CAPÍTULO 21
Hello...
Como foram de feriado?
O clima entre mim e meu pai, estava estranho desde a chegada de Jasmim. Era discussões e mais discussões, sem contar as cobranças sobre o que eu faria depois que a Aysha nascesse. Isso me preocupava, mas a sua falta de interesse sobre o assunto me deixava em alerta.
Já tinha algumas horas que tratávamos de assuntos e ele não tinha me cobrado nada, e nem mesmo perguntado alguma coisa. O que ele disse no quarto a noite, que tinha ficado sabendo do que havia acontecido não era uma surpresa, creio que minha própria mãe deva ter dito.
E seria somente o fato dele saber sobre o acidente que o deixou assim?
Entre as folhas que ele estava assinando eu coloquei o papel que Farid havia me entregado. Eu poderia perguntar a ele algo sobre, mas preferi agir diferente. Continuei mexendo em meu celular, teria que agir naturalmente.
— O que é isso? — notei que o timbre de sua voz mudou quando fez a pergunta.
— São os documentos que havia pedido. — mostrei desinteresse.
— Digo isso? — ele jogou o papel a minha frente.
— São os dados de alguém que trabalhou anos atrás na empresa. — ele ficou olhando para o pedaço de papel tempo demais. — O senhor conheceu? — demorou, para que ele voltasse sua atenção a mim.
— Porque conheceria? — desconversou. Ele nem sequer terminou de assinar e jogou a cadeira para trás de forma abrupta ao se levantar de qualquer jeito.
— O senhor não vai terminar de... — ele nem ao menos escutou o que eu falava, abriu a porta e saiu do escritório me deixando sozinho. — Certo, aí tem coisa.
Refleti mais algum tempo sobre tudo. Mas não pude demorar, tinha muita coisa me esperando na empresa, e eu não queria chegar muito tarde. Sorri ao lembrar do motivo que me fazia querer voltar para casa o quanto antes.
Enquanto seguia para a empresa, eu pensei em Jasmim, no nosso beijo.
Puta que pariu!
Eu mais do que nunca teria que ter cuidado. Mas não podia negar como ela me desestabilizou na noite passada. A sua entrega em um simples beijo me deixou sem chão, ela estava a ponto de sucumbir o que Jasmim não imaginava era que eu já estaria no chão a sua espera.
Sorri.
Eu tava fodido!
Eu não acreditada que tudo que senti, era somente pela falta de sexo. Foi o que pensei de início, mas depois quando ficamos deitados na sacada, somente abraçados enxerguei que por mais que não tivesse a certeza do que era, era algo muito maior.
Só não poderia admitir isso a ninguém, entregar minhas fraquezas em momento como esse seria burrice. Teria que conversar com ela.
Assim que as portas do elevador abriram no meu andar vi quem eu menos esperava conversando com Issac. Vi o momento em que o alívio estampou o rosto de Issac.
— Veja aí está ele. — o pai de Hanna se virou para olhar em minha direção. E Issac fez um sinal de cortando o pescoço pelas costas do senhor. Eu queria rir, mas não podia.
— Bom dia. — o cumprimentei, ele fez o mesmo apertando minha mão.
— É difícil de falar com você meu rapaz. — não tanto quanto eu gostaria. Pensei. Indiquei minha sala a ele.
— Zayn você tem somente cinco minutos antes da vídeo conferencia com os importadores. — Issac começou a falar, mexendo em algumas folhas.
— Não se preocupe, não irei tomar seu tempo, só vim lhe convidar formalmente para o jantar e minha casa hoje á noite. — ele bateu em meu braço e sorriu. — Falei com seu pai ontem quando chegou de viagem, e por ele está tudo bem. — somente concordei. Não tinha outra, alternativa. — Agora vou deixar você trabalhar. — ele saiu pelo corredor assoviando.
— Me diz que eu tenho algo muito bom para usar hoje como desculpa? — olhei para Issac que negou. — Que allah me ajude então!
Logo depois de tomar banho e comer quase tudo que Lia havia trazido para meu café da manhã, eu desci e fui atrás de Aysha. Não consegui ficar muito tempo sem ver minha filha, e encontrei Lia com ela embaixo de uma das arvores do jardim.
Eu gostava de ficar sentada ali por boa parte do tempo quando estava no jardim. E foi o que fiz peguei Aysha do colo de Lia e fiquei ali com ela vendo os pássaros enquanto cantarolava alguns versos aproveitei o sossego e a amamentei.
Lia tinha entrado para cuidar de suas tarefas, não sabia quanto tempo havia se passado, mas em determinado momento ela voltou e pela sua feição notei que algo estava errado.
— Tem visita para você, achei melhor que esperasse na sala. — olhei em direção a porta da cozinha.
— Visita? — perguntei sem entender quem poderia ser. — Quem seria?
— Ele falou o nome, mas não recordo. — ele? Sorri ao pensar em Jamal.
— Será meu irmão? — perguntei e ela deu de ombros. Entrei seguida por ela e fui em direção a sala e para meu total espanto não era meu irmão. Era Zayed. — Zayed. — ele virou em minha direção.
— Jasmim. — sorriu, mas permaneceu no mesmo lugar. — Como você está? — eu olhei para trás e vi que Lia estava parada mais a trás, com a cara amarrada. Senti meu coração acelerar. — Vim assim que pude. — falou se sentando no sofá. — Posso? — eu estava perdida.
— Claro. — sorri de forma educada e sentei no outro lado, ele olhou para Lia, desconfiado e voltou sua atenção para mim.
— Como estão as coisas? — ele perguntou.
— Melhorando. — falei sorrindo e ele entendeu.
— Pelo seu espanto em me ver, creio que não foi você que me ligou. — neguei engolindo em seco. Ele abaixou a cabeça balançando. — Mas eu viria de qualquer jeito. — acabei sorrindo junto com ele.
— Obrigada. — agradeci. — Fiquei sabendo que havia viajado. — mesmo que eu não o tinha convidado, sabia que isso poderia ser algo usado contra mim, mas tratei ele bem. Eu devia muito a Zayed, e não seria ingrata, eu resolveria isso depois. — Lia. — a chamei. Ela entrou na sala com Aysha no colo. — Prepare um suco com alguns biscoitos por favor.
— Não há necessidade Jasmim, não vou demorar. — peguei Aysha no colo e levei ela até ele.
— Mas não sairá sem conhecer minha filha. — eu a coloquei em seu colo. Sabia que ele tinha costume de segurar criança, já que Ayla fazia isso com ele de propósito. — Fala oi tio Zayed, eu me chamo Aysha. — ele todo sem jeito, sorriu e me olhou sorrindo.
— Ainda bem que não apostei com a senhora Berta, teria perdido. — sentei e acabei rindo ao lembrar da mãe de Samir.
— Teria mesmo. — ficamos ali alguns minutos que pareciam uma eternidade, em pensamento só pedia a allah que ninguém aparecesse. Conversamos algumas coisas.
Logo Lia voltou e serviu um suco com biscoitos. Mas ficaram intocados, eu não tinha apetite e Zayed pareceu notar que no fundo eu estava angustiada.
— Eu deveria ter imaginado que não foi você que me ligou. — ele me entregou Aysha. — Se precisar sabe que pode contar comigo não sabe? — ele bateu o dedo na ponta do meu nariz.
— Eu sei. — sorri. — Gostei de ver você.
— Se cuida florzinha. — ele falou e seguiu com Lia até a porta.
Senti um frio na espinha e olhei para o corredor então notei Samira, escondida em um canto. A forma fria como ela sorriu, fez gelar meu corpo. Apertei Aysha contra meu peito e subi para meu quarto.
Sua hora estava chegando.
Passei o restante do dia pensando no que ela pretendia. Tinha certeza que tinha sido ela a ligar para Zayed. Vaca estava tentando me tirar daqui. Mas se ela se achava esperta, eu era mais. Resolvi passar o restante da tarde na cozinha com Lia.
Eu sabia que ela não perderia tempo em contar para o irmão, mas se tudo que eu havia planejado desse certo, ela iria cair do cavalo. Eu já estava cansada de ficar sentada na cozinha com Aysha, mas não subiria. Não até Zayn chegar.
Sabia que corria o risco de encontrar com seu pai a qualquer momento, mas nem mesmo o medo que sentia dele, me faria desistir. Lembrei do nosso beijo e de como ele estava receptivo.
Eu não iria deixar ninguém tirar isso de mim.
Muito menos a vaca da Samira!
— Tem certeza que não quer subir? Eu falo com ele digo que nada aconteceu. — Lia entendia minha angustia.
— Não, eu vou resolver isso. — olhei no relógio e estava quase na hora de Zayn chegar. — Ele vai saber por mim que nada aconteceu. — ela concordou e pegou Aysha no colo.
— Então vou subir e trocar Aysha, já está quase na hora dela dormir. — sorri e agradeci. — Aproveite e coma, não comeu nada o dia inteiro.
