3- A perdiz em uma árvore de pêra.
8 de outubro de 2017
77 dias para o Natal.
Port Isabel / Houston / New York
Guinevere
(Port Isabel)
Nunca imaginei que fazer as malas seria tão difícil, dizer adeus a minha casa da infância, a casa onde eu vivi os melhores e os piores momentos de toda a minha vida. Olho as malas e revejo tudo que eu coloquei nelas, minhas roupas, as roupas de Mabel, os enfeites que minha sobrinha ama, meus poucos livros de romance e algumas coisas que foram de Avery e dos nossos pais. Toda nossa vida resumida a 4 malas e 5 caixas de mudança.
Termino de arrumar Mabel e vou ajeitar algumas coisas antes de irmos. Estou andando pela sala quando escuto a campainha, olho ao redor antes de ir abrir a porta.
Stuart está do lado de fora, ele me encara por alguns segundos e eu faço o mesmo. O desgraçado é realmente bonito, Avery sempre falava sobre isso. Ele sorri para mim antes de perguntar.
- Tudo pronto Guine? - A forma como a voz grave dele envolve meu apelido chama minha atenção, mas logo respondo.
- Para você é Guinevere senhor McAvoy, tudo está pronto sim, poderia pedir para o seu motorista me ajudar com as malas? - Peço desviando a atenção dele.
- Tudo bem senhorita Glimes, meu motorista irá cuidar de tudo, agora podemos ir?- Vejo a petulância no olhar dele, o infeliz vai tornar isso em um jogo, e eu terei o maior prazer em joga-lo.
- Sim, podemos.- Respondo me voltando para Mabel que estava largada no sofá jogando no meu Ipad.- Mabel está na hora de irmos, pega sua mochila.
A menina bufa e desliga o aparelho antes de colocá-lo na mochila e vim para o meu lado.
- Tá bom, vamos logo tia.- A menina não me olha, não sorri. Mabel está bem chateada com tudo, apesar do acordo com Stuart, ela estava revoltada com a mudança.
Nervosa, pego minha bolsa e a caixa de transporte de Marianne, o espanador de pelos estava tão chateada quanto minha sobrinha, ao ponto de se encolher no canto da caixa, coisa que ela nunca fazia. Pego a mão de Mabel e começo a sair da casa, não olho para trás, eu sei que isso não é um adeus, afinal irei alugar a casa e caso nada dei certo em New York, podemos voltar.
Quando pisamos no quintal, vejo Genebra do outro lado da rua parada na frente de um SUV vermelho brilhante. Ela sorri e acena para nós, Mabel solta minha mãe e corre até Genebra que a abraça com força. Respiro uma última vez e vou me encontrar com elas. Minutos depois estamos sentadas no carro rumo ao aeroporto. Eu não olho para trás, mais sinto que uma parte de mim ficou na casa.
Stuart
(Houston)
Guinevere passou a viagem toda em silêncio, Genebra e Mabel também. As três resolveram se apertar no banco de trás, eu até entendo elas, eu era o vilão da história.
Solto o ar de forma ruidosa e ligo o som do carro, a música Bohemian Rhapsody começa a tocar. Avery adorava essa música, comecei a escutar o Queen por causa dela. Segundo se passam até Mabel começar a cantar, pelo visto ela conhece bem a letra. Depois dela é Genebra quem cantarola, as duas acompanham Freddie Mercury com perfeição. Escuto as duas cantando e olho pelo espelho, os olhos de Guinevere encontram os meus no momento que a música entra em sua subida, ela sorri e começa a cantar. As três acompanham as variações da música, eu sorrio batucando no volante. Me seguro ao máximo para não cantar, mas quando não me seguro e canto com elas.
Quando a música acaba o clima no carro está bem mais leve. Mabel sorri animada.
- Essa é a minha música favorita.- Guinevere diz após alguns instantes.
- Era a da Avery também não era? - Pergunto olhando para ela pelo espelho.
- Não, ela odiava a letra, mais ela me disse que ouvia o Queen para se lembrar de casa.- Isso me surpreende. Então a música era de Guinevere e não de Avery. Isso me faz lembrar de todas as vezes que peguei ela ouvindo essa música, todas as vezes ela estava pensando na irmã.
- Ela escutava muito essa música, tanto ao ponto que me fez gostar dela.- Conto sentindo uma mão no meu ombro.
