Recomeço.
Namjoon
Se há cerca de três meses atrás, eu achava que estava lutando para trazer meu amigo a realidade de que a vida tinha que seguir, agora eu já não sei o que realmente estou fazendo.
Desde que a Alison deixou o Tae, ele simplesmente decaiu. Passou a ficar todas as noites em boates, e a beber como se não houvesse amanhã. E parece que para ele isso já não importa mais.
Constantemente eu recebo ligações de pessoas estranhas do celular dele, me informando que preciso ir busca-lo, pois ele se nega sair do local, e a boate precisar ser fechada.
A companhia constante dessas dançarinas, não o fazem esquecer da Alison, elas apenas servem de ouvidos para que ele possa passar parte das noites dele falando sobre ela.
Ele já não tem ido trabalhar frequentemente, e eu já estou bem cansado de levar a empresa nas costas sozinho. Sem falar no fato de estar sempre tendo que sair de casa, quando o sol está nascendo, para poder busca-lo em algum lugar.
Já houve até boates, que já não permitem a entrada dele, justamente por causa desse seu comportamento "rebelde".
Mas hoje eu fiz diferente, ao invés de leva-lo para casa, eu o trouxe para a minha. Layse está viajando com a Sunny, e eu convoquei o Jungkook para me dar uma ajuda com ele. Hoje, essa situação tem que ser resolvida.
Já passa das 16h, e ele acabou de acordar. Eu o obriguei a ir tomar um banho, e assim que saí do quarto, Jungkook chegou.
Quando terminou o banho, ele saiu do quarto, e veio para a sala.
- Porque eu estou na sua casa, Namjoon? - me encara confuso.
- Senta aí, Tae! - ordeno.
- Cara, você tá péssimo! - JK observa.
- Você também está lindo, JK. - brinca com JK enquanto se senta no sofá a nossa frente. - O que vocês querem? - encara o relógio. - Andem logo com isso, tenho compromisso.
- Eu já desmarquei com as "moças" que iam pra sua casa. - o encaro impaciente.
- O que? Como você se atreveu a fazer...- indaga levantando do sofá.
- Senta aí, Tae-hyung! - falo firme.
Ele me olha apreensivo, mas faz o que eu digo.
- Então adianta isso aí, não tô precisando de mais sermão, muito menos de babás. - zomba.
- Pois é isso mesmo que você tem feito de mim. Sua babá. - digo sem rodeios.
- Olha só, Namjoon...
- Não começa Tae! - meu olhar sobre ele é frio, e ele parece acuado. - Tá na hora de parar com isso. Já chega! Você não é mais nenhum adolescente para agir com tanta imprudência.
- Eu sabia que você ia vir com esse papo. - volta a zombar, mas dessa vez, JK intervém.
- Será que dá pra você calar essa boca, seu babaca?
Fiquei surpreso com o tom do JK, mas parece que só assim ele entendeu que não estamos mais suportando essa situação.
Eu me levanto do sofá, e ponho minha mão sobre o ombro do JK, sinalizando que ele pode deixar comigo a partir de agora.
- Tae, esse seu comportamento já passou dos limites, e nós não vamos mais bancar a sua babá.
- Eu nunca pedi que fizessem isso. - me encara arrogante.
- Então é assim que você vai agir pelo resto da sua vida? - perdi, literalmente, a paciência. - Você fez as suas merdas, fez a Alison sofrer aquele acidente, fez ela perder o bebê, e possibilidade dela poder ter isso movente algum dia na vida dela, e agora você age como criança, e ainda se acha no direito de falar desse jeito com a gente?
Ele não me deu outra alternativa, senão a de jogar tudo na cara dele.
- Todos nós sabemos que você está sofrendo com tudo o que aconteceu, mas já está na hora de você seguir em frente, e se portar como homem. - JK indaga.
- Eu, e o Jungkook estivemos conversando, e está na hora de você pôr os pés no chão Tae. - volto a me sentar de frente a ele, e o encaro sério. - E vamos te dar duas alternativas. - ele apenas me observa calado. - Ou você procura seguir em frente, e volta a trabalhar, livrando todos nós de toda essa situação ridícula, ou seremos obrigados a te destituir da empresa, e todo e qualquer vínculo com ela.
- O que? - me encara surpreso. - Vocês não podem fazer isso.
- Sim, nós podemos. - JK diz sério. - Já consultamos o jurídico da empresa. E os prejuízos que você está nos dando, tanto no pessoal, quanto no profissional, nos dá o direito de agir assim.
