Capítulo 13 - O Menino Azul e a Rainha do Bosque
Quando Lorena saiu do rio, suas roupas se secaram em segundos. O pássaro azul bateu as asas, comemorando a chegada dela. A menina pegou a bolsa e jogou a chave que estava pendurada em seu pescoço dentro dela. Não havia mais nada lá dentro a não ser chaves que brilhavam intensamente.
O pássaro começou a piar sem parar. A menina olhou para ele enquanto pendurava a bolsa no corpo.
- Eu não entendo passarês. – a menina disse. A ave começou a voar em círculos novamente. – Para com isso. Você vai ficar tonto e...
Antes que ela pudesse continuar, algo inesperado aconteceu: o pássaro começou a crescer. Suas asas aumentaram de tamanho até se parecerem com mãos e braços humanos. A cabeça se expandiu até dar lugar a um rosto quase humano - olhos negros, nariz e boca.
Em segundos, o pássaro havia se transformado em um menino baixinho com orelhas pontudas. Seus cabelos eram arrepiados e azuis, e seus olhos escuros faiscavam como se estivesse prestes a fazer bagunça. Estava sem blusa e descalço – usava apenas com uma bermuda rasgada cinzenta.
Lorena deu um passo para trás e arregalou os olhos.
- Oláááááá! – disse o menino de cabelos azuis. – Eu sou Gael!
- Oi. – Lorena disse um pouco assustada. – Você é um pássaro?
- Gael é um pássaro. – o menino respondeu, mexendo as orelhas pontudas – Mas Gael também é um menino do bosque!
- Ah... – a menina observou-o sorrir alegremente. – Também queria ser um pássaro.
- Lorena não é um pássaro. – Gael disse. – Mas pode voar também!
- Como?
- Com asas! – o menino respondeu.
Lorena olhou para o seu próprio corpo, procurando asas.
- Eu não tenho asas.
Gael riu e correu em direção às árvores.
- Vem! – ele gritou. – A Rainha do Bosque precisa de ajuda!
O menino de cabelo azul saltitava pelo bosque enquanto Lorena o seguia. Às vezes ele desaparecia e reaparecia do outro lado; rápido como um passarinho. A menina apertou os passos para não perdê-lo.
Então, após subir uma pequena encosta no meio de árvores e plantas espinhosas, Lorena viu um lindo palácio. Era feito de pedra polida clara, com colunas e escadas largas. As trepadeiras subiam pelas colunas e pelos degraus da escada, deixando-os verde vivo. O palácio também era rodeado de árvores com flores coloridas. Um lago azul-claro, onde dois cisnes nadavam lado a lado, enfeitava a fachada da construção.
Para Lorena, o palácio parecia uma grande casa tirada de um conto de fadas.
- Que bonito. – Lorena disse.
Gael puxou a mão da menina, que havia parado para observar o palácio. Os dois atravessaram a clareira de mãos dadas, passando pelo lago e chamando a atenção dos cisnes. Quando o menino soltou a mão de Lorena, frente às escadas, ele desapareceu.
Lorena olhou para os lados para procurá-lo. Não havia menino algum, a não ser o pássaro azul voando para dentro do palácio. A menina seguiu novamente o garoto-pássaro, subindo as escadas rapidamente.
Quando chegou lá dentro, observou as colunas cobertas de plantas. Borboletas pousavam sobre as flores e pássaros faziam ninhos no alto. Alguns cantavam suaves canções que ecoavam por todo o lugar.
Ela parou frente uma porta alta e arredondada. Havia desenhos de galhos e folhas nela, feitos de algum metal. Lorena a abriu, e o pássaro foi o primeiro a entrar. No novo aposento, não havia nenhuma trepadeira pelas colunas ou borboletas voando pelo teto.
Havia uma enorme mesa de pedra retangular vazia; a não ser por algumas frutas coloridas e aparentemente doces. Em uma das cadeiras, no topo da mesa, havia uma mulher de cabelos escuros. As duas mãos escondiam o rosto enquanto os cotovelos apoiavam-se na mesa. Seus ombros sacudiam ligeiramente.
A Rainha do Bosque, a menina pensou.
Lorena se aproximou lentamente, sem fazer barulho. Percebeu, então, que a rainha chorava silenciosamente. A menina pôde sentir a mesma tristeza daquela moça.
O pássaro pousou em frente à mulher e piou docemente. Ela tirou as mãos do rosto e olhou para ele. Deu-lhe uma frutinha e acariciou seu peito, dando um sorriso triste. Quando a rainha levantou os olhos e fitou Lorena, a criança percebeu o quanto ela era bonita. Seus longos cabelos castanho-escuros estavam soltos e caíam em ondas pelos ombros. Seus olhos, verdes e brilhantes, observavam a criança como se já a conhecesse. Porém, seus olhos também estavam avermelhados e tristes; o que provocou em Lorena um desejo imenso de ajudá-la.
A mulher se pôs de pé e alisou a roupa. Ela usava um vestido branco até os pulsos com uma capa fina da mesma cor. Pendurado no pescoço, havia um colar com um pingente prateado.
- Você chegou. – a rainha disse, esfregando um dos olhos. Depois, encarou o pássaro saboreando a fruta.
- O que aconteceu? – Lorena perguntou. A moça não tirou os olhos da mesa.
- Minha filha. – ela disse enquanto mais lágrimas caiam de seus olhos. – Minha filha. Eu a perdi...
A menina se aproximou.
- Sua filha? – ela perguntou. – O que aconteceu com ela?
- Eu a perdi, menina. – disse a moça. - Você...você não pode ajudar. Eu não posso me ajudar.
