Era sábado e estava com o tempo bem nublado. Era meu primeiro sábado como motorista de aplicativo.

De repente, no começo da tarde recebo o chamado. Meu primeiro chamado de sábado. Era perto de casa, numa parte mais abastada do bairro.

Vou até o local de destino do chamado. O local era uma linda casa, grande, com tijolo a vista. Quem me recebe era uma senhora, de certa idade, esperando do lado de fora da casa, na frente do portão de grades da casa, segurando duas travessas de forno, daquelas quadradas.

Abaixo o vidro do carro para confirmar se é a senhora que pediu, como sempre faço com todos os passageiros. Então ela me avisa que não tinha sido ela que pediu, mas sua filha, e me passa as duas travessas de forno e fala que é para levar essas travessas para a filha dela, que está fazendo um churrasco e precisa delas. Falou-me também que a filha vai estar me esperando e me pagará assim que eu chegar.

Para não perder a corrida aceitei o pedido, apesar de um pouco estranho para mim, já que era bem novato como motorista de aplicativo. Isso bem antes dos sistema de entrega do aplicativo. Levei a travessa com dez minutos de corrida. A corrida me levou para um dos condomínios residenciais mais ricos da cidade. Ao chegar o segurança me pergunta: Veio deixar ou retirar? Eu respondi que vim deixar. Em seguida: Qual é o nome do passageiro? Eu respondi, sem saber o que fazer: Meu passageiro são duas travessas de forno. Após me registrar e falar o endereço a segurança me permitiu entrar no condomínio.

Cheguei a casa em que estava registrado o endereço, era enorme, linda. Não havia ninguém para me receber. Ao fundo escutava o som de crianças e pessoas brincando, também escutava o som de pessoas pulando em uma piscina. Buzinei para ver se alguém ouvia, a porta da frente se abre e quem me recebe não foi a pessoa que chamou para fazer a corrida, mas sim uma garçonete contratada para a festa. Era mais jovem do que eu, estava de avental vermelho e uma touca para segurar os cabelos. Foi ela que me pagou, recebeu as travessas e agradeceu.

Diasdepois fui chamado para o mesmo condomínio para pegar um passageiro. Ao falardos dados registrados pude ouvir um dos seguranças falar com o outro: "É omotorista da travessa". Ganhei esse apelido, e acho que ainda tenho esseapelido. Ainda assim foi o melhor passageiro que já peguei. Não reclamava, nãofazia bagunça, gostava da musica, era perfeito.