— Estou sem fome. — ela balançou a cabeça em discordância.
Não sentia fome, não sentia nada além de raiva e angustia. Ouvi o barulho de carro chegando e fiquei alerta poderia ser o pai deles, e esse eu evitaria a todo custo. Samira estava na sala, como sempre fazia, folheava revistas.
Bem que ela poderia arrumar um marido, assim eu ficava livre desse encosto. Assim que ouvi a porta batendo, escutei a voz de Zayn e meu coração não sabia se parava ou se acelerava. Fiz uma oração mental e segui para sala em passos lentos, eu queria ouvir a conversa.
Cheguei em casa pensando em que desculpa eu poderia arrumar, mas se fizesse isso eu arrumaria um encrenca daquelas, e o clima em casa não era dos perfeitos, mas estava melhor do que quando eu discutia com meu pai.
Assim que entrei em casa me deparei com Samira sentada vendo uma revista. Ela olhou para mim, mas voltou sua atenção ao que fazia.
— Oi irmãozinho. — falou enquanto eu tirava meus sapatos. — Como foi seu dia? Espero que tão movimentado quanto aqui. — ela falou dando uma risadinha, e senti o sarcasmo de longe.
— Desde quando você se preocupa como foi meu dia de trabalho? — ela levantou o olhar e me encarou.
— Não gosto que façam você de palhaço e você sabe disso. — revirei meus olhos, sabia que aí vinha alguma coisa.
— E quem está me fazendo de palhaço? — ela ia começar a falar alguma coisa, mas um barulho atrás de mim chamou sua atenção.
— Zayn? — ouvi a voz de Jasmim atrás de mim. Virei para vê-la. — Não sabia que tinha chegado. — ela sorriu abaixando a cabeça logo em seguida, respirou fundo voltou a me olhar.
Eu já conhecia essa postura defensiva dela, demonstrava força, mas na verdade estava prestes a desabar. Mas por quê? O que tinha acontecido.
— Eu só queria agradecer pela surpresa, eu amei a visita. Você sabe o quanto a amizade de Zayed significa para mim. — eu franzi a testa tentando entender o que estava acontecendo.
Que porra de visita?
Olhei de Jasmim para Samira que estava de boca aberta.
— Ele achou que eu tinha ligado para ele, mas com não fui, imaginei que tivesse sido você. — ela em nenhum momento olhou para minha irmã.
Mesmo que Samira estivesse presente, o que Jasmim estava falando era somente para mim.
— Você sabe que sou grata a ele por tudo que fez. — notei quando ela engoliu em seco, e a forma que tentava controlar a respiração. — Então era só isso, eu só queria agradecer mesmo. Obrigada.
Falando isso ela deu meia volta e sumiu. Ainda meio atônito com tudo, virei encarando Samira que olhava com fúria para onde Jasmim havia saído. Eu comecei a entender tudo. E não consegui segurar a risada.
— Acho que o palhaço hoje não fui eu. — falei e comecei a sair da sala. — Que bola fora irmãzinha. — comecei a subir ainda rindo, só imaginando quando Samira descobrisse que Zayed era irmão de Almir, que tinha um legítimo Al-Faruk solteiro e ela acabou de tentar usá-lo para prejudicar Jasmim.
Fui para o quarto de Jasmim, quando entrei ouvi a voz de Lia vindo do quarto de Aysha, mas Jasmim estava parada olhando pela janela.
Caminhei até estar atrás dela, minha vontade era de tocar nela, mas como fazer isso, sendo que eu tinha que me arrumar para o merda do tal jantar?
Eu não queria magoá-la.
— Eu não liguei para ele. — falei quebrando o silêncio.
— Eu sei, só queria que soubesse que não tinha sido eu também. — segurei em seus ombros me rendendo ao fato de querer tocá-la, e senti como seus músculos estavam tensos. Apertei de leve, ela gemeu.
— Era só você ter me falado, não precisava ter enfrentado Samira. — virei seu corpo para ficar de frente para mim. Sequei uma lágrima que deslizou pelo canto de seu olho.
— Eu não sabia se iria acreditar em mim. — levantei seu queixo e a encarei.
— Eu tenho acreditado em você, se você ainda não reparou. — ela sorriu e outra lágrima deslizou. — Não gosto de te ver chorando. — falei trazendo ela para mais perto.