- Vocês só podem estar de brincadeira comigo. - ri
Mas logo ele nota que nem eu, nem o JK, estamos para brincadeiras.
- Não estamos, Tae.
- E vocês ainda dizem que são meus amigos? - se levanta alterado. - Vocês sabem bem o quanto eu dei duro naquela empresa...
- Você não fez isso sozinho, todos nós demos o sangue para que ela se tornasse o que é hoje. E você está jogando tudo isso fora. - ele ainda me encara incrédulo.
- Então é isso, vocês querem me tratar como a putinha de vocês, me fazendo andar "na linha"?
- Só queremos que você volte a ter ciência de suas ações, pois isso está prejudicando a todos nós.
- Não, você não são meus amigos. - diz por fim, e a passos largos, sai pela porta, a batendo com força ao sair.
Na semana seguinte, o Tae apareceu logo cedo para trabalhar, e ali, ele voltou a tomar as rédeas da própria vida.
Eu jamais quis ter que falar aquelas coisas para ele, mas estava na hora dele tomar um choque de realidade, e ficar ciente de que tudo o que aconteceu, não deveria traçar a vida dele para o buraco.
E parece que ele entendeu isso. Mesmo que da forma mais cruel, mas entendeu.
Jungkook
- Eu nem acredito que esse dia chegou. - Tae zomba em meio a um gole de champanhe.
- Essa hora chega pra todo mundo. - digo sorridente. - Logo será a sua vez.
Percebo ele encarar a taça em sua mão. Nós que estamos constantemente com ele, sabemos que ele ainda não superou a Alison, e que isso ainda poderá levar um bom tempo para acontecer.
- Independente de qualquer coisa, me orgulha muito ver você se cansado, Jungkook. - Namjoon diz animado.
- Pois é, e ela ainda conseguiu me enrolar para aceitar o pedido.
- Ela é uma mulher esperta, tinha que tomar cuidado com você. - Namjoon brinca, e nos três rimos.
Ficamos ali por algum tempo conversando, e relembrando de alguns acontecimentos que vivemos nesse nosso tempo de amizade.
Era muito bom ver meus amigos presentes em um dia tão especial da minha vida. Eles fazem parte do meu crescimento, e tê-los ali, significava mais do que eu poderia expressar.
Dois anos atrás, quando fizemos uma viagem internacional a negócios, Wendy estava de férias, e em uma noite de curtição entre amigos, percebemos os seus olhares para o Tae. Mas logo de cara, ele rejeitou qualquer possibilidade de se envolver com alguém, a Alison ainda era muito recente pra ele, então eu fui o nomeado da noite para dar o fora nela por ele. Detesto essas rodadas de shots, que sorteia o "passa fora" da noite.
Mas hoje, eu agradeço muito por ter sido eu o sorteado da noite, pois assim que eu cheguei nela, e tentei dar o fora pelo Tae-hyung, descobri que seus olhares eram para mim, e não para ele.
Depois disso, não deu para evitar a ansiedade crescente em poder falar com ela, e o sentimento se desenvolveu aos poucos. E pouco mais de um ano de relacionamento, eu a pedi em casamento. Ela demorou uma semana para me dar uma resposta, e quando finalmente me deu, eu me senti o homem mais feliz do mundo.
Mas eu ainda não sabia o que realmente era felicidade, até chegar a esse dia, e ouvir ela dizer na frente de todos, aquele tão esperado "sim", que a colocaria para o resto da minha vida, ao meu lado.
- Jungkook, venha, temos que nos organizar para a valsa dos noivos. - Wendy segura a minha mão, me arrastando para o centro do salão.
- Espera, Wendy. - ouço Namjoon interromper nossos passos apressados.
- Sim! - ela o encara curiosa.
- Bom, todos nós participaremos do segmento da valsa dos noivos, menos o Tae, ele não tem um par. - Namjoon pisca pra mim.
- Oh...
- Não se preocupa, Wendy, eu vou ficar bem. - Tae tenta se livrar da valsa.
- Sem problema Tae, eu já sei quem eu posso colocar com você.
- Você não deveria estar se preocupando com isso...
- Não, tudo bem. O par dela acabou não podendo vir, então vou colocar você para dançar com a Melanie. - ela volta a me puxar em direção ao salão, enquanto eu lanço um sorriso para o Tae, e ele me devolve uma carranca.
A valsa, segundo a Wendy, foi perfeita. Enquanto eu dançava mais um pouco com a minha esposa, pude observar Namjoon dançando muito feliz ao lado de Layse, e o Tae até que estava comunicativo com a Melanie. Pelo menos ele participou ativamente da festa.
Eu estava realmente muito feliz. Estava ao lado da mulher que amava, e tinha a presença dos meus melhores amigos, compartilhando desse momento único comigo. Tudo estava perfeito.
Tae-hyung
Ao longo dos anos, passei a não achar esse eventos beneficentes tão insuportáveis. Não sei dizer se foi porquê as pessoas já não puxam mais o meu saco como antes, ou se é pela companhia da Melanie.
Ela é uma pessoa extraordinária.
Quando a Wendy me colocou para dançar com ela, em seu casamento com Jungkook, seis anos atrás, eu ainda era um rabugento para essas coisas. Mas ela se mostrou ser uma pessoa bastante paciente.
Depois daquele dia, eu não a vi mais, até o aniversário de um ano de casamento do Jungkook. Parecia até que nos conhecíamos há anos, dado ao jeito como ela me tratava. Sempre muito espontânea.
Depois disso, nos víamos sempre que algum dos rapazes organizava alguma coisa.
Eu passei a fazer parte da grade de eventos do Namjoon e JK. Eles, literalmente, salvaram a minha vida, e eu me sentia cada vez mais próximo dos meus amigos.
Em uma das festas de aniversário da Sunny, três anos após nos conhecermos, finalmente aconteceu nosso primeiro beijo. Ela parece feliz com isso, mas tive que ser sincero com ela. Eu era uma pessoa quebrada por dentro, e carregava uma bagagem que me pesava muito. Meu passado ainda me mantinha retraído para muitas coisas.
Ela compreendeu bem isso. Não me questionava sobre minhas cicatrizes, e não me pressionava a falar sobre sentimentos.
Após cinco meses de encontros, dormimos juntos pela primeira vez. E mais uma vez, ela se mostrou diferente nesse aspecto. Não me cobrava ligações, ou que demonstrasse coisas das quais eu não estava pronto. Isso foi perfeito. Percebi as coisas acontecendo de forma natural.
Porém, mesmo depois de quase dois anos nos envolvendo, ainda não temos um relacionamento. E eu ainda não me sinto apaixonado por ela. Pensei que a essa altura, o amor por ela, já seria algo inevitável. Mas não foi assim. E já começo a sentir mal por isso.
Melanie é surpreendentemente apaixonante. Mas por que eu não me sinto apaixonado por ela? Ela é simplesmente perfeita pra mim, mas eu não posso lhe prender a mim, quando minha mente ainda divaga por outra pessoa, e meu coração ainda se mantém à espera.
Ela não merece isso.
Por mais que ela diga que está tudo bem, que podemos seguir como estamos, sei que ela merece mais do está recebendo.
Eu gosto dela, gosto de sua companhia, gosto do seu silêncio quando minha mente explora outros caminhos, gosto do seu jeito de estar sempre facilitando as coisas, e de como ela não me impõe um relacionamento. Mas sei que seu coração ainda espera que o meu pertença a ela, e isso é algo que não sei se um dia poderá acontecer. Não posso ser hipócrita, e deixa-la pensar que isso um dia pode vir a acontecer.
- Eu vou ao toallet. - sussurra ao meu ouvido.
- Tudo bem, eu estarei aqui quando voltar. - devolvo no mesmo tom.
- Senhores, se me dão licença...
Eu a observo se afastar de nós, e não há como negar, ela é uma mulher bonita. Suas curvas muito bem desenhadas, me levaram a loucura por diversas vezes, mas em muitas delas, eu desejei que fossem as curvas de outra pessoa.
Eu sei que ela é ciente do que se passa comigo, não de todos os detalhes e afins, mas é ciente, mas isso não diminui minha sensação de culpa por estar me envolvendo com ela há tanto tempo, e não lhe dar mais do que isso.
- Com licença. - digo aos senhores ao meu redor, antes de me afastar em direção a algum garçom.
Eu não sei porquê, mas hoje estou me sentindo um pouco agoniado, e minha cabeça insiste em pensar em tudo o que vem acontecendo entre a Melanie e eu.
Eu gostaria muito de estar me sentindo confuso em relação a sentimentos por ela, mas estou mais ciente do que nunca, que isso nunca vai evoluir para algo mais.
Me aproximo de um dos garçons, e pego uma dose de wisky, ao qual finalizo em um único gole.
Volto para o grupo de senhores ao qual conversava antes, e percebo que a Melanie demora muito para voltar do banheiro.
Decido ir atrás dela. Sigo em direção ao banheiro, e no corredor silencioso, olho atentamente para a porta de entrada.
