3. Hotel
Eu só queria trabalhar. Só isso. É pedir demais? Aparentemente, sim.
Ba-rum e Byeong foram os primeiros a chegar no restaurante do All Star, um hotel de luxo no Leblon e onde eu trabalhava como garçonete. Xinguei o destino na minha cabeça. O resto do grupo veio logo depois e Kyung-ho estava discutindo com um homem engravatado e cabelo lambido. Nenhum deles parecia ter me visto. Claro, eu estava escondida atrás de uma pilastra.
— O que pensa que tá fazendo? — Carla, a gerente e, pela estúpida hierarquia trabalhista, minha chefe, me deu um susto ao esgueirar-se atrás de mim.
— Nada! — respondi prontamente.
Ela olhou para a direção da porta, para onde eu encarava, e não viu nada. Mas seu olhos arregalaram quando olhou para a janela. Um dos grupos de K-pop mais famosos da Terra tiveram a brilhante ideia de sentar na janela.
— Vai lá! — mandou.
— Eu? Por que?
— Vai lá antes que a Raíssa veja.
Ela tinha um ponto, se a Raíssa os visse, ela não conseguiria esconder a animação. Eu olhei para a Carla, implorando para que escolhesse outra pessoa, mas parecia decidida. E, aceitando meu destino, coloquei o sorriso mais falso que eu tinha e caminhei até a mesa dos famosos tirando o celular do restaurante do avental para pegar os pedidos.
Antes que eu pudesse falar "Boa noite", Byeong, o mesmo cara que tinha apontado para a minha cara e exclamado em coreano, fez a mesma coisa. Suas ações chamaram a atenção de alguns hóspedes à nossa volta e eu senti os olhos da Carla perfurando minhas costas. Ba-ram deu uma cotovelada nele. Nós não nos vimos desde o incidente na Americanas. E o pior de tudo: não contei para a Raíssa. Se ela descobrir sozinha, vai me ignorar por uma semana.
— Boa noite — eu disse. — O que eu posso pegar para vocês?
— Você tem alguma coisa coreana? — o idol, cujo nome eu ainda não lembro, disse.
— Não estamos na coreia — respondi.
— Isso é um não?
— É.
— Eles vão comer a salada de frutas — disse o homem de terno antes de voltar ao celular.
— Todos?
— Por que não? — Ba-ram não estava feliz.
Byeong disse alguma coisa em coreano, e não estava nada feliz. Eu anotei seu pedido e perguntei se queriam alguma bebida, e todos ficaram em silêncio.
— Obrigada, isso é tudo — disse o engravatado.
Um luz branca me cegou. Do lado de fora da janela, uma garota com um sorriso maníaco tirava fotos sem parar.
— Eu sabia que deveria ter pedido cortinas.
Anderson, o segurança do Hotel, arrancou a câmera de suas mãos e expulsou-a de lá. Do outro lado da rua, o que parecia ser o grupo dessa garota estava de luto pelas fotos perdidas. Anderson virou-se para nós e fez um joinha. Ele vai ficar com as fotos. A única pessoa nesse hotel mais fã do KB do que a Raíssa era o Anderson. Carla fez ele assinar um contrato de confidencialidade antes dos turnos dele.
— Eu vou pegar as suas comidas — eu disse.
— Obrigada! — os garotos, em sincronia, disseram.
Eles terminaram as saladas rapidamente e foram embora. Carla disse que eles estariam fazendo checkout naquele dia. Também vi ela rezando o rosário para que a Raíssa não visse eles. Parecia que estava traindo ela.
O dia passou como o usual, excerto pela velha do 311 que não parava de mandar me chamar pra trocar suas toalhas. Não era problema meu se ela tomava três banhos por dia e não podia esperar o serviço de quarto. Uma das meninas tinha faltado e Carla ofereceu-me o posto, não podia recusar um turno extra. Isso me levou ao momento, em que, pela terceira vez, Byeong exclamou e apontou para a minha cara.
— Serviço de quarto. Eu trouxe as toalhas — eu disse.
Ba-rum correu até a porta e pediu que eu esperasse um momento, mas não prestei atenção em nada do que disse, eu estava muito mais preocupada com seu cabelo molhado pingando em seu torso nu e malhado. Nem percebi quando bateram a porta na minha cara.
Kyung-ho surgiu atrás de mim. Ficamos em silêncio por um tempo enquanto esperava os meninos abrirem a porta.
— Nós já estamos indo embora — Kyung-ho informou de repente.
— Já? Conseguiram aproveitar?
— Não muito. É difícil não sermos reconhecidos.
— Sinto muito.
— Não é de todo mal.
O idol riu levemente. Ele notou meu uniforme diferente e as toalhas na mão.
— Você deve estar trabalhando, vou parar de atrapalhar.
— Tudo bem, o Ba-rum pediu mais toalhas.
Os olhos do idol, antes desviantes, dobraram de tamanho.
— Não! Pode deixar que eu entrego — tentou pegar as toalhas, mas eu recuei.
— É meu trabalho.
— É sério, não se preocupe.
Ele tentou pegar as toalhas mais uma vez. Antes que voltássemos a discutir, a porta do quarto se abriu e Ba-rum, agora vestido, agradeceu e fechou a porta rapidamente.
— Então... — Kyung-ho começou.
— Eu deveria ir trabalhar — interrompi.
— Você poderia, tipo, não dizer para ninguém?
— Dizer o que?
— Perfeito
— Sério, dizer o que? — perguntei, mas ele já estava longe.
No final do expediente, Carla me fez comprar uma cesta de fruta para a despedida da banda. Eu não sabia quem estava mais envergonhado, eu cheirando a manga, ou os ídols K-pop em se despedindo de todos os funcionários e recebendo os presentes mais aleatórios. Se Carla não tivesse mandado a Raíssa limpar os banheiros, Ba-rum provavelmente já teria levado uma calcinha fio dental na cara.
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