levou mais alguns minutos, mas nada relacionado ao assunto anterior. Logo depois ela se despediu e disse que iria trabalhar, eu lhe disse que poderia voltar quando quisesse para me visitar ou só tomar um café. Ela me abraçou novamente e saiu. Já em casa, de noite, voltei atrás do que havia dito e liguei para Christine, somente porque sua mãe estava preocupada e disse que ela tinha algo que tanto queria dizer. Enquanto esperava me senti inquieto, não sabia bem o que dizer ou o que ela diria, caso atendesse. Eu havia trocado de número, mas não esqueci o dela
Caixa postal, ela estava longe do celular ou não quis atender. Bem eu tentei, caso algo estivesse mesmo errado, não cabia a mim resolver e nem se preocupar, não existe mais nada entre nós.
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