26. Você não é assim!
"Estou dando tudo o que posso, mas tudo o que você faz é estragar as coisas. Sim, estou bem aqui, estou tentando deixar claro que ter metade de você simplesmente não é o suficiente... – Naked, James Arthur."
JORDAN
O despertador tocou duas vezes, antes de eu bater minha mão sobre ele para desligar, já era manhã e eu não havia conseguido pregar o olho, nem por todo o álcool que ingeri pela noite. Continuava esparramado em minha cama, apenas encarando o teto branco acima da minha cabeça, enquanto mil e um pensamentos me corroíam. Por mais que eu tentasse me convencer de que a Lizzie e o Jason não tinham nada a ver, sabia que ambos tinham uma ligação estranha, no fundo eu sempre senti que eram próximos, mas nunca quis acreditar que fosse assim.
Acho que eu só não queria aceitar a ideia de que a garota que eu amava estava dormindo com o meu irmão bem debaixo do meu nariz. Mas tinha certeza que se era isso mesmo o que estava rolando, aquele desgraçado só queria usar ela para se divertir. Era o que sempre fazia, pegava tudo o que era importante para mim, aí se divertia até enjoar, depois quebrava e jogava fora, mas talvez fosse exatamente isso que aquela vadia merecia. Como ela podia estar fazendo isso comigo?
Eu esperava algo assim de qualquer outra, mas não dela, não da minha Lizzie. Não sei quando me tornei tão imbecil a ponto de não enxergar o que estava rolando entre aqueles dois, e ela me dizia que queria ser só amiga dele, uma porra! Aquela vagabunda me enganou direitinho, não é mesmo? No fim das contas, não tinha nada de especial nela, era só a merda de mais uma vadia dando pra mim e para o desgraçado do meu irmão ao mesmo tempo.
Sem ânimo algum, abri a segunda gaveta da mesinha de cabeceira, de onde tirei um cigarro e o meu velho isqueiro, precisava dar um jeito de relaxar ou juro que enlouqueceria. Contudo, o barulho de passos pelo corredor chamou minha atenção, e quando a porta do quarto de Jason foi aberta, eu saltei da minha cama apressado. Podia sentir o sangue fervendo nas veias, mas ao sair do meu quarto logo notei o aspirador de pó mais a frente, e tive a certeza de que não era ele ali. Estava prestes a voltar para dentro, quando Susana apareceu.
– Bom dia, meu filho! – disse ela, com um sorriso radiante nos lábios, o qual reduziu um pouco ao me analisar – Por que ainda não está pronto?
– Ah, bom dia. Eu... acabei de acordar, mãe. – menti, pois não estava a fim de preocupá-la – Estou indo tomar banho agora.
– Então vá logo de uma vez, ou vai acabar se atrasando para o colégio. – a vi abanar com as mãos, e assenti.
Preciso admitir que havia esquecido do colégio, mas não parecia tão pior do que ficar enfurnado no meu quarto o dia inteiro sem mais nada para fazer, a não ser me martirizar pelo fato da Lizzie estar dormindo com o Jason. Respirei fundo ao fechar a porta novamente, e sacudi a cabeça numa tentativa de espantar a raiva que sentia daqueles dois enquanto seguia em direção ao banheiro, afinal precisava de um banho para me livrar do cheiro forte de álcool.
Rapidamente me despi antes de entrar debaixo do chuveiro para tomar uma boa ducha, mas as palavras da Lizzie naquele maldito hospital seguiam ecoando na minha cabeça como lâminas afiadas e prontas para me cortar. "Eu beijei o Jason no aniversário do Christian...", de repente aquela frase foi se tornando mais nítida dentre as outras, o que me fez rir amargamente. Era patético, aquela vadia estava com o meu irmão bem debaixo do meu nariz todo esse tempo... Mas quer saber? Talvez eu merecesse isso, por ter sido estúpido o suficiente para não enxergar sozinho.
Terminei meu banho, e logo alcancei uma toalha limpa para me secar, ainda tentando me livrar daquela merda, afinal bastava o papel de palhaço que paguei esse tempo todo, eu não precisava ficar me lamentando por uma vagabunda. Existiam muitas como a Lizzie por aí, a única diferença é que ela mentia melhor. Saí do banheiro secando os cabelos com outra toalha, e logo tratei de me vestir para ir ao colégio. Mas, antes de deixar o quarto, peguei o cigarro e o isqueiro sobre a cama, os quais guardei no bolso da jaqueta só por precaução.
