"Não posso nos salvar, minha Atlântida, nós caímos. Nós construímos essa cidade em terreno movediço, não posso nos salvar, minha Atlântida, oh, não... Nós a construímos para derrubá-la... – Atlantis, Seafret."

JASON

Quando subi pela janela do quarto da Lizzie, avistei de relance um carro preto estacionado no fim da rua, mas até aí poderia ser só uma eventualidade. Contudo, ao pararmos no primeiro sinal a caminho da escola, lá estava ele de novo se mantendo a uma distância considerável de nós. Isso se repetiu durante todo o percurso, mas tentei não assustá-la até por que não sabia do que se tratava, e por isso me mantive o mais descontraído que pude.

Confesso que a princípio pensei que fosse o merda do Henry. Afinal, pelo que a Lizzie me contou, o cara estava perto demais de descobrir parte do que realmente aconteceu na noite do tiroteio. Isso não era nada bom, mas por outro lado eu não era um suspeito, o "atentado contra um policial federal" havia caído como uma luva para tirar o meu da reta, e se dependesse dos corpos para provar algo indesejável... Bom, isso ele não teria.

Todavia, a certo ponto eu percebi que não era ele, pois um federal saberia manter a descrição numa perseguição silenciosa, ou pelo menos fingir que estava mantendo. Quando chegamos ao colégio, consegui ver pelo retrovisor que o motorista do carro era Thomas, um dos meus subordinados na BW, o que me deixou verdadeiramente puto. O que Enrico estava pensando para colocar alguém assim na minha cola? Será que aquele filho da puta tinha perdido a noção do perigo?

– O que porra estava fazendo vindo atrás de mim? – perguntei irritado ao descer do carro, batendo a porta com força – Está pensando que eu sou algum moleque, caralho?

– Foi mal, McClain, mas foram ordens, cara. – Thomas arregalou os olhos quando lhe puxei pela gola da camisa – Veio de cima, é coisa da chefia.

– Da próxima vez que me seguir, eu juro que acabo com a sua raça, filho da puta! – ameacei entredentes, cerrando o punho numa medida de conter minha vontade de socar a cara dele.

– Foi mal... – o vi levantar as mãos bem devagar, e o empurrei contra o carro.

Sabia que assim como eu, ele também recebia ordens, e por isso não descontaria minha raiva nele, mas não mudava o fato de eu estar puto com aquela merda agora. Empurrei a porta do galpão com toda força causando um estardalhar ao se chocar contra a parede. Allana que já estava sentada à mesa rapidamente olhou em minha direção, sorrindo sarcástica.

– Bom dia, colírio dos meus olhos! – com um dos pés ela empurrou uma das cadeiras em minha direção.

– Cadê o desgraçado do Enrico? – corri meus olhos por todo o galpão, mas nem sinal dele por ali.

– Na Itália. Enrico ainda não voltou. – Allana arqueou as sobrancelhas, prendendo minha atenção – Mas ele ficou sabendo da sua ninfetinha.

– Você contou? – arqueei as sobrancelhas, me aproximando em passos lentos.

– Ah, faça-me o favor... eu não disse nada. – a vi rolar os olhos – Não sou nenhuma dedo duro, e você conseguiu ótimas informações pra mim.

– Claro, mas da próxima vez que mandarem o Thomas atrás de mim, vou entregar o corpo dele num caixão pra vocês. – meu tom de voz era sério e firme – É melhor avisar isso ao Enrico.

– Ui, ui, ui... Por que tanto mau humor assim tão cedo? Por acaso, a sua mais nova vadiazinha não te satisfez direito, foi? – rolei os olhos, ao me sentar à mesa – O quê? Ela não é... boa de cama?

– Não me fez vir aqui para saber como foi a minha trepada, não é? – lhe encarei ainda mais irritado que antes, e logo a vi assentir – Então encurta o papo, por que o Enrico ainda não voltou?

– Ele teve de resolver um lance novo que surgiu. Somos só nós dois por enquanto. – senti o pé de Allana se esfregar entre as minhas pernas por baixo da mesa – Como nos velhos tempos, lembra?