- Vou te ajudar sim. – Lorena disse. – Tenho que pegar a última chave. Preciso das chaves para ajudar Ella.
A mulher deu um sorrisinho.
- A chave... – ela disse, vasculhando o bolso do vestido. De lá, ela tirou uma chave dourada e estendeu a mão para entregar à menina.
Hesitante, Lorena pegou o objeto.
- Mas...
- Eu sei. Você não precisa me ajudar. Minha filha foi presa em uma maldição. – disse a moça. – Se você veio até aqui sem a minha criança, deverá voltar para finalizar sua missão. Liberte Ella, é só isso que peço. Agora você tem todas as chaves.
- Você está triste. – Lorena retrucou.
- Eu sei, minha pequena. Mas algumas coisas são impossíveis de reparar. – ela disse. – Salve a velha bruxa. Tenha cuidado; o bosque além dos meus domínios pode ser perigoso. Gael vai ajudá-la.
Lorena concordou, mas não gostou da ideia de ir embora sem ajudar aquela mulher. Quando passou pela porta do aposento para ir embora, a menina olhou para trás e viu a rainha sentada novamente na cadeira com uma maçã em uma das mãos.
De repente, alguém agarrou sua mão, fazendo-a correr na direção oposta.
- Vamos, vamos, Lorena! – o menino Gael dizia, quase atropelando as borboletas que passavam voando por ali. O menino-pássaro correu freneticamente, pulando os degraus da escada e atravessando o belo jardim.
Lorena seguiu Gael bosque adentro por mais tempo que imaginava. Ali as árvores eram belas e acolhedoras, com pequenos riachos com pedras e pontes feitas de galhos e cipós.
Depois de um tempo, Lorena sentiu-se muito cansada. Suas pernas e suas coxas doíam. Queria se sentar em uma das pedras e tomar uma água, mas o menino-pássaro não a escutava.
- Não podemos parar, não podemos parar! – Gael dizia.
- Não podemos parar, não podemos parar! – uma vozinha repetiu.
- Corram, criancinhas, corram! – outra voz disse.
Lorena parou, assustada. Olhou para os lados, mas não notou ninguém a princípio. Depois ela viu do que se tratava: correndo entre as árvores e se escondendo atrás dos troncos, havia aproximadamente cinco homenzinhos enrugados e de aparência exótica. Como Gael, também tinham orelhas pontudas; mas eram maiores e mais largas. A pele era de um tom cinza-claro, e em suas mãos eles levavam pequenos bastões cobertos de espinhos. Eles riam debochadamente enquanto a menina os observava.
- Olá, princesinha! – um deles disse, exibindo os dentes amarelos. Lorena estremeceu. Gael puxou o seu braço.
- Corre, corre! – ele dizia. – São duendes malvados!
Os duendes cinzentos riram e se aproximaram com as clavas. A menina se preparou para correr, mas algo a impediu.
- Socorro, socorro! – uma voz conhecida gritava.
Lorena logo reconheceu o dono da voz.
- Jimmy! – ela gritou de volta, olhando ao redor desesperadamente. Não parecia estar muito longe.
- Lorena! – seu amigo respondeu.
- Gael precisa correr. Lorena precisa correr! – o menino-pássaro insistia. Os duendes então começaram a se aproximar, erguendo suas armas pontudas e soltando grunhidos.
Não se esquecendo de Jim, Lorena correu ao lado de Gael, enquanto os duendes malvados os perseguiam. Queria salvar seu amigo, mas não sabia como se defender daqueles homenzinhos feios e maus.
Lorena corria tanto que sua barriga doía. Quando não ouviu mais as risadas maldosas e os passos atrás de si, a menina parou e colocou as mãos nos joelhos, com a respiração pesada. Não queria ter corrido – queria muito ver onde Jim estava; e o que os duendes malvados estavam fazendo com ele.
Nesse meio tempo, Gael havia se transformado em pássaro novamente. Ele foi e voltou pelo caminho percorrido, certificando se os homenzinhos estavam ou não por perto.
O pássaro piou três vezes e correu na direção de uma pequena trilha à esquerda. Exausta, a menina foi atrás. A casa de madeira estava logo ali, no fim da primeira curva da trilha. Lorena correu para alcançá-la mais depressa, como se a qualquer momento a construção pudesse desaparecer.
Não havia mais nada ali a não ser a casa, as árvores e um pequeno lago. Um conhecido caminho de pedras a levava até a varanda. Lorena correu e subiu os degraus, seus pés causando ruídos na madeira velha. Quando chegou frente à porta, ela olhou para seu amigo pássaro descansando na amurada da varanda. Depois, bateu duas vezes na porta e esperou.
Após alguns segundos, depois de ouvir passos abafados do outro lado, a porta se abriu.
A velha Ella sorriu ao ver a menina ali, toda suja e aparentemente exausta.
- Lorena! Como você cresceu! – ela exclamou, abrindo os braços para abraçá-la. A menina a abraçou de volta. Ao se afastar, mostrou-lhe a bolsa com as dez chaves.
- Suas chaves. – ela disse.
Ella olhou para a bolsa e franziu o cenho, como se não se lembrasse de nada. E de fato ela não se lembrava - a não ser da criança aparecendo na porta de sua casa.
Lorena observou a expressão da velha; até que seus olhos se iluminaram de alegria ao se lembrar de tudo.
- As chaves! – Ella sorriu, emocionada. – Ah, minha criança, eu sabia que você iria conseguir!
A menina sorriu.
- Foi fácil! – ela exclamou, sem ter certeza do que estava dizendo.
Ella apertou a bolsa contra o peito, sorrindo sem parar.
- Ótimo! – a velha disse. - Mas, antes de tentamos abrir a porta dos fundos, que tal um chá?
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