Capítulo 15 - Jim em perigo
Obedecendo às ordens da Rainha do Bosque, Gael fez Lorena vestir uma roupa dura e cheia de fivelas para ajustamento. Uma armadura, a menina pensou. Ela nunca tinha ouvido falar em armaduras para crianças. Nos livros que lia sobre castelos, princesas e reis, nunca havia visto nenhuma criança de armadura nas ilustrações.
Quando a Rainha do Bosque voltou de seus aposentos, estava completamente diferente do que Lorena se lembrava. Estava com uma armadura marrom por cima de uma roupa vermelha; com equipamentos protegendo os cotovelos, os ombros e os pulsos. Os cabelos escuros estavam presos por dois grossos fios, deixando-os soltos por trás.
- Você está bonita. – a menina admitiu. Depois, passando os olhos pela espada embainhada em seu quadril, Lorena exclamou: - A Espada Dourada!
A rainha sorriu.
- Ah, sim. Você a conhece? – ela perguntou. – Há tempos estou esperando o momento para usá-la. Acho que você também precisa de uma arma...
A rainha murmurou mais alguma coisa consigo mesma e entrou por um dos corredores do palácio. Quando voltou, em sua mão havia uma espada embainhada – menor, porém tão perigosa e afiada quanto as maiores.
- Essa eu usava quando era criança. – a rainha entregou à Lorena. – Só não arranque o próprio braço, por favor.
Lorena arregalou os olhos ao tirá-la da bainha.
- Parece perigosa!
- Sim. De fato. É muito perigosa. – a mulher disse. – Não pode ser usado por qualquer um. Principalmente quando se é criança. Eu a chamava de Diamante.
- Diamante?
- Sim. – disse a mulher. – Coloque-a na luz. Ela brilha como se tivesse mil estrelas incrustado na lâmina.
Lorena levantou a arma em direção à janela e à luminosidade. Sua lâmina prateada brilhou como milhares de estrelas.
- Apesar de se chamar Diamante, ela foi feita com a essência de muitas pedras preciosas. É muito poderosa. – explicou a rainha. – Tão poderosa quanto a Espada Dourada.
A rainha ajudou-a a ajustar o cinto para prender a espada.
- Sobre os Duendes Cinzentos, tome cuidado com eles. – ela continuou. – Suas clavas são envenenadas. Mas, se Diamante atingir um deles, vão se transformar em um monte de cinzas. Não é tão difícil, eu acho... Mas tenho um plano.
- Tá. – a menina assentiu.
- Está com medo?
- Não.
- Eu estou! – Gael respondeu. – Não gosto de duendes.
- Não se preocupe, meu passarinho. – a rainha disse. – Não vou deixar ninguém machucar vocês dois. Agora vamos logo. Sinto que vai cair uma chuva forte daqui algumas horas.
Após saírem do palácio, não demorou muito tempo para acharem as primeiras pistas deixadas pelos duendes. Havia muitas pegadas e marcas de clavas sendo arrastadas pela terra. Ali, no meio do bosque, Jim não gritava mais; e não havia nenhum sinal dos homenzinhos.
- Ah, não! – Gael exclamou de repente. – Isso é horrível!
Lorena e a rainha viraram a cabeça ao mesmo tempo para olhar o menino. Ele se agachou ao lado de uma das árvores e começou a tremer.
A Rainha do Bosque, preocupada, foi até ele. Lorena ficou onde estava, observando seu amigo pássaro começar a chorar. A rainha se abaixou e pegou delicadamente alguma coisa no chão. Alguma coisa pequena e azulada que deixou Gael muito triste.
Era um pássaro azul, assim como Gael; mas morto.
- Pobrezinho. – disse a rainha tristemente. – Aposto que foram aqueles malditos duendes.
- Odeio duendes!
- Acalme-se, meu querido, acalme-se. – disse a rainha, estendendo as duas mãos com o pássaro morto. – Foi uma morte injusta. Não era sua hora...
A mulher fechou os olhos e respirou fundo, erguendo os braços para que a luz do sol envolvesse o pequeno animal. Alguns segundos se passaram até que a mão da rainha brilhou em um tom amarelado. O pássaro começou a se mexer em suas mãos, e Gael pulou de alegria.
- Está vivo! – o menino gritou. – Ele desmorreu!
A rainha sorriu, e o pássaro voou de suas mãos para o topo de uma das árvores, desaparecendo em seguida.
Lorena não fazia a menor ideia de como a Rainha do Bosque devolveu a vida ao pássaro. Na verdade, nem mesmo a própria rainha sabia explicar exatamente como ela conseguia fazer aquilo.
