CAPÍTULO 58 [ÚLTIMOS CAPÍTULOS]
Olá, como vcs estão?
Eu me recuperando, fiquei mal ontem, mas hj já estou melhor... então vamos continuar...
Boa leitura!
Eu continuava de pé, incapaz de me mover ou de falar algo. Minha garganta estava seca, mas sentia ainda em meus rosto os resquícios da umidade deixada pelas lágrimas.
— Porque Hadassa? — a voz do meu pai estava tão trêmula que eu mesmo nem o reconhecia. — Destruir tantas vidas assim, sem motivo. — ela voltou a chorar. Desviei meus olhos, ver seu choro me causava algo estranho dentro de mim, e eu não sabia identificar o que era. — Não que houvesse motivos plausíveis para que isso fosse feito. — ele riu sem vontade.
— Eu fiz por nós. — fiquei enjoado ao escutar sua justificativa para ter feito tudo que fez.
— Não fale bobagens! — meu pai alterou a voz. — Não coloque mais inocentes no meio de toda essa atrocidade que você fez.
— Mas é verdade eu tive medo de perder você, de perder minha família. — ela olhava dele para mim, como se buscasse o apoio que sempre demonstrei ter por ela. — Eu fiz o que achei necessário para que tivéssemos uma família unida e feliz. — ela limpou o rosto.
— A que custo? — meu pai berrou, fazendo com que ela tremesse na cadeira. — Eu sempre amei você, sempre fiz de tudo para que isso ficasse claro.
— Se me amasse não teria se envolvido com ela. — minha mãe deixou pela primeira vez a magoa que ainda carregava ficar visível. Eu já havia presenciado algumas discussões deles, mas nunca se passou pela minha cabeça, algo dessa proporção. — Você teve uma filha com ela. — ela berrou.
— Não me isento do erro que cometi Hadassa, mas isso não justifica o que você fez. Nada justifica. — ela riu do que ele falou. — Me deixei levar sim, me envolvi com Miray, o que foi errado. — ela baixou a cabeça. — Meu único erro foi não ter feito da maneira correta. — minha mãe ficou de pé, e o encarou. — Eu deveria ter assumido ela, como Fauze me aconselhou. — minha mãe mudou a postura, e encarou meu pai.
— Se eu fiz tudo isso a culpa é sua. — ela o acusava. — Seu amigo mesmo falou para você se afastar dela, deveria ter ouvido ele, se tivesse feito Fauze ainda estaria aqui, e nada disso teria acontecido. — eu quis chegar a tempo de evitar o que meu pai fez a seguir, mas eu não consegui me mover do lugar.
O tapa que a atingiu fez com que seu rosto virasse para o lado, então ela me olhou, e eu não tive reação. Meu pai xingou e se afastou dela, indo até a janela. Em outro momento eu teria ido, em sua defesa, mas agora a única coisa que pairava em minha mente era:
Como eu deveria reagir a tudo?
Ela era minha mãe, eu sei, mas o que ela fez é algo muito grave. Fechei os olhos pensando em Almir. Meu amigo irmão. Como ele estaria reagindo a tudo?
Desde que entrei nessa sala, Almir não havia olhado para mim mais do que uma troca de olhares que trocamos, quando Nagibe falou algo por Mustafá ser vitima da minha mãe. Nós sabemos que isso não era verdade, mas depois eu resolveria isso.
— Quando Jasmim entrou em nossa casa pela primeira vez, você não foi o único a ficar mexido com tudo. — escutar o nome de Jasmim entrar no meio da conversa deles, me fez olhar na direção onde eles estavam. — Eu sei que ela te trouxe lembranças do passado, porque trouxe para mim também. — ela limpou o rosto, meu pai a encarava. — Ela era tudo o que eu não consegui ser. — Jasmim nesse momento entra na sala com uma bandeja e coloca na frente da minha mãe.
— O chá que a senhora pediu. — ela se afastou e eu notava como ela estava perdida com tudo, mas mesmo assim conseguiu ser prestativa. Minha mãe sorriu para ela.
— Ela aceitava tudo o que era lhe dado...
Minha mãe continuou e Jasmim veio para perto de mim, eu a abracei pelos ombros. Eu já não sabia dizer se com o intuito de protegê-la, ou para que ela fosse meu apoio. Mas era bom ter ela aqui comigo.
— Ela fez algo que aos olhos de todos foi um erro, e eu mais do que ninguém a entendi e compreendi, porque ela fez por amor. — senti Jasmim estremecer, eu a apertei mais. — Porque eu também fiz algo errado por amor.