– Já está de saída, querido? – perguntou Susana, assim que desci as escadas.
– Estou sim, tenha um bom dia, mãe! – peguei minhas chaves no jarro ao lado da porta.
– Você também, meu filho. – ela surgiu da cozinha – Mas se sentir qualquer coisa, pode me ligar no mesmo minuto. E nada de esforço, até o médico liberar.
– Tá legal, pode deixar. – confirmei, só para deixá-la mais tranquila – Ah, pela tarde eu vou com os meninos lá no Tayler, então não me espere para o jantar.
– Jordan, se lembre que você não pode ficar comendo porcaria por aí. – vi minha mãe cruzar os braços.
– Tudo bem, eu peço uma sopa na Candy's, não se preocupe comigo, mãe. – forcei um sorriso, e ela respirou fundo antes de concordar com um aceno de cabeça – Valeu! Eu tenho que ir agora, até mais.
– Até mais, querido. Se cuide! – nos despedimos com um aceno, e logo abri a porta.
Ao sair, notei que um fraco chuvisco caía, e me apressei até a garagem tratando de destravar o meu carro. Adentrei o veículo, jogando minha mochila no banco ao lado, e logo dei partida, colocando o cinto de segurança antes de seguir caminho. Pela hora, iria direto para o colégio, talvez ainda estivesse em tempo de convencer o treinador Watson a não me deixar no banco na final da interestadual, pois segundo o médico eu já estaria bem até lá.
Era importante retomar as coisas e me concentrar em algo agora, isso me ajudaria a esquecer toda a merda entre Lizzie e Jason, ou pelo menos era o que eu esperava. Ao longo do caminho, o chuvisco começou a engrossar, enquanto eu batucava com os dedos no volante, imitando o ritmo da música que tocava na rádio. Por sorte, o trânsito não estava muito movimentado, então não custei nada a chegar. Estacionei na minha vaga, apanhando minha mochila outra vez.
Olhei de um lado ao outro pelo pátio, assim que saí do carro, mas já não havia quase ninguém por ali, bati a porta e fui tomado por uma lembrança da Lizzie fazendo a volta para me dar um selinho. Sacudi a cabeça tratando de espantar aquilo, à medida em que me apressava para dentro do colégio. Receio que talvez devesse ter ido mais devagar, pois acabei me deparando com os corredores cheios, e os olhares não custaram a vir em minha direção.
– Fala, Davis! – disse Tayler, ao me ver – Achei que não fosse dar as caras por aqui depois de ontem, irmão.
– Ficar em casa não ia ajudar em nada. – respondi, seguindo com ele pelo corredor principal.
– É, você está certo. – o vi ajeitar melhor sua mochila sobre o ombro – Mas ainda sobre ontem, eu conversei com o Chris, ele não tá pegando a Liz, cara.
– Eu já sei, não é ele. – paramos em frente ao meu armário, eu precisava pegar alguns livros.
– Então quem é? – Tayler arqueou as sobrancelhas, um tanto confuso.
– Não adiantaria se eu pedisse para você não se meter, né? – enfiei os livros na minha mochila, e ele continuava me encarando – Que se dane, daqui a pouco todo o colégio vai estar sabendo mesmo... É o Jason.
– O seu irmão tá comendo a Lizzie? – seu espanto acabou chamando a atenção de alguns olhares a volta – Mas que merda, cara!
– Será que dá pra não sair berrando isso por aí, porra? – bati a porta do armário com força.
– Foi mal. – Tayler tentou se redimir, e logo veio atrás de mim outra vez – Há quanto tempo tá rolando essa merda?
– Eu não faço a menor ideia. – respondi, um tanto irritado agora.
– Caralho, eu não achei que a Lizzie fosse desse tipo, ela parecia tão... certinha. – comentou ele, bem no meu encalço – Sinto muito, cara. Se eu puder fazer qualquer coisa...
– Na verdade... – franzi a testa, parando no meio do corredor quando me ocorreu uma ideia – Seus pais estão viajando, não é?
– É, eles estão num cruzeiro, mas o que isso tem a ver? – questionou Tayler, um tanto confuso.
– Então quer dizer que a sua casa está livre. – comentei, passando a observar um grupo de garotas bem animadas mais a frente – O que me diz?
– Wow, Davis! Eu não posso dar outra festinha na minha casa. – alegou ele, assim que entendeu ao que eu me referia – Você sabe o problemão da última vez, quebraram um dos jarros caros da minha mãe e...
– Não precisa ser uma festa, basta ter bebidas e chamar umas garotas. – acenei com a cabeça para uma delas, que logo sorriu de volta – Vamos lá, eu preciso esfriar a cabeça.
– Então o velho Davis finalmente está de volta, não é mesmo? – Tayler esbarrou no meu braço, e logo voltamos a caminhar pelo corredor – Você está certo, nada melhor que uma vadia, pra fazer a gente esquecer de outra vadia.
– É o que eu digo. – ri fraco – Mas não quero qualquer vadia, quero as Lioness, faz a Christine levar todas, incluindo a Lizzie.
– Traduzindo: Você quer comer as amigas da sua ex, na frente dela? – ele franziu a testa, como se ainda faltasse alguma coisa.
– Tá de brincadeira? – arqueei as sobrancelhas – Eu comeria a irmã dela, se essa vadia tivesse uma.
– Olho por olho, saquei. – Tayler deu uma risada – Bom, é melhor se refrescar, porque a festinha de hoje vai tá quente, meu parceiro!
– É isso aí! – fizemos um toque com as mãos, e pude ouvir o sinal bater – Mas se liga, nada generalizado, só os caras e algumas garotas.
– E bastante verdinha. – ele gesticulou colocar um cigarro entre os lábios, depois soltou a fumaça imaginária para cima – Tu sabe que o pai aqui se amarra numa plantinha.
– Você se amarra é em comer a Christine depois que faz ela fumar uns. – dei de ombros, empurrando a porta da sala de aula.
– Ah, cara, basta umas tragadas e a minha ruiva fica toda soltinha. – mesmo sem olhar em sua direção, eu sabia exatamente o gesto obsceno que ele fazia com as mãos.
– Senta aí, a aula vai começar, seu idiota! – dei risada, me esparramando numa das carteiras mais ao fundo da sala, enquanto o resto da turma começava a chegar.
Tayler sentou bem ao meu lado, e não custou a tirar seu celular do bolso, se adiantando em divulgar sobre a nossa festinha. Eu não dava a mínima para o que ia rolar a noite, meu único objetivo era descontar a minha raiva e fazer a Lizzie sentir na pele...
LIZZIE
Abri os olhos com certa dificuldade, e custei um pouco a perceber que aquele era o quarto de motel onde havia passado a noite com o Jason, mas quando finalmente consegui identificar, um sorrisinho surgiu em meus lábios. Respirei fundo antes de me espreguiçar naquela cama enorme, onde me sentei logo em seguida, e a primeira coisa que fiz foi olhar em volta, não havia nem sinal dele por ali, o que me deixou um tanto intrigada.
Me levantei, segurando os lençóis em volta do meu corpo, e ao entrar no banheiro dei falta das minhas roupas, as quais havia deixado sobre a pia ontem. Bom, Jason devia ter saído cedo para secá-las na lavanderia, ele não me deixaria sozinha e nua num quarto de motel. Só a ideia me arrancou uma boa gargalhada. Então, tentei não me incomodar com aquilo, e fiz minhas higienes, optando por um banho relaxante na sua ausência. Graças as quedas na pista de gelo, ou pelo sexo mais bruto com ele ontem, sentia dor em partes do meu corpo que eu nem sabia que existiam.
Nossa noite foi uma loucura e tanto, mas eu havia adorado cada segundo ao seu lado, era quase insano o quanto Jason conseguia me fazer se sentir incrivelmente bem. Com cuidado, retirei a bandagem da minha nova tatuagem, e ao terminar o banho tratei de secar a região bem devagar, ainda doía um pouco. Já terminava de enrolar a toalha no corpo quando ouvi a porta do quarto abrir, era o meu estressadinho, eu tinha certeza disso.
– Jason, você sabe onde... – minha fala foi interrompida ao sair do banheiro e ver minhas roupas secas e dobradas debaixo do seu braço.
O que me confirmava que de fato ele tinha visitado a lavanderia para usar a secadora, e por isso não estava mais na cama quando acordei. Sorri aliviada, pois por um momento cogitei a ideia de que pudéssemos ter sido roubados.
