Dúvidas
Melanie
Creio que duas semanas foram suficientes para fazer Taehyung repensar suas atitudes e rever seus conceitos sobre nossa relação.
Eu não poderia deixar o que aconteceu me abalar, mas eu poderia fazê-lo sentir como é ficar às cegas em um momento tão importante.
— Melanie, que bom que veio. — Taehyung me recebeu com um sorriso nervoso.
Apesar da roupa casual e eu saber que ele teve todo o fim de semana livre para procurá-lo e esclarecer as coisas, acho que fiz bem em deixá-lo esperando mais um pouco.
— Precisamos conversar. — seu sorriso vacilou, e um vinco se formou entre suas sobrancelhas.
— Claro, estou à disposição.
Assim que cheguei e fui recebida por Penny, senti que o ambiente não estava leve. Se houve algo mais para deixá-lo apreensivo, eu não sei, mas era certo que nossa relação era o que mais tirava seu sono.
Assim que chegou na sala e me viu, ele se aproximou confiante. Contudo, ele não beijou ou me tocou, sabia que o que vim conversar era sério, e minha postura deixou isso bem claro.
Ele me ofereceu o sofá para sentar, porém, não fez o mesmo. Suas mãos estavam impacientes e frequentemente ele as passava pela nuca.
—Bem, você sabe que temos um problema. — ele suspirou, se aproximando.
— Mel, tudo o que eu mais quero nesse mundo é que você possa me perdoar pelo que aconteceu. Eu não sei o que me deu...
— Taehyung, poupe suas palavras. — ele se calou. — Esse é um obstáculo que eu, de certa forma, tinha conhecimento que poderia acontecer. Nosso problema é ela.
Ele ficou tenso. Falar sobre ela é delicado e pode ser danoso demais para essa relação estremecida. Mas nada disso é culpa minha. E todas essas situações que só se acumulam e somam seus erros, eles nunca cessarão se não tirarmos ela do nosso caminho.
— Eu entendo.
— Já é um bom começo que você entenda. — me olhou intrigado. Ele sabia que tinha algo mais, e que eu pensei muito a respeito.
— E o que você sugere?
— Proponho que você ceda a guarda dos seus filhos. — ele processou a informação, tranquilamente. Porém, tenho certeza que chegou a conclusão errada pelo que me disse a seguir.
— Você quer que abra mão dos meus filhos?
— Não foi isso que eu disse.
— Você não está falando sério. — ele começou a ficar agitado. — Depois de todos esses anos que fui impedido de conviver com eles, que fui privado de ser pai, como acha que eu teria capacidade para deixá-los?
Levantei e calmamente fui até seu aparador, me servir de uma dose de whisky. Essa conversa seria mais longa do que eu queria. Mas nada diferente do que eu já imaginava.
— Eu não disse para você abrir mão de seus filhos. — virei-me para ele, inexpressiva. — Apenas sugeri que desse a ela a guarda. Como sempre foi.
— Melanie...
— Taehyung, essa mulher não vai te dar um dia de descanso enquanto não obtiver o que quer.
— E é justamente isso que estou fazendo. Não darei a ela o privilégio de ficar com eles, não depois de tudo o que ela fez.
— Isso é apenas uma briga de ego ferido, Taehyung. — ele me encarou como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo.
— Não acredito que você pense assim.
— Então me explique o motivo para tudo isso, pois sabemos que você não está só pensando no bem das crianças.
— Eles têm direito de conviver com o pai. E eu não abrirei mão disso depois de tudo o que consegui.
— Justo. — ele ficou surpreso com a minha concordância. — Sendo assim, mova seu advogado e tire-os de vez dela, então. — outra vez a surpresa.
Taehyung pode tentar argumentar o que for, mas sei exatamente onde isso vai dar. E se eu não dissuadi-lo, não há motivos para seguir em frente. Não juntos.
— Não posso fazer isso com eles. Ela é tudo o que eles conhecem desde...sempre.
— Eu não estou dizendo para você tirá-los dela e sumir no mundo como ela fez. Porém... — voltei ao sofá, sentei de frente para ele e analisei sua postura diante das alternativas. — Se você acha que está fazendo o certo e que é direito seu ficar com eles, então fique. Estabeleça dias e horários para que ela fique ou veja os meninos e acione o conselho tutelar para fazer os trâmites com seu advogado nesse período pré-estabelecido. Assim você corta de vez o contato com ela, e os meninos não sofrerão consequência alguma. Principalmente se for numa situação de guarda compartilhada.
Ele caminhou pela sala, pensativo. Eu sei que ele entendeu que as opções são unicamente para tirá-la de nossas vidas. Eu não tenho objeção alguma quanto às crianças. Ela é o meu problema. Na verdade, o nosso.
Enquanto ela não estiver realmente fora da vida dele, nunca iremos, de fato, para frente.
— Sei que pode ser uma situação muito desconfortável para os meninos, mas se esse for o único meio para mantê-la longe, eu farei.
— Acredite, eles não serão as primeiras crianças e nem as últimas a passarem por isso. E garanto, pode ser estranho no começo, mas eles se acostumam.