Não há nenhuma movimentação, ou sequer um ruído vindo de lá.
Volto para a entrada do corredor, e observo o salão a procura dela, caso ela tenha saído, e encontrou com alguém conhecido.
Mas nada dela no salão. Entro no corredor novamente, e ao me aproximar da porta, eu a vejo abrir.
- Alison!
Meus olhos não conseguem acreditar no vêem. Meu corpo arrepia, e ao mesmo tempo fica estático. Meu coração parece parar, e minha respiração some.
- Tae-hyung... - seus olhos estão tão surpresos quanto os meus.
Ela está linda. Seus cabelos, mais curtos, e agora negros, realçam ainda mais a cor dos seus olhos. Seu rosto ainda é exatamente como eu me lembrava, como se o tempo não tivesse passado.
Usando um discreto vestido preto (bem diferente do que costumava usar), e sapatos altos, que praticamente nos deixam na mesma altura, ela parece com um oasis feito somente pra mim. Os seus lábios rubros me deixam...
- Bom... Tudo bem com você? - pergunta educada.
- Sim! - o som da sua voz parece me hipnotizar. - Eu estou bem, sim. E...e você? - consigo concluir a frase.
- Eu estou bem. - sorri cordialmente.
O sorriso dela. Ah, aquele sorriso que eu tanto amava, deve estar ainda mais radiante hoje.
- É bom saber. - coloco as mãos no bolso, e encaro meus próprios pés.
Preciso desviar meu olhar dela, só assim poderei controlar meu impulso de beija-la.
Nos últimos oito anos, eu desejei muito poder vê-la. Mesmo que fosse longe, ou um encontro casual, ou um olhar perdido na multidão, mas nunca aconteceu.
Depois que ela saiu da minha casa na manhã do pior dia da minha vida, eu nunca mais a vi. Pelo menos não pessoalmente. E estar aqui hoje, com ela parada a minha frente, me encarando com esses seus olhos ternos, me fazem sentir as mãos tremerem, e as pernas a ponto de cederem.
- Ok. Eu preciso ir. - interrompe meus devaneios.
- Claro! - abro passagem no corredor para ela passar.
Quando eu a vejo se distanciar, tudo o que queria, era poder ficar mais um pouco na sua presença. Então, pelo menos tento olhar para seu rosto mais uma vez.
- Alison?!
- Sim! - se volta para mim.
- Você está...- pigarreio. - Você está ótima.
- Obrigada. - sorri. - Você também parece bem.
Pareço bem? Devo parece mesmo. Mas a verdade oculta, é bem diferente.
- Obrigado! - engulo seco.
Quando crio coragem para dizer algo mais do que essas trivialidades, acabo perdendo a chance.
- Tchau, Tae-hyung! - acena com a mão, em um gesto singelo.
- Tchau, Alison! - repito o gesto dela.
Quando ela sai do meu campo de visão, sinto como se o ar voltasse a fluir em meus pulmões. Meu coração fica acelerado demais, como se precisasse se recuperar do tempo em que não batia.
Como pode, depois de tanto tempo, ela me causar tais reações? Eu sei que na minha cabeça, ela estava presente constantemente, mas não imaginava que em meu peito, tudo pertencia ainda mais a ela.
- Tae-hyung? - ouço a voz da Melanie atrás de mim.
- Oi. - me viro para ela, ainda na porta do banheiro.
- Minha nossa, está tudo bem com você? - ela se aproxima de mim. - Você está pálido.
- Eu...eu estou bem.
- O que faz aqui? - me olha confusa. - Se não estiver bem, podemos ir embora.
- Não! - respondo ansioso. - Eu estou bem. Sério. - me arrisco a dar um sorriso. - Acho que preciso de uma bebida.
- Tudo bem então....- me encara desconfiada.
Saímos daquele corredor, e logo estamos no salão.
O resto da minha noite, se resumiu a percorrer os olhos pelo salão a procura dela. Eu me sentia bastante ansioso, e minhas mãos suavam muito. E depois de muita insistência da Melanie, e de nenhum sucesso em ver a Alison de novo, fui para casa.
Permaneci calado durante o trajeto para casa, e mesmo ao chegar e estar com Melanie, as palavras ainda pareciam distantes de mim.
Em certos momentos, eu fechava meus olhos, e voltava ao momento em que a vi. Estar tão próximo, e sentir como se o mundo pudesse acabar ali que eu não me importaria, e o ar faltando em meus pulmões, ainda era melhor coisa do mundo.
- Eu preciso vê-la de novo!
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