– Ah, você já acordou. – ele trancou a porta com as chaves – Suas roupas estão limpas e secas, então se arruma, que eu vou te levar pra casa.
Foi tudo o que disse, antes de jogar minhas coisas na cama e passar rápido por mim em direção ao banheiro. Soltei a respiração com força quando a porta bateu, confirmando assim que estava bravo comigo. Não havia cogitado a ideia de que ele podia ter se chateado pelo que eu falei ontem e, bom... Precisava concordar que tinha mesmo seus motivos. Cerrei os punhos, assentindo, mesmo sabendo que ele não veria. Então, segui em silêncio até minhas roupas, as quais tratei logo de vestir.
A verdade é que eu não sabia o que dizer a ele agora, não sentia que as coisas que falei pela noite foram exageradas, até porque era como eu estava me sentindo. Mas ao mesmo tempo, não era como se eu estivesse arrependida pelo que estava rolando entre nós dois. Jason me fazia bem, e não dava para negar nem se me esforçasse, ele me apresentava a uma vida nova, cheia de coisas incríveis, e eu adorava isso, estar ao seu lado era sempre tão excitante.
– Já está pronta? – sua voz rouca fez eriçar os pelos da minha nuca.
– Sim. – forcei um sorriso ao me virar em sua direção, mas ele não parecia disposto a estabelecer algum tipo de contato visual comigo – Só que não precisamos ir agora.
– Eu tenho umas coisas para resolver. – o vi prender o relógio no pulso, descendo a manga da jaqueta em seguida – Vamos?
– Não é verdade. – cruzei os braços, me sentando na cama – Você só está chateado pelo que eu falei ontem.
– Não estou. Você não mentiu, na verdade foi o mais sincera que pôde. – ele finalmente olhou em minha direção – Precisa esfriar a cabeça, decidir o que quer, e eu não vou te forçar a escolher um lado.
– Está me dispensando? – senti meus olhos lacrimejarem, e apertei meus braços.
– Não! – Jason deu um passo a frente – Eu não estou dispensando você, só... Lizzie, isso aqui está te fazendo mal. Sua mãe estava certa quando berrou que eu estava me aproveitando da situação.
– Você não...
– Sim, eu estava sim. – fui interrompida – Pra início de conversa, você nunca teria se deitado comigo se as coisas não tivessem saído do eixo com o Jordan. Você está com raiva dele, e eu te fiz pensar que se sentiria melhor transando comigo.
– Acontece que eu me sinto melhor, você me faz esquecer todo o resto. – fui firme ao falar.
– Não, eu não faço. Você só está confusa e frustrada demais para perceber que se sentiria muito melhor sem ter que fingir ser outra pessoa. – ele quase cuspiu aquelas palavras – Tudo o que fiz foi ser o desgraçado egoísta de sempre.
– E-eu... não me importo. – menti o melhor que pude – Você só quer sexo, e eu quero esquecer dos problemas, está tudo bem.
– Está se escutando? – o vi franzir a testa – Você não é assim, não é esse tipo de garota. Eu te fiz pensar que era, mas não é. No seu mundo, você se apaixona pelo cara perfeito, ele é o máximo pra você, e então vocês se amam perdidamente pro resto da vida. Só que eu não sou esse cara, e nós dois sabemos disso.
– Você não tem que ser. – me levantei, e ele rapidamente deu um passo para trás.
– Não, nem se tentasse eu seria. Mas pra você, quem eu sou de verdade não basta, nunca bastaria, porque você merece mais. – por um segundo achei ter visto tristeza em seus olhos – Você merece infinitamente mais. – logo sua expressão mudou para raiva absoluta – Então, chega de bancar que você não é você, e que eu não sou eu. Isso aqui nunca vai dar certo.
– Mas...
– CHEGA! – Jason gritou furioso, me fazendo encolher os ombros pelo susto que tomei – Eu vou te levar pra casa, e as coisas vão tomar seu rumo do jeito que deviam ser.
Fiquei em silêncio dessa vez, não sabia o que dizer ou pensar e, mesmo que soubesse, ele não estava nem um pouco disposto a me ouvir. As lágrimas não custaram a alcançar meus olhos, trazendo junto uma raiva absurdamente dolorosa, pela segunda vez eu podia sentir o meu mundo desabando bem devagar a minha frente. Primeiro o Jordan, e agora o Jason... Eu devia mesmo estar no fundo do poço.
Desde o início, eu sabia que ir pra cama com o Jason era um erro pra nós dois, mesmo assim insisti. "Droga, Lizzie!", me auto repreendi enquanto secava uma lágrima fujona com as costas da mão. Tentei engolir o maldito choro que subia ridiculamente quente pela minha garganta, enquanto o via seguir até a porta. Cerrei os punhos com força, e assim que ele a abriu, meus pés se moveram rapidamente para fora dali, eu não queria ter de ouvir sua voz seca e áspera me mandando sair. Ser tratada daquela forma pelo cara com que dormi a noite, já era por si só, humilhante demais.
– Não se preocupe em me levar pra casa. – abracei meus próprios braços, ao passo em que tomava certa distância.
– Tem certeza? – sua voz soou um pouco preocupada.
– Eu sei me virar sozinha! – respondi seca, sem olhar para trás uma única vez.
– Tudo bem, faça como quiser. – pude ouvi-lo antes de virar pelo corredor.
Aquilo me fez derramar mais duas lágrimas estúpidas, as quais logo sequei sem dar margens para o choro entalado na minha garganta. Era mais fácil odiá-lo agora, do que permitir que meu coração voltasse a sangrar. Eu me sentia tão idiota por ter me deitado com um cara feito ele, como pude? Num silêncio sufocante, segui até a recepção do motel e, antes que não mais conseguisse, pedi para que chamassem um uber. Então, me sentei no sofá a espera, e pelo enorme janelão ao lado pude vê-lo deixar o estacionamento.
Seu olhar veio em minha direção uma última vez, mas tratei de desviar o foco para o desenho animado que passava na TV bem a minha frente, me sentia constrangida demais para encarar aquele idiota de volta agora. Nos minutos que se seguiram, eu perdi completamente a esperança de que ele mudasse de ideia e voltasse, ao mesmo tempo em que tentava entender qual era a droga do meu problema em achar que Jason me pediria desculpas. Quando meu uber finalmente chegou, me levantei apressada dali.
– Bom dia, senhorita! – disse a motorista animada, assim que entrei em seu carro – Para onde deseja ir?
Dei o endereço da minha casa, enquanto colocava a merda do cinto de segurança, e tornei a ficar em silêncio, deixando meus pensamentos me corroerem por dentro. "Você não é assim, não é esse tipo de garota...", "No fim é só isso, uma vadia, sendo a porra de uma vadia...", abracei meus próprios braços afundando no banco, numa tentativa frustrada de fugir das minhas próprias inseguranças e do quanto elas conseguiam me machucar agora.
Não me detive nem mesmo por um segundo sequer no caminho, ou no que a motorista falava vez ou outra, para qualquer coisa que fosse eu apenas acenava com a cabeça. Por sorte, não pareceu demorar tanto até que ela estacionou em frente a minha casa, ou talvez fosse pelo fato dos meus pensamentos estarem bem longe dali, não importava. Paguei a corrida, e desci do carro logo em seguida.
Assim que entrei em casa, percebi que meus pais estavam conversando na cozinha, então subi as escadas com cuidado para não chamar a atenção, e me enfiei no meu quarto antes que pudessem dizer qualquer coisa. Eu só queria ficar sozinha, e se me vissem com certeza rolaria um sermão. Me joguei na minha cama, afundando minha cara nos travesseiros, mas o choro não veio dessa vez. Tudo o que eu sentia era um vazio estúpido no peito, Jason havia me deixado e não voltaria mais, não é mesmo?
Eu não fazia ideia de como me sentia em relação a isso, triste ou irritada... Talvez os dois, não dava para discernir no momento. Provavelmente tinha sido melhor assim, mas eu ainda sabia que sentiria sua falta, ou talvez eu só não quisesse mesmo ficar sozinha. Respirei fundo, e me virei para encarar o teto branco acima da minha cabeça. Era isso? Eu só estava dormindo com ele por que tinha medo de ficar sozinha? Quando diabos eu havia me tornado essa pessoa horrível?
– Filha, – ouvi a voz da minha mãe do outro lado da porta – está acordada?
– Ah, sim. – me sentei na cama, agradecendo internamente por não terem me visto subir as escadas – Estou acordada.
– Certo, seu pai e eu estamos indo para o trabalho. – avisou ela – Mas tem alguém te esperando na sala.
– O quê? – franzi a testa, quem podia ser?
– É melhor você descer. – dona Elisa parecia um tanto animada – Ela só vai ficar hoje.
– Como assim? – levantei rápido da cama, tratando de seguir até a porta – De quem você está...
Desisti de terminar a pergunta assim que abri a porta do quarto e avistei minha mãe terminando de descer as escadas. Aquilo me fez soltar a respiração com força, olhei para dentro do meu quarto outra vez e neguei com a cabeça, acho que não tinha nada pior do que ficar sozinha com os meus pensamentos ali dentro. Então, tomei um fôlego de coragem e desci as escadas totalmente sem ânimo.
– Ai, meu Deus, Lizzie! – tomei um susto com o berro da figura loira e animada que saltou do sofá.
– May? – franzi a testa confusa, enquanto ela corria para me abraçar – O que está fazendo aqui?
– Também senti sua falta. – ela me apertou tanto que pensei que fosse explodir sem ar.
– É, eu senti a sua falta, mas... – respirei melhor assim que rompemos aquele abraço exagerado – O que você está fazendo aqui?
– Bom, se você não tivesse parado de me responder, saberia que o papai teve uma reunião de negócios na cidade e topou me trazer junto. – a May mexia em meus cabelos, quase como se eu fosse a sua boneca – Está precisando de um corte, não acha?
– Eu gosto deles assim. – me afastei um passo para trás – E sabe exatamente por que parei de te responder.
– Amiga, eu pedi desculpas, poxa. – ela cruzou os braços um tanto emburrada – Além do mais, a tia Elisa me contou que você quebrou o nariz de uma garota no colégio ontem. Então, pode acertar o Luke bem no meio da cara se ele começar incomodando você.
– O que mais a minha mãe te contou? – cerrei os olhos, e ela rapidamente alcançou as minhas mãos, me puxando em direção ao sofá.
– Ela não me deu detalhes, então agora é com você. – nos sentamos uma de frente para a outra – Me conta tudinho! Essa Ashley é aquela que ficava dando em cima do Dan, não é? Eu nem conheço, mas pode ter certeza que...
Não importava o quão horrível eu estivesse me sentindo agora, a voz aguda e super empolgada da May continuava entrando pelos meus ouvidos, o que só me fazia pensar que esse era o pior momento para ela decidir me visitar. Quer dizer, eu não queria despejar tudo em cima dela assim, mas suas perguntas não paravam de surgir, por menor que fosse o ânimo com o qual as respondia.
A certo ponto, parei de desejar que ela calasse a boca, porque estranhamente estava funcionando. Percebi que quanto mais coisas ela me forçava contar, mais de mim mesma eu botava para fora. Conversamos por quase toda a manhã e eu lhe falei sobre boa parte das merdas que tinham acontecido comigo nos últimos dias, o que pareceu mesmo deixá-la sem palavras. A May não era a melhor conselheira nos assuntos do coração, mas preciso confessar que era uma boa ouvinte.
Eu não mencionei nada sobre o Jason, ou sequer sobre o que aconteceu mais cedo pela manhã, ainda não sabia exatamente o que sentia em relação a isso, mas de certo me causava desconforto e vergonha. Não queria que a minha melhor amiga achasse que eu era uma vadia sem alma. Por fim, decidimos almoçar no shopping, na verdade ela me arrastou, eu não estava com um pingo de fome.
Para ser sincera, minha cabeça valia por duas hoje e eu não tinha planos de sair, mas a May disse que queria conhecer a cidade, e que seria bom eu respirar um pouco. No entanto, desde o segundo em que chegamos, não consegui não lembrar dele, de como me diverti com o Jason no just dance no fim de semana, da forma intensa como ele me olhava enquanto me esperava escolher uma nova roupa, ou até mesmo do lanche que comemos no estacionamento depois dele se meter naquela briga.
"Você nunca teria se deitado comigo se as coisas não tivessem saído do eixo com o Jordan", ele tinha razão em estar bravo comigo, mas assim como eu, também sabia tudo desde o início. Ele sabia que eu ainda amava o Jordan, e não tinha o direito de agir como um babaca estúpido por isso. Mas então por que eu me sentia tão mal comigo mesma agora? Tive que segurar a minha onda, enquanto a May me arrastava de uma loja para a outra, não queria ser idiota a ponto de estragar seu único dia de folga na cidade, bastava toda a melancolia que despejei nela pela manhã.
– Eu realmente não sei como o tio Alex te deu um cartão de crédito de presente. – comentei, colocando minhas sacolas sobre a poltrona do meu quarto, ao chegarmos em casa já pelo fim da tarde – Você compra como se não houvesse o amanhã.
– Ah, para! – ela riu, deixando suas sacolas sobre a minha escrivaninha – Além do mais, do que serviria toda a grana do meu pai, se eu nem pudesse fazer umas comprinhas para alegrar a minha melhor amiga?
– Não precisava ter se incomo... – minha fala foi interrompida pelo toque estridente do meu celular.
E, ao tirá-lo da minha bolsa, franzi a testa ao ler "Christine" no identificador de chamadas, o que ela podia querer comigo agora? Bom, provavelmente devia estar uma fera por conta da minha discussão com a Ashley, então sentei na minha cama cogitando a ideia de não atender, mas desisti logo em seguida.
– Christine? – assim que atendi, a May se virou na minha direção com os olhos arregalados – Aconteceu alguma coisa?
– Oi, darling! – começou ela, muito bem animada do outro lado da linha.
– Põe no viva-voz, amiga. – a May pediu num sussurro, se aproximando apressada.
Eu apenas concordei num leve aceno de cabeça, e ela sentou a minha frente, atenta ao que a ruiva falava.
– Eu sei que você está numa vibe meio agressiva e antissocial nos últimos dias, mas estou planejando uma socialzinha com as Lioness hoje na casa do Tayler. – por mais estranho que fosse, ela não parecia querer me matar – O que você acha?
– Bom, eu agradeço o convite, mas não estou muito no clima de festa, se é que me entende. – respondi sem pensar duas vezes.
Nem preciso dizer que recebi um olhar quase mortal da May nesse momento, o qual decidi ignorar.
– Ah, qual é, darling? – insistiu a ruiva – Não é bem uma festa, o Taylerzinho foi censurado pelos pais, lembra? Vai ser como a última reunião das Lioness antes do fim das aulas.
– Diz que estamos dentro! – a May pediu baixinho, mas antes que eu pudesse responder, ela tomou o celular da minha mão e se levantou – E tem espaço para a melhor amiga de infância da Liz nessa reunião?
– O que você está fazendo? Me devolve! – sussurrei, e a vi se afastar um pouco.
– Bom, vai ser só para os íntimos, mas tudo bem se ela quiser trazer alguém, contanto que venham está ótimo. – respondeu Christine.
– Estamos dentro, mal posso esperar para te conhecer, a Liz fala muito de você. – a May respondeu por nós duas, tratando de tirar a chamada do viva-voz.
– Você ficou louca? – me levantei num sobressalto, e a vi rolar os olhos.
– Ainda vai me agradecer por isso. – ela abafou o microfone com uma mão, e me deu a língua como uma criança de cinco anos – Certo, já estou ansiosa, darling! Até a noite, beijinhos.
Vi a May encerrar a chamada, e arregalei os olhos, ainda sem acreditar no que tinha acabado de acontecer.
– Resolvido, de nada. – ela estendeu o celular em minha direção.
– Por que você fez isso? Eu não estou mesmo no clima... – questionei, ainda confusa.
– Baby, hoje de manhã eu te ouvi me contar que terminou com o idiota do Jordan porque ele te traiu. – ela me segurou pelos ombros – Essa é a sua chance de usar aquele vestido maravilhoso que eu te dei de presente hoje, e mostrar para aquele babaca o que foi que ele perdeu, e está mesmo me dizendo agora que prefere jogar o bilhete premiado pela janela?
[...]
💕. AAAAAAA mas esse Jordan não vai pegar leve agora que sabe sobre a Liz e o Jason... 🙈😳 Preparadas para os surtos que ainda vem por aí??? Quem aí acha que o Jason está certo em mandar a real pra Liz, e quem acha que ele pegou pesado dessa vez? 👀 Deixem seus comentários, e não esqueçam de apertar na ⭐. Um beijo e até o próximo capítuloooo 😘
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