24 - Ataque de pânico
Midoriya desligou a chamada e se sentou em sua cama. Pensava que ainda demoraria mais para essa história de adaptação para o mangá se resolver, mas agora já estava tudo planejado e conseguiram logo um dos melhores mangákas do Japão para adaptar uma de suas novels.
Izuku não se sentia preparado para isso, pois se tornaria uma convivência diária com alguém que nem conhecia. Ele teria que participar de todo o progresso do mangá para deixar cada detalhe como desejava. Não seria como o anime que ele só faria suas exigências e esperaria ficar pronto em sua amada residência. Para Izuku, já havia sido um avanço muito grande ter participado da reunião para a produção do anime, ele já se sentia muito bem com seu progresso e havia também participado do casamento dos seus amigos sem surtar ou se sentir mal, porém aquela nova notícia o deixava completamente apreensivo.
O novelista não queria um estranho em sua casa, mas também não queria frequentar a residência ou estúdio de trabalho do mangáka. A editora também não era um lugar viável pois detestava passar muito tempo lá por conta das lembranças de seus castigos pelas vezes que quebrou os prazos de entrega.
Por fim, Izuku decidiu que no dia seguinte iria dar um jeito de recusar.
[...]
Izuku foi acordado pelo cheiro de bolo vindo da cozinha. Como havia dormido com a porta entreaberta, o cheiro acabou invadindo seu quarto por completo. Midoriya se levantou preguiçosamente e se espreguiçou, depois foi andando em direção à saída de seu quarto. Ele andou até a cozinha, onde viu Kirishima arrumando a mesa para o café enquanto cantarolava.
— Acordou animado hoje... — Midoriya comentou, sorrindo.
Kirishima se virou para ele e sorriu apaixonadamente. Obviamente ele queria ir até Izuku e lhe dar um beijo de bom dia, contudo, sabia que não podia, então se manteve em frente à mesa com uma travessa com um bolo de morango nas mãos.
— Bom dia, amor! Dormiu bem? — perguntou gentilmente.
— Bom dia. Aham... dormi sim — respondeu, se sentando em uma das cadeiras enquanto encarava os diversos doces em cima da mesa. — Por que tantos doces?
Kirishima colocou o bolo em cima da mesa e se sentou ao lado de Izuku.
— Para comemorar! A Uraraka me ligou me contando da novidade! Nem acredito que o grande Yo Shindo vai adaptar sua novel! Os traços dele são incríveis! — Kirishima falou com tanta empolgação que fez o peito de Izuku doer, afinal, a primeira coisa que ele queria fazer hoje era cancelar tudo, no entanto, agora se sentia confuso sobre o que deveria fazer.
— Ah... E você está feliz com isso, tipo... Você quer muito essa adaptação? — perguntou, pegando um pedaço de bolo.
— Claro! Ler qualquer light novel sua é incrível! Mas light novel é um livro com algumas ilustrações e tem tantas cenas que eu queria ver desenhadas por um mangáka famoso... tantas que não consigo nem contar! — disse. — Ter um anime da sua novel já foi incrível! Agora um mangá que pode adaptar outra e eu poderei ver tudo ilustrado? Nossa, acho que não conseguirei nem dormir de tanta ansiedade!
Izuku podia ver que Kirishima estava muito feliz com a ideia da adaptação. Midoriya já havia visto milhares de fanarts de suas obras, mas nunca algo com traços semelhantes aos de Yo Shindo... O mangáka era realmente o melhor em adaptação de light novel para mangás, com certeza faria um trabalho glorioso. A última coisa que Midoriya queria era deixar seu namorado triste.
Mesmo que Kirishima falasse para Izuku parar de pensar nessas coisas, o novelista não conseguia tirar da cabeça de que nunca faria Kirishima feliz por completo, nem poderia dar ao editor tudo que ele merecia por conta de seus problemas. Esses pensamentos invadem sua mente de tempos em tempos, contudo, ele sempre se esforça para não dar forças a eles, se agarrando em seus sentimentos por Kirishima.
— Izuku, você está bem? — Eijirou perguntou, estranhando o jeito do namorado.
A mão de Kirishima pousou na coxa de Izuku, que por conta da calça grossa de moletom não se sentiu desconfortável. O toque suave do rapaz ajudou a colocar seus pensamentos no lugar.