Eles continuaram a jornada, seguindo as pistas deixadas pelos duendes. Os braços e o rosto de Lorena estavam arranhados por causa dos galhos e as folhas que cortavam.
- É aqui. – a rainha disse baixinho quando atravessaram um pequeno e raso riacho. Ela apontou para uma encosta do outro lado, e Lorena notou a trilha e a terra solta e sem plantas até o topo.
Os três seguiram, em silêncio, até a tortuosa trilha de terra e árvores caídas. Quando chegaram ao topo, eles se esconderam entre os troncos e pedras, observando o que acontecia lá embaixo.
Dezenas de duendes pulavam e corriam de um lado para o outro, rindo e conversando entre si com suas vozinhas estridentes. No meio de tudo havia várias pedras preciosas, espadas, coroas e outras joias; tudo empilhado no mesmo lugar.
Perto de todo o tesouro estava Jimmy, pendurado de cabeça pra baixo em uma árvore alta e forte. Seus braços estavam presos e algo tampava sua boca.
Lorena teve vontade de sair correndo para salvá-lo, mas a rainha segurava seu braço.
- Trinta e oito. – ela disse baixinho. – Não são muitos. Já lutei com coisas maiores.
- O que vamos fazer? – perguntou Gael.
- Vamos tentar conversar. – disse a rainha. – Fiquem atrás de mim.
A Rainha do Bosque se pôs de pé e desceu até o grupo de Duendes Cinzentos tranquilamente. Gael agarrava seu braço, com medo, mas não recuava. Quando notaram a presença da rainha, os duendes pararam. Alguns deles pegaram suas clavas.
A mulher levantou as mãos em gesto de paz.
- Não quero brigar. Vim fazer um acordo. – ela disse. – Onde está o chefe?
Os duendes murmuraram entre si. Lorena ouviu comentários como:
- Vamos matá-la.
- É bonita demais para matar, não?
- E as crianças?
- Tem um elfyn ali. Eles valem muito no mercado negro!
- Aquela menina deve ser uma delícia! Vamos botá-la na churrasqueira.
Lorena engoliu em seco e se aproximou mais da Rainha do Bosque.
Enfim, um duende feio e largo, usando um chapéu vermelho e uma coroa por cima, pediu passagem para os outros duendes.
- Diga logo o que você quer! – ele brandiu, apontando uma faca afiada na direção da rainha. Mas ela agiu tranquilamente, como se nada a perturbasse.
- Vocês estão causando confusão demais em meu bosque. – ela disse, e depois apontou para a pilha de tesouro e para o menino pendurado na árvore. – Não sei o que é pior: roubar a riqueza de outros reinos e esconder em meu bosque ou capturar uma criança.
Lorena olhou para Jim, que assistia tudo com os olhos arregalados.
- Crianças valem muito no mercado negro! – disse um dos duendes, e o chefe riu.
- Ainda mais que elfyns! – disse o chefe. – Não é comum termos humanos por aqui! Devem ser deliciosos. Ainda não sei se o devoro ou o vendo.
A rainha continuou calma.
- Vamos fazer um acordo. – ela disse. – Você solta o menino, deixa toda a riqueza roubada e vai embora daqui. Em troca... Eu lhe presenteio com uma menina e um elfyn.
A Rainha do Bosque pegou o braço de Lorena e de Gael e os colocaram frente ao chefe dos duendes. A menina gelou, seu coração batendo mais rápido. Ela queria fugir dali, mas estava petrificada. Aqueles olhos escuros a analisava como se a qualquer momento fosse devorá-la. Gael gemeu.
- Uma humana! – o chefe disse, encarando Lorena e cheirando o ar. – Mas seu sangue é diferente dos outros humanos!
- Não é uma humana qualquer. – a rainha disse. - Mais tarde, ela poderá desenvolver poderes extraordinários. Valerá muito no mercado negro. Ou, se quiser, devore-a... A escolha é sua.
Lorena tremia tanto que achou que não conseguiria ficar de pé. A rainha apertava seu braço com firmeza.
- E esse pequeno elfyn? – o chefe olhou para Gael. – Será um ótimo escravo! Não gosto muito de comê-los, não tem gosto nem com temperos do norte. Nada apetitosos.
- Então, o que acha? – perguntou a rainha.
O chefe dos duendes pensou.
- E meus tesouros? Não deixarei meus tesouros! – ele disse depois de alguns segundos.
- Ah – a mulher murmurou, desembainhando a espada. – O que acha disso?
Os olhos do duende-chefe brilharam imediatamente.
- A Espada Dourada! – ele exclamou.
