Capítulo 19 - Ano 2010
Lítio, não quero me trancar por dentro
Lítio, não quero me esquecer como é sentir saudades
Lítio, quero permanecer apaixonada pelas minhas tristezas
Oh meu Deus, Eu quero deixá-lo ir.
Lithium
Evanescense
Após todos aqueles segundos no mais completo silêncio resolvi desviar o olhar do dele e o prendi em meus pés, não sabendo mais o que fazer naquele momento.
— Podemos ir ao cinema se for do seu desejo. — Sua voz e convite me fizeram o olhar rapidamente, um sorriso se formando em meus lábios. Era tão fácil sorrir perto dele.
— Prazeres não tem cinema. — Aquilo era o mais terrível de se morar em um local tão pequeno. Tudo ali beirava ao esquecimento e não iria me admirar se os jovens dali quisessem fugir para bem longe.
— Eu tenho um carro com o tanque cheio e algum dinheiro. O suficiente para pagar um lanche e um cinema. — Ele disse todo cheio de si, o que me arrancou uma risada.
— Você fala como se isso fosse capaz de nos ajudar a dominar o mundo. — Ele deu de ombros e nada respondeu, mas ao ver minha dúvida ele pegou minha mão e correu de volta para o carro quase me jogando dentro dele.
Por um momento decidi esquecer todo tipo de consequências que aquilo poderia acarretar.
Decidi ser imprudente. Muito mais do que um dia fui e naquele momento não era para o mal, era algo para provar a mim mesma que eu renascia das cinzas.
Murilo estacionou o carro no meio fio de uma pequena cidade que eu não fazia idéia do nome. Ali havia um pequeno cinema então eu presumi que ali era de fato maior que Prazeres.
— Onde estamos? — Perguntei ao saltar do carro.
— Perto de Belo Horizonte. É só o que precisa saber.
— Por que apenas isso?
— Quando formos pegos você pode dizer que não fazia idéia de onde estávamos e que eu fui o culpado por isso. — Revirei os olhos pela atitude dramática de Murilo e fui até um dos cartazes ver qual filme encontrava-se ali. As opções não eram tantas, mas tinha um de terror que valia a pena saber se era bom.
— Podemos ver o de romance que tal? — O olhei de cara feia. Se ele pensava que eu era do tipo que gostava apenas dos romances água com açúcar eu ia tratar de retirar aquela idéia descabida da cabeça dele.
— Não quero ver isso. Se tenho a opção de ver terror eu até prefiro. — Falei e me encaminhei para a bilheteria. Por sorte eu tinha um pouco de dinheiro em meu bolso e poderia pagar pelo menos minha entrada.
— Por que acha que vai pagar? Eu te convidei lembra? — Murilo retirou o dinheiro da carteira e pagou duas meia entradas para a última sessão. — Podíamos comer algo o que acha? — Assenti porque de fato eu estava morrendo de fome.
Ele pegou em minha mão e se dirigiu para o local onde um cheiro bom de pipica com manteiga pairava no ar.
Sorri ao me dar conta da nossa imprudência, mas eu não mudaria aquela atitude por nada.
Compramos tudo o que podia. Desde pipocas amanteigadas até barras de chocolate e após aquilo entramos no cinema.
Estava deitada na arquibancada da escola onde tinha uma bela vista dos jogadores do time se aquecendo. Dentre eles Murilo pulava de um lado para outro, seus pés em uma sincronia perfeita entrando e saindo de pneus colocados no chão pelo treinador.
Volta e meio nossos olhares se encontravam e me sentia corar pelo sorriso que ele dava.
Parecia que havia sido ontem que tínhamos ido ao cinema, mas já fazia uma semana. Se me perguntassem o que aconteceu no filme eu não saberia responder pois não prestei atenção em nada relacionado a ele. Dentre os muitos beijos que demos não havia espaço para nada além daquilo. De longe aquela foi a melhor semana da minha vida, eu não tinha do que reclamar. Até meus pesadelos estavam silenciados.
— Ei. — Ellie estalou os dedos na minha frente e parou de trançar meus cabelos.
— Falou algo. — Pisquei e foquei o olhar no rosto redondo e completo de sardas de minha amiga.
— Sim. Falei sobre seu cabelo. Está tão dispersa. O que está acontecendo Isa? — Ela levantou-se e por conta daquele movimento minha cabeça bateu no chão me provocando uma onda de dor, dado que ela encontrava-se no colo dela.
— Doeu Ellie. — Passei a mão na parte detrás da minha cabeça e lhe lancei meu melhor olhar amedrontador.
