Capítulo 12 Ano 2010
Eu só quero que você saiba
Que eu encontrei uma razão para mim
Pra mudar quem eu costumava ser
Uma razão para começar de novo
E a razão é você.
Hoobastank
The reason
Dizer que eu havia me arrependido ao botar os pés para fora de casa não era nenhuma surpresa. Primeiro porque Ellie não parava de falar sobre seu porquinho da Índia de estimação e sobre os cuidados que ele tinha por ser tão sensível, e segundo porque nós éramos duas pé rapadas e não tínhamos um carro para ir até o local.
Meus pés estavam doendo por conta dos tênis apertados que eu usava, que prometi a mim mesma não usar nunca mais. Eu estava a ponto de cometer um crime contra Ellie que não parecia se abalar com aquele caminho que não tinha fim.
- Quando chegarmos lá já terá acabado. - Resmunguei e xinguei quando pisei em falso torcendo meu pé.
- Isso costuma começar tarde.
- E o que fazem lá afinal?
- Nada demais. Alguns conversam, dançam e todos bebem. - Torci os lábios com essa última sugestão.
Ponderei por um tempo as opções que Ellie me deu. Não queria conversar com ninguém, afinal ninguém costumava me enxergar. Gostaria de conversar com Ellie, mas se ela continuasse falando sobre seu rato doméstico eu ia surtar.
Dançar estava fora de questão, nem entrava em pauta para início de conversa. Eu era a pessoa mais sem coordenação motora da face da terra e não iria correr riscos de ser a chacota do ano.
Então sobrava a bebida, o que estava ficando cada vez mais atrativo conforme chegávamos no local. Não queria beber, mas se fosse para tentar me adpatar aquela era a melhor maneira e também a mais fácil.
- Argh não sei se consigo me manter aqui sem engravidar por tabela. - Ellie soltou em voz alta me chamando atenção para o cenário em minha volta.
Os alunos da escola Meier Pontes estavam em peso ali. Todos dançavam, caíam de bêbados ou estavam em algum estágio de nudez. Alguns se salvavam por estar somente conversando, mas era poucos gatos pingados.
- Você me trouxe para o inferninho Ellie? - Chocada era pouco para o que eu sentia.
- Ei, muita coisa mudou e eu só vim aqui uma vez, tudo o que soube era o que escutava nos corredores da escola. Pelo visto omitiram que era uma orgia. - Ela ajeitou o óculos e suspirou resignada. - Vamos embora.
- Não estou com bolhas nos pés à toa Ellie, como castigo vamos ficar. - Cruzei os braços e fechei a cara.
Ela assentiu e pegou na minha mão, na certa estava procurando um lugar para ficar o mais afastada possível da plena exibição de sexo gratuito em forma de dança que logo iria acontecer ali.
Vi de relance o grupo que Murilo costumava andar. Pareciam ser do time, pois estavam com seus casacos que dizia exatamente aquilo. Eles eram uns exibidos, era fato. Gostavam daquele pedaço de pano velho como se fosse um achado.
Só me estranhava que o líder deles não estivesse presente. Na certa devia estar com a namorada do mal. Pensar naquilo fazia meu coração apertar e um gosto amargo sobressair em minha língua.
Balancei a cabeça e tentei me concentrar no barril de bebida para o qual Ellie me levava pelo braço.
- Vamos conversar entre nós mesmas e beber para o tempo passar rápido. Assim eu posso voltar para o Alvin e contar sobre a minha mais recente aventura. - Ela abriu a pequena torneira e o líquido amarelado, que deduzi ser cerveja, saiu dali.
- Se você começar a falar do seu rato doméstico de novo te deixo sozinha aqui. - Falei pegando o copo azul de plástico de bebida de suas mãos e tomando um grande gole, me dando conta naquele momento de que estava sedenta.
- Ok, ok. Não vou mencionar Alvin e nem o quão fofo ele é. - Assenti e me sentei no chão coberto por terra.
Aquela cidade era tão decadente que o local nem asfaltado era. Na certa o prefeito deveria desviar verba para o seu próprio bolso, não iria me surpreender.
Tudo ali estava começando a me deixar irritada. A começar pelos moradores e terminar por todos os pontos locais.
- Estou pensando em fazer um cercadinho para ele, o que acha Isa? - Ellie tagarelava sem parar e eu apostava que era sobre o maldito rato doméstico.
- Faça o que lhe der vontade Ellie. - Dei a melhor resposta que consegui sem parecer uma cretina sem coração e me levantei. - Onde fica o banheiro, essa bebida me deu contade de fazer xixi.
- Você nem bebeu tanto.- Ellie levantou uma sobrancelha que apareceu mesmo por sobre seus óculos enormes.
Era verdade, Eu só bebi metade de um copo. A bebida tinha um gosto horrível e eu não gostava de beber sem parar e não ter o controle de meus atos, pois aquilo me trazia certas lembranças terríveis
A música era alta e, por mais que eu amasse please dont stop The music, aquilo já estava deixando minha cabeça doendo ou será que era o tanto de bebida que eu ingeri?
Bernardo dançava comigo, Seu corpo colado ao meu em uma dança lenta e sensual. Nunca fui muito boa dançando e minha coordenação motora era péssima, mas por ele eu fazia o esforço. E ele tinha total controle de seus movimentos, fazendo com que ficasse fácil acompanhá-lo.
Mas, naquele momento, eu só queria ir para casa. Meu estômago estava embrulhado e eu sentia que meu corpo já estava fora de meu controle. Estava a um passo do desastre bêbado e queria evitar. Afinal, não pegaria bem para minha imagem que a líder do time de basquete fosse pega fazendo besteiras em uma simples festa. Eu estava concorrendo a presidência do Conselho estudantil também, os votos iriam cair por conta dos filhos da puta julgadores.
- Preciso ir Be. Meu pai já deve estar me esperando.
- Você precisa ficar, a semana foi intensa para você e precisa relaxar. - Ele sussurrou em meu ouvido e suas mãos viajaram até o meu bumbum me fazendo sentir sua ereção contra a minha barriga.
O sentimento era de desconforto, mas joguei tudo aquilo para o fundo de minha mente e continuei dançando até sentir meu celular vibrando em meu bolso traseiro pela décima vez.
- Tenho que atender. - Me desgrudei de Bernardo e o vi fazer uma careta irritada para mim.
O ignorei e peguei meu celular vendo o número do meu pai no visor. Me afastei do barulho e achei um lugar silencioso perto de um banheiro minúsculo.
- Oi papai.
- Já está na hora Dora. Seu irmão estava te procurando e disse que não a encontrou e me pediu para vir te buscar pois ele estava com Elisa.- Revirei os olhos quando ele mencionou Elisa.
Ela era a namorada nerd do meu irmão, ele a adorava, já eu a odiava. Se achava a senhorita perfeitinha, digna de nunca errar. Ela era até legal, mas havia roubado toda a atenção do meu irmão, já não era possível fazer nada com Ian sem que Elisa estivesse junto e aquilo me irritava profundamente.
- Onde o senhor está?
- Em frente a casa do tal Bruno. Venha logo filha tenho que trabalhar amanhã. - Assenti, mesmo que ele não pudesse ver e desliguei.
Quando sai do banheiro, voltei para onde tinha deixado Bernardo, mas ele não estava lá. O procurei por toda parte e perguntei para todos na festa.
As pessoas estavam bêbadas e eu também estava. Meu andar trôpego dificultava minha locomoção por aquele tumulto e as luzes coloridas estavam me dando vontade de vomitar.
Nota mental: não beber nunca mais.
Vi Bruno, o dono da casa e da festa se agarrando com Cíntia e o cutuquei, não me importando de interromper o sexo gratuito que eles estavam dispostos a oferecer dali a cinco minutos.
- Você viu o Bernardo? - O questionei, ignorando a carranca dele.
- Foi para lá com a Clara.- Assenti e segui para onde ele apontava.