- Sim. – a rainha disse. – Você terá a Espada Dourada e as duas crianças se soltar o garoto e deixar todo o tesouro.
- Agora sim, dona rainha! – o chefe riu, estendendo a mão para pegar a espada.
Mas a rainha recuou e balançou a cabeça.
- Tsc. Tsc. Não. – ela disse. - Solte o menino primeiro.
O duende-chefe estava tão empolgado com a proposta que não discutiu.
- Está bem! – ele disse. – Holk, solte o moleque!
Um dos duendes foi correndo até à árvore, desamarrando a corda e abaixando o menino até sua cabeça encostar no chão. Quando soltou, e as pernas de Jimmy caíram. Depois, o duende desamarrou suas mãos e tirou o pano que estava em sua boca.
O menino então correu desesperado para o outro lado, escondendo-se na trilha. Lorena queria ir atrás dele, mas a rainha ainda a segurava.
- Bem – o chefe disse. – Agora, prendam as crianças e...
A Rainha do Bosque então soltou o braço de Lorena e Gael e atacou o chefe dos duendes com a espada, fazendo-o gritar até desaparecer em uma explosão de cinzas.
Os duendes se agitaram, gritando e trombando um nos outros. A rainha os atacou, fazendo-os desaparecer antes que pudessem sentir a lâmina em sua pele. Lorena, sem saber exatamente o que fazer, segurou Diamante e começou a bater na cabeça dos duendes. Alguns deles levantavam as clavas contra ela, mas a rainha rapidamente os eliminava, colocando o corpo na frente para proteger a menina.
Gael fazia o mesmo. Não tão desengonçado quanto Lorena, ele corria como um furacão entre os homenzinhos, pulando e acertando-os com sua arma.
Enquanto acertava a cabeça e o traseiro dos duendes, Lorena percebeu que Jimmy não estava mais escondido no bosque. O amigo estava de pé na pilha de tesouros, jogando pedras, joias, coroas e punhais na direção dos duendes. Quando tentavam subir na pilha, Jim os empurrava para baixo novamente. Eles se machucavam, mas não viravam pó. Mas logo a rainha os seguia e acabava com eles.
As clavas pareciam ser pesadas demais para os homenzinhos, pois, toda vez que um deles tentava acertar Lorena, o esforço era tão grande que antes mesmo de um deles pensar em levantá-la, a menina já o atacava com a pequena espada.
- Está indo bem, menina! – a rainha gritou enquanto chutava a cara feia de um dos duendes.
Então, Lorena percebeu que não era apenas quatro contra trinta e oito. Ela viu, com certa dificuldade por causa da luz, um bando de crianças quase transparentes flutuarem entre os Duendes Cinzentos. Quase todas elas tinham um punhal nas mãos; com exceção de uma, que atacava os homenzinhos com um ursinho de pelúcia.
- Dalila! – Lorena exclamou, observando as crianças-fantasmas se lançarem contra os duendes. Elas agora não vestiam roupas listradas, mas sim roupas completamente brancas; quase transparentes. Elas brilhavam como pequenas estrelas, dificultando a visão da menina.
Com a ajuda das crianças-fantasmas, a Rainha do Bosque conseguiu derrotar todos os Duendes Cinzentos. Depois que o último foi transformado em cinzas, Gael comemorou, saltitando e soltando gritos como UUUUHUULL!
A rainha sorriu e guardou a espada, respirando fundo.
- Como esses duendes são burros! – ela disse.
Lorena olhou para Jimmy, todo sujo de terra. O amigo sorriu, descendo da pilha de tesouros, e veio correndo na direção da amiga.
- Lorena! – ele gritou, abraçando-a fortemente.
A menina o abraçou também, feliz por ter o amigo de volta.
Começou a chover, como a rainha havia previsto. Lorena a observou erguer as mãos para cima para pegar algumas gotas, como a menina sempre fazia quando chovia. Por isso, ela fez o mesmo, deixando que a água caísse em seu rosto.
Ela viu as árvores e as plantas destruídas pelos duendes se reerguerem e ficarem mais verdes. Os arranhados nos braços e no rosto dela desapareceram, e a exaustão que antes ela sentia foi embora com as gotas que caíam em seu corpo para o chão.
No fundo de sua mente, uma voz doce cantava:
A jornada chegou ao fim
Você provou toda a pureza de seu coração
O Tempo, a Liberdade e o Amor
A fez quebrar, a maldição
Após a chuva, ó Arco-Íris!
Mostre o que ela é
O mundo é colorido, menina valente
Nossos nomes, nossos destinos
Nós somos o que somos
Você é o que é
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro