Que roupa eu visto?

Depois de horas me fazendo esta pergunta, acabo optando por um vestido azul-escuro, costas nuas e mangas compridas, escolhido por Anne. Acho um exagero, mas enfim, para evitar discussões coloco-me dentro dele e automaticamente babo em mim mesma quando me olho no espelho.

Anne está igualmente linda do meu lado, sorte a dela que estará acompanhando Sebastian no evento, eu estarei trabalhando, infelizmente.

— Ele já está lá embaixo — informa minha amiga se referindo à Sebastian. Pego a pequena bolsa preta e alguns relatórios que iria revisar em casa para poder finalmente entregá-los ao Collins.

Descemos e Sebastian já nos espera vestindo um fino terno preto, elogia-nos e abre a porta do carro. Anne vai na frente, e eu como uma boa amiga de vela, no banco de trás.

O caminho é feito em meio à uma conversa animada e várias risadas e é inevitável não pensar em como Adrian é diferente do seu irmão, enquanto Sebastian faz graça de tudo, ri até para o vento e demonstra todos seus sentimentos, meu chefe parece ter algo que o impede de viver sem aquela máscara que não o permite deixar transparecer seus reais sentimentos.

— No que você tanto pensa, Julie? — vejo os olhos de Sebastian me encarando pelo retrovisor.

— Com certeza ela está pensando no seu irmão minha amiga diz me fazendo revirar os olhos, mesmo sendo verdade. Desde que o conheci, Collins tem dominado noventa e nove por cento dos meus pensamentos — Mesmo não querendo admitir, Julie está apaixonada pelo Adrian.

— Ele também está — as palavras de Sebastian me fazem engasgar com o ar e enquanto tento me recompor os dois riem da minha cara.

Quando me recomponho olho para Sebastian que está com os olhos na estrada.

— Você realmente acha isso Sebastian? — pergunto séria depois de algum tempo em silêncio. Não posso negar que a possibilidade de Collins ter algum sentimento por mim faz meu coração bater ligeiramente mais rápido.

— Eu tenho a certeza, mas ele não vai admitir tão facilmente, se você sente algo por ele, você precisa demonstrar, e só depois ele irá corresponder — suas palavras me fazem pensar.

Não é nada surpreendente se tratando do Collins, é bem típico dele querer todos aos seus pés, mas e se eu demonstrar interesse e ele não corresponder?! Eu não posso arriscar meu emprego, mas acima de tudo, meu orgulho.

Me perco em meus pensamentos e quando volto a realidade já estamos em frente ao local onde está a decorrer o evento. Sebastian estaciona o carro e descemos olhando em volta, está tudo muito bonito e cheio de pessoas da alta sociedade e vários repórteres.

— Nem acredito que estou aqui — diz minha amiga do meu lado com muita euforia, sorrio, ela sempre quis pertencer a este "mundo".

Sebastian se posiciona entre as duas e de forma divertida abre seus braços para que cada uma pegue um e é o que fazemos, rindo. Caminhamos para o interior do salão de eventos e algumas pessoas olham, provavelmente por se tratar de Sebastian Collins, porque para essa gente só o apelido interessa, se você é uma simples Clark eles não querem saber de você.

Quando já estamos na mesa com mais alguns funcionários da empresa sem perceber me pego procurando Collins. Rodo meus olhos pelo enorme lugar até que finalmente o encontro. Seu terno cinza deixa-o ainda mais atraente, sua barba está muito bem-feita e o cabelo mais curto que o normal. Sorrio boba enquanto o encaro, mas logo meu sorriso se desfaz quando uma mulher se posiciona ao seu lado abraçando seu braço, a tal Celine.

Ela está maravilhosa num longo e lindo vestido vermelho, seus cabelos loiros estão soltos e um belo e falso sorriso está em seus lábios perfeitos. Como eu poderia imaginar competir com uma mulher como ela?!

Reviro os olhos e volto a atenção para a mesa onde todos conversam descontraídos. Só consigo pensar em como Anne tem sorte, Sebastian é um homem incrível, ele poderia muito bem sentar com uma dessas pessoas milionárias e esnobes, mas ele preferiu se juntar à mesa dos funcionários. E eu fui logo acabar na cama do Sr. arrogante.

O evento decorre na perfeição, discursos são feitos e minhas mãos já estão vermelhas de tanto bater palmas.

Estou agora parada num canto com meu copo de vinho na mão, tentando descontrair. Sinto mãos grandes abraçarem minha cintura por trás. — Está linda Clark — a voz que eu bem conheço sussurra no meu ouvido e logo ele se posiciona do meu lado largando a minha cintura.

— Devia estar elogiando sua namoradinha — me condeno por deixar tais palavras saírem da minha boca, mas não as retiro. Ele é muito idiota, está com ela e fica me elogiando, sussurrando no meu ouvido, abraçando minha cintura e querendo me enlouquecer.

— Está com ciúmes? — reviro os olhos e tento me afastar mas ele segura meu braço me impedindo. Agradeço a Deus quando o vinho em meu copo não vai todo para o chão.

— Me solta Adrian — digo tentando soltar meu braço, mas ele é muito mais forte.

Num movimento rápido consigo me soltar mas fico boquiaberta quando vejo seu casaco cinza manchado pelo vinho que estava no meu copo que agora está completamente vazio.

Ele me olha com o maxilar travado, mas não diz nada, aproveito a oportunidade e saio andando sem direcção, apenas querendo me livrar desse homem.

No caminho esbarro em alguém e quando vejo que se trata de Celine Torres desejo que o vinho ainda estivesse todo no meu copo e derramasse na cara de sonsa dessa mulher.

Ela me olha com desdém e volta a andar. Suspiro e me sento numa cadeira que encontro.

De longe vejo Celine tentando limpar o casaco do Collins e ele só suja mais ainda, rio da cena. Se me sentia com alguma culpa agora meu único pensamento é "bem feito". Ele nem se deu ao trabalho de dizer que ela não é sua namorada.