🧸Prologue🧸
O despertador tocou.
Park Jimin abriu os lumes com dificuldade ao se deparar com o lugar claro, iluminado pela luz dos raios solares. Tinha se esquecido de fechar as janelas no dia anterior. O garoto de 17 anos se revirou no colchão, desejando, mais uma vez, que não tivesse acordado.
Passados poucos segundos, se sentou na cama, sentindo sua coluna estalar por ter mais uma noite mal dormida. Levou os dedos aos olhos e os esfregou vagarosamente na tentativa de despertar mais depressa, girou a cabeça para o lado esquerdo e viu que sua tia depositara as roupas limpas sob a pequena cômoda, logo ao lado do frasco de remédios.
A mulher de quarenta anos não era tão ruim quanto seu marido, não, ninguém jamais poderia ser comparado com aquele ser desprezível, Kim Woon-Soo era o pior ser humano da face da Terra e Chang-Min teve o desprazer de se casar com ele, um abusador, alcoólatra e viciado que apostava quase todo o dinheiro da casa em jogos de azar nos pequenos cassinos da grande cidade, era difícil comparar a mulher de antigamente, a irmã de sua mãe, com a mulher de hoje.
Kim Chang-Min, antiga Park, sempre foi uma mulher vaidosa, amava maquiagens e estava sempre disposta para uma noite entre mulheres, usava roupas de grife e saltos altos, podia facilmente ser comparada com uma modelo, era capaz de deixar todos de queixo caído tamanha era sua beleza. As mulheres a invejavam e os homens a queriam, e claro que Chang-Min se gabava pelo fato, quem não se gabaria? A mulher só não contava com o fato de que cairia na lábia de um ser sujo e que a levaria para um caminho sem volta de dores e arrependimentos.
Foi em uma noite que ela conheceu um jovem homem de aparência esbelta e que mostrava gentileza, ele foi bom com ela durante bom tempo, a pediu em casamento sem delongas e foi então que tudo desmoronou. Kim Woon-Soo a tirou de Busan, levou-a para Seul e jogou fora todo o dinheiro que tinham, ou melhor, que sua tia tinha, mostrou a verdadeira face do diabo e transformou a vida de Chang-Min no verdadeiro inferno.
O contato se tornou cada vez mais escasso até que foi findo, encontraram-na apenas quando o terrível acidente aconteceu, sua irmã entrara em estado catatônico e seu cunhado falecera no mesmo instante, seu sobrinho, tão pequeno na época, teve de se mudar para junto da tia, esta que ganhou a guarda legal do menino.
Foram tempos mais que difíceis, ainda são. Sua mãe foi transferida de cidade para que assim pudesse estar próxima dos parentes que restara da família, Jimin tinha o carinho de sua tia e o silêncio de seu tio, o homem nunca gostou da ideia de ter o sobrinho em casa.
Nos primeiros meses, Jimin não desconfiou de nada, porém não era nada bobo para uma criança de dez anos e logo juntou as peças. Sua tia sempre tinha novos hematomas espalhados pela pele alva, seu olhar era sempre cansado e sem vida, havia apenas o medo quando notava que o marido chegara em casa, mais uma vez bêbado e descontrolado, o modo como ele falava com a esposa e o porquê de a porta do quarto dos dois estar sempre trancada.
E foi, num momento impensado, que Jimin forçou a maçaneta do quarto quando ouviu um grito contido de sua tia, ele tinha quinze anos.
Aquele dia ainda assombra seus pensamentos e os pesadelos sempre retornavam àquela cena, seu tio puxava seu pulso e o empurrava no chão, o amarrava com uma gravata velha e feia e o obrigava a assistir tudo o que fazia com sua tia, logo era sua vez.
Quando chegava ao fim, Jimin corria para o banheiro, trancava a porta e arranhava a pele com a esponja na vaga tentativa de se sentir limpo, mas ele sempre se sentia sujo, cada vez mais e mais sujo, sua tia desistira de tentar tirá-lo do banheiro, ela mesma já não tinha condições psicológicas suficientes, estava tão quebrada quanto o sobrinho, mas sempre tentava fazer de tudo pelo mais novo, seja com simples pratos de comida, lavando sua roupa suja ou entregando o dinheiro do ônibus quando conseguia pegar algum dinheiro da carteira do marido sem que ele notasse.
Chang-Min achava o sobrinho muito novo para deixá-lo desistir, porém se sentia fraca ao lembrar que não podia fazer nada para ajudá-lo. Ela já tentou depor contra o homem uma vez, apanhou até desmaiar assim que pisou em casa, as acusações se tornaram constantes e ela sabia que o marido não tinha escrúpulos, pegaria o primeiro objeto que visse pela frente e o usaria contra o sobrinho, ele o mataria e ela tinha certeza daquilo, mas não podia deixar que aquilo acontecesse, ele era o único que restara em sua família, o único de seu sangue, pois sua irmã já não tinha tantas chances de voltar e era doloroso saber que a vida do adolescente estava em suas mãos.
O som de algo caindo chamou a atenção de Jimin e ele finalmente se levantou, abriu uma pequena fresta da porta e teve a visão da pequena cozinha conjunta da sala, fora sua tia que derrubara uma panela velha, ele sabia que quando ela estava ali, era porque seu tio saíra de casa.