Izuku sorriu para Kirishima, o homem que ele amava e que já fez tantos sacrifícios por si. Midoriya queria fazer Kirishima feliz, queria poder retribuir tudo, então, faria o sacrifício e se forçaria a trabalhar com Yo Shindo se isso fizesse Eijirou Kirishima continuar sorrindo para si.
— Estou, só estava pensando na reunião que vamos ter futuramente para decidir tudo do mangá.
Mais um largo sorriso se formou nos lábios de Kirishima, o deixando ainda mais belo.
— Vai dar tudo certo! Vou estar ao seu lado o tempo todo! — garantiu o editor. — Eu te amo, Izu.
— É só disso que eu preciso — sorriu abertamente para Kirishima. Viu os olhos do rapaz brilharem. — Eu também te amo, Eiji.
Depois de ficarem se encarando por alguns segundos, contendo sua vontade de tentar se beijar, pois sabiam que provavelmente o resultado atrapalharia seu dia. Começaram a comer juntos enquanto aguardavam as informações da reunião que teriam com o mangáka.
No carro, Izuku tentava ao máximo não transparecer que estava nervoso com tudo aquilo, não pelo fato de conhecer uma pessoa nova como ele sempre fazia, mas pelo fato de estar indo ao encontro de algo que ele não desejava. Só que caso recusasse a oferta de Shindo, certamente ele não voltaria atrás.
Kirishima parecia tão feliz, não podia estragar tudo. Já estava fazendo tantas coisas que ao menos tinha que fazer algo para compensar todos seus defeitos. Eijirou tinha notado seu nervosismo, contudo, achava que era pelo fato de conhecer uma pessoa nova, então tentou acalmar o menor como pôde.
Midoriya achava incrível como o editor tinha poder sobre si, como o mesmo o conseguia acalmar bem mais do que os outros, talvez fosse o amor lhe ajudando ou era o simples fato de que Kirishima tinha se tornado um de seus pilares mais importantes em sua vida. De fato, o amor mudava as pessoas.
Se pudesse queria andar de mãos dadas até o escritório da amiga, só que acabariam sendo vistos pelos funcionários e no momento Izuku não queria deixar o relacionamento deles público, então segurava com força a camisa dele, como já fez muitas vezes quando andavam em público.
Kirishima queria poder acalmar o escritor, segurar sua mão naquele momento seria de grande ajuda, só que ele entendia muito bem que caso o fizesse, poderia piorar o estado do menor. O tanto de pessoas que se aproximariam fazendo perguntas e querendo saber mais sobre sua vida amorosa acabariam por atrapalhar os avanços dele.
Ainda mais agora que Izuku já estava se habituando a andar na rua, perder tudo isso seria o mesmo que voltar para a estaca zero, então tinha que ser paciente e esperar o momento certo. Só que Kirishima não se importava dos outros saberem, tendo Izuku lhe amando já estava de grande tamanho.
Assim que chegaram no local marcado para a reunião, no caso o escritório de Uraraka. Izuku agradecia mentalmente ser em um local onde as pessoas de fora não ficariam olhando para si e para o convidado. Deram de cara com uma Ochaco super animada, conversando com um rapaz, que ao ver o casal entrando rapidamente se levantou com um sorriso.
Alto. Fora a primeira coisa que passara na cabeça do menor quando viu o homem se levantar. Ele possuía cabelos morenos em um corte arrepiado, olhos castanhos e um belo sorriso no rosto. Usava roupas formais, na qual não era possível ver se ele era ou não muito musculoso.
─ É um prazer enorme lhe conhecer, senhor Midoriya! Ou deveria chamá-lo de Deku? ─ comentou com um sorriso, se aproximando dos dois.
Izuku sentia algo estranho perto daquele homem, aquele sorriso lhe parecia tão falso e ele não conseguia engolir que aquele homem à sua frente era uma boa pessoa.
─ O prazer é meu ─ falou, recuando. Não tinha gostado de Shindo, ele estava invadindo seu espaço com aquele sorriso falso.
─ É uma honra conhecê-lo! Sou grande fã do seu trabalho! ─ Kirishima se manifestou com um sorriso enorme. ─ Sou Eijirou Kirishima, editor do Deku.
— Mas vejam só, um fã ─ comentou com um sorriso, o mesmo sorriso falso que já estava incomodando o novelista.
Izuku podia não se dar bem com muitas pessoas, a ponto de conhecê-las, mas olhando para aquele homem ele sentia algo, como se seus instintos estivessem lhe dizendo que ele não era alguém de confiança.
Muitos poderiam achar doido o que o menor sentia, mas ele não estava de todo errado. De fato, Shindo não era a melhor pessoa, ele podia sim ser simpático e ser bem educado com os outros, só que pelas costas ele não era a mesma pessoa.
Ele achava uma grande frescura os problemas de Deku. Para ele não havia motivos para tal, achava que tudo não passava de uma desculpa para que ninguém bombardeasse o novelista pela demora para aparecer. Para Shindo as doenças na qual Izuku alegava possuir nada mais eram que mentiras.
Ele achava que o menor era falso, que havia feito aquele papel de coitado para que ninguém pudesse lhe machucar. Sabia que devia ser tudo um jogo de marketing, que no olhar dele, estava indo muitíssimo bem, a ponto dele se interessar. A mídia estava completamente voltada à Deku, então era o momento ideal de conseguir mais prestígio usando-o.
Afinal, o escritor estava fantasiando problemas, na qual não existiam motivos nenhum para ocorrerem, já que Shindo achava ridículo alguém passar mal ao ser tocado ou simplesmente estar em um ambiente com muitas pessoas. Só que ele tinha que admitir que Deku era um escritor fantástico e completamente engenhoso, não podia deixar aquela oportunidade passar, mesmo não gostando dele como pessoa.
Shindo, assim como várias outras pessoas pelo país, tinham uma mente ignorante para pessoas com problemas psicológicos. Para ele, tudo não passava de alguém querendo atenção, fantasiando problemas quais não existiam, se fazendo de vítimas para a sociedade, contudo, ele não caía na ladaia que todos falavam, ele sabia que no fundo tudo era mentira. No fundo, quando ele chegou na editora, achou que Uraraka lhe contaria tudo, mas ela contou novamente a mentira sobre os problemas de Izuku.
Ele queria rir de tudo aquilo, era tão patético o quanto eles queriam criar uma imagem impotente do novelista. Só que ele não ligava, ele só queria crescer ainda mais em cima de Deku, se para isso ele precisava acreditar em toda aquela basbaquice, então que seja.
Shindo tinha conversado o mínimo com Kirishima, já que ele era um fã e ele sempre tratava seus fãs muito bem, o cumprimentou com um aperto de mão firme. Encarou o menor que ainda estava encolhido e aquilo o irritou muito.
Então, sem pensar muito, Shindo se aproximou e simplesmente puxou a mão de Izuku para o cumprimentá-lo, ele queria ver a cara do impostor quando provasse que tudo aquilo não passava de um ótimo teatro, então foi aí que ele viu. Um olhar cheio de pavor, pânico e medo. Ele mesmo havia ficado surpreso com aquele olhar.
Um empurrão veio logo em seguida; foi tudo muito rápido, ele só conseguiu ver o menor se abraçar e chorar a ponto de soluçar, enquanto o editor aproximava nervoso, tentando lhe acalmar. Uraraka lhe puxou com certa força, na qual nem mesmo ela devia saber que possuía, e lhe lançou o seu olhar mais afiado.
─ Achei que havia sido clara sobre os problemas dele! Eu acredito que o senhor não seja deficiente e tenha ouvido o que eu disse, então, espero que não seja só mais um ignorante filho da puta que acha que o Deku só está querendo atenção! Por favor, eu convido você para se retirar da minha empresa e nunca mais aparecer aqui ─ sorriu de forma sinistra, pendendo a cabeça para o lado. Ela olhou para o amigo e se desesperou, encarando com raiva o mangáka a sua frente. ─ SAÍA! — gritou. — Eu vou chamar a ambulância, puta que pariu!
Shindo nada respondeu. Ele apenas encarava Midoriya tendo uma das crises de pânico devido ao contato forçado e indesejado que Shindo havia feito. Fez com que ele lembrasse de seu trauma, resultando em uma crise forte de ansiedade junto a todo estresse emocional que ele tinha passado no dia.
─ Eu sinto muito... ─ murmurou, sem desviar o olhar do menor a sua frente, que parecia tentar se acalmar junto ao editor que segurava suas mãos enquanto o novelista encarava o chão em pânico, soltando gruídos e balançando a cabeça em negação.
Pelo jeito Shindo, estava errado sobre Deku.
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