19 - Querer não é poder?
Midoriya estava animado pela sua consulta com Asui, com o passar das semanas, tinha virado uma rotina boa visitar a amiga e psicóloga. Se sentia bem melhor do que estava, de fato conversar com alguém que conhecia o assunto e não o olharia com pena ou algo do gênero era muito satisfatório.
No começo ele pode ter ficado um tanto relutante, com medo de que isso pudesse de alguma forma atrapalhar seu convívio e seu carinho pela mulher, porém, agora possuía um respeito ainda maior por ela.
Agora ficava de certa forma ansioso para contar as novidades, ainda mais que agora estava tão feliz por estar conseguindo falar em público. Era impossível evitar de se mostrar animado com isso. Achou que teria um treco na sala de reunião com tantos rostos estranhos e suspeitos, que de alguma forma lhe davam um ar incômodo devido ao recente trauma.
Mas acabara por lidar bem com a situação e não ficar fechado e encolhido, tinha falado o que pensava do jeito que queria, não poderia estar mais orgulhoso de si mesmo, no entanto, ele tinha uma leve noção de que só conseguiu agir daquela forma por saber que Uraraka e Kirishima estavam lá, para falar a verdade, ele não sabia se caso ficasse sozinho naquela sala, o resultado seria o mesmo.
Só que ainda assim era um grande avanço para si.
Kirishima estava na sala de espera mexendo em seu celular, provavelmente vendo as mídias sociais na qual ele mexia. O novelista logo entrou na sala vendo a mulher lhe dar um sorriso, que fora correspondido. Sentou-se em um dos pufes que ali havia e ficou encarando a amiga que estava na cadeira escrevendo algo.
— Então, alguma novidade nessa semana? — perguntou, terminando de escrever e logo guardando a folha.
— Eu fui em uma reunião para falar sobre a adaptação da minha série. Acho que o Fumi chegou a comentar com você! — comentou animado, não sendo despercebido por Asui que abriu um sorriso gentil com aquilo. — Eu consegui falar, Asui! Consegui agir normalmente com estranhos! Sei que provavelmente foi pela presença do Kirishima e Uraraka, mas ainda assim é um avanço... certo?
— Claro que sim, antes nem com a presença deles você conseguia. Fico feliz por ter conseguido falar abertamente, vejo também que a sensação ruim de ficar próximo a pessoas estranhas têm melhorado — colocou os cotovelos na mesa e viu o garoto balançar a cabeça negativamente. — Hm, não?
— Eu ainda me senti um pouco incomodado, mesmo sabendo que ali ninguém iria me atacar, meu corpo não reagiu da melhor maneira, eu fiquei nervoso. Só que não cheguei a transparecer isso, então eu meio que consegui controlar toda minha ansiedade e agitação negativa por um momento.
— Isso é bom, pelo jeito achou um jeito de se acalmar. Está funcionando a ideia que lhe dei de achar um jeito que ficasse calmo ou está usando uma ideia sua? — perguntou curiosa.
— Bem, eu tentei regular a minha respiração assim como você tinha me dito, mas eu achei outro meio. Eu fico vendo imagens aleatórias na internet que possam me acalmar ou vídeos fofos e engraçados, tudo para que eu não volte a pensar no assunto. Na reunião, eu fiquei vendo fotos que eu havia salvado antes no celular caso tivesse uma crise na reunião, eram fotos de dragões, eu gosto muito de dragões! — sorriu, animado.
— Isso é bom, se você ficar calmo assim, acho melhor continuar utilizando esse método, mas não deixe também de utilizar a respiração, ela é muito importante — ela falou, vendo Midoriya balançar a cabeça em concordância.
— Asui, eu queria poder tocar alguém... — mordeu o lábio inferior um tanto nervoso. — Sei que estou avançando aos poucos, já consigo andar em meio a uma quantidade considerável de pessoas, ou até mesmo falar em público, só que eu ainda não consigo tocar ninguém.
— Por que isso agora? Algum motivo especial? — perguntou, analisando o garoto que desviou os olhos e batucou sua perna.
— Eu queria poder abraçar — bateu mais rápido os dedos, mostrando o nervosismo. — Todo mundo tá fazendo tanto por mim e eu queria de alguma forma mostrar o quanto vocês são importantes. Fumi é a única pessoa que consigo ter um contato físico mais avançado, porém, eu queria poder fazer isso com os demais também — falou envergonhado, sua real vontade mesmo era poder abraçar o editor que tinha lhe ajudado mais do que todos, mas não deixaria de querer abraçar Asui e Uraraka também, já que elas eram tão importantes quanto Kirishima.
— Oh, isso é inusitado de fato, mas infelizmente é algo que você mesmo precisa lidar, você precisa ficar à vontade e seguro de si mesmo para algum tipo de contato — abriu o bloquinho e anotou algo. — Que tal tentar aos poucos? Comece pegando a mão e aos poucos avance no contato físico. Nunca force o contato, quando começar a ficar incômodo, se afaste.
