Capítulo 49
Boa leitura!♡
OBSERVAVA OS MEUS PÉS ENQUANTO corria, indo para casa. Eles batiam no asfalto a uma velocidade admirável. Nossa, como eu corria rápido! Espera, me distrair mais uma vez, eu estava ouvindo sonetos de Beethoven. Odeio quando me distraio rápido das coisas sem perceber.
— Opa! — Me desviei rapidamente de um cachorro que corria de maneira desgovernada para bem longe do seu dono, que corria atrás dele.
Gosto de cães, só não sei se tenho paciência para cuidar deles como merecem.
Ao constatar que estava perto do meu apartamento comecei a contar as pisadas, faço isso pois me ajuda com a ansiedade.
298, 299, 300. Terminei bem em frente ao portão do prédio como sempre.
— Clóvis.
— Mestre.
Bebi o último gole de água na garrafa enquanto esperava o elevador. Ao abrir, entrei e logo depois uma jovem se jogou para dentro dele.
Olhei para ela discretamente e percebi que era Luana, a garota que sempre tinha algo para contar.
— Liu! — me cumprimentou com intimidade e empolgação.
Luana tinha 17 anos, entrou para faculdade de medicina, me contou que estava empolgada para começar os estudos. Sei tudo isso porque desde que ela veio morar aqui nos encontramos no elevador após a corrida, sempre, sem exceção. No começo me incomodava bastante pois ela não parava de falar, agora faz parte da minha rotina. Os seus cabelos eram loiros e bastante cacheados, não sabia informar o tamanho, pois estava sempre enrolado no topo da cabeça, porém ficavam duas mechas soltas na frente do rosto, uma em cada lado dos seus olhos verdes-água. A jovem de assuntos intermináveis tinha pintas marrons nas mansões do rosto e no nariz. Era alta, bem alta para sua idade, acredito que ficava na altura do meu queixo.
— Esse final de semana queria muito ir para praia, pegar um bronzeado antes do réveillon, mas a chata da minha mãe não quer permitir, e por não ser de maior, tenho que obedecer. Que meus 18 anos chegue logo para ser livre, e dona do meu próprio nariz. — A garota era um furacão de informações. Como ela conseguia dar tanta em tão pouco tempo? E sempre usa uma linguagem muito esquisita, que às vezes tinha o mesmo significado de outra que ela acabou de me falar.
— Tênis novo? — Tentei interagir com ela. Queria também dar um basta naquela falação toda, perguntas e respostas eram mais fáceis.
— Sim. Você reparou!
— Sim, sempre reparo. — Desviei o meu olhar do seu tênis e olhei para as portas ansioso.
— É? — ela levanta a mão e coloca um dos fios soltos atrás da orelha. Mesmo olhando para frente consigo observá-la na minha visão periférica. O gesto dela me fez lembrar da Alice no começo do nosso namoro. Sempre baixava o rosto e colocava uma mecha de cabelo solto atrás da orelha quando recebia um elogio meu.
Eu acenei com a cabeça, confirmado.
— Já estava enjoada daquele roxo, aí comprei esse verde clarinho, legal, né? — eleva o pé direito para frente me fazendo dar outra olhada no seu tênis.
— Combina com seus olhos. — desse porque era verdade, e Luana sorriu para mim parecendo gostar da comparação.
— Você repara muito nos detalhes, gosto disso, Liu. — seu dedo indicador foi colocado em cima do seu lábio inferior.
Fiquei em silêncio, não sabia o que falar, nem o que fazer, por esse motivo senti mais do que aliviado quando as portas do elevador se abriram. Estava agindo como realmente eu era, um esquisito.
Luana já estava saindo, quando de repente se virou para mim, veio e parou na minha frente e beijou rapidamente o meu rosto. Me senti incomodado e atordoado com a sua atitude inesperada.
— Tchau, Liu. É muito bom conversar com você, até mais. — a sua expressão antes das portas fecharem era de alguém alegre.
Meu coração batia acelerado, minha respiração estava um pouco difícil. Me encostei na parede e comecei a contar. Imagina que estava tocando piano também ajudaria, porém achei melhor a primeira opção. Voltei a respirar profundamente quando as portas do elevador se abriram.
PASSEI o dia todo pensando no acontecimento do elevador, ficava relembrando as cenas, as minhas palavras. Se dei a entender que ela poderia me beijar, não encontrei nada. Também pensando se era normal os jovens de hoje se despediram de qualquer um com um beijo no rosto? Meu Deus, iria enlouquecer.
Estava sentado na cama ainda com os cabelos molhados, porém me sentia tão perturbado que não dei importância. O sentimento de culpa por não ter falado para Alice me incomodava como um espinho na carne. Não queria falar com ela para não brigamos, e como não tinha certeza se dei a entender a Luana que poderia me beijar, fiquei com receio de lhe contar . Não poderia colocar a culpa só na menina.
Os pingos da água que molhavam o chão constantemente me levaram a pegar a toalha para enxugar o cabelo.
— Porque estás a enxugar o cabelo aqui no quarto? — Indagou, Alice, vindo se sentar ao meu lado.
Ela estava cheirosa, e cada vez mais bonita com aquele barrigão que não era tão grande assim. Em compensação, seus seios estavam enormes, eu gostei, ela nem tanto.
— Não sei bem, apenas coloquei a toalha na cintura, peguei a outra e sentei. — passei freneticamente a toalha na minha cabeça.
— Estou achando você um pouco estranho desde cedo. Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, mas eu não respondi, preferi o silêncio.
— Liu. — Segurou o meu rosto com as duas mãos, forçando-me a olhar para o seu.
— Estou bem. — levantei, desviando de suas mãos com a toalha menor na cabeça indo para o closet me trocar.
— Eu vou tomar um banho para sair. — Praticamente ela gritou já dentro do banheiro.
Levanto rapidamente a minha calça preocupada se magoei Alice com meu jeito de ser.
Chacoalhei as minhas duas mãos do lado das minhas orelhas sem saber como agir. Senti vontade de gritar, bater a minha cabeça na parede, estava a ponto de me descontrolar. Não sabia como lidar com tudo aquilo, não ter controle sobre si mesmo era terrível e assustador para mim. Respirando fundo procurei me acalmar. Por Deus, eu era um desastre!
— Alice, está chateada? Está parecendo que está chateada. — perguntei assim que saiu do banheiro. Eu me encontrava em pé no meio do quarto observando-a com atenção. Ela ficava indo de um lado para o outro procurando as coisas enquanto se arrumava.
— Estou preocupada, é diferente. Você tá estranho e não diz o porquê. — respondeu enquanto vestia o legging de cor lilás.
— Não fique, por favor. — observei ela o tempo todo enquanto conversamos. Sua barriga redonda que está desproporcional por causa da nossa bebê que mora lá, estava cada dia maior. Me senti um pouco aterrorizante ao pensar que daqui a dois meses Lúcia iria sair da sua casa protetora para os perigos deste mundo aqui fora.
— Para onde você está indo? — indaguei, curioso.
— Irei terminar de fazer o enxoval da Lúcia, Amanda e a Val não param de me atormentar com isso.
— Vai com elas?
— Sim. — me senti aliviado e bem mais calmo.
— Que bom, pensei que estava saindo por minha causa. — confusa ela me olhou pela primeira vez desde que saiu do banheiro.
— Quem faz isso é você, eu não — inclinei o meu rosto para sua direção um pouco confuso.
— Me acusando dessa maneira faz parecer que tudo que eu faço é de propósito, quando não é verdade. Às vezes eu me afasto por necessidade e não por vontade. Queria que entendesse.
— Eu entendo, Liu. Apenas queria que se esforçasse mais para o nosso casamento dar certo.
Não encontrei dentro de mim nenhuma reação para o seu pedido. A vontade que eu tinha mesmo era de me isolar. Eu já acreditava que me esforçava o máximo, não dava mais, era o meu limite.
— Não. Você não entendeu. — balancei em sua direção um dos meus dedos.
— E o nosso casamento já deu certo. — gritei por fim saindo do quarto chateado com o final daquela conversa.
— Liu, espera. Me equivoquei nas palavras. — Alice gritou parecendo arrependida com a escolha das palavras, mas já era tarde, elas tinham me magoado, machucado e ferido.
Fui para o meu escritório repetindo: "nosso casamento já deu certo." Eu tinha que falar, para convencer a mim mesmo. A possibilidade da Alice me deixar doía dentro do peito.
Cinco minutos depois, Alice abre a porta lentamente. Queria mandá-la embora, só que não fiz, com medo de magoá-la.
Eu me encontrava sentado no banco em frente ao piano, não estava tocando ainda.
Eu senti quando ela colocou suas mãos pequenas e delicadas nos meus ombros. O meu coração bateu forte com toque.
— Você tem razão. O nosso casamento já deu certo. Me desculpe pelo que eu falei. Amo você, e nunca, jamais quero que me deixe.
O alívio foi imediato ao ouvi-la. Eu também jamais queria que ela me deixasse, a verdade era que eu tinha medo que isso viesse acontecer um dia. Alice era o meu equilíbrio entre o meu mundo e este.
Senti quando ela começou a massagear os meus ombros, eles estavam tensos, e ela queria deixá-los relaxados.
Alice deu um beijo acalentador na minha face. Gemi porque estava apaixonado.
— Eu já vou indo, se cuida até eu chegar. — avisou antes de partir.
»»——⍟——««
JÁ havia se passado três horas desde que Alice saiu de casa quando o meu celular tocou.
Ao atender me arrependo por não prestar atenção em quem estava me ligando.
— Li, por favor, você poderia me ajudar?
DE LONGE a vi encostada no seu carro de braços cruzados. Não queria estar ali realmente, porém ao celular ela me pareceu que estava desesperada, assustada. ( Não que a minha percepção valha de muita coisa, culpa do meu cérebro.) Mas ela me pareceu que estava chorando quando me pediu esse favor. E olhando onde o seu carro se encontrava, realmente era perigoso.
Ela estava no meio de uma estrada distante da cidade. O que fazia ali?
Já era fim de tarde, então me apresso em descer do carro assim que Hugo para no acostamento. Andei de maneira agressiva até Natasha. Alice não iria gostar quando soubesse, porém ela insistiu tanto que eu não consegui negar. Eu acho que na verdade o que eu queria era um pouco de paz, e como ela não parava de ligar, aceitei.
Com as mãos enfiadas no bolso da frente da calça, olhei para cima e vi que o céu estava colorido de laranja, rosa e branco.
— Li, me desculpa ter lhe incomodado. — abriu ela os braços em minha direção me obrigando a parar longe dela.
— É Liu, não encosta em mim… por favor. — acrescentei logo que o seu rosto deixou de sorrir.
— Eu não vou tentar beijar você, só se você quiser.
— Eu não quero. — apressei-me a informá-la.
— Não é certo uma mulher querer beijar um homem comprometido. Não é certo. — lhe aconselhei mesmo ela não pedindo.
Tinha certeza que existia muitos homens solteiros por aí que queriam um relacionamento com a Natasha. A sua beleza era muito atraente. Qualquer dia um homem que ela goste em algum momento vai despertar o interesse por ela.
— Não mandamos em nossos sentimentos, Liu. Acha que eu queria estar apaixonada por um homem casado? Pois fiquei sabendo que não queria. Mas o que eu posso fazer, se você conquistou o meu coração desde que te conheci?
Pisco algumas vezes ao olhar para a estrada à nossa frente.
— Por que você está aqui? É perigoso. — falei o que realmente interessa, não importava outra coisa, a não ser resolver a situação da Natasha para ir embora. Estar ali era completamente errado, eu sabia, por isso que me incomodava tanto.
— O carro quebrou. Tentei ligar para minha mãe, mas o celular dela só dava desligado e eu não sei o número da seguradora.
Continuei olhando pra estrada, não entendi porque ela me chamou, não era mecânico para consertar carros quebrados.
— Eu realmente não estou entendendo porque você me chamou. Não conserto carros quebrados, esse não é o meu talento. Se você tivesse me pedido para eu mandar o mecânico até aqui, teria sido bem melhor.
— Eu não pensei nessa possibilidade na hora, queria apenas que você pudesse me levar de volta para casa. — Me esquivei rapidamente quando senti sua mão tocar o meu ombro no mesmo lugar que Alice tocou algumas horas atrás.
— Vamos logo então. Quero estar em casa quando Alice voltar. — parecendo satisfeita Natasha deixou transparecer um sorriso em seus lábios, antes de abrir a porta do carro para pegar a sua bolsa.
— Senhor! — Hugo chamou a minha atenção ao sair do carro. Ele ficou dentro porque eu pedi, era desnecessário fazê-lo descer junto comigo.
Quando o olhei ele fez sinal para o outro lado da estrada, e meu coração começou a bater mais acelerado.
Sem esperar fui até o carro quando ele parou ao lado do meu.
O que ela estava fazendo ali?
Andei conforme as batidas do meu coração, rápido e forte.
— O que você está fazendo aqui, Alice? — a questionei no momento que ela colocou os pés no asfalto.
— O que eu estou fazendo aqui não é a pergunta certa, Liu. O que você está fazendo aqui é a pergunta certa. — gritou para mim sem necessidade, pois estava ao seu lado. As fácies do seu rosto me pareciam avermelhados.
— Não grite comigo. — ordenei um pouco aborrecido.
Com os dedos das mãos ela bate três vezes no meu peito quando diz:
— Eu confiei em você, Liu, confiei muito, e olha para onde você veio, se encontrar com ela.
Me sentia confuso, não sabia que ajudar a Natasha seria falta de fidelidade com ela. Certo que eu vim aqui sem avisá-la, todavia, era desnecessário essa agressividade para cima de mim.
— Alice, não é para tanto. Eu vim apenas ajudá-la, pois o seu carro quebrou. — Tentei explicar ao mesmo tempo que procurei me acalmar.
— Mentiroso, mentiroso. — gritou mais uma vez vindo para cima de mim, o que me deixou extremamente perturbado.
Apesar de tentar me acalmar, minha respiração já estava ofegante e áspera.
— Eu não sou mentiroso, eu não sou. — Afirmei com convicção.
— Em casa conversamos, Liu. — Alice virou as costas para mim, entrou no carro e bateu a porta bastante brava.
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