Desejos Escondidos
Taehyung
Há algo muito estranho na proposta que Alison me fez esta manhã. Como assim, depois de ter fugido de mim nos últimos 5 anos, de repente ela me convida para morar com ela? Ela está tramando alguma coisa. Não posso confiar nela. De jeito nenhum.
— Terei que pagar por seus pensamentos? — Namjoon entra na minha sala com um sorriso sugestivo no rosto.
— Acredite, não vale a pena. — arrumei minha postura na cadeira e me virei para a mesa, onde ele havia acabado de deixar uma pasta.
— Está nervoso com a proximidade do casamento? — ele recosta na cadeira e arruma a gravata.
— Nem um pouco. Nesse quesito estou em paz nos últimos dias, Melanie está viajando. — abri a pasta e corri os olhos pelos papéis contidos ali.
— Não me diga que está todo aéreo por causa da sua mãe? — ele especula.
Eu fecho a pasta e me recosto em minha cadeira. Analisando-o calmamente, chego a conclusão que Namjoon é a pessoa mais coerente e sensata que conheço. E foi um apoio firme sempre que precisei. Ser aberto e sincero com ele seria bom. Na verdade, acho que me traria grande alívio. Sem falar que seus conselhos são de muita valia.
— Eu reencontrei a Alison. — ele soltou imediatamente a gravata e se inclinou para frente.
— Deus do céu! Como foi isso?
— Bom, acho que os detalhes iniciais não são necessários aqui, já que há mais surpresas nesse reencontro.
— Não se preocupe em falar alto, eu conseguiria ouvir cada detalhe mesmo que você sussurrasse.
Por fim, contei ao Nam sobre o encontro da minha mãe com a Alison, as suspeitas que ela teve, as tramas que ela desenvolveu e como me levou direto para a boca do leão.
Continuei revelando que ela havia engravidado e eu era o pai dos filhos dela, que por acaso, eram gêmeos. Namjoon não emitiu uma única palavra enquanto eu contava tudo para ele, mas, a cada revelação, era nítida a surpresa em suas feições. No final das contas, a reação dele não foi muito diferente da minha. A ressalva, claro, estava no fato de que eu era envolvido em todo esse caos.
Lhe falei também também sobre o que tenho feito ultimamente. Como recorri à justiça para ter reconhecimento legal da paternidade e também, e não menos importante, sobre a guarda provisória. Concluindo com o pedido dela essa manhã. Ele vagou por algum minutos em minha sala, sem dizer nada, estava pensativo. Finalmente, parou e me encarou sério.
— Você sabe bem o que ela está pretendendo com isso, não sabe?
— Sem dúvida, eu sei.
— Então a pergunta mais importante aqui é: o quanto você está convicto neste casamento com a Melanie?
— O quê? — ele me olhou de esguelha.
— Essa não era a resposta que eu esperava. — ele voltou a sentar. — O que acha que ela quer? — eu estava bastante confuso, sem entender ao certo onde ele queria chegar, mas respondi confiante.
— Ela quer me manipular outra vez. Acha que pode me usar de alguma forma, como da última vez. — suspirei e abri um sorriso glorioso. — Mas isso não irá se repetir. Não serei um alvo fácil novamente.
— Meu Deus, Taehyung... Não acredito que está sendo tão ingênuo.
— Talvez sua perspectiva seja diferente da minha.
— Sem dúvida é. — antes que eu pudesse perguntar como ele avaliava tudo isso, ele emendou: — E o que pretende fazer acerca dessa proposta?
— Ainda não sei. Mas estou avaliando todos os riscos possíveis.
— Eu duvido que esteja.
— O que quer dizer com...
— Ah, então é por isso que não encontrei o bonitão aí na sala dele. — Jungkook entrou rabugento. — Sobre o que estão tricotando, Ladies? — sentou-se na cadeira ao lado do Namjoon.
— Nada específico. Só o habitual. — Nam desconversou.
À noite, em casa, diante da porta do futuro quarto dos meus filhos, uma zona entre caixas vazias e plásticos bolha não deixava muito claro o projeto que seria finalizado em 4 dias. Entrei alguns passos no cômodo, e vi uma parede com pinturas à mão inacabadas. De um lado, árvores com um tom vivo de verde tomavam forma majestosamente sobre alguns animais. Do outro, apenas o rascunho à lápis de uma montanha russa dentro de um quebra-cabeças. Me peguei sorrindo timidamente. Aquele seria um quarto cheio de vida. Assim como todo o apartamento, que ganharia vozes, risos e um linguajar ainda em fase de aprendizado muito em breve.