Pela janela, ele observava um horizonte de decisões e percalços que sabia que enfrentaria pela frente. Mas que eram extremamente necessários.
— Além do mais... — me aproximei dele e apoiei o queixo em seu ombro. — Você precisa de mais tempo disponível agora que os últimos detalhes do casamento estão encaminhados. — ele se virou para mim e sorriu afetado.
— Você dará continuidade aos preparativos?
O único jeito de fazer Taehyung entender que eu não estava para brincadeira, foi suspender os preparativos do casamento. Isso o fez ficar ciente que eu estava determinada a dar um fim em tudo, caso fosse preciso.
— Esse casamento também é seu, Tae. E eu preciso que você participe de tudo isso comigo. — beijei seu rosto. — Esse é nosso momento.
Ele me puxou para junto de seu peito e beijou meus lábios, depois minha testa e me abraçou firme. Foi um abraço calmo e reconfortante, do jeitinho que eu precisava.
— Sem dúvida alguma. E será o momento mais importante de toda a nossa vida.
Isso, era desse Taehyung que eu sentia falta. Dessa cabeça leve e decidida que eu tanto relembrava. Do homem realista e com os pés no chão que sempre foi aberto e sincero comigo. O homem com quem aceitei me casar.
E não importa quantas vezes ela apareça na vida dele, sei que tenho a capacidade para trazê-lo à realidade sempre que as coisas começarem a desandar.
E no que depender de mim, essa mulher deixará de ser uma reticência constante, e se tornará, de uma vez por todas, um ponto final.
Taehyung
— Você parece de bom humor hoje, Taehyung. — Namjoon entrou em minha sala com Yoongi logo atrás dele.
— Tenho muitos motivos para isso.
Deixei o celular sobre a mesa. Tinha acabado de falar com a Melanie, e esta noite faremos a prova do cardápio que será servido no casamento. Ela tem andado bastante ocupada com alguns detalhes, e eu tenho dado o máximo de mim para acompanhar tudo.
— Imagino que a Melanie tenha parcela nisso. — ele sentou na cadeira à frente. Yoongi, sem dizer nada, fez o mesmo.
Nas últimas semanas Yoongi tem mostrado um trabalho impecável. Namjoon estava certo quando disse que ele seria uma boa escolha para ser assistente de gerência e que desempenharia muito bem essa função. E só tenho elogios a acrescentar no trabalho magnífico que ele tem feito. Tenho muito o que agradecer ao meu amigo pela recomendação.
Entretanto, me sinto um pouco desconfortável na presença dele. Ele raramente se pronuncia em alguma conversa, a não ser quando é questionado. Eu fico sempre com uma impressão que ele está observando tudo e já cheguei a ter a ideia louca de que pode estar apenas coletando informações.
Mas sei que é loucura demais essa ideia. Afinal, toda a correia com os preparativos finais do casamento tem me deixado exausto também.
— Certamente ela tem. — peguei a pasta que Yoongi me entregou e comecei a conferir alguns papéis. — Faltam apenas três semanas para o casamento, e devo confessar, estou ficando bastante nervoso.
— É uma sensação única. Você só vai se sentir mais nervoso que o dia de seu casamento, quando chegar o dia do nascimento de seu próximo filho. — ele sorriu temeroso — Como você não esteve presente no nascimento dos gêmeos, ainda não sabe como é a sensação de não ter ideia do que fazer quando alguém tão pequeno, que você ajudou a gerar, está chegando. — o olhar de Yoongi me analisou.
— A mãe dos meus filhos e eu não estávamos juntos nessa época. Eu sequer sabia que ela estava grávida. — expliquei a ele, sem saber exatamente o porquê. Ele assentiu.
— A história desses dois é bem complicada e extensa, Yoongi. — acrescentou Namjoon.
— Sei bem o quanto. — disse casualmente. — Não é sempre que se confunde uma moça com garota de programa e depois a engravida de gêmeos.
Atônito, encarei Namjoon.
Ele tem falado sobre a minha vida particular com alguém que eu não conheço?
— Você não precisa duvidar da lealdade do Namjoon. — Yoongi relaxou na cadeira. — Ele é discreto o suficiente para não falar da vida dos amigos a esmo. Eu apenas tenho mais facilidade em juntar algumas peças.
— Facilidade? — Namjoon estava tão surpreso quanto eu.
— Nos últimos anos você fez alguns poucos comentários sobre alguém que nunca fez questão de mencionar o nome. — olhou para o Nam. — E os funcionários aqui falam bastante da vida de seus superiores. Isso é entretenimento para eles. Então não foi difícil juntar essas peças. — finalizou me encarando. — Mas, no fim das contas, isso não é problema de nenhum de nós. E não temos o direito de opinar sobre. — ouvi Namjoon suspirar levemente aliviado.
Contudo, eu fiquei bastante curioso sobre o que ele tem ouvido pelos corredores. E o mais intrigante, queria muito saber o que ele achava.
Sei a opinião de Namjoon quanto as minhas escolhas e ações. Porém, como alguém que está completamente de fora, sem interesse nenhum em qualquer uma das partes, conclui a respeito?
