38. Breve visita ao passado
"De forma intensa, mas suavemente, você coloca seus lábios contra os meus, somos o vício um do outro. Nossos sentimentos, eles vão fundo, é mais profundo que o toque... – Habitual, Justin Bieber."
JASON
Eu sabia que Lizzie podia odiar quando eu terminasse, mas resolvi arriscar mesmo assim. Apertei firme sua mão entre os travesseiros, aliviando meu tesão enquanto gozava bem fundo na sua boceta apertada e quentinha. Nossos olhares se cruzaram outra vez, e pressionei meu quadril contra o dela com ainda mais força, me certificando de jorrar o último jato de porra em seu útero. Nossas respirações estavam pesadas, mas ela apertou minha mão de volta, se derramando outra vez pra mim, pude sentir seu melzinho quente lambuzar todo o meu pau, antes de me retirar por completo dela.
Caí ofegante ao seu lado na cama, e ficamos em silêncio nos primeiros minutos, apenas tentando regular nossas respirações. Ainda não sabia como ela iria reagir ao que fiz, quando finalmente associasse o fato de que gozei dentro sem ao menos pedir sua permissão, mas tinha certeza de que seu corpo, assim como o meu, ansiava por isso. Nossa conexão era forte o suficiente para eu reconhecer, fora que seu último orgasmo era a prova de que ambos queríamos.
– Você é completamente louco! – ela sorriu, afastando uma mecha de cabelo do rosto suado – Isso foi... uma grande loucura!
– Você se amarrou, não foi? – ri fraco, olhando em sua direção – Três vezes... Gozou pra mim três vezes numa foda.
– Jason! – ela me repreendeu, extremamente envergonhada.
– Relaxa, e deixa eu limpar isso antes que seque... – abri a primeira gaveta na cômoda ao lado, onde peguei um lenço, e só então Lizzie pareceu perceber a goza que escorria para fora, lambuzando toda a sua boceta. Era uma delícia de ver – A propósito, você toma anticoncepcional, não é?
– Nós transamos sem camisinha pela manhã, e agora você gozou dentro de mim, mas nem tinha certeza se eu tomava? – ela cerrou os olhos, com um sorriso zombeteiro nos lábios – Não pensou no que podia acontecer se eu não tomasse?
– Convenhamos que é meio difícil pensar quando se está excitado. – justifiquei, me concentrando ao máximo para não ficar de pau duro outra vez, enquanto limpava cuidadosamente os lábios da sua boceta delicada – E também, não acho que seria tão ruim assim se...
– Tá de brincadeira, né? – sua testa franziu, e não consegui conter a risada.
– É claro que sim, Liz! – sacudi a cabeça – Eu não quero ser pai, só não pensei direito, porque você me deixou muito excitado. Mas o importante é que toma anticoncepcional, então está tudo bem.
– Não está tudo bem. Da próxima vez, – seus pelos eriçaram com o toque suave dos meus lábios em sua barriga – pelo menos pergunta se eu quero antes.
– Ah, mas você queria, sabe disso. – beijei um dos seus seios, e suas mãos se meteram entre meus cabelos – Aquela carinha fodida que fez me pedindo pra gozar... Estava quase implorando por isso, vai negar?
– E-eu... – suas mãos tocaram meus ombros, me dando um leve empurrão – Deixa de ser idiota, e não faz mais isso sem me avisar!
Caí ao seu lado outra vez, dando risada, mas logo lhe puxei para junto de mim, assim bem como as cobertas, pois a chuva ainda castigava lá fora fazendo o tempo esfriar bastante. Envergonhada, Lizzie afundou seu rosto em meu peitoral numa tentativa de fugir do meu campo de visão e, ao perceber seus ombros encolherem, tratei logo de me recompor, passando a afagar seus cabelos carinhosamente.
– Hey, não precisa ficar assim... Eu já entendi, não vou fazer de novo a não ser que você peça. – tentei chamar sua atenção – O que foi? Você não curtiu?
– Esse não é o ponto, Jay. – seus dedos começaram a desenhar aspirais imaginários em meu abdome – Eu só estou um pouco preocupada.
– Mas você disse que toma anticoncepcional... – franzi a testa, um pouco confuso.
– Não com isso, seu irresponsável! – seu olhar finalmente veio de encontro ao meu – Tenho que voltar pra casa amanhã e encarar tudo de novo, mas eu acho... Eu só queria ficar aqui um pouco mais com você.
– Não tem mesmo como você ficar nem só mais um dia? – toquei seu queixo com o indicador, puxando seu rosto um pouco mais para cima.
– Eu não sei, a minha mãe está uma fera. – respondeu ela, sem muito ânimo.
– Então, tecnicamente, não tem como piorar. – comentei vagamente.
– Ah, pode apostar que tem sim. – retrucou Lizzie – Só... Me promete que não vai sumir de novo?
– É isso que está te incomodando? – arqueei as sobrancelhas, apertando seu queixo entre meu polegar e indicador.
– Eu acho que sim. – a vi passar uma mecha de cabelo para trás da orelha, enquanto suas bochechas ganhavam um tom mais rosado – Quer dizer, você sempre está aqui quando as coisas apertam, e não te ter por perto é tão... estranho.
– Então, você está admitindo que não consegue mais ficar longe de mim? – fiz uma curta pausa, só para saborear melhor sua reação as minhas palavras – Sabe, deve ser o meu charme, ninguém resiste.
– Você é absurdamente idiota, Jason Davis! – Lizzie sorriu largo, voltando a deitar sua cabeça em meu peitoral – Mas é, provavelmente só durmo com você por conta do seu "charme".
– Claro, e o fato de eu te dar três orgasmos na mesma noite não tem nenhuma ligação com isso. – ironizei, voltando a afagar seus cabelos.
– Um dia, esse seu ego vai ficar tão grande que vai te engolir inteirinho. – ela entrelaçou uma das suas pernas entre as minhas, e me fez rir anasalado – Mas eu não posso negar que tudo fica melhor quando você está comigo, então não some de novo...
Naquele momento, um pressentimento ruim me ocorreu, mas apenas fiquei em silêncio, não queria preocupá-la ainda mais. Além disso, provavelmente era só a culpa pesando como sempre, então depositei um beijo no topo da sua cabeça, e continuei afagando seus cabelos macios enquanto me permitia mergulhar em meus próprios pensamentos conturbados. Lizzie também não falou mais nada, e só depois de alguns minutos notei que ela havia adormecido.
Mas, àquela altura, o sono já tinha me escapado por completo sem que eu nem percebesse, e os malditos pensamentos fervilhavam em minha cabeça. Eu precisava relaxar um pouco, por isso peguei um cigarro e um isqueiro na cômoda ao lado da cama, o qual logo acendi com cuidado para não acordar a Lizzie. Pelo visto, minha noite seria mais longa do que eu imaginava...
LIZZIE
Meus olhos entreabriram algumas vezes, antes de eu discernir o barulho de um motor ligado que aparentemente vinha lá de fora. No momento seguinte, me dei conta de que abraçava um travesseiro e, ao me virar, logo notei que estava sozinha na cama. Um suspiro pesado me escapou ao olhar por baixo das cobertas e constatar que eu estava mesmo nua, então me cobri bem, enquanto me sentava tentando associar as lembranças da noite passada com Jason, as quais inundavam minha cabeça, me causando um discreto friozinho gostoso na barriga.
"Você me faz se sentir vivo... Não gosto de mais ninguém além de você, pequena... Eu gostaria de ter te conhecido antes... Se eu pudesse voltar no tempo, talvez tivesse sido o cara certo... Você é a melhor coisa que já me aconteceu...", sua voz rouca ecoava doce em meus ouvidos. Como resposta involuntária, apertei firme o nó dos lençóis em volta do meu corpo, e lentamente toquei meus lábios com as pontas dos dedos, sorrindo boba. Eu não estava ficando louca, nossa conexão ontem, as coisas que Jason disse pra mim, o jeito que ele me olhava... Dava para sentir a intensidade de cada toque, cada beijo.
Mordi meu lábio inferior, sorrindo igual uma idiota, enquanto me permitia sentir aquele calor agradável em meu coração outra vez. Não era como se todas as peças tivessem se unido de repente, os cacos ainda estavam lá, mas acontece que Jason me ajudava a suportar a dor, era como se nada mais importasse quando eu estava com ele. Acho que era assim para nós dois, não é mesmo? Estremeci, olhando rápido em direção a janela, quando tive meus pensamentos interrompidos pelo barulho do motor que ressoou outra vez.
Cocei os olhos, me dando por vencida já que alguém parecia empenhado em me fazer acordar. Então, logo me levantei da cama, mas posso ter me arrependido no segundo em que senti o choque dos meus pés no assoalho gelado, o que fez todos os pelos do meu corpo eriçarem de uma só vez. Em seguida, tratei de saltar no tapete quentinho mais à frente, observando que alguns pedaços de lenha ainda terminavam de queimar na lareira. Me agasalhei melhor entre as cobertas quentinhas, e afastei um pouco da cortina para dar uma breve espiada no que acontecia lá fora.
A primeira coisa que notei foi que a neblina densa estava quase por terra, cobrindo a maior parte das árvores. Mas, ainda assim consegui avistar Jason sair do carro e bater a porta com força, parecia levemente irritado, e eu posso não ter identificado o motivo nos primeiros cinco segundos. No entanto, logo avistei a poça de lama onde os pneus estavam enterrados, o que rapidamente me fez lembrar do temporal que caía pela noite. Aquilo era bem ruim e me arrancou um longo suspiro pesado, então me afastei da janela, me dirigindo para a cama outra vez.
Estranhamente algo estava me incomodando agora, e acho que não era o fato do carro estar atolado, quer dizer... Eu até entendia a gravidade do nosso problema, mas a única questão que corria na minha cabeça é que Jason não gostava de acordar tão cedo, então por que já havia saltado da cama? Mal terminei de formular a questão em minha cabeça, e meus olhos encontraram seu relógio de pulso sobre a mesinha de cabeceira. Para a minha total surpresa, os ponteiros marcavam quase 8am, indicando que não era tão cedo quanto eu imaginava.
– Pois bem, vamos logo tratando de acordar de uma vez. – falei para mim mesma, e logo catei uma camisa no chão.
Me livrei dos lençóis, e rapidamente vesti aquela peça, assim bem como uma das cuecas boxer de Jason, na qual precisei dar um nó no elástico para que não ficasse descendo. Em seguida, adentrei o banheiro, onde fiz minhas higienes matinais, e confesso que me surpreendi por termos água quentinha nos canos essa manhã, acho que alguém tinha acordado cedo o suficiente para consertar o problema com a água gelada. Sendo assim, resolvi preparar a banheira para tomar um bom banho, afinal depois da noite quente que tive, meu corpo precisava relaxar.
Já terminava de acrescentar alguns sais de banho, quando ouvi o ranger da porta da frente ao abrir e fechar, o que arrancou um sorriso involuntário dos meus lábios. Era notável que os meus pensamentos ainda estavam imersos no quão intenso as coisas ficaram entre nós dois ontem. Não demorou até que escutei os passos de Jason pela cabana se aproximando de onde eu estava agora e, ao me virar, avistei sua figura parada bem na porta do banheiro. Sua calça estava suja de lama até quase os joelhos, e também havia alguns respingos por sua camisa e braços.
– Eu acordei você? – perguntou ele, limpando a lama das mãos com uma toalha.
– Mais ou menos. De qualquer jeito, já está tarde, eu precisava acordar. – tentei acalmá-lo – Não se preocupe com isso.
– Certo. – ele cruzou os braços – Tenho uma má notícia...
– Ah, é... Eu vi que o carro atolou. – o interrompi – Mas podemos pensar numa solução depois do café, o que acha?
– Espera, você não está chateada? – Jason pareceu incrédulo quando neguei com a cabeça.
– E com o quê exatamente eu estaria chateada? – questionei risonha, tratando de me aproximar um pouco mais dele – Com o temporal de ontem? Eu devia sair e começar xingando o clima e as forças da natureza?
– É, por aí... – suas mãos alcançaram meus quadris, e as minhas pousaram em seu peitoral – A Lizzie pilhada que eu conheço faria exatamente isso, e talvez socasse uma pobre árvore indefesa pelo caminho.
– Você é tão idiota, Jason! – lhe dei um leve empurrãozinho, mas logo lhe puxei de volta ao meu encontro – Sabe, eu acabei de preparar um banho quentinho, podemos relaxar um pouco enquanto pensamos numa solução, o que me diz?
Espalmei minhas mãos vagarosamente pelos seus ombros largos, até entrelaçar meus braços em seu pescoço. Em resposta, ele apertou firme meus quadris, selando meus lábios logo em seguida, o que me fez sorrir boba. Seus olhos caramelados se fixaram aos meus, provocando um arrepio delicioso por todo o meu corpo, e sem que eu percebesse Jason já me conduzia mais a dentro pelo banheiro. Arfei baixinho quando suas mãos grandes me fizeram virar, e seu peitoral logo esbarrou em minhas costas.
Um tanto confusa, tentei olhá-lo por cima do ombro, mas estremeci com a proximidade dos seus lábios em meu pescoço, o que me fez voltar a olhar para a banheira bem a minha frente. Cerrei meus punhos com força ao sentir as pontinhas dos seus dedos deslizando pelas laterais das minhas coxas, e numa provocação fodida de gostosa Jason mordiscou o lóbulo da minha orelha. Sem pressa, ele começou a empurrar minha camisa para cima, à medida que desenhava minhas curvas por baixo do tecido, até que eu mesma terminei de me livrar daquela peça.
– Boa garota! – sua voz rouca soou em meu ouvido, antes dele se afastar um pouco para se livrar da sua camisa também.
Senti minhas bochechas esquentarem de vergonha por estarmos nos despindo um na frente do outro, mas segurei a minha onda e retirei a cueca que eu havia vestido quando acordei. Assim terminei de prender meus cabelos em um coque alto, Jason me ajudou a entrar na banheira, me acompanhando em seguida, por sorte a água estava mesmo quentinha e agradável. Assim que nos sentamos, um pouco d'água escapou para fora e eu me aconcheguei melhor entre suas pernas, repousando minhas costas em seu peitoral.
Ficamos em silêncio por um tempo, eu apenas agitava a superfície da água, fazendo mais bolhas aparecerem, e Jason me observava quieto. Em certo momento, deitei minha cabeça em seu ombro, fechando os olhos enquanto sorria leve, ouvindo o canto dos pássaros lá fora, bem como o vento sacudindo as folhas das árvores. Aquele lugar era tão calmo, afastado de toda a loucura e correria da cidade, eu queria mesmo poder ficar ali por mais tempo, talvez de uma próxima vez.
– Jay, – chamei sua atenção, cortando o silêncio entre nós dois – posso te fazer uma pergunta?
– Olha, eu ficaria surpreso se você não me fizesse nenhuma. – ele riu fraco, e eu rolei os olhos dando uma leve risadinha.
– É sério, eu só... – me auto interrompi, sentindo um friozinho de nervoso surgir na minha barriga – Eu queria saber se... – encolhi os ombros, extremamente envergonhada – É melhor não, deixa pra lá.
– Como assim? – Jason franziu a testa, e eu rapidamente desviei o olhar – Eu só estava brincando, você pode terminar a pergunta. Sabe disso, não é?
– Claro, mas era só bobagem. – me afastei para alcançar a esponja de banho fora da banheira, mas ele foi mais rápido nisso.
– Não importa, agora eu quero saber. – sua voz rouca fez meus pelos eriçarem dos pés à cabeça – Vamos lá, pode me dizer qualquer coisa, pequena.
– Não é isso, é que... – o olhei devagar por cima do ombro, ao passo que meus batimentos aceleravam dentro do peito – Você vai me achar uma idiota, e vai rir de mim.
– Hey, o posto de idiota é meu, eu ralei muito pra conseguir. – ele me arrancou um leve sorriso – Não é assim que você vai tomar de mim, então relaxa com isso.
– Tá legal, mas se você fizer piada, eu juro que te mato. – tentei soar engraçada, mas não sei se deu muito certo – Provavelmente foi culpa do vinho, mas eu queria saber se ontem a noite, o que rolou entre nós dois... foi especial pra você?
– Como assim especial? – Jason cerrou os olhos, e senti minhas bochechas esquentarem feito brasas numa fogueira.
– Droga, eu sou tão estúpida! – resmunguei baixo, me virando para frente outra vez.
– Não, você não é. Só responde a minha pergunta, Lizzie... – insistiu ele, um tanto inquieto agora – O que quer dizer com "especial"?
– Eu não sei, tá legal? – minha voz soou meio embargada, e tive vontade de sair correndo daquela banheira – Não sei por que pensei que tivesse sido mais que sexo pra você. Não faz o mínimo sentido, eu que sou muito...
– Nunca foi só sexo com você. – sua destra tocou suavemente a lateral do meu braço, e todo o meu corpo estremeceu.
– O quê? – olhei para baixo, antes de olhá-lo novamente por cima do ombro – O que você disse?
– O que você ouviu, eu tenho um tesão fodido por você, mas nunca foi só sexo pra mim, pequena. – Jason tocou carinhosamente o meu rosto, espantando as lágrimas que se acumulavam subindo quentes por minha garganta.
– Mas você disse que só queria uma coisa de mim, e eu pensei...
– Eu não sabia exatamente o que queria, até ter você pra mim. – ele me interrompeu, se aproximando outra vez – Você fode a minha cabeça, Lizzie, de um jeito que ninguém nunca conseguiu, e eu não sei como ainda não percebeu. Mas acho que a culpa é minha, então me desculpe se te fiz se sentir mal, eu só não achei que você se importasse tanto com isso.
– Bom, eu acho que não sabia que me importava até agora. – fui sincera e, por mais estranho que soasse, encontrei compreensão em seu olhar.
Sem dizer mais nada, seu rosto se aproximou devagar do meu, até seus lindos olhos caramelados recaírem aos meus lábios, me arrancando um discreto arrepio antes mesmo de nos beijar. Fechei os olhos lentamente, apenas me permitindo aproveitar seus carinhos, sem culpa ou caraminholas para me atrapalhar dessa vez, porque agora eu tinha certeza de que era mesmo especial para nós dois, do nosso jeito meio torto e perturbado, mas era.
Sorri boba ao rompermos aquele contato e, assim que me virei para frente, Jason me puxou para junto de si outra vez, passando a esfregar carinhosamente meus ombros com a esponja de banho logo em seguida. De alguma forma, ele fez meu coração se aquietar dentro do peito, e fui tomada por uma agradável sensação de leveza, era quase como se nada mais importasse, como se estar ali com ele já bastasse, e talvez fosse isso mesmo.
– Já pensou em pedir ajuda? – questionei, após um bom tempo em silêncio.
– O quê? – Jason pareceu confuso.
– Sabe, com o carro... – especifiquei – Talvez seus vizinhos possam nos ajudar.
– Bom, não achei que você fosse querer falar com os avós do merdinha do seu ex-namorado estuprador. – suas palavras secas me fizeram sentir um calafrio desconfortável subir pela espinha.
– Prefiro pensar neles como velhos amigos do seu pai, caso não se importe. – me afastei um pouco, alcançando meu sabonete.
– Foi mal, eu... – Jason fez uma pausa – Você tem razão, mas talvez não seja uma boa ideia.
– Por que não? – o olhei por cima do ombro – Você disse que eles eram boas pessoas, acha que não ajudariam?
– Não é isso, eles ajudariam sim, mas... – seu olhar desviou do meu – É que ontem nos convidaram para o café.
– Me ajuda, porque eu não sei onde isso pode ser ruim. – arqueei as sobrancelhas.
– Só não é uma boa, além do mais podem surgir perguntas que incomodem você, e sabe do que estou falando. – ele voltou a me encarar.
– Bom, talvez não surja nenhuma pergunta se eu deixar claro que não quero falar sobre o assunto. – tentei soar o mais confiante possível.
– E como exatamente você pretende fazer...
– Assim! – o interrompi com um selinho – Ou talvez assim... – beijei seu pescoço carinhosamente – E se achar que não é o suficiente, você pode me apresentar como sua namorada, eles são adultos, aposto que vão entender o recado.
– É, isso parece ser o bastante... – vi um discreto sorriso surgir em seus lábios, e não consegui conter o meu.
Em resposta, Jason se precipitou a me roubar outro selinho, acho que ele tinha adorado a ideia, e não me parecia mesmo ser ruim. Seguimos nosso banho de forma agradável, entre carinhos e risadas, eu realmente adorava fazê-lo sorrir, mas não passou disso. Acho que nossa noite tinha sido intensa o suficiente para nós dois e, apesar de tudo, ele sempre respeitava os meus limites, ou os momentos em que eu só queria um pouco de romance. Nosso tempo na banheira se estendeu até a temporada da água começar a baixar, o que infelizmente nos obrigou a finalizar o banho.
Acho que mais alguns minutinhos ali dentro, e nossa pele enrugaria toda. Jason saiu primeiro, depois trouxe sua mochila e me deixou a vontade para que eu vestisse minhas roupas no banheiro. Acabei por escolher um vestido longo de mangas compridas, com discretas estampas de ramos espalhadas pelo tecido branco de malha leve. Adorei o detalhe do decote quadrado, isso sem falar na fenda que remetia um certo tom sensual a peça. Nem preciso dizer que caiu como uma luva em meu corpo, um tanto justo em meus seios e cintura, mas nada que chegasse a ser vulgar.
Posso dizer que, apesar daquele vestido não ser meu, eu gostei do resultado, fazia bem o meu gosto. Por isso mesmo, também decidi usar as maquiagens que Jason havia conseguido para mim na boate. Não fiz nada muito exagerado, afinal não era necessário, então apenas realcei meus olhos e o leve rubor em minhas bochechas. Nos lábios, completei com um gloss levemente rosado e, para finalizar, soltei meus cabelos, agradecendo internamente por estarem comportados essa manhã. Antes de deixar o banheiro, me olhei uma última vez no espelho, confirmando que estava mesmo bom.
– Vamos? – questionei risonha ao passar pela porta, me apressando em estender a toalha na poltrona ao lado da lareira.
– Espera aí, você vai assim? – foi a primeira coisa que Jason observou ao se virar em minha direção.
– Sim, algum problema? – tentei conferir se estava tudo certo comigo, e ouvi seus passos vindo em minha direção.
– Não, só... – suas mãos agarraram carinhosamente meus quadris, o que fez meu olhar se direcionar ao seu – É que você está muito gostosa!
– Ah, pelo amor de Deus... – rolei os olhos numa risadinha – Achei que fosse algo sério.
– Estou falando sério, pequena. – seus olhos caramelados esquadrinharam meu colo, até finalmente mergulharem nos meus – Se há algumas semanas, alguém me dissesse que Lizzie Andrews estaria presa comigo numa cabana no meio do nada, sem surtar uma única vez, eu juro que mataria o infeliz por ser completamente louco.
– Você é tão dramático. – ri fraco, pousando minhas mãos em seu peitoral – Não adiantaria nada surtar com você. Admita, minha ideia de pedir ajuda foi muito melhor, e isso te deixou impressionado.
– Não mais que as suas curvas nesse vestido, pode apostar. – sua destra se precipitou a apertar uma das minhas nádegas, e senti minhas bochechas esquentarem violentamente.
– Jason! – lhe dei um leve empurrãozinho, e ele se adiantou a me puxar pela nuca, selando meus lábios em meio a um sorriso sacana – Você é tão idiota!
– Não tenho culpa das suas provocações, mas acho que é melhor se comportar agora, mocinha, temos que ir. – ele deu um passo para trás ao me soltar, e eu franzi a testa.
– Ah, eu estou provocando aqui? Eu? – questionei incrédula, lhe arrancando um discreto sorriso.
– Claro, é sempre você. – Jason deu de ombros, e se virou seguindo em direção à porta – Precisa se controlar mais, me sinto como um pedaço de carne fresca ao seu lado, mas sabe, eu tenho sentimentos.
– Quer saber, acho que eu estava errada... – comentei, tratando de segui-lo para fora da cabana – Você não é só um idiota, é o maior de todos os idiotas!
– Isso quer dizer que eu ganhei uma promoção? – zombou ele, só para me provocar um pouco mais – Hey!
Esbarrei nele, lhe dando um empurrãozinho para o lado ao passar a sua frente, e uma risada involuntária escapou por entre meus lábios. Assim que pisei na modesta varanda, uma brisa gélida soprou meu rosto, esvoaçando meus cabelos, e logo ouvi a porta bater atrás de mim. Mas, antes que pudesse alcançar os rústicos degraus de madeira a frente, os braços de Jason se entrelaçaram a minha volta, ele beijou minha bochecha, me fazendo sorrir ainda mais largo.
– Vai precisar disso, pequena. – ele me soltou e, assim que olhei em sua direção, o vi colocar sua jaqueta sobre meus ombros – Está bem frio aqui fora, então vamos logo, antes que comece a chover de novo.
– Ah, certo. – tratei de vestir aquela jaqueta, enquanto descíamos os degraus – E obrigada, Jay.
Me agarrei ao seu braço, entrelaçando meus dedos aos seus, à medida que segurava firme a sua mão, o que por algum motivo causou um arrepio que subiu por todo o meu braço até a minha nuca. E, a julgar pelo seu olhar que rapidamente recaiu sobre mim, acredito que ele sentiu o mesmo que eu. Bom, aquela não era a primeira vez que dávamos as mãos, mas confesso que parecia ser diferente agora. Contudo, por mais forte que fosse a estranha sensação, eu não sabia explicar exatamente o que significava, apenas tinha certeza de que era algo bom.
Sorri tímida, e Jason logo apertou a minha mão de volta, como se quisesse checar se estava tudo bem, eu assenti em resposta e seguimos caminho, aparentemente pela trilha menos enlameada dentre as outras a vista. O vento estava forte e soprava as folhas das árvores mais altas, produzindo aquele típico chiado da natureza a nossa volta, confesso que se estivesse caminhando sozinha por ali, aquilo seria assustador, mas felizmente esse não era o caso.
Após quase dez minutos na trilha, pude ouvir o barulho de água mais a dentro na mata, e lembrei que Jason havia explicado que existia um riacho ali perto ao qual gostaria de me levar para conhecer em outra oportunidade, de imediato eu concordei com a ideia. Também não custou até que avistamos uma linda chácara mais a frente, e eu pude constatar que ele não mentira quando disse que a casa dos Gibson não ficava muito longe da cabana onde estávamos.
– Você tem certeza mesmo disso? – Jason me encarou, antes de subirmos os degraus da varanda.
– É claro, vamos logo. – lhe puxei pelo braço em direção a porta, na qual bati, evitando assim que o nervosismo crescesse ao ponto de me impedir.
Senti o olhar surpreso de Jason recair sobre mim, mas fingi não me importar e continuei olhando fixo para frente, enquanto escutava os passos dentro da casa se aproximando apressados. Não demorou nada até que finalmente a porta foi aberta, nos dando a visão do alto e simpático senhor gentil que nos trouxe cobertas pela noite.
– Eu sabia que viriam! – disse o velho homem, com um largo sorriso nos lábios – Venham, entrem.
– Obrigado, Sr. Gibson. – Jason deu o primeiro passo para dentro, eu o acompanhei – Nos desculpe pela demora, mas tivemos um problema com o carro.
Ambos deram as mãos, num cumprimento respeitoso.
– Não demoraram nada, meu filho. Marie está na cozinha, tirando o bolo do forno agorinha mesmo. – explicou o homem entusiasmado a nossa frente – E você, querida, há quanto tempo...
– É, bastante... – forcei um sorriso ao apertar a sua mão – Como estão as coisas?
– Por aqui está tudo muito bem, mas faz um tempo que não recebemos notícias de Seattle, você tem novidades de lá? – suas sobrancelhas arquearam, e eu engoli em seco.
– Receio que não. – Jason respondeu por mim, me abraçando sutilmente pelos ombros – Lizzie está em Shadowtown há quase um ano, nos conhecemos no colégio.
– Agora está explicado. – Marie surgiu da cozinha, trazendo um bolo em mãos – E se me permitem dizer, formam um belo casal.
– Ah, obrigada. – sorri, sentindo minhas bochechas esquentarem.
– Não me agradeça, querida, é só a verdade não é mesmo, Ray? – ela colocou o bolo no centro da mesa, cercado por frutas, torradas, dentre várias outras coisas.
Era praticamente um banquete de café da manhã.
– Claro que sim! – concordou o Sr. Gibson – Você tirou as palavras da minha boca, querida.
– Ora, que modos os meus... – a vi limpar as mãos no avental, enquanto se aproximava apressada – Sejam muito bem-vindos!
Ela me envolveu num abraço afetuoso, depois fez o mesmo com Jason. Mas, ao soltá-lo, Marie segurou seu rosto entre as duas mãos e sorriu admirando seus olhos.
– Oh, você está tão crescido, querido. – disse ela, em tom carinhoso – Quando foi que o meu menininho magricela esticou tanto assim?
– Ora essa, deixe o garoto em paz, Marie. – o Sr. Gibson deu uma risada, e a segurou pelos ombros.
– Ah, que coisa, Raymond. – ela se afastou, secando as lágrimas nos cantos dos olhos – Ele já é um homem, olhe bem, nosso garoto é um homem feito. Quando foi que o tempo passou tão rápido assim?
– Não vá chorar por isso, mulher. – pontuou seu marido – Estamos felizes em recebê-los, não é mesmo?
– Que pergunta, é claro que sim! – respondeu Marie, no mesmo instante – Venham, tomem seus lugares à mesa, eu preparei um café reforçado para hoje. Espero que ainda goste de bacon tanto, quanto me lembro, Jason querido.
– É, eu ainda adoro bacon, Sra. Gibson. – disse ele, depois me olhou um tanto envergonhado.
Não sei se pela recente revelação quanto ao bacon, ou se pelo fato de estar sendo educado e gentil com outras pessoas na minha frente, mas se fosse para chutar, eu escolheria a segunda opção. Aqueles dois senhores pareciam nutrir um carinho enorme por Jason, quase como se fossem seus avós, ou até mesmo seus pais, o que me soava fofo de um jeito especial, eu não me lembrava de vê-los tão entusiasmados em Seattle com o próprio neto, deviam mesmo estar com saudades.
– Então, quando chegaram vocês falaram sobre um problema com o carro mais cedo... – observou o Sr. Gibson, assim que todos nos sentamos à mesa – O que aconteceu exatamente?
– A chuva de ontem deixou o solo bem alagado, e as rodas atolaram na terra. – explicou Jason, enquanto Marie me servia suco de laranja – E por falar nisso, precisamos do telefone para pedir um reboque, nossos celulares ficaram sem área essa manhã, e aquilo está mesmo feio.
– Obrigada. – sorri doce, e ela assentiu.
– Sem problemas, depois do café podem usar o telefone. – afirmou Raymond, servindo café preto em sua xícara.
– Eu agradeço. – Jason assentiu com a cabeça.
– Certo, certo. Mas então, que bons ares te trouxeram aqui, rapaz? – o velho homem parecia um tanto curioso agora.
– Lizzie precisava respirar um pouco, longe da correria da cidade. Achei uma boa ideia trazê-la aqui. – Jason tocou discretamente minha coxa por baixo da mesa, e eu rapidamente assenti.
– Sabem como é... As provas finais chegando, e toda a pressão com a carta de aceitação da universidade. Eu estou a flor da pele. – menti descaradamente, o que pareceu funcionar bem.
– Eu imagino que sim, mas tenho certeza que vai dar tudo certo, querida. – acrescentou Marie, de forma doce e terna.
– É o que eu sempre digo a ela, não é mesmo? – Jason forçou um sorriso, e eu fiz o mesmo, confirmando com um aceno de cabeça.
Dali em diante, uma conversa leve e agradável se estabeleceu na mesa, e a primeiro momento eu mal reconhecia o cara simpático ao meu lado, Jason parecia bem relaxado enquanto respondia todas as perguntas do Sr. e Sra. Gibson, o que era estranho, mas também agradável. Quando Marie começou a relembrar episódios da infância dele, até mesmo risadas pude ouvir de sua parte, era impossível negar que existia uma forte ligação ali, e acho que eu estava feliz por vê-lo tão contente com aquelas pessoas.
Nada sobre Luke foi citado, era como se com a presença de Jason eles mal lembrassem que tinham um neto, e sinceramente eu agradecia em silêncio por isso. Meu estressadinho tinha mesmo razão, ambos eram ótimas pessoas, completamente diferentes do neto repulsivo que tinham. A certo ponto, até me esqueci de que aqueles dois tinham parentesco com aquele idiota, pois o clima era tão leve e aconchegante, quanto estar na casa da vovó Dália.
Sobre a comida que nos serviam, tudo estava impecavelmente delicioso, mas como observado no início quando chegamos, era muita coisa e não demos conta de tudo, então acabou sobrando bastante daquele banquete sobre a mesa. Por sorte, Marie não pareceu desapontada como talvez minha avó se sentisse, pelo contrário, ela prontamente se ofereceu para embalar lanchinhos para a viagem assim que terminamos o café. Jason pediu permissão novamente para usar o telefone, e eu me adiantei a ajudar com os pratos na cozinha.
– Não precisava fazer isso, querida. – Marie secava os pratos que fiz questão de lavar como uma pequena forma de agradecimento.
– Ah, não se preocupe, não é nada. – sorri doce, sem mostrar os dentes.
– Você é uma boa menina, é mesmo. – comentou ela – Eu soube disso assim que te vi pela primeira vez, e se quer saber me sinto mais aliviada agora que está com o Jason, ele é quase um filho pra mim, já que não pude ter os meus. Não me leve a mal, eu amo o neto do Raymond, mas também conheço o pai dele e o histórico de agressões com a mãe do Luke. Pobre mulher, sofreu uns bocados. O que eu quero dizer é que, o garoto não teve lá os melhores exemplos, e peço desculpas se ele tiver causado algum transtorno.
– Ah, eu... agradeço sua preocupação. – tentei não olhar diretamente para ela, enquanto pensava numa forma de desviar daquele assunto – Apesar de termos nos conhecido sob outras circunstâncias, não pude deixar de notar que vocês tem um carinho especial pelo Jay, e ele por vocês.
– Oh, sim, Jason é o nosso menino. Ele sempre vinha nos visitar antes... – ela fez uma curta pausa, olhando em direção a janela, lá fora o Sr. Raymond e ele conversavam tranquilamente – Bom, as coisas costumavam ser diferentes antes da infeliz tragédia com o Martin.
– Como ele era? – Marie franziu a testa com minha pergunta vaga e repentina – É que hoje o Jay pareceu diferente, mais feliz do que de costume. Então, como ele era antes?
– Vejamos, lembro que Jason sempre andava com o pai para todo lado. – ela riu fraco – Os dois eram muito ligados, e ele não dava nenhum trabalho apesar de ser bem novo. Era uma criança doce e amável.
– A senhora conhece ele há tanto tempo assim? – assumi uma postura mais interessada naquela conversa.
– Ora, claro que sim. Conheço os Davis desde o ano em que Martin entrou para a divisão do Ray. Meu marido era o capitão da 27ª delegacia de polícia de Shadowtown. – ela se virou para guardar alguns pratos no armário – Os gêmeos não tinham mais de quatro anos naquela época. Jordan era o mais trabalhoso, deixava a pobre Susana de cabelo em pé.
– Sério? – era meio estranho pensar que há um tempo atrás, eu nem mesmo conseguiria imaginar aquilo.
– Sim, mas eu não a culpo, era tão novinha, mãe de primeira viagem, sabe? – ela justificou em defesa – Deve ter sido bem desafiador ter logo dois meninos de uma vez. Não sei se eu teria dado conta.
– Ela é mesmo incrível. – concordei, sem pensar duas vezes.
– É o que eu diga. – a Sra. Marie tornou a se virar em minha direção – Naquela época nós éramos vizinhas, então eu sempre via os meninos. Eram uma família adorável.
– Ah, é mesmo? – sequei as mãos, após lavar o último prato.
– Sim, querida, bons tempos eram aqueles. – ela passou a toalha por cima do ombro, e se escorou com um de seus braços no balcão – Me lembro que os dois meninos sempre levaram jeito com os esportes, mas em modalidades diferentes. Martin se gabava para todos os amigos no trabalho, ele tinha muito orgulho dos filhos.
– Eu imagino que sim. – me aproximei dela outra vez, assim que fez sinal para que eu me sentasse num dos banquinhos.
– Eu e Raymond estávamos no primeiro jogo do Jordan, assim bem como na primeira luta do Jason. – Marie se sentou de frente para mim – Eram uns pitoquinhos de gente, mas em campo, ou no ringue levavam tão a sério que pareciam aqueles grandes profissionais que passam na TV.
Ela me arrancou um fraco sorriso, eu já imaginava mesmo que assim como Jordan em campo, Jason também havia começado bem cedo nos ringues. Isso explicava todos aqueles troféus e medalhas de ambos os dois, a diferença é que Jordan mantinha os seus bem organizados numa prateleira em seu quarto, enquanto Jason fazia questão de deixá-los mofando numa caixa no meio do nada.
– Mesmo depois que nos mudamos para outra casa, Jason fazia questão de nos convidar para assistir suas lutas. – não pude deixar de perceber o quanto a voz de Marie soava emotiva – Ele sempre dava um jeito, fosse por ligação, ou atravessando a cidade em sua velha bicicleta surrada.
– Ele parece mesmo gostar muito de vocês dois. – forcei um sorriso, e ela logo assentiu – Foi a primeira vez em que o vi se referir com "senhor" e "senhora" à alguém. Isso deve significar muita coisa.
– O pai dele ensinou assim. Martin não era só um bom policial, mas também um querido amigo, e um excelente pai. – Marie se deteve a explicar – Ele queria que os meninos crescessem com bons exemplos, para que se tornassem bons homens no futuro. E sempre dizia que Raymond era um grande homem, um exemplo a ser seguido. Jason ouvia muito o pai, e acabou desenvolvendo carinho e respeito por nossa família, o qual sempre foi recíproco da nossa parte.
– Vendo por esse lado, perder o pai assim, deve ter sido extremamente doloroso para eles. – meu tom de voz foi caindo gradualmente, e logo a vi assentir outra vez.
– Sim, querida, foi um tempo muito difícil. Ainda mais para o Jason... – notei algumas lágrimas se acumularem em seus olhos – Ele tomou o assassinato do pai como sua responsabilidade, e se culpou amargamente por isso.
– Como assim? – perguntei confusa, afinal por que diabos ele se culparia?
– Ele era só um garoto quando se envolveu com torneios ilegais, isso pegou a todos de surpresa. – a vi secar algumas lágrimas nos cantos dos olhos – O Martin teve a pior reação que possa imaginar, os dois brigaram muito feio naquela noite, e então ele não voltou mais.
– Deve ter sido horrível passar por algo assim. – senti uma pontada no peito – Perder alguém que amamos, ainda mais depois de uma discussão mal resolvida...
– Foi um golpe e tanto. – ela respirou fundo – O Jason largou tudo e começou a se afundar depois que o caso foi arquivado, parecia que nada mais importava pra ele. Era como se o menino doce e gentil que conhecemos tivesse morrido junto com o pai, e dado lugar a uma sombra tão fria, quanto vazia por dentro.
– Eu sinto muito por isso. – fui sincera, agora entendendo um pouco melhor sobre o passado dele.
– Não deveria, querida. – Marie segurou em uma das minhas mãos – Ele parece estar voltando aos eixos com você agora, não é mesmo?
– Como assim? – cerrei os olhos, e ela sorriu doce.
– Bom, desde que o Martin se foi, essa é a primeira vez que ele volta aqui. – seu polegar passou a acariciar suavemente as costas da minha mão – Por Deus, não achei que fosse presenciar isso de novo, mas veja aqueles dois conversando agora.
Ela me fez olhar naquela direção, Jason estava de costas para mim, enquanto ouvia atentamente algo que o Sr. Gibson lhe dizia lá fora.
– Por que acha que ele voltou? – Marie chamou minha atenção de novo.
– Ah, eu... não sei. – passei uma mecha de cabelo para trás da orelha – Acho que nós dois estávamos precisando de uma folga.
– Sim, não tenho dúvidas, mas o fato dele escolher voltar justo pra cá depois de tanto tempo, quer dizer alguma coisa a mais, não acha? – suas sobrancelhas arquearam – Não pude deixar de notar o jeito que ele te olha, você é o motivo dele estar aqui, mas não só por conta da pressão com as provas e a faculdade. Você é importante pra ele, Lizzie, provavelmente a primeira pessoa com quem o Jason se importa de verdade em muito tempo, e de algum jeito consegue alcançá-lo bem lá no fundo. Entende o que eu digo?
– Eu acho...
– Anda logo, Lizzie, vamos embora daqui! – a voz rouca de Jason soou pela cozinha, assim bem como o estrondo da porta ao bater contra a parede, e senti os pelos da minha nuca eriçarem...
[...]
💕. Lizzie descobrindo mais sobre o passado do Jason, o que vocês acham?
💕. Comentem o acharam do capítulo, e não esqueçam de deixar a ⭐️. Até o próximooooo 😘
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