— Pare de falar que foi por amor Hadassa, isso não tem cabimento! — meu pai se alterou mais uma vez. — Não existe a menor comparação entre o que você fez, e ao que ela fez. — ele esbravejou. — Ela pode ter cometido um erro, o que você fez é crime. Você destruiu famílias, isso não é amor. — meu pai se alterava mais quando ela tentava justificar o que fez pelo que sento por ele.
— Eu vi que o destino iria cobrar os meus erros, quando ela entrou aqui, com seu jeitinho meigo e carismático, aceitava tudo que nós e nosso filho tinha a oferecer a ela. — ela olhou em nossa direção. — Ela fez o que eu não tive coragem de fazer, ficar a espera do meu destino, sem reclamar, simplesmente aceitando. — ela abaixa a cabeça. — Quando descobri sobre a gravidez, eu fiquei cega, eu sabia que seria uma questão de tempo até você assumir Miray. Então fiz o que tinha que fazer, separei vocês e trouxe a criança para casa.
— Dizendo que ela não queria nada que a fizesse se lembrar de mim. — ele esfrega o rosto. — Quando te contei tudo, e você agiu da forma como agiu, aceitando e cuidando de tudo achei que eu havia sido abençoado e quando você chegou com Samira e a criou como sendo sua filha, eu me culpava todos os dias por ter feito o que fiz com você. Procurei demonstrar todos os dias o amor e admiração que sentia por você. — minha mãe voltou a chorar. — No entanto tudo não passou de uma mentira.
— Não é uma mentira, eu te amo. — ela se apressa a falar. — Fiz o que fiz por amor, e durante esses anos todas as vezes que você me amou eu senti que tudo valeu a pena. — meu pai vai para cima dela novamente, mas dessa vez eu consigo ser mais rápido e o impeço.
— Cale a sua boca! — ele gritou. — Cale essa maldita boca! — ele estava transtornado. — Se continuar falando que foi por mim ou pela nossa família, eu não sei do que serei capaz.
— Calma. — o afastei o levando para perto da janela. — Vamos tentar ser racionais, temos que pensar em como agir. — eu me afastei dele. — Eu sinceramente não sei como e o que fazer. — esfreguei a cabeça. — minha mãe tomou o chá que Jasmim fez e se levantou.
— Eu gostaria de subir e ficar no meu quarto até vocês decidirem o que vão fazer. — ela alisava seu vestido.
— Mande alguém ficar com ela. — meu pai falou sem olhar em sua direção. — E chama o Farid. Precisamos de um advogado. Ver o que se pode ser feito.
Fiz o que ele pediu e atendendo um pedido meu Lia subiu com minha mãe para ficar em seu quarto. Jasmim foi ligar para casa para saber se estava tudo bem, ela era meu apoio, mas para ela eu desconfiava que era nossa filha. Alguns minutos haviam se passado até que Almir, Ibrahim voltaram para a sala. Ficamos os quatro sentados sem falar nada, até que meu pai tomou a iniciativa.
— Eu nem sei o que falar a vocês. — ele estava derrotado. — E, eu jamais pediria a vocês que não fizessem nada, porque eu no lugar de vocês iria querer derramar sangue, mas isso está fora de questão. — ele olhou para ambos. — Eu jamais pude imaginar o que vocês passaram e hoje sabendo de tudo, vejo que é incalculável o sofrimento da sua família. — ele abaixou o rosto, e pelo gesto sei que estava limpando o rosto.
— Não quero sangue. — Almir falou respirando fundo. — Em outros tempos talvez, mas hoje não. — ele olhou para Ibrahim. — Nem eu nem meu irmão.
— Tudo isso tem que ter um ponto final. — Ibrahim falou. — Isso não quer dizer que não faremos o que estiver ao nosso alcance diante da lei para que todos sejam punidos. — meu pai concordou.
— Atitude nobre. — ele riu sem vontade. — Eu mesmo não sei teria.
— Temos outras prioridades no momento. — Almir falou olhando para mim. — Nada do que for feito, vai mudar o que aconteceu e acho que o destino vai cuidar de colocar tudo em seu devido lugar. E algumas coisas pesam mais para mim hoje, do que vingança com as próprias mãos.
— Vocês são da nossa família, sabemos que não tem nada haver com o que aconteceu. — Ibrahim completou e meu pai começou a chorar. — Estamos fazendo isso pensando no nosso pai que perdeu a vida e que não seja em vão. — Ibrahim também limpava o rosto. — Eu não tive a chance de conviver tanto com ele como eu gostaria, mas pelo que todos falam, ele agiria dessa forma, buscando justiça, mas sem tomar as mesmas atitudes.
— Fauze era um grande homem. — meu pai falou com a voz embargada. — E vejo que vocês, tem muito dele. — ele limpou o rosto e se levantou. — Mandei chamar o advogado e façam o que tiver que ser feito. Eu estarei no escritório. — falando isso ele saiu. Olhei para os dois que me encaravam.
— Temos que encerrar isso. — Almir voltou a falar. — Não pense que estou com raiva de você ou algo assim Zayn, só é estranho. — eu concordei. — Ainda não consegui absorver tudo. — ele esfregou a cabeça.
— Nem eu. — minha voz quase não saia. — Eu confesso que desconfiava do meu pai, e sei lá, apesar de ainda ser um choque, eu já estaria preparado. — ambos concordaram. — Eu não sei o que falar a vocês além de pedir desculpas, mas sei que isso chega ser ridículo.
— Que clima de enterro. — olhamos para Farid e James que chegaram. James cutucou o amigo. — Esqueçam o que falei. — eles se sentaram e ambos esperaram que algo fosse dito.
Mas um grito vindo de andar de cima ecoou pela casa. Subi as pressas e ao entrar no quarto da minha mãe ela estava caída no chão.
— O que aconteceu? — perguntei me aproximando dela, vendo se estava respirando.
— Ela pediu um copo de água para tomar um comprimido para dor de cabeça. — eu mexia nela e eu não sentia nenhuma reação. Lia, apontou para o frasco em cima da mesa. — Ela estava escrevendo algo e eu sai para buscar a água, e quando cheguei ela já estava caída aí.
Ela não tinha pulso. Ela não respirava. Ela estava morta.
— NÃO!
Achei ter sido eu a gritar, mas quando meu pai se jogou ao meu lado, eu entendi que foi ele quem gritou.
— Hadassa? — ele batia no rosto da minha mãe. — Alguém chama uma ambulância.
Eu achando que o pior que tinha para acontecer foi ter presenciado a verdade sendo colocada para fora, e sentir e compartilhar da dor com Malika e Zayed. Mas ver a forma como meu sogro e Zayn estavam arrasados pela morte da minha sogra, me deixou sem chão.
Já se passava das dez da noite, a casa estava em total silêncio, mas eu ainda conseguia ouvir os gritos desesperados do meu sogro. Eu limpei as lágrimas que caiam toda vez que eu lembrava do que aconteceu.
Ver o corpo dela sem vida sendo levado pelos paramédicos, foi algo estranho e doloroso, mas presenciar o sofrimento de pai e filho estava acabando comigo. Que Allah me ajudasse, e que essa noite acabasse logo, pois eu tinha medo que algo ainda pudesse acontecer.
— Temos que ir para casa. — Zayn falou entrando em nosso antigo quarto.
Foi para cá que corri, para buscar um pouco de refugio em meio ao caos que assolou essa casa. Eu estava sentada na nossa antiga cama, segurando uma roupinha de Aysha, uma que eu havia deixado para Lia como lembrança.
— Nós temos que ficar. — falei e ele nem me olhou. Ele estava distante.
— Aysha. — foi o que saiu de sua boca. Eu sorri, e bati ao meu lado para que ele sentasse.
— Pedi a meu irmão para trazê-la. — ele se sentou e olhou para minhas mãos. — Acho melhor ficarmos aqui por uns dias. — falei acariciando sua nuca.
— Eu não consigo acreditar. — falou e notei que sua voz havia mudado. — Não consigo. — eu o abracei e então ele começou a chorar.
Não falei nada, porque não tinha o que ser dito para que toda essa dor amenizasse. Então fiz o que eu sabia de melhor, dei a ele meu carinho e amor, em forma de gestos. Não sei por quanto tempo ele chorou, mas por fim eu o levei para o banheiro e deixei que ele tomasse um banho bem demorado.
Pedi a Lia que fizesse uma sopa, porque acreditei que ninguém teria apetite e estomago par uma comida mais pesada. Quando Jamal chegou com minha filha, Zayn ainda estava no banho.
— Como eles estão? — perguntei a ele sobre Almir e Ibrahim.
— Não sei ao certo. — ele me entregou Aysha que tentava pegar seu turbante, ele sorriu. — Mas eles vão ficar bem, eles são muito unidos. — eu sorri e concordei. — Você acha que vai ficar bem aqui?
— É o meu lugar. — ele sorriu concordando e beijou minha testa. — É onde eu devo estar.
— Eu me orgulho muito de você, irmã. — eu o abracei e um resmungo de Aysha foi ouvido. Rimos.
— Vamos levar um pouquinho de alegria ao seu papai? — falei com ela que sorria sem saber ou ter noção do que estava acontecendo.
— Qualquer coisa que precisar me liga. — concordei, e quando ele começou a se afastar eu lembrei de algo.
— Jamal? — ele parou olhando para trás. — Alguma notícia de Zayed? — ele negou.
— Ele não quer ser encontrado. Porque desligou celular, não está com o carro. — ele deu de ombros. — Dê tempo a ele. — ele falou. — Eu iria querer. — concordei com ele e entrei no quarto me deparando com Zayn sentado na beirada da cama, só de toalha, abaixado com a cabeça nas mãos.
Samira foi avisada do que aconteceu por cima, sem entrar em detalhes. Mas como estava viajando ela só chegaria na manhã seguinte, segundo os advogados seria o tempo necessário para o corpo ser liberado e que pudesse começar os ritos fúnebres.
Agora eu cuidaria do meu marido.
Sentei ao seu lado na cama e Aysha parecia saber que o pai precisava de atenção. Ela começou a bater em seu braço. Zayn se ergueu olhando para ela, e sem falar nada a pegou do meu colo. Ambos ficaram se olhando, essa conexão deles era algo fora de série.
— Eu vou tomar um banho. — me levantei. — Fica com ela? — perguntei querendo que ele falasse algo, mas somente concordou.
Fui para o banheiro e tomei o banho mais rápido da vida. Quando sai os dois estavam deitados da cama, Aysha brincava com um brinquedinho e Zayn só a olhava. Fui até ele e acariciei seu braço.
— Vou até a cozinha, quer algo? — ele negou.
Seu silencio estava me deixando agoniada, mas não iria insistir. Desci e fui até a cozinha. Todos os funcionários estavam quietos, exceto Farid e Issac que estavam trabalhando em uma mesa no canto da cozinha. Eles estavam cuidando de todos os preparativos, para funeral e para o que sairia na mídia.
Peguei uma xícara de chá e segui corredor adentro. Eu sabia que meu sogro havia se trancado aqui desde que os paramédicos falaram que não havia mais o que ser feito. Mas mesmo assim a levaram para o hospital. Bati e empurrei a porta.
Meu sogro estava sentado na poltrona de frente para a janela com um papel nas mãos. Era a carta que minha sogra escreveu antes de se matar. As palavras ainda estavam vivas em minha mente. Fui eu que encontrei o papel quando estive em seu quarto.
Meus amores,
Sei que vocês não conseguem acreditar no que fiz, e pelo que fiz, mas é verdade quando digo que foi por amor. E, não me arrependo Said, porque nesses anos eu senti a forma como me olhava e me amava. Eu faria tudo de novo só para ter você desse jeito, só para mim.
Não farei com que vocês tenham que tomar atitudes que um dia nunca pensaram, eu vi a duvida nos olhos do meu filho, como se ele não soubesse o que fazer. Ter que escolher entre a mãe e o melhor amigo. Eu não faria isso com você Zayn. Eu te amo demais para fazer você passar por isso, eu te amo e isso nunca vai mudar.
Nem faria você ir contra tudo o que sempre acreditou Said, meu único e eterno amor. É por vocês que fiz o que fiz, e é por vocês que estou fazendo isso agora. Vai ser melhor para todos, inclusive para mim que não sentirei a dor da rejeição, da tristeza que vi nos olhos de vocês. Peço desculpas a todos, e hoje vou em paz, porque sei que o destino se encarregou de trazer alguém que vai saber o que fazer em todos os momentos, bons ou ruins, ela vai saber o que fazer.
Eu não sei o que vocês vão falar a Samira, e muito menos como ela vai reagir, mas eu a amei como minha filha, e você sabe disso Said. Eu amo você!
Hadassa
— Como ele está? — Said perguntou sem se mover.
— Ele vai ficar bem. — falei confiante. — Lhe trouxe uma xícara de chá, vai ser bom. — ele concordou e não falou mais nada. Quando eu estava para fechar a porta, ouvi suas palavras.
— Obrigado, Jasmim.
— O que o senhor precisar. — falei saindo e fechando a porta.
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