— Diga o que pensa. — indiferente, ele me observou por alguns instantes. — Dou a você a liberdade de me dizer.
— Taehyung... — Namjoon pareceu aflito.
— Minha opinião não é relevante.
— Ainda assim, gostaria de ouvir.
Ele recostou na cadeira, colocou a mão sob o queixo e apoiou no braço da cadeira, com a cabeça levemente inclinada. Estava avaliando se era propício continuar.
Ele sorriu ladino e negou com a cabeça. Quando achei que ele guardaria para si sua opinião, ele disse:
— Você como colega de trabalho, é muito bom no que que faz. — fanzi as sobrancelhas. — Mas como indivíduo, é o homem mais burro que eu já vi.
Namjoon pigarreou e se remexeu em sua cadeira.
Eu fiquei espantado com suas palavras, e incrédulo com sua ousadia.
— Então você me acha burro? — relaxei em minha cadeira e mantive o olhar firme nele. Era óbvio que sua opinião era trivial. — Ao que tudo indica, você não sabe mesmo todos os detalhes dessa história.
— Sinceramente, eu não queria saber nada sobre isso. Mas tudo o que as pessoas têm comentando em suas pausas ou na hora do almoço, é sobre o desastre que esse casamento será. E eu não discordo.
— Yoongi, é melhor você deixar isso para lá.
— Eu quero saber o que mais ele pensa. — sem dar atenção a Namjoon e sem desviar os olhos dos meus, ele prosseguiu.
— Quão desesperado um homem tem que estar para se casar com uma mulher que não ama, só para não dar o braço a torcer à mulher da sua vida? — foi enfático. — Não importa o quanto sua noiva aceite de seus sentimentos superficiais. Nem quanto tempo fiquem juntos, ou que dure a vida toda. Seu coração nunca será dela e quando você se arrepender desse casamento, já terá feito ela perder a chance de encontrar alguém que realmente a ame. — ele falava tudo com uma tranquilidade assustadora. — Se você quer ser egoísta e resistir ao que sente pela outra, faça isso sozinho. Arrastar sua noiva nessa história complicada, nesses sentimentos retorcidos e mal resolvidos, é o maior ato de covardia do mundo.
— Melanie é ciente de tudo. Sabe sobre meu passado e as constantes desavenças que afetam minha relação com a Alison. Ela é compreensível e incrível também.
— Nada disso importa. Está sendo burro por tomar uma decisão como essa sem estar resolvido consigo mesmo. E covarde por fugir de uma mulher se escondendo atrás de outra. Sua noiva pode te amar como for, mas fica a pergunta: uma mulher "incrível" como ela não merece ser feliz com alguém que a ame de verdade?
A sala ficou em completo silêncio.
Namjoon estava rígido em sua cadeira, e eu não tinha palavras para refutar a retórica de Yoongi.
— Podemos começar a análise dos faturamentos? — emendou, como se não tivesse acabado de plantar milhares de incertezas na minha mente.
A princípio até consegui ouvir as opções de tecido para o guardanapo dos convidados na recepção, mas foi inevitável não me perder dentro da minha própria cabeça.
Melanie está empolgada, como sempre, falando sobre as taças, talheres e os enfeites da mesa no dia do casamento. Eu só me debato mentalmente entre as certezas que eu tinha e as dúvidas que foram semeadas.
Uma mulher incrível como ela não merece ser feliz com alguém que a ame de verdade?
Sim, ela merece.
Sempre considerei Melanie a mulher certa para mim por ser centrada, convicta, flexível e prática. Acho que todo homem considera uma mulher como ela a parceira ideal para dividir a vida.
— As madrinhas deveriam usar fantasia de ganso, concorda?
— Claro!
— Taehyung!? — ela colocou a mão sobre a minha perna, tomando finalmente minha atenção. — Você está aqui, mas sua cabeça está longe. O que houve?
— Nada, está tudo bem. — obriguei-me a sorrir.
— Não estou muito confiante nisso, porque tudo o que te falei até agora, você só concordou. Inclusive que as madrinha deveriam estar fantasiadas. — ela arqueou uma sobrancelha.
— Me desculpe, Mel. — peguei sua mão e beijei o dorso. — Tive uma reunião sobre o faturamento da empresa hoje, estou um pouco cansado.
— Está tudo bem com os negócios?
— Está sim, não se preocupe. Só estou pensando em alguma mudanças.
— Tudo bem. — colocou os braços em volta do meu pescoço. — Depois da prova do buffet, vamos para casa.
— Concordo! — beijei a ponta de seu nariz e ela riu do trocadinho.
Não entendo como um único, e franco, ponto de vista me fez perder a confiança em tudo o que eu achava ser o certo.
Yoongi não me conhece, não sabe por tudo o que já passei, mas pelo pouco que disse, parece ter me virado do avesso.
Talvez, ele esteja certo. Não estou vendo essa situação como um todo. Estou sendo egoísta. Se estou decidido a não ficar com a Alison, por que vou que afundar a Melanie em toda essa bagunça?
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