— Acha que eu consigo fazendo isso? — perguntou, vendo a amiga lhe abrir um sorriso.
— Tenho certeza de que vai conseguir; é alguém muito dedicado, Izu. Tenho certeza de que com um pouco de esforço, vai conseguir abraçar quem você quiser — disse animada a ponto de bater as mãos. — Eu vou lhe ajudar com tudo, pode até mesmo ligar fora do horário, sabe que vou atendê-lo.
—Certo, obrigado, irei tentar então! — sorriu nervoso.
Conversaram mais um pouco durante a sessão, Asui tinha lhe explicado os jeitos que ele poderia se aproximar não só de pessoas conhecidas e confiáveis, mas também de estranhos. Afinal, Midoriya queria ter um melhor contanto na próxima vez que fosse em um encontro e fosse conhecer mais fãs, não queria ficar tão afastado e nem passar mal, queria melhorar e ficar lado a lado daqueles que lhe apoiaram tanto durante os anos.
Logo a sessão acabou, Asui se despediu e disse mais uma vez que o menor poderia lhe ligar caso tivesse alguma dúvida ou simplesmente precisasse falar consigo. Midoriya agradeceu e pegou um tanto relutante os dedos da dela, que ficou surpresa pelo ato e não deixou de abrir um enorme sorriso para o amigo.
Depois de sair do consultório, Izuku foi para seu próximo compromisso junto a Kirishima. O escritor estava trajando um conjunto de roupas de moletom, com o capuz em sua cabeça. Tinha um par de Converse preto em seus pés e óculos escuros em seu rosto. Ele tinha uma reunião com Tetsutetsu Tetsutetsu que queria discutir alguns assuntos referentes as Action Figures e outros produtos que seriam produzidos. O encontro foi marcado em um grande Starbucks próximo ao consultório de Asui. Izuku nunca havia ido lá, porém, Kirishima lhe garantiu que tinha partes mais reservadas e tudo iria ficar bem.
— Izuku, está tudo bem? Você está muito quieto... — Kirishima comentou, estacionando o carro no estacionamento do lugar.
— E-estou só estou pensando no que conversei com a Tsuyu... — respondeu e abriu a porta do carro. — Vamos logo, quero ir para casa.
Antes de Kirishima poder falar qualquer outra coisa, o escritor se pôs para fora do carro e o edtiro fez o mesmo. Assim que entraram no estabelecimento, eles foram para o local indicado por Tetsutetsu, uma área mais reservada, usada por executivos que frequentam o café.
Tetsu abriu um largo sorriso ao ver Midoriya que parecia estar prestes a roubar um banco ou algo do tipo. Kirishima encarou o homem como se fosse queimá-lo vivo. Junto a Tetsu, estava Kendo e Sero.
Bakugou fez questão de mandar Sero para a reunião, afinal, se qualquer coisa fosse mudada, ele queria ser informado imediatamente.
— Está uma graça como sempre, Midoriya — Tetsu falou com um sorriso galanteador em seus lábios.
— Ah, valeu. Vamos resolver logo isso porque a nova temporada do Shokugeki no Souma me espera — disse, se sentando ao lado de Kendo. Kirishima se sentou ao seu lado.
Tetsu sorriu, pois adorava os difíceis. Porém, Midoriya iria continuar cagando e andando para ele, não importava o que ele fizesse, isso não iria mudar, pois ele só tinha olhos para Eijirou atualmente.
Deku cumprimentou todos, assim como o editor.
— Bom, vocês podem dizer o que querem para a Kendo antes de começarmos, aí ela vai buscar nossos pedidos e podemos conversar mais à vontade — Tetsu falou, e Midoriya bufou, sentindo como se o maior estivesse querendo lhe prender ali.
— Deve ter várias coisas doces no cardápio, dá uma olhada — Eijirou ofereceu o cardápio para Izuku, tentando o distrair.
Izuku fez o que o editor pediu e depois fechou a cara.
— Não entendo caralho nenhum do que são essas bodegas! — apoiou o rosto na mão, suspirando.
— Calma, Deku, é normal pois é sua primeira vez aqui — Disse Kendo em um tom de voz doce e gentil. — Vou te explicar alguns que acho que o senhor vai gostar de provar, aí você escolhe o que lhe interessar mais.
Com a ajuda e paciência de Kendo, logo Izuku conseguiu escolher o que queria e Kirishima também, então a mulher de cabelo laranja foi comprar tudo junto a Sero. Enquanto isso, Tetsu começou a mostrar os esboços das poses, dos personagens e das vestimentas para Midoriya. Como o novelista não estava de muito bom humor ainda, ele apenas pegou uma caneta e começou a circular coisas que gostou e riscar as mudanças que pretendiam fazer em detalhes mínimos na armadura de um personagem, pois ele queria perfeito.
— Se não for para fazer a bunda do Lancer perfeitamente esculpida, nem faz, não vai cagar o cu, não — Izuku murmurou, levemente irritado.
— Certo... — Disse Tetsutetsu, surpreso como Midoriya era atento aos menores detalhes.
Kirishima apenas observava o novelista concentrado. Eijirou amava observá-lo trabalhando, pois ele ficava sério e concentrado, dando toda sua atenção ao seu trabalho para que saia perfeito.
Logo Kendo e Sero retornaram e serviram todos. Tetsutetsu e Kendo optaram por café, Sero preferiu um suco de framboesa, Midoriya sorriu para seu frappuccino de chá verde e Kirishima provou seu frappuccino de morango ao mesmo tempo que Izuku provou o dele.
— Hm... Quando olho para esse frappuccino, eu penso no... — Midoriya começou a dizer.
— No Hulk? — perguntou Tetsutetsu, animado e Izuku balançou a cabeça.
— No mutano — corrigiu e continuou a fazer as anotações.
— Hm... O meu faz com que eu me lembre do Waddles — disse Kirishima, com as bochechas rosadas.
Midoriya deu risada, pois sabia como Kirishima amava o porco do desenho Gravity Falls, ele tinha até um pijama e pelúcias do Waddles.
A reunião continuou.
Enquanto Midoriya falava e explicava cada mudança que havia apontado, Sero mandava mensagens para seu chefe que estava todo ferrado com a produção do anime. Pelo menos conseguiram lançar o trailer logo e os fãs de Izuku estavam todos empolgados.
— Certo, Deku, agora podemos começar a fazer os produtos — Kendo bateu as mãos, animada. — Logo mandaremos os protótipos para o senhor.
— Não precisa me chamar de senhor, me sinto um velho... Só Midoriya ou Deku tá bom — respondeu e sentiu seu celular vibrar; viu que era Uraraka lhe ligando, então acabou atendendo. — Fala, vaca.
"Você ainda está na reunião?", Ochaco perguntou num tom completamente eufórico e animado.
— Sim — respondeu monótono, coçando a nuca.
"Kendo está aí?", a chefe perguntou descaradamente.
— Sério que você me ligou para perguntar da Kendo? Vai trabalhar e me deixa em paz, vaca mal comida! — desligou na cara da mulher.
Kendo ficou um tanto constrangida, porém não quis transparecer. Sero tomou a liberdade de falar brevemente com Midoriya sobre a nova novel que irá lançar, que Bakugou tem planos para patrocinar um evento de lançamento para ela, algo que nem Midoriya imaginava que pudesse acontecer. Obviamente são apenas suposições, pois nada seria feito sem Deku ter voltado a se sentir bem para tal.
Enfim, a reunião terminou e Midoriya se despediu de todos os três e foi embora junto a Kirishima. Tetsutetsu ficou decepcionado por não conseguir conversar com Izuku como desejava.
[...]
Já era quase duas horas da manhã. Kirishima estava vendo programas do lar, então decidiu arrumar toda a sala para ir dormir. Midoriya estava jogado no sofá felpudo da sala pensando no dia que teve.
Por fim, tomou coragem e se levantou bruscamente, sentando-se no sofá.
— Kiri, senta aqui — pediu, apontando para o lugar ao seu lado.
Kirishima foi rapidamente até o garoto, sorrindo por ele ter lhe chamado pelo apelido.
— O que foi? — perguntou com seu costumeiro tom amável.
— Estica o braço e abre a mão — pediu com as bochechas coradas.
Kirishima obedeceu e o escritor colocou a própria mão sobre a dele e depois a tirou rapidamente e respirou fundo. Ele repetiu aquilo três vezes e Kirishima ficou em silêncio, contente em sentir o calor das mãos do novelista, porém, confuso por não entender o motivo. Quando Izuku parou e se jogou para trás, se deitando no sofá, ele perguntou:
— Izuku? O que foi isso?
— Bom... Eu falei com a Tsuyu sobre contato físico... Eu quero poder tocar mais as pessoas, eu quero... Poder sentir o calor transmitido pelas mãos ou o conforto que só se encontra abraçando alguém... — comentou, se sentando novamente e encarando o editor com seus intensos olhos verdes. — Isso tudo requer prática, pelo que a Tsuyu disse, e depende da minha força de vontade... Você pode me ajudar nisso... Eijirou?
Kirishima sentiu vontade de chorar naquele momento. De todas as pessoas que Midoriya poderia ter escolhido, Izuku lhe escolheu e nada nesse mundo poderia fazê-lo mais feliz naquele momento.
— Claro que sim, Izuku, vamos com calma. No seu tempo e te garanto que logo você abraçará quem quiser! — assegurou o garoto com um brilho no olhar, animado em ajudar Izuku a progredir cada vez mais.
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