Jasmim me abraçou e escondeu o rosto em meu peito, respirando fundo. A última coisa que eu poderia falar para ela agora era que eu tinha um jantar na casa do meu futuro sogro. Mas que merda. Fiquei ali abraçado com ela por alguns minutos, no momento era melhor que palavras.
Sentia Jasmim, sozinha. Eu não tive coragem de afastá-la por mais que fosse preciso. Então meu telefone tocou em meu bolso. Soltei uma das mãos, somente para tirar o telefone do bolso, e ela se afastou me dando espaço, fui até o sofá, e sentei bem no momento que Lia entrou trazendo Aysha e entregando ela a Jasmim.
Eu ainda estava tremula por tudo, não sabia qual seria a reação de Zayn ao saber que Zayed havia estado aqui. E também agradeci por seu pai não ter aparecido, seria um motivo a mais para implicar comigo.
Mas agora olhando para ele sentado no sofá, enquanto conversava ao telefone, eu conseguia respirar. Sentei e amamentei Aysha mais uma vez, enquanto ele resolvia o que precisava. Notei que vez ou outra ele olhava no relógio, será que ele tinha algum compromisso?
Segurei minha curiosidade, e prometi a mim mesma que seja lá o que fosse, eu não perguntaria. Não queria ser mais uma pessoa a lhe fazer cobrança, e tirar sua paz. Queria que esses nossos momentos fossem só nossos, sem a intromissão de mais ninguém, então eu não poderia trazer mais ninguém para nossa bolha.
Sim aqui era nossa bolha.
Enquanto ele estava lá fora, ele resolvia o que precisava e eu queria que aqui fosse seu ponto de refugio. Ponto de equilíbrio. Nesse momento nossos olhares se cruzaram e senti como meu corpo reagia somente com seu olhar.
Ele desligou o celular o deixando em cima da mesinha e se recostou me encarando. O que será que passava por sua cabeça nesse momento?
O que será que se passava quando eu era o motivo de seus pensamentos?
Aysha resmungou e eu voltei minha atenção a ela.
— Quando você conheceu Zayed? — ele não tinha esquecido o assunto. Senti um baque por dentro.
— Quando ele foi trabalhar para alsyd Almir. — respondi colocando Aysha na cama. — Você não gostou dele ter vindo aqui. — afirmei e quando olhei para Zayn ele sorriu e se levantou.
— Não tenho nada contra ele Jasmim, mas é claro que eu não gostaria de saber que você o convidou sem eu saber, para lhe visitar em um momento em que não estivesse em casa. — ele sentou na beirada da cama, e brincou com o pé de Aysha. — O que não é o caso. — ele falou sério, mudando completamente. — Mas ele parece ter algo contra mim, e eu não quero ele perto de você ou da minha filha até descobrir o porque. — falando isso ele se levantou.
— Contra você? — fiquei surpresa ao ouvir isso.
Mesmo que de certa forma eu desconfiasse de alguma coisa, mas achava que era pelo que eu tinha feito de certa forma. Notava a raiva e suas palavras quando se referia a Zayn em algumas de nossas conversas.
— Ele é meu amigo, não irá fazer nada contra mim ou Aysha. — falei tentando entender os motivos.
— Você sabia que seu amigo é irmão do Almir? — fiquei de boca aberta ao ouvir o que Zayn acabou de falar. — Imaginei que não. — ele respirou fundo olhando no relógio mais uma vez. — Como eu disse, não tenho nada contra ele, e nem com relação a amizade de vocês, se para ele não passar disso claro, mas até que descubra os motivos dessa implicância que ele tem comigo não quero ele perto de vocês duas. — ele falou sem deixar dúvida.
— Claro, eu nem sei o que dizer depois disso que ouvi. — concordei. A postura de Zayn mudou novamente e agora eu via aflição nele. Senti um aperto no peito.
— Eu tenho um compromisso, e... — nesse momento Aysha começou a chorar e tive que pegar ela no colo.
— Calma mocinha. — acabei rindo ao ver que ela parou somente por ter sido pega. — Ela está ficando mal acostumada. — rimos os dois, mas o sorriso dele sumiu e então voltou a olhar para o relógio.
— Eu tenho que ir. — ele se aproximou, beijou minha cabeça demorando a se afastar, mas quando o fez, não olhou para trás.
Eu não sabia porque tinha ficado tão angustiada pela sua partida, mas a vontade que tive era somente de chorar. E fui o que fiz, abraçada a Aysha deixei que as lágrimas saíssem sem nem ao menos saber o porque.
Porque eu sentia meu coração tão apertadinho?
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