– Deixa de graça, não vou comer você! – me afastei um pouco, e ela rolou os olhos.

– Me recusando assim, bebê? Chega até magoar a Allaninha aqui. Não vai dizer que o seu coraçãozinho é só de uma agora, vai? – ela riu com deboche, estava tentando me tirar do sério, o que não era muito sensato.

– Vai se foder! – xinguei entredentes, e ela mordeu o cantinho do lábio inferior, negando com a cabeça – Só não sou otário o suficiente pra comer a mulher do chefe no local de trabalho.

– McClain, você sabe que não me engana. – a vi ficar de pé, seguindo em direção as bebidas – Basta o mínimo sinal de perigo e já fica todo preocupado com a doce e ingênua Lizzie.

– Não toca no nome dela! – cerrei os punhos com força, e aquela vadia me olhou rapidamente por cima do ombro – Você não tem permissão.

– Oh, não! Sem ciúmes, tolinho. A garota até que é bonitinha, mas eu prefiro mulheres experientes, saca? – ela sorriu, tornando a correr seus olhos pela prateleira de bebidas logo a frente – Só estou curiosa...

Allana fez uma pausa, ao achar o que procurava, e logo alcançou uma garrafa de tequila, a qual rapidamente abriu, tomando um longo gole direto do gargalo.

– Curiosa? – arqueei uma sobrancelha.

– É claro! Afinal, você nunca se preocupa com ninguém além de si mesmo e a sua querida mãezinha. – ela se virou em minha direção outra vez – Não me diga que está mesmo apaixonado?

– Você bateu a cabeça, Allana? – questionei, vendo um sorriso malicioso surgir em seus lábios – Não sinto nada por aquela garota, nem ela por mim, a gente só está curtindo.Afinal, você sabe, ela é uma filha da puta muito gostosa, e carne nova excitaqualquer um.

– Espero que seja só isso mesmo, porque nós dois sabemos que no fim, – Allana tornou a sentar-se a minha frente – garotas feito a Lizzie nunca ficam com caras feito você, não é?

– Como pode ver, não preciso que me lembre disso. – encarava seus olhos negros fixamente – Agora se me permite, vamos aos negócios?

– Claro, vou te contar o que Enrico me passou, querido. – ela se debruçou um tanto sobre a mesa.

Confesso que não era nada fácil ter de ouvi-la falar tão direto o que eu já sabia, e acho que essa era a pior parte... Saber que era verdade. Eu não passava de um filho da puta todo errado, enquanto a Lizzie... Bom, digamos que ela era boa demais para um cara feito eu, por mais que eu tentasse me convencer de que não me importava o suficiente com isso. Foda-se! Eu não almejava mesmo que ela ficasse comigo, não desse jeito.

Se talvez tivéssemos nos conhecido antes de tudo... Não sei por qual motivo, mas acho que eu gostava de pensar que poderia ter sido o cara certo. Claro que isso era só mais um pensamento idiota, mas ainda assim, não dava para negar que dentro de mim existia um forte desejo de cuidar da Lizzie enquanto pudesse. Não era como se isso fosse limpar os meus pecados, porque nada podia mudar as coisas que fiz, ou que deixei acontecerem, dava no mesmo. Entretanto, eu precisava fazer pelo menos uma coisa descente nessa vida de merda, e talvez... Bom, eu sentia que devia ser com ela ou para ela...

LIZZIE

O tic-tac do relógio parecia mil vezes mais alto e infernal hoje, mas não era bem isso que realmente me incomodava. Não consegui sequer ouvir uma única palavra que o meu professor dizia, apenas rabiscava o livro sem ler o que estava escrito ali. Meu coração estava inquieto e minha cabeça a mil, afinal o Jordan estava de volta ao colégio e isso queria dizer muitas coisas. Dentre elas, que haveriam mais cenas como a de ontem na Candy's, certo?

Claro, eu teria de aguentar aquilo até o verão, o problema é que não fazia ideia de como suportaria vê-lo com a Ashley todos os dias até o fim das aulas. Como se já não bastasse todas as outras coisas... Me sentia tão burra por ainda amá-lo com todas as minhas forças, e ao mesmo tempo tão confusa por estar dormindo com o Jason. Eu estava um enorme e estúpido caos por dentro, e não tinha ideia do que fazer para me recuperar.