Ela deveria estar com problemas de novo, Bernardo só ficava com ela quando a mesma estava angustiada.
Andei por mais alguns minutos procurando os dois e nada vi até que escutei uma risadinha feminina e segui seu som.
Vi Bernardo atrás de uma árvore segurando o queixo de Clara em uma aproximação bem íntima para apenas amigos. Ela tinha um sorriso sensual estampado em seus lábios rubros e vi os dois fechando a distância. Meus pés fizeram um barulho, conforme eu esmagava folhas secas enquanto andava e Bernardo olhou para trás se afastando de um pulo de Clara.
- O que está acontecendo aqui?
- Nada amor. Clara estava me contando que o divórcio de seus pais saíram e eu estava apenas a consolando.
- Não me pareceu.
- Eu acho que você bebeu demais amor. Vamos vou te levar, vai embora não é? - Assenti.
Mesmo com a desconfiança batendo de um lado para o outro na minha cabeça, deixei quieto. Afinal eu havia bebido demais, meus pensamentos estavam meio confusos e não queria tirar conclusões precipitadas. Não era nada, apenas fruto da minha imaginação.
Segui o meu caminho por entre as árvores, ignorando totalmente as lembranças que insistiam em continuar me atormentando. Não sabia dizer o porquê de continuar pensando em minha antiga vida, mas parecia inevitável. Eu só queria ter uma perca de memória seletiva e apagar aqueles tempos que de nada me acrescentaram.
No local que eu estava não havia uma iluminação sequer, então julguei apropriado parar ali para fazer xixi. Teria pricacidade e não correria o risco de alguém me ver com as calças arriadas.
Mas mal coloquei a mão no botão de meu jeans e já escutei vozes alteradas ali bem perto. A vontade de me aliviar desapareceu e uma curiosidade sem igual tomou conta do meu corpo naquele instante.
Fui em direção aonde as vozes ficavam mais evidentes. O chão era íngreme e dificultava todo meu percurso, mas não desisti.
Cheguei perto do que parecia ser um lago e era bem afastado da fogueira. Olhei para trás e a mais intensa escuridão me saudou. Fora uma péssima idéia eu ia penar para achar Ellie, levando em conta se eu conseguisse sair dali.
Dei de ombros, já que estava na merda por conta de minha curiosidade, não custava xeretar a treta que se desenrolava de duas figuras que estavam mais adiante. E que, pelo tom das vozes, era um homem e uma mulher.
Me aproximei ainda mais, tomando o máximo de cuidado e olhando para onde eu pisava para não correr o risco de eles me verem.
Tapei a boca com as mãos para que um sussurro surpreso escapasse por meus lábios. Na minha frente estava Murilo e Belle. Ela gritava com ele e a expressão de Murilo era de pura fúria.
Ele falava algo mas era difícil de se ouvir por sobre os gritos histéricos da loira do mal.
Por fim, ele falou algo para ela e a diaba deu um passo apra trás, claramente ofendida. Queria ser uma mosquinha naquele momento para escutar o que ele disse de tão grave para ela. Belle o xingou e saiu dali, seus pés fazendo um som alto no chão. Tudo nela era chamativo, até a forma de falar. Só queria entender o porquê dela ser daquela forma, até para falar ela tinha que gritar.
Vi Murilo se sentar em uma grande rocha e colocar a cabeça por entre as mãos. Seu corpo exalava frustração e naquele momento eu senti pena dele. Não queria aquilo, mas parecia inevitável. Como sempre ele conseguia despertar algo em mim que até eu mesma não conseguia entender.
A vontade de me aproximar dele era grande, de conversar com ele, entender o porquê de tudo aquilo. Eu julgava a sua vida perfeita, mas ao que parecia nada era perfeito.
Sem que eu pudesse ter o controle de minhas ações, meus pés se moveram contra a minha vontade e eu me aproximava cada vez mais de Murilo. Eu não me sentia capaz de pensar por mim mesma, estava sendo sugada por minhas emoções e pela primeira vez, me sentia leve com aquilo.
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