De repente, me ocorreu que logo eu precisaria de mais espaço. Crianças em um apartamento tão pequeno, sentiriam-se um tanto sufocadas. Como já tinha planejado e estava de olho em uma casa mais espaçosa, esperando apenas a aprovação da Melanie para que ela fosse, oficialmente, nosso novo lar, me ocorreu que ela seria perfeita para a família que formaremos agora.
— Droga! — baixei a cabeça, passando a mão pela nuca. — Preciso conversar com a Melanie sobre isso o quanto antes.
Assim que descobri onde a Alison estava, logo após a festa de aniversário da filha do Jungkook, Melanie viajou. Ela tinha planos de que essa seria sua última longa viagem antes de nos casarmos. Depois disso, ela já havia se ajustado para não fazer mais viagens que demandasse mais de uma semana longe. Quem dirá outras como essa, que ela ficaria fora por um mês.
Como minha situação é delicada, achei que não seria prudente falar sobre isso por telefone. Então, estou aguardando seu retorno para podermos esclarecer tudo.
Claro que nos falamos todos os dias, e mesmo que as coisas não estejam indo de vento em popa, procuro deixá-la o mais tranquila possível, para que possa realizar seus eventos sem preocupações. Sei que quando ela voltar, sua vida estará tão bagunçada quanto a minha.
Com a mudança em alguns departamentos na empresa, Namjoon, Jungkook e eu estamos ficando cada vez mais ocupados com o trabalho.
Hoje, depois do expediente, decidimos jantar juntos e terminar algumas propostas que já estavam bem desenvolvidas.
— John não veio com você hoje? — arrumando o sobretudo, Jungkook parou na calçada, esperando o manobrista trazer seu carro.
— Não, John tem outras atividades que precisam de supervisão direta.
— Não quero nem saber do que se trata. — a SUV de Jungkook estacionou e ele se virou pra mim. — Vamos lá, eu te dou uma carona.
— Não se preocupe, eu vou pegar um táxi.
— Eu sei que você é um cara pragmático, e sua casa fica a caminho da minha, então não farei nenhum esforço te dando essa carona. — Nam e JK me encararam, esperando uma resposta.
— Eu estou fazendo algumas mudanças no apartamento, então não estou ficando lá no momento.
— O quê? — Namjoon disparou tão logo eu concluí a frase.
— Uau, isso é chato pra caramba. — Jungkook ignorou o tom surpreso de Namjoon.
— Na verdade, onde ele está hospedado, é caminho para minha casa, então Taehyung vai comigo. — pensei em protestar, mas eu não estava interessado em deixar Jungkook curioso.
— Claro, o Nam já conhece o local.
— Sem dúvida. — acrescentou entre dentes com um olhar frio.
— Então vejo vocês amanhã. — caminhou até o carro. — Avisa para a Laíse e a Sunny que eu mandei um abraço. — Jungkook acenou ao se despedir.
Jungkook partiu e Nam se virou pra mim com um olhar acusatório que me fez tremer.
— Quer dizer que você se mudou? — eu preferi me manter calado. — Que maravilha, meu amigo é um completo idiota.
— Eu ainda tô tentando entender o que você tem na cabeça. — contrariado, Namjoon procurava ficar atento ao trânsito.
— Bom, nós combinamos que, já que ela passa o dia com os meninos, eu jantaria com eles todas as noites e passaria algum tempo depois disso, antes deles irem dormir. Tem funcionado muito bem. Ela não interferiu em nada até agora. Está tudo ocorrendo muito bem, na verdade. — tentei amenizar.
— Jura, garanhão? E o que a Melanie acha de tudo isso? — suspirei longamente.
— Ela ainda não sabe.
— O quê? — me encarou incrédulo por alguns instantes. — E quando pretende contar a ela que reencontrou a Alison, descobriu que tem dois filhos com ela e agora, a cereja do bolo, está morando com ela.
— Você fala como se fosse algo ruim.
— Puta que pariu, Taehyung, você está morando com a sua ex. Estão dividindo os filhos e o mesmo teto. Você acha mesmo que tem como isso dar certo por muito tempo?
— Não pretendo ficar muito tempo.
— É, e quando você vai sair de lá?
— Ainda não pensei nisso.
— Claro que não pensou! — ele estacionou o carro logo atrás do meu, na entrada da casa. John estava próximo da porta. — Taehyung... — ele se virou pra mim e falou com toda a calma possível. — Você precisa resolver suas pendências com ela, conversar abertamente com a Melanie e colocar suas ideias em ordem.
— Minhas ideias estão em ordem.
— Você jura? Depois de tudo o que houve entre vocês dois, na primeira oportunidade de vir morar com ela, você nem pensa em como sua noiva se sentiria com isso, e simplesmente se muda. Isso é estar com as ideias em ordem?
— Eu acho que você está exagerando.
— Acha mesmo?
— Não é como se a gente tivesse sentando um ao lado do outro no sofá e trocando confidências.
— Não vai demorar para isso acontecer.
— Namjoon, nós mal nos vemos. Desde que me mudei, se encontrei com ela duas vezes foi muito.
— Ainda assim, é muito arriscado. — bufei desdenhoso. — Não haja como se tivesse com toda a situação sob controle, porque você não tem controle algum sobre nada. E sabe muito bem disso.
— Realmente você não está com a cabeça no lugar para me ouvir.
— Taehyung, presta atenção. Numa situação hipotética de, você estar noivo da Alison, precisar viajar e, de repente, volta e ela está morando com outro, o que você faria?
— Isso não teria como acontecer.
— Apenas pense um pouco.
Parece até ridículo pensar em tal hipótese, mas eu entendo o que ele quer dizer. A Melanie me ama, e por mais que eu assegure que não há nada entre a Alison e eu, ela ficaria magoada.
— Eu vou resolver isso antes dela voltar. — abri a porta do carro.
— Não era esse o ponto do raciocínio.
— Eu sei bem qual era o ponto, e já pensei a respeito. — saí e o encarei antes de fechar a porta. — Não se preocupe, Nam, vai ficar tudo bem. Boa noite. — ele sequer me respondeu. Mas eu sei bem como ele está se sentindo. Ele se preocupa comigo, e eu não lhe darei margem para ter razão dessa vez.
Subi, tomei um banho e respondi algumas mensagens: umas da minha mãe e outras da Melanie. Minha mãe está torrando minha paciência para saber quando poderá ver os netos outra vez. Agora, como avó oficialmente, já que das vezes que os viu, não pôde se dar ao luxo de agir como tal.
Como tenho andado ocupado, inclusive nos finais de semana, pedi que ela esperasse até que tudo estivesse em ordem para combinar uma visita oficial. Ainda assim, ela não deixa de me mandar mensagem todos os dias.
Com a Melanie as coisas são mais simples. Ela conta como está sendo a viagem, os orfanatos ou casa de acolhimento que visita e os eventos aos quais ele tem ido. Me manda mensagem no meio da noite para dizer o quanto está feliz quando os valores finais de algum evento ultrapassa o valor desejado. Ela realmente gosta de ajudar crianças, e fica genuinamente feliz com isso.
Não temos tido muito tempo para telefonemas. Nossos horários não são sincronizados, então as mensagem têm ajudado bastante.
Com mensagens respondidas, vesti uma camisa e fui dar uma olhada nos meninos. Como cheguei tarde, não pude jantar com eles hoje. Mas isso não significa que terei que dormir sem vê-los. Essa é uma das vantagens de estar com eles sob o mesmo teto. Mesmo que morar com a Alison não seja a melhor opção.
E pensar que tudo o que eu mais quis no passado, era dividir completamente a minha vida com ela. Agora, talvez, Namjoon tenha razão, provavelmente não sei o que estou fazendo.
Fui até o quarto dos meninos e ambos dormiam tranquilamente. Era uma paz e um conforto dentro daquele cômodo, que eu não sei explicar. Ver dois pequenos, tão serenos, embalados em sonhos e despreocupados, conforta até a alma de quem está sobrecarregado.
Me aproximei e arrumei a coberta do Noah. Apesar de a Aileen dizer que ele tem o sono mais agitado, por isso não se mantém coberto durante a noite, me pareceu bem tranquilo hoje.
Saí e encostei a porta, segundo Alison, Dylan fica muito inquieto ao acordar e ver a porta completamente fechada. Ela os conhece melhor do que eu, então não custa colaborar com isso.
Quando atravessei o corredor, no alto da escada, encontrei a Alison. Minha única reação foi não emitir um único som, mesmo com meus olhos percorrendo todo o corpo dela. Ela estava usando um vestido bordô. No busto um decote acentuado. Apesar do vestido ser longo, uma fenda bastante reveladora se abria na parte central de sua coxa direita, revelando sua perna e seu pé em um salto todo preto.
— Boa noite! — disparou com um sorriso largo.
Ela andou bebendo, não tenho dúvida, suas palavras estavam muito amigáveis. Isso sem mencionar o hálito alcoólico que exalava dos lábios com um batom vermelho muito provocante.
Havia muito tempo que eu não a via tão perfeita.
— Boa noite. — baixei a cabeça, não deveria ficar olhando tanto tempo para ela.
— Tudo bem com os meninos?
— Está sim. — limpei a garganta. — Só passei para dar uma olhada neles. Cheguei tarde e não pude jantar com eles hoje.
— Entendi. — ela se apoiou na parede, mas eu podia sentir seu olhar em mim.
— Você está bem?
— Estou. Estou bem. — sorriu novamente. — Precisei dar uma saída. — eu assenti. — Não é só papel de mãe que uma mulher exerce. — ela estava muito falante.
— Imagino que não.
— Mas eu só fui em um evento literário, nada de mais.
— Tudo bem. — franzi as sobrancelhas.
— Eu não saio muito. Geralmente só para lugares assim. — continuei assentindo, sem entender onde ela queria chegar com tantas informações. — Não sai para nenhum encontro ou para namorar. — me vi obrigado a olhar para o lado e coçar a nuca. Não era a conversa que eu tinha em mente.
— Okay. — eu já não sabia mais o que responder.
— Apesar da Amber viver me dizendo que eu preciso conhecer pessoas novas, arrumar um namorado ou só sair e arrumar sexo casual. Essas coisas. — mais riso.
Infelizmente, meu humor ou desconforto com aquela conversa mudou de rumo. Não entendi o porquê, mas, quanto mais ela falava, mais incomodado eu me sentia.
— Você acha que eu deveria fazer isso? — encarei com intensidade seus olhos.
— Não. — respondi seco. — Você é mãe de duas crianças, não deveria fazer essas coisas. Sair por aí e transar com caras estranhos? Onde está o juízo de quem te aconselha a fazer isso? Daqui a pouco ela vai sugerir que você traga alguém para casa, para o convívio dos meus filhos. — ela ficou calada, seu sorriso morreu, mas não sua ousadia.
— Devo presumir que você não irá apresentá-los a Melanie?
— O que isso tem a ver?
— Ela também é alguém que você conheceu e levou para sua casa um dia.
— Nosso caso é diferente. Nos relacionamos há anos.
— E por que comigo seria diferente? — ela cruzou os braços, realmente esperando por uma resposta minha. — Se fosse para conhecer um cara e apresentá-lo imediatamente aos meus filhos, seria mais simples se eu os levasse comigo para paquerar, não acha?
Eu preferi não argumentar o quão absurdo era o que ela estava falando. Para começar, eu não puxei essa conversa, não tinha porque me sentir tão irritado.
— Não acha? — segui por outro caminho.
— Alison, é melhor você ir se deitar. Precisa descansar um pouco. Não vai demorar muito para amanhecer e os meninos acordam cedo.
— Está sendo machista. — eu já tinha me virado para seguir meu caminho e ir para o meu quarto, mas ela me fez recuar.
— O quê?
— Só porque sou a "mãe", não posso ter outro namorado? Só porque sou "mãe" tenho que acordar cedo para cuidar dos filhos? Só porque sou "mãe", não posso sair e transar casualmente?
— Meu Deus, Alison, que merda você está falando?
— Pois eu quero que você fique sabendo... — ela se aproximou e colocou o dedo no meu peito, encarando meus olhos sem piscar. — Eu sou mãe, mas ainda sou uma mulher, e muito bonita, na verdade. — não tenho como refutar. — E se eu quiser um homem na minha vida, não vai ser o meu lado mãe que me impedirá disso.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Então o que foi que você quis dizer? — ela estava perto demais para eu conseguir manter a segurança dos meus pensamentos.
Aqueles olhos castanhos, com os cílios tão escuros como uma noite sem lua; os lábios perfeitamente delineados com aquele batom tão chamativo e aquele maldito decote a poucos centímetros de mim, me impediam de erguer minha armadura.
— Claro que você é linda. — foi minha vez de baixar a guarda dela. — Você é inteligente, sagaz e corajosa. — ela engoliu em seco. — Sei que não faria as coisas de forma tão imprudente. Mas acho que os meninos ainda são muito pequenos, e acabamos de fazer uma enorme bagunça na vida deles. Seria bom esperar um pouco mais para introduzir uma outra pessoa. — depois de tudo o que disse, sua pergunta me pegou desprevenido.
— Acha mesmo que sou inteligente? Ainda acha que sou linda? — merda!
— Sim. — foi minha vez de engolir em seco.
— Sim para inteligente? — assenti. — Sim para linda? — assenti outra vez, não era sensato responder em voz alta. Mas ela estava jogando sujo, e eu deveria ter percebido. — Acha que ainda sou atraente para algum homem?
— Alison...?!
— É possível que algum homem ainda queira beijar minha boca? — meus olhos foram automaticamente para seus lábios. — Que deseje o meu corpo? — a mão dela subiu pelo menos peito e parou em meu ombro. — Acha mesmo?
— Sem... — limpei a garganta. — Sem dúvida! — ela abriu novamente o sorriso.
— Foi muito bom saber sua opinião como homem. Obrigada.
Ela simplesmente se virou e foi para o quarto dela. Eu fiquei lá, parado, feito um idiota. Ela brincou comigo, mexeu com meus sentidos, me deixou enfeitiçado e depois foi embora.
Eu estava certo o tempo todo, tudo isso faz parte de um jogo. Mas dessa vez, ela vai perder.
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