– Eu sinto muito por isso, Lizzie. – disse Emily, assim que deixamos a sala de aula – Tentei convencer a Christine de deixar você de fora dessa palhaçada, mas sabe como ela é...

Um leve suspiro escapou por entre seus lábios, e notei que ela havia percebido o meu desconforto com aquela situação. Acho que seria impossível não perceber, era só olhar na minha cara, devia mesmo estar estampado o quanto aquela merda me incomodava.

– Ah, isso? Não, tudo bem. É o que fazemos. – tentei tranquilizá-la de alguma forma – Apesar de não estarmos mais juntos, o Jordan ainda faz parte do time, e o nosso término não tem nada a ver com isso. Fora que... Bom, vamos acabar animando todo o colégio para as finais que estão se aproximando.

Emily sorriu compadecida para mim, e senti meu coração ficar pequenininho dentro do peito ao me lembrar do que lhe escondia sobre Noah e a aposta idiota dele. Tinha certeza de que, se ela descobrisse nunca me perdoaria, e talvez eu não merecesse o seu perdão mesmo. Mas acontece que eu estava numa posição delicada, não dava simplesmente pra ferrar com tudo agora que ela estava grávida dele. E ter de engolir aquilo era uma das piores coisas que eu teria de fazer.

– Meu Deus, sua mão está tão gelada! – Emily chamou minha atenção novamente ao segurar firme em minha mão – Não fica nervosa assim, é melhor pensar positivo, vai ser como qualquer outra de nossas apresentações.

– Ah, é. Você tem razão. – respondi aquilo no automático, e ela agarrou meu braço me puxando para dentro do vestiário feminino.

Preferi me calar, não havia nada que a Emily ou qualquer outra pessoa pudesse dizer para que eu me sentisse confortável naquela situação. Ninguém ao menos imaginava o quanto eu estava ferrada com os meus próprios sentimentos, e como seria difícil ver a imagem do cara que amo se desfazendo dia após dia, lenta e dolorosamente dando origem ao verdadeiro Jordan o qual eu precisaria aprender a odiar.

"Eu sinto a sua falta... Liz, eu penso em você todo dia", sua voz rouca e sedutora ecoava em minha cabeça me fazendo lembrar do quão perto estive de beijá-lo na última sexta a noite, e do quanto me senti estúpida por isso segundos depois. Eu não queria mais ser aquela versão idiota e apaixonada, mas o Jordan mexia comigo de um jeito... "Droga, Lizzie, chega! Se concentra, garota!", me repreendi mentalmente ao trancar a porta do box.

– Não seja hipócrita, você passou o final de semana inteiro com o Jason. – respirei fundo, assentindo para mim mesma – Então agora só esquece o Jordan, tá legal?

– Falou alguma coisa, Liz? – a voz da Emily, no box ao lado, me fez estremecer – É que eu não consegui ouvir, pode repetir?

– Ah, não. Eu só... – meus olhos correram por algumas frases e desenhos obscenos nas paredes – É que eu estava lendo uma mensagem, nada importante.

– Entendi. Às vezes acabo lendo em voz alta também, é um saco. – ela deu uma risadinha, e soltei a respiração um tanto aliviada – Vem cá, Liz, eu preciso te perguntar... É verdade o que estão falando, você e o Christian saíram no fim de semana?

– Bom, ele queria me contar algumas coisas, está arrependido pelo que fez com a Rose. – respondi quase automaticamente, e franzi o cenho ao me dar por conta – Mas que conversa é essa que estão falando disso?

– É que parece que viram vocês juntos na sexta e, para ser sincera, eu já imaginava que fosse isso. – disse Emily, em tom não muito entusiasmado – Sabe, cedo ou tarde ele ia se arrepender.

– Eu preferia que ele tivesse se arrependido antes de fazer o que fez. – fui sincera, e ela apenas concordou com um "É verdade!".

Seguimos conversando sobre a condição física de Rose e as assinaturas, enquanto eu vestia o uniforme das Lioness. No processo, encontrei algumas marquinhas suaves espalhadas pelo meu corpo, e algumas lembranças dos momentos recentes com o Jason ressurgiram em minha memória. Por sorte, eram em lugares bem discretos. Ao contrário disso, eu morreria de vergonha e mataria aquele garoto junto. Ri dos meus pensamentos, sacudindo levemente a cabeça para os lados.

Aquele idiota era um grande pervertido, isso sim, e eu não tinha ideia de como explicar porque as coisas estavam rolando tão intensas entre nós dois, só... No início, parecia que nunca trocaríamos mais do que meros xingamentos, mas agora... Acho que era mesmo bom estar com ele. Para variar, o Jason era a única pessoa que conseguia fazer com que eu me sentisse leve. Ao lado dele era como se nada mais importasse.

Talvez fosse isso, provavelmente era sim, mas no fundo eu sabia que aquele era um jogo perigoso, apesar de ser louco e extremamente excitante. "Eu só quero uma coisa de você...", suspirei baixinho ao terminar de prender os cabelos num rabo de cavalo alto e apertado, para ser bem sincera eu devia mesmo estar com sérios problemas psicológicos.

– Me atualiza! – uma das garotas quase esbarrou na porta quando tentei abrir – Como assim o Dan e a Ash voltaram, e eu ainda não estava sabendo?

Paralisei por um curto instante ao ouvir a voz da Mandy, uma garota baixinha de madeixas escuras, longas e escorridas. Ela também fazia parte das Lioness, e geralmente estava acompanhada de Dafne ou Ashley. "Espera aí, Dafne?", questionou a voz na minha cabeça, e rapidamente empurrei a porta ao me lembrar de toda a conversa com o Christian na Candy's. No entanto, já haviam muitas garotas espalhadas pelo vestiário a essa altura, e as duas sequer me viram ali.

– Bom, ainda não é nada oficial, mas parece que agora rolou mesmo. – me aproximei cuidadosamente, a fim de ouvir o que diziam – Pelo que ela me contou, o Dan ficou muito puto com o novo casalzinho, Christian e Lizzie. Acredita que eles estavam em um date?

Cerrei os punhos com força ao ouvir a mais alta contar aquelas mentiras,enquanto passava para trás da orelha uma das duas mechas vermelhas destacadas na parte frontal de seu chanel alongado, as quais antes já haviam sido pintadas de outras cores.

– Não, sério? – Mandy pareceu surpresa – Gente, eu tô chocada. Não era ela que se dizia amiga da gorduchinha?

– Pra você ver... Depois de todo aquele escândalo, a pobrezinha da Rose ficou até aleijada. – Dafne fingiu voz de choro, e eu juro que precisei me controlar para não avançar em cima delas aoouvir suas risadas maldosas – Mas a santa da Lizzie foi lá e...

– Vadias, venham todas aqui! – a voz aguda da Christine, junto as suas palmas que ecoaram alto, me fez estremecer pelo susto que tomei – Vamos logo, não tenho tempo para enrolação!

Nesse instante, avistei a Emily saindo do box, já usando o seu uniforme.Então, rapidamente lhe agarrei pelo braço e, com facilidade, nos misturamosentre as outras meninas. De relance, vi quando Dafne e Mandy se aproximaramcarregando sorrisinhos cínicos nos lábios.

– Bom, meu Taylerzinho me pediu para organizar uma surpresinha para animar o Davis. – disse Christine, após subir em um dos bancos – E não é novidade alguma que o Jordan foi chutado pela little Lizzie coração de gelo.

– Christine! – Emily se pôs a repreendê-la, e eu apertei o seu braço ao sentir todos os olhares se voltarem para nós duas.

– Silêncio, darling, não me interrompa! – a ruiva pareceu mesmo não dar a mínima – Voltando ao assunto, quero saber... tem alguém disponível para uma dança de consolação no colo do nosso melhor quarterback?

