TRÊS
Acordei num sobressalto, antes do despertador tocar. Estava elétrico e ansioso para revê-la. Katherine Muller ou Kate, não importa, é lindo do mesmo jeito, assim como aquela que carrega esse nome.
Quase não consigo dormir, pensando nela, lembrando do seu sorriso brilhante e até mesmo com um toque infantil e seu olhar penetrante. Que olhos lindos ela tem, nunca vi um azul como aquele.
Meu celular tocou para despertar-me, peguei o aparelho para desligá-lo, vi que tinha uma notificação de mensagem, era da Allison. Gosto dela, ela é encantadora, divertida mas não é amor, nem sequer chega perto de paixão. Acho que só fiquei com ela porque me sentia sozinho e isolado. Ela se tornou a minha melhor amiga na escola, morávamos perto e a família da minha mãe se dá muito bem com a dela. Isso ajudou a ficarmos por um tempo.
Quando soube que precisávamos voltar para a Carolina do Norte, não pensei duas vezes e quis terminar. Não pretendia continuar com o nosso relacionamento, pois não me sinto apegado o suficiente para tentar algo a distância. E antes de darmos o primeiro passo, ela confessou-me que ainda nutria sentimentos por seu ex. Acredito que só ficou comigo porque soube que ele tem outra.
Allison é uma garota maravilhosa, merece muito ser feliz e ficar com alguém que a ame de verdade e esse alguém não sou eu. Tentei terminar algumas vezes antes de vir embora, mas ela preferiu tentar manter um relacionamento a distância.
— Oi Fred, como foi o seu primeiro dia de aula? Desculpa não falar com você ontem, é que meu avô não está bem.
— O que ele tem? — Larguei o celular de lado, quando ela me ligou.
—Bonjour.
— Bonjour, chéri.
Ela e sua mania de falar francês. No começo até que sentia ciúme, pois seu ex é da França e seu avô também. O senhor Leopoldo gosta de ver a neta falando sua língua natal. Mas agora, não me incomodo mais.
— O que aconteceu com o senhor Leopoldo?
— Idade avançada e falta de noção. Sabe como ele é, vive como se fosse um homem nos seus quarenta anos de idade. Levou uma queda feia e está de cama.
— Imagino como ele está agora, seria cômico se não fosse trágico. Parece que estou visualizando sua avó brigando com ele por querer sair da cama e fazer o que não deve.
— Está assim desde ontem, depois do ocorrido. Se eu pudesse iria para a sua casa.
Como assim, vir para minha casa?! Não, definitivamente não. E Kate?! Perderia todas as chances de conquista-la, mesmo sem saber se tenho.
— Allison, infelizmente, você não tem como fugir disso. São seus avós e confesso que gostaria muito de poder ter avós também.
— Você tem razão. Apesar de todo esse transtorno, eles são maravilhosos para mim. Mas… e aí?! Você não falou como foi o seu primeiro dia.
— O mesmo de sempre. O que valeu a pena foi reencontrar Rachel.
— Como ela está? Gosto dela.
— Olha…não namoraria com você se não gostasse. — Sorrimos disso.
— Se não soubesse a verdade, teria muito ciúmes.
— Não precisa e você sabe.
Eu sei. Dá um beijo nela por mim, tenho que ir.
— Beijos pra você também.
Apesar da preguiça matinal, levantei para ir à escola. Algo diferente me motivava a sair da cama, encontrar Kate. Nem conversamos e já estou com o coração dando fortes pancadas em minhas costelas. Gostaria de saber se teremos mais aulas em comum, se faz algum esporte e o principal, se tem namorado. Hoje farei uma “visita” ao treinador de basquete, preciso voltar aos treinos, me aproximar daquele que parece ser seu irmão e assim saberei tudo o que eu preciso.
O dia estava bem claro, o céu brilhava em seu azul esplêndido, perdendo em beleza apenas para os azuis dos olhos de Kate. A rua estava movimentada, alunos pra lá e pra cá, olhei para todos os lados e não a vi. Estacionei o meu carro, fui em direção a entrada principal da escola, quando a vi passando dentro do carro com o mesmo carinha de ontem e sua amiga. Ela sentava no banco de trás e sua amiga na frente, o que é um bom sinal, pois se fosse seu namorado quem iria na frente era ela.
Parei no pátio, na sombra de uma árvore, enquanto observava ela entrando com seu pequeno grupo. Kate não me viu, mas eu, estava encantado com seu caminhar, seu sorriso, seus gestos ao conversar com seus dois amigos. Ela entrou direto para os corredores, não parou no pátio para falar com alguém, quer dizer um suposto namorado.
Andei apressado até chegar na porta principal. Abri, entrei olhando o corredor comprido com atenção, ela não estava. Meu coração estava aos pulos. Andei de um lado a outro afim de saber onde ficava o seu armário. — Vai que é perto do meu. — Se for, verei minha garota, sempre que possível. Como sou pretensioso, já a chamo de minha garota. Não posso esquecer da Allison. Se tiver alguma chance, qualquer que seja de ficar com Kate, terei que resolver o meu relacionamento e acabar com aquela que pra mim é apenas uma boa amiga.
Allison pretende morar na França, depois da formatura. Ela quer estudar na mesma faculdade que seu avô e ele a incentiva muito, sente-se orgulhoso já que sua filha nunca demonstrou interesse por seu país de origem, ao contrário da neta. Não quero sair do meu país, gosto daqui. E…continuar com esse relacionamento só traria mais sofrimento para nós. E se, quando ela terminasse seus estudos e conseguisse um emprego por lá? E nós, como ficaríamos? Não vejo futuro entre nós dois.
O sinal tocou e com ele o meu desconsolo. Não achei Kate em lugar algum, parece que evaporou entre os corredores. Fui para a minha aula sentindo um certo desconforto em meu peito. Assisti às aulas do dia, com desânimo. Queria uma chance, por menor que fosse, de conversar com ela, saber sobre ela, o que gosta de fazer, se pretende ir à faculdade, exatamente tudo.
🏀🏀🏀
Mais tarde…
Quando as aulas acabaram, sai cabisbaixo em direção ao ginásio da escola. Estou confiante de que conseguirei voltar para o time de basquete. Cheguei na quadra, fiquei surpreso pelo técnico ainda lembrar de mim. Alegrei-me quando ele disse que nem faria teste comigo, que já poderia começar hoje se eu quisesse. Não vim preparado. Não trouxe roupa extra, toalha, sabonete e principalmente não tenho o uniforme. Nem um calção para usar eu tenho, jogar de calça jeans é horrível, se ao menos tivesse vestindo uma calça de moletom, mas nem isso. Ficou decidido que eu retornaria no próximo treino.
Alguns atletas começaram a chegar, o amigo de Kate, Oliver, o embuste do Desmond, esse lembro-me bem. Tão boçal que é difícil esquecê-lo. Para minha sorte e total felicidade, o Sr. Morgan chamou o amigo de Kate para me apresentar, ele é o atual capitão do time.
— Kevin…quero que conheça o novo atleta. Esse é o Fred. — Disse o Sr, Morgan com a mão no ombro do tal Kevin. Ótimo nome, bastante comum. Vai ser difícil esquecer.
— Tudo bem. — Me cumprimentou, apertando a minha mão.
— Tudo. — Retribui seu gesto.
— Ele não vai começar hoje, virá no próximo treino. Saiba que o Fred era um dos nossos melhores atletas até nos abandonar. — Sorriu cordialmente o Sr. Morgan.
— O senhor sabe que não fui embora porque eu quis. — Respondi mantendo o clima harmonioso.
— