3. Caindo por terra
"Por favor, você poderia encontrar uma maneira de me decepcionar lentamente? Um pouco de compaixão, eu espero que você possa me mostrar... – Let me down, Alec Benjamin feat. Alessia Cara"
– Por que pegou o meu celular? – me virei, franzindo a testa, e ele pareceu surpreso ao ver o aparelho em minhas mãos – E ainda desligou?
– Bom, eu achei que você não quisesse falar com ninguém. – Jason deu de ombros, e minhas sobrancelhas arquearam – Mudou de ideia, por acaso?
– Não... Quer dizer, eu não sei. – passei por ele, apertando o celular – Mas isso não te dá o direito de mexer nas minhas coisas.
– Dá sim. – ouvi seus passos vindo em minha direção – Você estava mal pra caralho, e aquele arrombado não parava de te ligar.
– Jordan? – cerrei os olhos – Acha que ele...
– É, eu acho sim. – as palavras de Jason me fizeram estremecer por dentro – A essa altura, aquele imbecil já deve estar sabendo da porra toda que rolou com o Marcus. Você não tem que ligar essa merda hoje.
Me virei em sua direção outra vez, e ele me encarava preocupado, eu diria até um tanto nervoso. Sabia que Jason estava certo quanto aquilo, eu não tinha que lidar com absolutamente nada hoje, mas acontece que isso não anulava o fato de que ele ainda havia mexido nas minhas coisas, sem a minha autorização. Não sei o que deu nele, estava me ajudando e tudo mais, porém esse tipo de comportamento não era nada agradável, e com certeza eu não queria que se repetisse.
– Lizzie, por favor... – o vi dar mais um passo a frente – Por favor, não liga?
– Eu não vou ligar, mas não quero que mexa nas minhas coisas outra vez, fui clara? – respondi firme, ele precisava entender o quanto aquilo era desconfortável para mim.
– Tudo bem, foi mal. – Jason apertou o nó da toalha em volta da cintura – Agora deixa isso pra lá, não vamos discutir por uma idiotice dessas.
Suas mãos alcançaram meus quadris, me puxando rapidinho para junto de si, à medida que seu rosto se aproximava devagar do meu. Em segundos nossos lábios já estavam tão perto que eu podia sentir sua respiração quente se misturando gradualmente com a minha. Aqueles olhos caramelados mergulharam nos meus, e foi o bastante para sentir os pelos da nuca eriçarem, afinal nosso banho estava bem recente em minha memória.
Acho que eu ainda não acreditava que tive mesmo coragem para provocá-lo de tal forma. Pousei minha mão livre sobre o seu peitoral, sentindo o delicioso calor que sua pele emanava, sem dúvidas aquilo tudo seria uma enorme confusão em minha cabeça pela manhã, mas eu realmente não me importava nada agora. Minhas bochechas logo esquentaram, e soltei a respiração com força, num leve sorrisinho envergonhado.
– Tá, só não mexe de novo. – pedi mais calma, e Jason logo assentiu.
– Não mexo. – seu polegar acariciou minha bochecha bem devagarinho – Prometo.
– Tá. Agora preciso do seu celular para pedir a pizza. – tentei mudar o assunto, dando aquele por encerrado – É que o telefone do quarto não está funcionando.
– Meu celular está bem ali. – ele me fez olhar em direção a escrivaninha, e lá estava.
– Ah, bom. – lhe dei um leve empurrãozinho, seguindo naquela direção – Qual sabor você quer?
– Não tenho nenhuma preferência. – o ouvi dizer – Pode escolher se quiser.
– Hum, então que tal de calabresa? – apanhei seu celular sobre a escrivaninha, onde deixei o meu.
– Pode ser. – percebi seus passos se aproximarem, enquanto inconscientemente digitava a senha de Jordan, a qual não funcionou – Deixa que eu desbloqueio pra você.
Pisquei os olhos duas vezes ao notar o que tinha acabado de fazer, não sabia exatamente explicar aquilo, eu não estava confundindo os dois, certo? Tive os pensamentos interrompidos quando Jason pousou sua destra em minha cintura, parando logo atrás de mim. O olhei por cima do ombro, e suas sobrancelhas arquearam como se ele me perguntasse "Posso?", até acho que ele chegou a perguntar mesmo, mas minha cabeça estava um tanto longe e não ouvi sua voz.
Apenas assenti no automático, e lhe passei o celular, tentando assimilar as ideias enquanto voltava ao controle, me obrigando a oprimir Jordan de meus pensamentos. Não queria passar a noite me martirizando por causa do que ele e os amiguinhos idiotas fizeram, o peso pela manhã já seria exagerado o suficiente. Forcei um sorriso, assim que Jason me devolveu o celular, e estremeci ao toque suave de seus lábios em meu ombro esquerdo, então respirei bem fundo.
– Obrigada. – o olhei por cima do ombro outra vez.
– Está se sentindo bem? – ele me abraçou carinhosamente por trás.
– Sim, estou bem. – passei minha atenção ao celular novamente, numa tentativa de sair do seu campo de visão que parecia me analisar – Vai ser de calabresa mesmo?
– É, pode pedir, pequena. – parecendo não perceber nada, Jason deixou outro beijinho em meu ombro e se afastou.
Então, sacudi a cabeça, me apressando em digitar o número da pizzaria que estava no menu sobre a escrivaninha. Por sorte, não demoraram a atender e eu logo fiz o pedido, rezando para que a entrega fosse rápida, pois agora também estava com fome. Ao encerrar a ligação, avistei Jason só de cueca esparramado sobre a cama e a TV estava ligada, mas ele não se decidia por um canal. Aquilo me arrancou uma risada fraca, enquanto me aproximava, afinal quando foi que imaginei que dividiríamos um momento assim?
A resposta era bem simples, nunca. Seu olhar veio em minha direção e não custou até que ele me oferecesse um lugar ao seu lado, o qual eu aceitei sem contestar. Lhe devolvi o celular, e trocamos um selinho, então me aconcheguei em seus braços que me apertaram um pouquinho, antes dele deixar um beijo no topo da minha cabeça. Fechei os olhos por uns segundos, era meio estranho o fato de me sentir bem, depois de tudo, mas acho que de alguma forma Jason fazia as coisas parecerem mais fáceis.
Dei algumas risadinhas ao ouvi-lo se reclamar da programação, pois parecia um velho ranzinza, e soava realmente engraçado. Apesar disso, não durou muito já que algumas mensagens em seu celular acabaram lhe tirando da cama. Segui assistindo a partida de basquete pela qual ele havia se decidido na TV, e apenas ouvi quando a porta do banheiro se fechou, o que indicava que Jason estava lá dentro agora, então alcancei o controle, pois encontrar algo legal para assistir era o que me restava até a pizza chegar.
Para o meu azar era rede aberta, eis o motivo para as reclamações de Jason há pouco, fiquei alguns minutos só passando de um canal para o outro. Preciso ressaltar que parecia não ter nada de interessante, mas de tanto insistir, até que achei um seriado legalzinho. Era alguma coisa de investigação policial, estilo CSI só que menos sofisticado. Joguei o controle remoto para o lado, e ao avistar a sacola sobre a mesinha de cabeceira, me lembrei dos salgadinhos e coca que Jason havia comprado. Bom, por ora aquilo bastava.
– O que está fazendo? – sua voz rouca soou assim que a porta do banheiro abriu, e ele passou para fora.
Ainda estava com os cabelos bagunçados, e segurava o celular com a destra. Aquilo me fez dar uma risadinha, balançando minha cabeça para os lados.
– Estou assistindo TV, mas e você? Ficou nervoso, ou tem problema de estômago, Jay? – arqueei as sobrancelhas, e ele franziu a testa, completamente confuso – Levou até o celular...
– Ah, pelo amor de Deus, eu não estava... – sua fala foi interrompida por duas batidas na porta – Quem porra é agora?
– Só pode ser o entregador de pizza. – fiz menção de levantar da cama, e Jason rapidamente estendeu os braços a frente do corpo, em sinal de negação.
– Não ferra! Você fica quietinha aí. – o vi caminhar apressado até a sua mochila.
Assim que pegou a carteira ali dentro, ele me deu uma rápida olhada e seguiu em direção a porta, a qual mal abriu para sair. A primeiro momento, me questionei qual seria a dele, mas entendi o motivo quando ouvi uma voz masculina falar "São U$17,30, senhor!". Agradeci internamente por ele ter ido, afinal eu estava usando apenas sua camisa, e seria muito embaraçoso outro cara me ver assim.
Mal por mal, voltei minha atenção à TV, e poucos minutos depois ouvi a porta se fechar. Sorri largo ao vê-lo adentrar o quarto com uma caixa enorme de pizza em mãos. Calabresa era o meu sabor favorito. Sentamos os dois sobre a cama, e não sei se era a fome, porém, praticamente fui ao céu quando provei o primeiro pedaço, mas minhas bochechas queimaram violentamente quando peguei a terceira fatia, ouvindo a risadinha de Jason ecoar pelo quarto.
– As garotas que comem bem são as melhores. – ele disse em tom risonho, e eu rolei os olhos – Só devia ter avisado, que aí eu pedia umas três, e deixava duas só pra você.
– Você é tão idiota... – fiz uma careta, a qual foi interrompida pelo noticiário local que entrou no ar.
"Um acidente na avenida 224, entre um veículo desgovernado que se chocou contra um poste no início dessa noite, deixa dois feridos e uma..."
Antes que a notícia fosse completada, Jason desligou a TV. Franzi a testa, encarando-o confusa.
– Hey! Eu estava ouvindo. – falei ao terminar de mastigar, e devolvi as sobras da fatia à caixa.
– Noticiários são chatos, e já está ficando tarde. – ele alcançou a caixa com os restos de pizza, a qual recolheu e colocou sobre a escrivaninha.
– Mas você disse que só dorme chapado. – arqueei uma sobrancelha ao vê-lo mexer em algo na sua mochila.
– Eu sim, você não. – de repente, Jason pareceu ficar indiferente comigo – É melhor dormir agora, vamos embora bem cedo.
– Tá. – dei o braço a torcer, estava mesmo cansada – Não precisa ficar com o sofá... Digo, se quiser pode dormir aqui na cama comigo.
Minhas bochechas estavam queimando de vergonha por propor aquilo como se fosse algo comum entre nós dois, mas por outro lado não havia mal nenhum em dormirmos juntos essa noite. No entanto, bastou meio segundo para o Jason se virar de frente para mim, me encarando como se eu tivesse dito algum absurdo.
– Sabe que eu não sou ele, né? – suas sobrancelhas arquearam, me fazendo abaixar o olhar – O que rolou entre a gente hoje... Aquilo foi só uma pegação, Lizzie.
– Eu sei disso. – minha voz soou em tom ralo, me sentia um tanto constrangida agora – Só estou sendo gentil.
– Não gosto quando confundem as coisas. – ouvi seus passos se afastarem um pouco mais pelo quarto, e rapidamente tornei a olhar em sua direção.
Temia que Jason fosse embora e me deixasse sozinha, só a ideia de que fizesse isso me assombrava por completo. Mas constatei que ele só se aproximava da janela, com um cigarro e um isqueiro em mãos.
– Não estou confundindo nada. Não é como se dividir a cama por uma estúpida noite fosse me fazer se apaixonar por você. – cerrei os punhos com força, enquanto tentava equilibrar o meu tom de voz – Se dormir comigo é terrível demais para o grande Jason Davis, então tudo bem. Aproveite o sofá!
Dito isso, me joguei na cama, puxando as cobertas numa tentativa de reduzir aquela raiva inexplicável que surgira de um segundo ao outro. Não entendia como Jason me irritava tanto as vezes, era estranho. Fechei os olhos com força ao ouvir seu suspiro pesado, e alguns segundos depois percebi o outro lado da cama afundar um pouco, indicando que ele havia deitado ali.
– Desculpa, tá legal? – disse Jason, aproximando seu corpo do meu, tanto que eu podia sentir o calor aconchegante exalando de sua pele – Tem razão, não faz sentido eu ficar com o sofá. Se ainda quiser, posso dormir com você aqui.
Ele sussurrou próximo ao meu ouvido, causando um suave arrepio pelo meu corpo, mas permaneci quieta e seus lábios macios tocaram delicadamente minha bochecha em um beijinho singelo, enquanto seu braço direito me agarrava pela cintura. Somente depois de me virar de frente para Jason, tornei a abrir meus olhos, esquadrinhando seu rosto bem de pertinho. Ele estava calmo agora, e parecia ter se arrependido do que disse. Naquele momento, toda a vontade de mandá-lo embora, sumiu.
Eu queria que Jason ficasse, então apenas assenti, e sua destra tocou delicadamente meu rosto, afastando uma mecha de cabelo para trás da minha orelha. Pousei minha cabeça em seu peitoral, e um de seus braços coberto de tatuagens se entrelaçou a minha volta. Sorri fraco, pousando minha mão sobre o seu abdome, e ele passou a acariciar minha nuca delicadamente, enquanto eu deslizava meus dedos sobre suas tatuagens fazendo um contorno imaginário por elas.
– Quando foi que você fez mais? – indaguei, ao tocar as pontas dos dedos na imagem do leão desenhado em seu peito, onde antes havia apenas uma coroa.
Também tinham outras fechando o seu torço completamente, isso sem contar nos seus braços que também estavam fechados por tatuagens, eram muitas, e o detalhe é que todas pareciam bem recentes. Bom, eu tinha notado de relance ontem quando tivemos aquela conversa alterada em sua boate, mas agora haviam me chamado mesmo a atenção.
– É que nos últimos dias eu estava meio irritado. – ele riu fraco – Precisava esfriar a cabeça.
– E fazer novas tatuagens funciona como terapia agora? – franzi a testa, um tanto confusa.
– Mais ou menos, digamos que funciona comigo. – sua resposta me arrancou uma leve risada, era meio óbvio que diria algo assim.
– Como fez elas sumirem hoje? – perguntei, agora bem curiosa, afinal no jogo mais cedo seus braços estavam limpos, e não havia um único rastro das tatuagens pelo seu corpo.
– A Alice é boa com maquiagem. – seus dedos continuavam acariciando minha nuca, e entrelacei uma de minhas pernas entre as suas.
– É, ela é boa mesmo. – sorri largo, era mais fácil sorrir agora que minha cabeça estava leve feito uma pluma – Mas eu prefiro o Jason com tatuagens. Combina mais com... a sua personalidade.
Ele riu anasalado.
– Você... já quis fazer alguma, pequena? – sua pergunta chamou a minha atenção, e franzi a testa ao encará-lo.
Acho que essa era a primeira vez que Jason se interessava em me perguntar algo tão pessoal.
– Sim. – respondi risonha, sem nem pensar duas vezes – Eu queria fazer uma borboleta.
– Claro que seria uma borboleta... – ele rolou os olhos, numa leve risadinha – Deixa eu adivinhar, no pulso ou no ombro? E por que não fez?
– Em primeiro lugar, não era no pulso, nem no ombro. – dei um tapinha em seu peitoral – Era bem aqui, na curvinha da coluna com o bumbum, – apontei para a região e Jason arqueou as sobrancelhas ao acompanhar com o olhar – mas eu era de menor na época, e o meu pai não deixou.
– Seu pai é um cara bem esperto. – a mão livre de Jason apertou minha bunda por cima das cobertas, me puxando mais contra o seu corpo – Se você fosse minha filha, eu também não deixaria. Não aí.
– E qual o problema? – cerrei os olhos, um tanto incrédula.
– Você ainda quer que eu explique? – ele arregalou os olhos, e eu continuei a encará-lo – Porra, é o seu rabo, Lizzie. Aposto que não é o sonho de nenhum pai ver um marmanjo praticamente tatuando o rabo da menininha dele.
– Argh! Por favor... Eu não sou mais nenhuma menininha inocente faz um bom tempo. – rolei os olhos, e um sorriso malicioso se fez em seus lábios.
– Ah, me desculpe, agora você é uma mulher crescida, hum?– senti minhas bochechas esquentarem, com seu tom de voz malicioso – Até curte umas boas palmadas nesse traseiro, não é mesmo? É, eu me lembro de ter ouvido você falando algo assim uma vez.
– Idiota! – passei uma mecha de cabelo para trás da orelha, e ele prendeu o lábio inferior entre os dentes – Para com isso!
Jason riu anasalado, e assim que recostei minha cabeça sobre o seu peitoral novamente, o silêncio retornou. A chuva já havia reduzido lá fora, mas ainda era o único som que escutávamos bem baixinho. Meus olhos voltaram a ficar pesados, até que os fechei bem devagar, apenas sentindo suas carícias em minha nuca. O calor aconchegante que emanava de seu corpo, aquecia tudo em mim, me deixando extremamente tranquila.
Era confuso como ele me irritava e me acalmava, mas era assim, sempre foi. Jason cuidava de mim, e às vezes até parecia que ele adivinhava, acho que eu gostava disso. Tinha certeza de que as coisas seriam difíceis quando acordássemos, mas por ora, estar junto dele já era o suficiente para me sentir em paz. Era só o que importava...
Pela manhã...
Senti minha cabeça latejar levemente de um lado, por isso cerrei os olhos com um pouco mais de força, e fiquei assim por alguns minutos, me forçando a voltar a dormir, mas à medida em que as lembranças da noite anterior iam ficando nítidas em minha mente, o sono se distanciava cada vez mais, dando lugar ao aperto em meu peito.
Por fim, suspirei baixo e abri meus olhos de uma vez, apertando o travesseiro no qual estava agarrada agora, tinha o perfume do Jason espalhado por toda a fronha. Me encolhi um pouco, antes de me sentar na cama, depois olhei em volta, constatando que ele não estava mais no quarto. Arregalei os olhos, pensando se aquele garoto não teria me deixado sozinha naquele motel na beira da estrada.
Bom, não posso dizer que isso não seria a cara dele, mas não foi o que aconteceu. Fiquei mais tranquila ao ver que a mochila com suas roupas continuava no mesmo lugar onde havia deixado pela noite. Conferi as horas no pequeno relógio sobre a mesinha de cabeceira, que marcava 6:50am, o que ainda era bem cedo já que eu não iria ao colégio, não tinha nem cabeça para isso depois de tudo o que aconteceu. Bocejei, espreguiçando meus braços, e então levantei, precisava fazer minhas higienes.
– Ué... – franzi a testa quando avistei, pela cortina da janela, uma sombra se mover lá fora.
Não me era uma silhueta estranha, por isso me aproximei sem fazer barulho. Dava para ouvir a voz de Jason, mas eu não entendia nada do que ele falava, pelo tom estava bem zangado. Puxei uma pequena fresta da cortina para o lado, avistando-o no celular. Não conseguia ver a sua fisionomia, no entanto, seu punho livre cerrado acompanhado do fato dele estar praticamente berrando ao telefone, me davam uma ideia de quem seria do outro lado da linha... Allana.
Lembrar daquela mulher me dava calafrios, mas o que ela podia querer com ele tão cedo assim? Me afastei da janela no mesmo segundo em que seus olhos caramelados vieram em minha direção, fazendo meus batimentos acelerarem. Esperava que ele não tivesse me visto, seria uma péssima impressão logo pela manhã, precisei respirar fundo antes de finalmente adentrar o banheiro. E, no segundo em que me virei, ouvi a porta do quarto se abrir, o que me fez engolir em seco.
Estava nervosa, mas não tinha feito nada demais, só dei uma espiadinha porque os berros dele chamaram atenção, nem escutei nada, não era como se estivesse bisbilhotando. Balancei minha cabeça para os lados e caminhei pelo banheiro, onde encontrei uma escova de dentes nova, ainda na embalagem no armário abaixo da pia. Fiz minhas higienes matinais e quando terminei, parei bem em frente ao espelho, encarando o meu próprio reflexo, meu rosto estava bem melhor que ontem.
– Lizzie?! – a voz grossa de Jason me fez estremecer, soltando a camisa a qual segurava para ver as marquinhas que ele havia feito em meu bumbum.
– Ah, oi? Bom dia! – olhei em direção a porta, que ainda estava fechada.
– É melhor se apressar, temos que ir. – avisou ele, e eu segui apressada até a porta, a qual logo abri.
– Cedo assim? – arqueei minhas sobrancelhas, e Jason me encarou com cara de poucos amigos – Quer dizer, não podemos tomar café antes?
– A gente toma no caminho. – ele passou por mim, entrando no banheiro.
– Mas eu achei que fossemos conversar hoje. – falei baixo, assim que a porta se fechou.
– Não temos nada para conversar. – ele disse lá dentro, decidido a ir embora – Agora vê se agiliza, eu tenho umas paradas pra resolver, Lizzie.
Suspirei baixo, abraçando um de meus braços e assenti com a cabeça. Jason estava certo, eu precisava voltar, sabia disso, não dava para ficar enrolando, ainda mais se aquilo atrasaria ele. Caminhei até a cama, onde me sentei bem devagar, fitando o chão em silêncio por alguns minutos. Estava com medo, pois no momento em que pusesse meus pés para fora daquele quarto, minha vida estaria do avesso. Talvez eu só quisesse ficar um pouco mais.