- Não precisa me agradecer então.- Guinevere realmente não existe. Observo o sorriso dela, mesmo não tendo laço sanguíneo com Avery, as duas partilham o mesmo sorriso.
- Eu não ia agradecer mesmo.- Digo sorrindo enquanto paro o carro no estacionamento do aeroporto onde um dos meus empregados nos espera.
Sou o primeiro a sair do carro, espero Guinevere, Mabel e Genebra descerem e pegarem a bagagem de mão que trouxeram, assim que elas estão prontas, vamos para dentro do aeroporto e depois somos levados para inspeção de segurança e então somos guiados até a pista onde o jatinho nós espera.
- Tia um jatinho! Vamos viajar de jatinho! - Mabel grita animada.- Genebra olha isso! Meu pai tem um jatinho!
- Ele é nosso filha.- Falo andando até a entrada da aeronave.
Comprimento todos os comissários e guio as moças para o interior do jatinho. Eu entro logo depois e me sento em uma das poltronas livres. Mabel começa a falar com a tia sobre o jatinho e de repente começa a fazer planos de viagem, a menina diz que usará a aeronave para ir a Disney, mas não apenas a americana, ela deseja conhecer também a européia.
Assim que decolamos e ignoro o falatório da minha filha e abro meu notebook, já havia deixado meu trabalho de lado durante muito tempo, e se Mabel fosse cumprir tudo o que estava falando, eu teria que ter muito dinheiro para bancar o combustível.
Mabel
(New York)
Meu antigo quarto na casa da minha tia era rosa, com uma cama pequena, uma mesa perto da janela que dava para os fundos da casa. Não tinha muitas coisas bonitas como o da Kelly, minha amiga da escola, ela tinha 20 ursos de pelúcia e uma caixa com muitos lápis de cor. Eu gostaria que ela pudesse ver meu novo quarto.
Stuart havia cumprido nosso acordo e ido além!
O novo quarto é lilás e azul, as cortinas são rosa e dourado, a cama é grande, maior do que a antiga da minha tia. Além da cama, tenho uma tv e uma mesa gigante cheia de lápis de cor, tintas, lápis, borrachas e pincéis.
Estou tão animada que quase me esqueço dos brinquedos, bonecas Barbie com casas e carros, animais de pelúcia e uma infinidade de outros brinquedos estão em uma estante. Sorrio olhando tudo aquilo, um sonho que minha tia nunca conseguiria realizar sozinha, mas agora eu estava ali, no meu quarto de princesa. Começo a percorrer todo o cômodo espaçoso, mexo em todas as bonecas, vejo tudo que tenho sobre a mesa, descubro que Stuart havia comprado uma caixa com mais de 200 lápis profissionais. Além deles, nas cavernas da mesa, encontro bloco de todos os tipos de papel, desde folhas de sulfite, até um papel duro que não sei o nome.
- Caramba, isso é fantástico.- Escuto a voz da minha tia e me viro para vê-la entrando no quarto.- Minha princesa finalmente tem o que sempre mereceu.
- Tia, vem ver, tem muita coisa para desenhar, olha todas aquelas bonecas, esse é um quarto de princesa!- Corro até minha tia e a abraço com força.- Obrigada tia Guine.
- Acho que você tá agradecendo a pessoa errada meu amor, seu pai que montou isso para você, não fui eu.- Eu encaro minha tia por alguns instantes.
- Mas foi você que chamou ele, se não fosse você tia, eu nunca teria tudo isso.- Ela me encara e sorri por fim.- A senhora também ganhou um quarto?
- Ganhei sim, ele é do tamanho da nossa sala e no banheiro tem até uma banheira imensa.- Minha tia parece bem feliz.- Além disso, tem uma cozinha gigantesca, dá para assar qualquer coisa no forno.
- Tia posso ir ver o seu quarto e o da Genebra?- Peço fazendo minha carinha de cachorro pidão.
- Pode sim, o quarto da Genebra Também é bem grande, você tem que ver.- Minha tia segura minha mão e juntas saímos para o corredor onde tem mais duas portas, ela está abrindo uma quando uma mulher mais velha aparece no início do corredor.
- Então você é a mulher que escondeu a minha neta por todo esse tempo?.- Tia Guine aperta minha mão e eu sei que aquilo pode acabar muito mal.
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