Franzi a testa, entreabrindo a boca sem fazer som algum ao ouvir aquilo, mas, com a exceção da Emily, todas as meninas pareceram estupidamente animadas com aquela idiotice. E, de um segundo ao outro, surgiram candidatas de todos os lados berrando: "Eu quero!", "Me escolhe!", "Eu aqui!". Fui mais empurrada do que porta de loja em promoção, por uma multidão de garotas que almejavam ser notadas e até mesmo escolhidas para o papel da vez.

– Isso é ridículo! – disse Emily, ao finalmente nos afastarmos – Christine é uma vadia sem coração!

– Está tudo bem. – engoli em seco, dando uma breve olhada no mar de garotas desesperadas mais a frente.

– Não, Lizzie, não está não. Essa idiota é sua amiga, ou era pra ser, pelo menos. – ela parecia mais revoltada do que eu com aquela ideia estúpida.

No entanto, não tivemos muito tempo para discutir.

– Chega! – berrou Christine, abafando todas as outras vozes – Parecem um bando de tias encalhadas. Eu, hein...

– Christy! – a voz da Mandy sobressaiu as outras, interrompendo a fala da ruiva – É importante que saiba, está rolando Jordan e Ashley nos bastidores. Não teria nada mais justo do que ela fazer essa surpresinha pra ele, né?

– Mandy! – Ashley passou algumas mechas de cabelo soltas do seu rabo de cavalo para trás da orelha, como se estivesse envergonhada – Não é nada sério ainda, não era pra contar.

– Como assim não era pra contar, amiga? Ele é, e sempre foi o seu homem. – Dafne bateu sutilmente com o cotovelo no braço dela, me lançando um rápido olhar de deboche – Vocês são louquinhos um pelo outro.

Ter de ouvir aquilo, fazia meu sangue ferver nas veias, mas eu precisava me controlar e não cair nas provocações daquelas vadias.

– Bom, sendo assim, vamos de primeiro coraçãozinho partido do Davis hoje. – concordou Christine, arrancando gritinhos e palminhas entusiasmadas de todas as meninas – Se organizem, vadias, porque ao toque do sinal vamos direto para a cantina, nosso showzinho logo vai começar!

– Desculpa, Lizzie. – pediu Emily, um tanto preocupada – Eu realmente não sabia dessa parte, não fazia ideia que Ashley e Jordan...

– Tudo bem. Não é uma surpresa pra mim. – forcei um sorriso que me saiu dolorido – Eu mesma vi eles dois juntos lá na Candy's há uns dias. Além do mais, o Jordan já ia pra cama com outras mesmo quando namorava comigo, agora que está solteiro pode fazer isso sem ter que esconder de mim, ou de qualquer um.

– Eu... sinto muito, de verdade. – disse ela.

– Só vou pegar meus pompons, encontro vocês em um minuto! – ouvi quando Dafne passou por nós duas, e não me contive em segui-la com o olhar.

– Acho que precisamos ir agora, você vem? – perguntou Emily, ao constatar que as meninas já seguiam para fora em fila reta.

– Claro. – confirmei, mas acabei olhando na mesma direção que a Dafne seguira. Não dava para negar que precisávamos ter uma conversa séria – Mas acho que preciso usar o banheiro primeiro, vai indo na frente.

– Tem certeza? Eu posso te esperar. – sugeriu ela, me encarando com um olhar complacente.

– Não precisa, eu estou bem. Pode ir, não demoro. – falei o mais firme que pude para convencê-la, e logo a vi assentir.

Então, nos despedimos com um rápido abraço, e vi quando ela deixou o vestiário junto com as demais. O silêncio tomou conta de todo aquele lugar, sendo interrompido apenas pelo bater da porta do armário de Dafne, o que me fez se virar. Era chegada a hora daquela vadia entender que para toda ação há uma reação, e como ninguém além de mim sabia a verdade, eu precisava fazer alguma coisa quanto a isso.

– Nossa, Liz, você me assustou. – a vi pousar uma mão em seu peito assim que deu de cara comigo – Achei que todas as meninas já tivessem ido. O que foi? Não vai me dizer que desistiu?

– Bom, vou ser bem direta com você, eu sei tudo sobre a noite do baile, Dafne. – o meu tom de voz era sério e forte.

– O quê? Do que está falando? Olha, eu... estou meio apressada, então faz o favor e sai da frente. – disse ela, numa risadinha escrota, mas acabou tomando um empurrão ao tentar passar por mim – Por acaso ficou maluca, garota?

– Não tão rápido, eu disse que sei sobre o que você e o Marcus fizeram. – repeti, encarando seus olhos diretamente – Sei que vocês armaram pra Rose junto com o Christian, agora me diz o que você ganhou com isso?

– Eu não fiz nada, você que está viajando. – Dafne cruzou os braços, com um ar imponente exalando de sua postura.

– Não se faça de desentendida. – dei um passo a frente, encarando-a com extrema repulsa – Você se dizia amiga dela, como pôde fazer algo tão maldoso assim? O Christian me contou que você e o Marcus vazaram o vídeo para o colégio todo. Só me diz, estava se divertindo com essa merda?

– Ah, não enche o saco. Não tenho que ficar aqui te ouvindo me acusar assim, então vai se foder! – ela praticamente cuspiu aquelas palavras na minha cara.

– Sabia das outras? – agarrei um de seus braços, antes que pudesse passar por mim – Lembra do que o Marcus disse? A Rose não foi a primeira, antes dela tiveram outras como a Christine, a Emily, você...

– Me larga agora, Lizzie, ou vou te fazer se arrepender por encostar em mim. – a vi ranger os dentes, enquanto faíscas de ódio saltavam de seus olhos.

– É mesmo? E o que vai fazer? Me deixar numa cadeira de rodas também, Dafne? – apertei ainda mais o seu braço, àquela altura eu já não me importava com mais nada – Não tem mesmo um pingo de decência na cara?

– Pode falar o que quiser, mas eu não estava na porra do carro que atropelou a sua amiguinha. – ela se soltou em um solavanco, foi tão rápido que quase perdi o equilíbrio – Agora sai da minha frente, ou juro que passo por cima de você.

– Como consegue? – minha raiva era tamanha que senti as malditas lágrimas alcançarem meus olhos – Como consegue encarar as meninas sabendo dessa porra toda e do que você fez com a Rose? Porque eu mal consigo olhar pra Emy quando me lembro do Noah, é sufocante não poder contar nada pra ela sobre a maldita aposta que ele fez, mas você... Eu te olho e só consigo ver um monstro nojento.

– O que disse? – a voz de Emily reverberou por todo o espaço, o que me fez se virar rapidamente – Que história é essa do Noah ter feito uma aposta, Lizzie?

– Emy...

– Wow, parece que as coisas estão ficando interessantes por aqui agora! – Dafne deu uma risada em provocação – Acho melhor contar logo essa sua historinha pra ela, doce Lizzie.

– Emily, eu posso... – dei um passo a frente, mas paralisei ao vê-la secar uma lágrima que escapou sorrateira – Posso te explicar.

– Está dizendo que eu também fui uma aposta? – ela tornou a me encarar com os olhos marejados, era de partir o coração – O Noah fez uma aposta e você sabia disso, mas não me contou?

– Uh, que feio! Minha mãe sempre diz que meninas que guardam segredos não são confiáveis. Vocês concordam, não é? – Dafne bateu com o cotovelo em meu braço assim que parou ao meu lado. O sorriso estampado em seus lábios indicava o quanto estava adorando assistir aquilo – Mas aí, Emyzinha, se eu fosse você não daria ouvidos, a doce Lizzie está exalando seu veneno com mentiras hoje.

– Cala a boca! – rangi os dentes, encarando-a com ódio.

– Noah fez uma aposta, ou não? – Emily tornou a perguntar, tentando disfarçar sua voz de choro. Eu sabia o quanto seria doloroso para ela, e naquele momento não conseguia escolher o que dizer – Lizzie, me fala!

– Emy – seu olhar perdido parecia cravado em mim...

[...]

💕. A Emilly escutou tudoooo, e agora??? 😱 Prontas para o Jordan? No próximo capítulo ele vem para abalar as estruturas kkkkkkkkkkk Deixem seus comentários, e não esqueçam de deixar a ⭐. Até o próximo capítuloooo 😘