Abriu a porta sem receios desta vez, apenas ouvindo o ruído estrondoso das dobradiças enferrujadas, a mulher de cabelos negros se virou e encontrou o menino vestindo seus pijamas velhos e cheios de furos, fez uma nota mental de que pegaria linha e retalhos para cobrir os buracos assim que ele fosse para a escola.
— Bom dia. – Ela disse primeiro, sorriu fraco enquanto puxava uma das cadeiras de plástico para o menino, suas mãos estavam trêmulas e Jimin sabia o porquê, ele ouviu tudo na noite passada.
— Bom dia, tia Chang. – Jimin caminhou até a mesa velha, a qual tinha um de seus cantos quebrado, ele não sabia dizer como ocorreu pois não se lembra de ter visto aquela mesa inteira.
Se sentou e observou a mulher puxar outra cadeira, aquela era uma parte do dia que Jimin apreciava, sua tia se sentava junto apenas para observá-lo comer, ela não era muito acostumada a fazer o desjejum, mas amava ver o sobrinho desfrutando da primeira refeição do dia, ele a lembrava de sua irmã e fazia seu coração palpitar mais forte ao lembrar da época de sua vida em que era feliz.
— Jimin... – A mulher chamou e esperou que o garoto a olhasse, ele estava comendo um pequeno pedaço de bolo que fora feito há dois dias por ela – Se importaria em almoçar na casa do Taehyung hoje? Meu expediente vai até mais tarde hoje...
Ah, é verdade, o dia de hoje era quarta-feira, o dia da semana que Jimin mais detestava pois sua tia trabalhava até mais tarde, consequentemente Jimin passava boas horas apenas na companhia do tio.
— Eu posso dormir lá? – Perguntou de imediato – Faz um tempo que Taehyung me pede para dormir na casa dele, mal me lembro da última vez que fiquei até tarde lá, então... eu posso?
Não era mentira, não mesmo, Taehyung realmente estava pedindo para que Jimin fosse dormir em sua casa, a sra.Kim, mãe de seu melhor amigo, agora estava trabalhando ainda mais por conta dos irmãos mais novos de Taehyung, o deixando sozinho com os dois pivetes que ele tanto amava.
— Pode, pode sim. – A mulher tentou sorrir, seu sobrinho precisava mesmo passar um tempo longe daquela casa. Tanto ela quanto ele sabiam que o tio ficaria furioso por ele não ter voltado naquela noite, porém Chang-Min estava disposta a tomar a culpa pelo sobrinho, sem sequer pensar nas consequências.
— Obrigado, tia Chang! Vou arrumar minha bolsa. – Jimin esfregou uma mão na outra para retirar os farelos e então caminhou de volta para seu quarto, pegou a mochila velha e verificou se todos os cadernos estavam ali, pegou uma muda de roupas e foi tomar banho, pegaria o restante assim que estivesse pronto para o colégio.
O banheiro da casa era pequeno e compartilhado entre os três, o esgoto era péssimo e isso causava um odor terrível no lugar. Jimin não demorou para tomar banho, saiu apenas com a toalha na cintura e viu os olhos da tia encherem de lágrimas ao ver o corpo judiado e magro do menino. Algumas marcas já estavam mais claras que outras, os roxos ocasionados pela cinta do tio estavam sendo curadas pouco a pouco, Jimin agradecia por serem em lugares discretos e não aparentes de seu corpo.
Fechou novamente a porta e pegou os remédios junto de um algodão, encharcou-o no líquido transparente e passou levemente sobre as feridas da costela e das pernas, suspirou quando passou por um arranhão e esperou um pouco antes de vestir o uniforme composto de uma calça preta, camisa branca e um casaco cinza, penteou os cabelos escuros e buscou por alguns pertences pessoais.
Sua tia já o esperava na porta de casa, só se aprontava para o trabalho quando Jimin partia para a escola.
— Aqui está, querido, o dinheiro para o ônibus e meu celular, prefiro que você fique com ele hoje. – A mulher entregou os trocados para o transporte e o pequeno telefone, ela sempre o entregava quando passava muito tempo longe.
— Obrigado, tia. – Jimin, que era um pouco mais alto que a mulher, depositou um beijo em sua testa e viu o curto sorriso surgir entre os lábios ressecados – Talvez eu vá ver a mamãe amanhã depois da escola, quer que eu te espere?
— Não precisa, vou outro dia. Aproveite seu tempo com ela. – Chang-Min passou a mão pelo uniforme do sobrinho na tentativa de desfazer um pequeno amasso no casaco – Agora vá antes que perca o ônibus!
— Certo, tchau, tia Chang!
A antiga Park não respondeu, apenas abanou a mão enquanto o assistia caminhar até o ponto de ônibus mais próximo de casa, o dia tinha, enfim, começado...
O prólogo está bem curtinho, mas eu espero que tenham gostado! Eu já vou começar a trabalhar no próximo capítulo, prometo!
O que acharam do novo começo de MNP? Esperavam ver a tia do Minnie numa versão boa? Confesso que agora Chang-Min é uma personagem querida para mim.
Dessa vez temos uma tag no Twitter, a #olhinhosdepelúcia, meu perfil está na minha bio, só clicar ali e vocês vão direto para meu Twitter, espero encontrar vocês ali para podermos interagir e surtar com MNP.
Eu espero que o ano de vocês tenha começado muito bem, até a próxima! Beijinhos de luz ❤️🧸
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