CAP 59 [ÚLTIMOS CAPÍTULOS]
Recadinho no final...
Boa leitura meus amores!
Eu via e ouvia, e mesmo não acreditava no que Samira dizia. Ela havia chegado a pouco e estava sentada enquanto o pai e irmão a colocava a par de tudo que havia acontecido. Eles contaram tudo.
— Você só pode estar de brincadeira, Samira! — meu sogro acabou falando mais alto com ela depois dela se recusar a cumprir com os ritos do funeral. — Isso é algo que é realizado pelas mulheres da família.
— Eu não vou colocar minhas mãos em um defunto. — ela falou olhando para as unhas.
— Ela era sua mãe. — ele insiste.
— Não, segundo o senhor ela era a mulher que me tirou da minha mãe. — ela rebate, fazendo Zayn abaixar a cabeça entre as mãos e respirar fundo.
— Que te criou da melhor forma. — ele falou jogando algumas folhas de papel em cima da mesa do escritório. — Você é a única que diante de tudo que aconteceu, não poderia reclamar. Foi tirada da sua mãe biológica? Sim, foi. Mas se tem uma coisa que não faltou a você nessa casa foi carinho, amor e tudo o que o dinheiro poderia comprar. — ela da de ombros. — Hadassa nunca te olhou diferente de como olhava para Zayn, eu algumas vezes até achei que ela te mimava demais. — Zayn se levanta e vai para perto do pai.
— Não foi para isso que vim, ficar discutindo sobre essas bobagens. — ela também se levanta. — Vou esperar passar o funeral e aguardar que a herança dela seja dividida. — meu sogro faz menção de ir para cima da filha, mas Zayn o impede.
— Quando seu irmão fez o acordo do seu casamento eu achei que ele tivesse sido duro com você, mas vejo que ele foi bom. — ela sorriu.
Eu estava chocada com a frieza de Samira, eu melhor do que ninguém sabia o quanto ela era fria, e maldosa. Quando ela me empurrou do alto da escada, eu tive duvidas se sua intenção era somente me machucar, mas hoje presenciando tudo, tenho certeza que não a maldade dela era algo que ia além da soberba.
E eu só me perguntava porque ela era assim?
O que eu havia feito a ela, para agir assim?
Lembro de todas as vezes em que ela tentou humilhar Ayla e a mim, e eu não conseguia entender, porque mesmo que Hadassa tivesse feito o que fez, Zayn era completamente diferente. Em pensar que eu fiquei comovida com suas lágrimas no dia do meu casamento.
— Eu deveria ter cuidado do acordo do seu casamento. — meu sogro fala.
— Mas não fez quando podia, agora não pode fazer mais nada. — ela falou e recebeu um tapa do pai no rosto. O que a deixou espantada.
— Sai da minha frente antes que eu perca a cabeça. — meu sogro estava transtornado. Zayn tratou de colocar a irmã para fora do escritório. — Nunca eu imaginei que minha família iria se diluir dessa forma. — ele sentou em sua cadeira, e eu não sabia o que fazer para diminuir sua dor.
Toda a revelação, a morte da esposa e agora tendo que lidar com a frieza da filha. Olhei para Zayn que também parecia perdido.
— Eu cuido da preparação do corpo. — falei fazendo com que ambos me encarassem. Fiquei sem jeito quando virei alvo de seus olhares. — Eu sou da família, e apesar de tudo o que aconteceu eu gostava muito da minha sogra, ela só me fez bem. — me aproximei de Zayn e segurei em sua mão. — Vou cuidar bem da sua mãe. Se me derem licença.
Saio do escritório, indo cuidar de tudo. Era algo que eu nunca havia feito, mas faria o meu melhor. Na nossa cultura o ritual de preparação do corpo se dá por três banhos. Um para tirar a impureza, o segundo com ervas para perfumar e o terceiro com água pura. Depois o corpo deve ser enrolado em um pano branco onde é coberto até o rosto, e esse ritual é sempre feito por pessoas da família, sendo do mesmo sexo do morto, podendo somente o conjugue participar. Por isso deve ter sido doloroso para meu sogro ouvir o que ouviu da filha. Ela deveria estar cuidando da mãe nesse momento.
A casa estava em total silêncio, o que era comum já que estávamos passando pelo luto. O luto na nossa religião é um momento de oração, calma, equilíbrio e discrição, raramente se via choros excessivos, gritos ou escândalos. Isso não quer dizer que ninguém está sofrendo pela perda, porque sim, independente do que Hadassa havia feito, todos estavam sofrendo, inclusive eu.
Nós cremos que o morto sofre quando alguém se lamenta em voz alta. Porque nenhuma lamentação pode mudar a situação ou trazer o morto a vida, então devemos tratar o luto como dignidade e aceitação ao decreto de Allah.
Maktub.
Tinha que acontecer.
Eu já havia terminado de preparar o corpo quando a porta do quarto foi aberta e meu sogro entrou. Lia havia me ajudado com tudo, ela ainda estava muito triste com tudo e chorou em silêncio ao meu lado, sem que nenhuma palavra fosse dita. Eu procurei me concentrar para que tudo fosse feito da melhor forma.
— Vou deixar o senhor sozinho. — falei me dirigindo em direção a porta.
— Logo no inicio quando você chegou nessa casa eu tive uma discussão com ela. — ele começou a falar se sentando ao lado da cama. — Eu não queria você aqui, e ela insistiu que você faria bem ao nosso filho. — sua voz estava baixa e embargada. Said levou a mão até o rosto da esposa, e acariciou com cuidado. — Quando Zayn entrou no quarto ela desconversou e sorriu para ele de uma forma tão carinhosa. — eu já estava em lágrimas, porque me lembrava desse dia. — Por ela naquele dia eu prometi que não faria nada que pudesse atrapalhar vocês. Eu sempre vi a forma como ela amava e cuidava dos filhos, e naquela noite ela te defendeu por amor ao filho. — meu sogro limpa os olhos e me olha. — E, hoje eu reafirmo essa promessa a você. — ele expirou fundo.
— Não pense mais nisso, o importante é estarmos unidos nesse momento. — falei me aproximando. — Eu sei o quanto ela queria a união de todos. — ele concordou. — Vou lhe deixar a sós. Qualquer coisa que precisar só me chamar.
— Obrigado.
Sai do quarto sentindo ainda algumas lágrimas se formarem em meus olhos. Era tudo muito triste. Quando estava descendo as escadas ouvi parte da conversa entre Zayn e Samira.
— Papai não pode fazer isso. — ela falou com a voz um pouco estridente. E quando cheguei a sala vi que eles não estavam sós, Farid estava com eles.
— Nosso pai não vai fazer, mas não será ele que entrará com a contestação, serei eu. — Zayn falou e ao se virar se deu conta da minha presença. — Está tudo pronto? — ele perguntou.
— Sim, seu pai está no quarto e eu preferi deixar ele um pouco sozinho. — ele concordou.
— Você me odeia, só pode! — Samira começou a sair da sala.
— Não odeio você Samira, eu odeio esse seu lado egoísta e interesseiro, e é por causa dele que vou contestar seu direito a herança da minha mãe. — ela o encarou. — Já que ela não era sua mãe para que você cuidasse dela num momento como esse, sabemos que você não é filha dela para ter direitos a qualquer coisa. — eu via a raiva nos olhos dela. Ela encarou cada um presente na sala e quando seus olhos pararam em mim, e ela fez menção de abrir a boca, Zayn a alertou. — Não ouse insultar minha esposa, porque eu coloco você para fora a ponta pé. — o máximo que ela fez foi sair bufando da sala.
— Por acaso seu pai já fez um teste de DNA? — Farid perguntou. — Porque eu to começando a duvidar até que ela seja filha do seu pai. — ele sentou-se balançando a cabeça. — Continuando... a parte burocrática já está toda pronta.
— Vamos dar uns minutos a eles. — ele concordou.
O enterro seguiu de forma discreta como era de se esperar, e posso dizer que não fiquei surpresa ao ver Almir e Ibrahim prestando apoio ao amigo, eles sempre foram muito unidos, e hoje ficou claro que seja lá qual foi o motivo de ter levado ambas as famílias sofrerem, ele realmente estava sendo enterrado junto.
A verdade realmente era libertadora. Agora eles poderiam seguir em frente deixando tudo isso para trás, como nada do que fosse feito poderia mudar alguma coisa agora o destino seguiria seu caminho natural, colocando tudo em seu devido lugar.
Estávamos voltando para casa, quando perguntei algo a Zayn.
— Você conversou com Almir. — ele me olhou. — Alguma novidade do Zayed? — ele negou.
— Desde ontem quando ele saiu daquele jeito ninguém mais viu. — eu olhei para frente e pensei no meu amigo. Ele era o que mais sofreu com tudo. Não queria diminuir a dor de ninguém, mas meu coração ficava apertado por ele. — Você gosta dele. — não exatamente uma pergunta que Zayn me fez.
— Eu estou preocupada com ele. — admiti.
— Sei que está. Eu também estou. — voltei a olhar para ele e vi que realmente estava falando sério. — Nunca tivemos uma relação muito boa, e eu nunca entendi. — ele esboçou um fraco sorriso. — Agora se ele me odiar, nem vou poder questionar. — eu segurei em sua mão.
— Ele estava nervoso, na verdade ele sempre foi. — comecei a lembrar de Zayed e de nossas conversas. — Ele foi enganado como todos, mas para ele foi pior. Porque durante anos odiou quem ele na verdade deveria amar. — apertei sua mão. — Pense no que ele fez por mim, me ajudou quando eu precisei. — Zayn concordou e eu lembrei de algo que Zayed me falou no dia em que eu estava fugindo. — Por isso ele me falou uma vez que ele não poderia deixar isso acontecer outra vez. — senti um aperto no peito.
— Quando ele te falou isso?
— No dia em que eu estava fugindo, ele tentou me convencer a ficar que ele daria um jeito, que Almir não permitiria que algo de ruim acontecesse comigo, e agora sabendo de tudo ele estava falando de Miray, a mulher que ele achava ser sua mãe. — Zayn parou o carro na garagem da casa do pai. — Ele sabia que eu estava grávida e fugindo, ele viu em mim tudo o que ele achava que tinha acontecido a mãe dele.
Ficamos dentro do carro sem falar nada, cada um preso em seus pensamentos. Então lembrei de um lugar onde ele me levou uma vez, dizendo que gostava de ir para lá para pensar.
— Acho que sei onde ele possa estar.
Parei o carro, e dei uma olhada no lugar. Eu não queria pensar no que ele pretendia quanto trouxe Jasmim até aqui, deixei o ciúmes de lado e desci do carro olhando tudo. A praia era totalmente deserta, o que era algo quase impossível se tratando de Dubai.
Andei até chegar perto do mar e olhei para os lados vendo algo a uma distância considerável. Já estava escurecendo e a temperatura estava mais fresca. Comecei a andar em direção ao que eu acreditei ser Zayed sentado. Conforme fui me aproximando tive a certeza de que se tratava dele.
Zayed estava com a mesma roupa do dia anterior. Os sapatos estavam ao seu lado e a camisa amarrada na cabeça. Ele olhou de lado quando viu eu me aproximar. Parei ao seu lado.
— Posso me sentar? — eu tinha que ser no mínimo educado.
— O local é publico. — respondeu sem me olhar. Sentei ao seu lado e fiquei olhando para o mar. — Não acredito que ela falou para você vir até aqui. — resmungou mexendo na areia.
— Ela está preocupada com você. — o que eu falei fez Zayed olhar para mim, e rir. — Todos estão, inclusive eu. — admiti. E ele voltou a olhar para o mar.
— Sempre tive inveja de você. — ele balançou a cabeça. — Tinha uma família perfeita, grana, todos te respeitavam, e ainda tinha o olhar dela voltado para você. — ele respirou fundo. — Minha pobre e doce menina, suspirava pelos cantos por sua causa.
Eu procurei respirar fundo, e deixar de lado a forma como ele estava se referindo a Jasmim, eu vim para tentar consertar algo, e não piorar.
— Você sabe que eu gosto dela, não sabe? — eu o encarei entendendo que ele estava me provocando. Estava fazendo de propósito.
— Não me importo o que você sente por ela, para mim só basta saber quem ela ama. — tentei não sorrir, mas algo impossível.
— Soube o que aconteceu com sua mãe, e sinto muito. — ele voltou a me olhar. — Na verdade não sei se sinto. — admitiu. — Talvez o que eu sinto é não ter feito isso. — ele estava sendo sincero e isso era algo que eu admirava nas pessoas, eu pelo menos sabia com quem estava lidando.
— Eu não sei o que te falar sobre tudo, acho que ainda não consegui digerir. — ele concordou. — Então não posso cobrar que você tenha certeza do que sente... E, eu sei que não vai adiantar de nada, mas queria me desculpar em nome da minha família.
— Não precisa fazer isso, sei que você não teve culpa. — ele apoiou os braços para trás e olhou para o céu que começava a ficar negro. — Ainda sinto muita raiva por tudo, mas não sou estúpido ao ponto de culpar você por algo.
— A vida realmente é engraçada. — ele me olhou. — Até ontem você sentia inveja de mim pelo que eu tinha, dinheiro, respeito e uma família perfeita. E, hoje tudo aquilo que você invejou não passava de uma mentira. Tirando o dinheiro, o respeito foi para o chão e a família perfeita nunca existiu.
— Como a vida da voltas. — continuamos olhando para o mar.
— Você tem o dinheiro, ganhou o respeito de todos e tem uma família esperando por você para tentar amenizar tudo o que você passou. — ele não falava nada, mas ao olhar para o lado notei que uma lágrima escorria por seu rosto. — Vamos eu te dou uma carona, tem alguém preocupada com você.
Levantei-me, e esperei que ele fizesse o mesmo. Mas Zayed permaneceu sentado olhando para o mar. Talvez na vida teríamos algumas situações que uma conversa sincera não resolveria. Mas eu havia tentado, era o que importava para mim.
Virei e comecei a caminhar em direção ao carro. Não demorou para que eu notasse que ele vinha atrás de mim.
— Como ela está? — ele perguntou atrás de mim. — Sabe minha doce menina, como ela esta com tudo. — parei e respirei fundo.
— Eu estou fazendo um esforço para não enfiar a mão na tua cara por cada vez que você se refere a Jasmim desse jeito em respeito a tudo o que aconteceu, mas se continuar eu deixo o respeito de lado. — eu o encarei e logo em seguida um sorriso se formou em sua cara.
— Acho que acabei de descobrir meu mais novo passatempo preferido. — ele bateu a mão no meu ombro. — Relaxa, a nossa doce menina só tem olhos para você.
Fechei os olhos e pedi a Allah que me abençoasse com uma dose extra de paciência. Porque eu iria precisar. Seguimos o caminho até minha casa em silêncio. Eu havia deixado Jasmim aqui arrumando algumas coisas que iríamos precisar para passar alguns dias na casa do meu pai.
Eu me orgulhava tanto da bondade e generosidade dela. Era algo tão espontâneo que deixava a todos sem palavras, inclusive a mim. Quando ela se prontificou a cuidar do corpo da minha mãe, eu queria agradecê-la, mas as palavras simplesmente sumiram. Isso era algo que eu jamais esqueceria.
Eu nem tinha estacionado o carro na frente do jardim quando a porta da frente se abriu e ela saiu. Quando percebeu que o amigo estava junto, o sorriso que vi estampar em seus lábios compensou os sapos que engoli, minutos antes. Ela poderia sorrir para ele, porque eu sabia que para ela, ele era somente um amigo.
— Zayed. — ela o abraçou e logo em seguida começou a verificar seu rosto.
— Doce menina. — ele falou sem se dar conta que eu já havia saído do carro, o que me fez pensar que essa era realmente a forma dele se referir a ela.
— Eu estava tão preocupada. — ela se afastou e colocou as mãos na boca. — Onde você estava? — parei ao lado deles.
— Relaxa, eu estou bem. — ele me olhou e sorriu. — Desse jeito você vai deixar ele com ciúmes. — revirei os olhos, controlando a vontade de mandar ele a merda. Jasmim me abraçou.
— Não tem porque, você é como um irmão para mim. — eu ri, e abracei minha esposa.
— Quer entrar cunhadinho? — Jasmim olhou de um para o outro.
— Ninguém vai entrar. — ela falou abrindo a porta do carro. — Vamos levar Zayed para a casa dele. — ela fez menção de entrar, mas como viu que nem eu e nem ele se mexeu, ela nos encarou.
— Eu não quero ir para casa. — Zayed pegou o telefone. — Eu mando uma mensagem para Almir dizendo que estou bem, e pronto.
— Eu não estou falando dele. — Zayed levantou o olhar e encarou Jasmim. — Estou falando de Malika. Da sua mãe de verdade. — o telefone caiu da sua mão.
Quem quiser add a capa do próximo livro, ela já está disponível no meu perfil, assim quando eu começar a postar vcs recebem as notificações.
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