Sacudi minha cabeça, e me levantei num sobressalto, apanhando minha mochila sobre a pequena mesa, de onde tirei uma saia preta pinçada, e uma blusa canelada em um tom verde clarinho. Aproveitando que Jason ainda não havia saído do banheiro, eu rapidamente me vesti, alcançando meu celular sobre a escrivaninha, o qual resolvi ligar para conferir as mensagens e ligações, uma hora precisaria encarar a confusão que estava lá fora.
– Seu uniforme já está seco. – tive um curto susto ao ouvir a voz de Jason soar tão perto, e escondi o celular ao me virar em sua direção – É melhor guardar isso para não esquecer.
– Ah, obrigada. – peguei as duas peças que ele me entregava, e seus olhos rapidamente percorreram por todo o meu corpo, mas ele negou com a cabeça.
– Vê se não demora. Vou comprar o café, me encontra no carro. – Jason se virou apressado, parecia mesmo chateado.
Não falei nada, apesar daquele comportamento frio me magoar um pouco. Quer dizer, eu sabia que ontem... O que rolou entre a gente não foi nada demais, mas não esperava que pela manhã ele fosse ser um completo insensível me apressando. O vi tirar a camisa, enquanto pegava outra na mochila, e então notei que já usava calça jeans e botas, acho que vestiu quando entrou no banheiro. Cerrei os punhos com força ao vê-lo fechar o zíper da mochila, passando a alça pelo ombro.
– Seja rápida! – Jason me fez rolar os olhos enquanto eu pegava a minha mochila, adentrando o banheiro logo em seguida.
– Droga! – murmurei chateada, praticamente arremessando minhas coisas sobre o balcão da pia.
Ouvi a porta do quarto se fechar, e sacudi minha cabeça para os lados, espantando aquela melancolia estúpida e sem sentido algum. Já devia ter imaginado que Jason seria um grosso pela manhã. Respirei fundo, e me aproximei da pia, juntando tudo dentro da mochila, precisava ser rápida ou aquele idiota seria capaz de me deixar ali.
Fiz um rabo de cavalo em meus cabelos para conter todo aquele frizz e, antes de deixar o banheiro, me apressei em guardar o meu celular na mochila. Dei uma boa olhada pelo quarto enquanto seguia até a porta e, ao constatar que não havia mais nada meu por ali, saí. Não demorou muito para que eu avistasse o cara de preto, visivelmente estressado, em frente ao impala 67 de Jordan.
Jason segurava dois copos de café em mãos, o que me fez bufar o ar pelo nariz enquanto me aproximava. Aquele mau humor idiota dele era realmente tudo o que eu precisava para iniciar um dia que já seria por si só bem difícil pra mim. Rolei os olhos, apertando a alça da mochila e ele deu um passo a frente, me olhando estranho.
– Toma o seu. – me entregou o copo de café com leite – Eu não sei se você prefere assim, mas imaginei...
– Valeu pela gentileza! – usei de ironia ao passar por ele, e rapidamente abri a porta do carro.
Praticamente me joguei no banco antes de bater a porta com força. Jason sacudiu a cabeça para os lados e deu a volta, também entrando no veículo. Me desfiz do copo de café no apoio, e repousei minha mochila no colo, olhando pela janela. Observava os jogadores enfileirados entrando no ônibus escolar, eram os mesmos meninos que jogaram contra os Tigers pela noite. Claro que seriam, não é?
Ouvi o ronco do motor do carro ao ligar, e logo em seguida estávamos nos distanciando daquele motel. Já não sabia se gostava ou não do silêncio estúpido que se instalou naquele carro. Algo dentro de mim queria que Jason perguntasse como eu estava, que me abraçasse e... Sei lá, mas ao mesmo tempo eu queria ficar bem longe dele. Estava triste e zangada.
– Está chateada? – sua voz rouca finalmente soou ao lado, sem estar carregada de pressa ou desprezo dessa vez.
– Não. Eu estou ótima! – foi tudo o que eu disse, ainda sem olhá-lo.
– Preciso resolver umas coisas, mas se você queria tanto ficar, era só... – sua fala foi interrompida pelo toque estridente de meu celular.
E acho até que agradeci internamente por isso, enquanto tateava os bolsos da minha mochila até finalmente encontrá-lo. Para a minha surpresa, havia "May" no identificador de chamadas e aquilo me fez franzir a testa, afinal por que ela me ligaria tão cedo? Por via das dúvidas, logo me dispus a atendê-la.
– ONDE VOCÊ SE METEU? – ela berrou do outro lado da linha, me fazendo afastar o celular do ouvido – Como pode sumir assim, Lizzie? Eu quase morri do coração quando a tia Elisa me ligou chorando ontem, isso não se faz!
– Olha, esse não é exatamente o momento pra gente conversar sobre isso, por favor... – falava o mais baixo possível, pois sentia o olhar curioso de Jason sobre mim.
Por um curto instante, me esqueci de que meus pais passaram a noite inteira ligando pra mim. Haviam várias chamadas perdidas quando liguei o celular antes de sair do motel.
– Só me diz que você está bem? – o tom de voz da minha amiga maluquinha, era de extrema preocupação.
– Estou sim, fique tranquila. – confirmei, e ouvi sua respiração forte do outro lado da linha.
– Fico mais aliviada, mas agora acho que preciso te contar uma coisa. – disse ela, um tanto angustiada – Bom, acho que eu fiz uma idiotice.
– Tipo? – me dispus a ouvir, pois parecia mesmo ser importante, ou pelo menos algo que estava incomodando ela.
– Luke veio à cidade, acho que para passar uns dias com a mãe. – engoli em seco ao ouvir aquele nome – Eu não sei o que me deu, Liz. Esbarrei com ele no shopping ontem a tarde, queria saber de você e eu falei sobre o Jordan, mas foi só para que soubesse o quanto está bem agora.
– Tá legal, não tem problema nisso. Só fique longe dele, Luke não é de confiança. – tentei tranquilizar os batimentos acelerados em meu peito, não queria que ela percebesse nada.
– Não, Liz, não está nada bem. – a May parecia bem nervosa agora – Nos encontramos na festa de novo pela noite, eu já estava bêbada, Luke me pareceu arrependido quando me pediu o seu número.
– Quê? Não! Me diga que não passou o meu número para aquele cretino do Luke? – apertei o celular, sentindo o suor frio surgir nas palmas das mãos.
Só pensar naquele desgraçado, já me deixava estupidamente nervosa. Me odiava por ter tanto medo dele, e por um tempo até me esqueci que Luke ainda existia na face da terra.
– Então, é que o jeito doce que ele falava de você... Amiga, eu fiquei com pena daqueles olhinhos azuis. Me perdoa? – quanto mais ela falava, maior se tornava o bolo em minha garganta – Eu sei que você e o Jordan...
– Você não tinha o direito! – interrompi sua fala ao entender a merda que ela tinha feito.
– Mas, Lizzie...
– VAI SE FODER! EU TE ODEIO! – gritei com raiva, e desliguei logo em seguida, contendo minha vontade de arremessar aquela merda de celular pela janela.
– Lizzie...
– Não fala nada! – encarei Jason com os olhos marejados, e ele arqueou as sobrancelhas.
– Mas eu só queria... O que foi isso? – seu tom de voz estava bem mais calmo que antes – Você está com algum...
A droga do meu celular voltou a tocar, e eu atendi sem nem olhar o identificador.
– Me deixa em paz. Eu já disse, não é uma boa hora! – falei apressada, contendo a porra do choro que subia por minha garganta.
– Ah, desculpa, Liz, mas aqui é a Emily. – a voz dela soou do outro lado da linha, me fazendo arregalar os olhos – Que bom que atendeu, todo mundo está preocupado com você.
– Desculpa, eu... É que eu pensei que fosse outra pessoa, mas não se preocupe comigo, estou bem. – menti o melhor que pude.
– É um alívio saber disso, mas... – notei um fundo melancólico em sua voz – Será que tinha como vir ao hospital? É a Rose...
Aquelas palavras fizeram um calafrio correr por a minha espinha e, sem precisar que ela dissesse mais uma palavra, entendi que algo muito ruim havia acontecido...
[...]
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💕. Jason sendo um neném pela noite, e um cavalo pela manhã 🤦🏻♀️ Essa May é um perigo, desenterrar e trazer o Luke de volta ao jogo justo agora?? Ai, ai! O que vocês acham que aconteceu com a Rose??? 👀
💕. Não esqueçam do cronograma de postagem:
23/01/22 👉🏻 4° Capítulo
28/01/22 👉🏻 5° Capítulo
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