— Não mude de assunto. Fale logo. — Mordo o lábio inferior me debatendo internamente se eu deveria contar para ela.
Murilo pediu segredo por enquanto com medo de que Belle surtasse sem motivo e eu até o entendia. Não me agradava a idéia de ter a diaba loira na minha cola.
— Não me peça para contar nada agora Ellie por favor. Juro que vou te contar em breve.
— Então há um segredo? — Assenti e ela voltou a se sentar.
— Tudo bem, mas promete me contar logo? — Assenti vigorosamente e sorri amplamente.
— Falei que gostava de seu cabelo com essas pontas rosas. E se eu pintasse o meu de azul?
— Ia ficar muito legal. — Falei e Ellie gargalhou.
— Minha mãe me mataria.
— Somos adolescentes Ellie. Vivemos para enlouquecer nossos pais. — Dei uma pausa e fiquei séria por alguns instantes. — Obrigada por não fazer perguntas.
— Ora Isa não precisa agradecer. Sou sua única amiga e conto que esse segredo seja tão insuportável que te corroa por dentro até me contar. — Gargalhei e joguei uma bolinha de papel de bala nela.
Eu não estava mais me reconhecendo naquela pessoa. Fazia tempo que não sorria com muita frequência, que me abria para alguém.
Estive muito fechada em mim mesma, mas naquele momento eu me via diferente.
Então me dei conta de que ir para Prazeres não foi tão ruim assim.
Andei pelos corredores abarrotado de alunos que pareciam não sentir pressa alguma para nada.
Era tão dificil passar por ali que eu tinha que usar de má educação para poder ter um espaço para passar. O motivo?
Um cartaz idiota indicando o baile de fim de ano para os formandos e a viagem que antecedia aquela festa protuberante.
Nem fiz questão de olhar os anúncios e o que precisava ser feito para poder ir. Não me interessava naquele momento nada daquilo.
Só de pensar em ir a algum lugar repleto de pernilongos que fariam minha pele encher-se de bolinhas ou me paparicar em um salão de beleza para ficar igual aos clones fazia meu estômago se revirar enjoado.
Por mim eu não iria para nada daquilo.
O que me interessava no momento era encontrar Murilo e em nenhum lugar eu obtive a sorte.
Parecia que ele escapava de minha visão a todo momento sempre que eu decidia falar com ele em público.
A voz na minha cabeça gritava que ele estava fugindo de mim pois quando o mesmo via eu me direcionando para onde estava ele saía de forma rápida.
Eu queria acreditar que aquilo era uma baita coincidência, que ele não eatava me evitando ou brincando comigo. Não queria pensar que eu não passava de um segredinho sujo dele, que tinha vergonha de mim.
Parei em frente ao meu armário e o abri para pegar jogar os livros lá dentro.
— Tá procurando alguém?— Ellie falou perto de mim e me assustei com sua aproximação.
— Nossa você não sabe chegar sem me assustar?— Falei após desencostar do armário que havia feito um barulho quando quase entrei nele tamanho o susto que levei.
— Desculpe. — Revirei os olhos e continuei andando nos corredores na tentativa de sair pela tangente e não responder a pergunta de Ellie.
— Não me respondeu. — Bufei e neguei com a cabeça. — Vamos para casa então. A aula hoje foi cansativa, mas está sabendo da maior? — Neguei de novo e continuei em silêncio deixando que Ellie falasse por nós duas. — A diretora já está anotando os nomes das pessoas que irão na viagem. Você vai não é?
— Não tenho interesse. — Falei mal humorada.
— Vai ser legal Isa. Podemos comer chocolates, ver filmes de terror e zombar das meninas que vão nadar de biquíni minúsculos no lago. — Soltei uma risada a contragosto e continuei andando.
— Vou pensar. — Falei para não magoar Ellie pois já tinha minha idéia formada. Eu não iria.
— Parece que o casal mais que popular de Prazeres voltaram. — Ellie apontou com a cabeça um ponto a frente e acompanhei o gesto. Meu mundo caindo naquele segundo.
Murilo e Belle bem próximos um do outro em um gesto íntimo e a diaba loira segurando os dois braços dele se insinuando.
Eu não sabia o quê sentir naquele momento. Se eu queria matar o Murilo ou se tentava juntar os pedaços quebrados que eram o meu coração.
Tentei não pensar em nada. Poderia ser uma coincidência e que tudo não passava de um engano, mas minha mente gostava de me sabotar e naquele momento ela gritava que eu era uma tola.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro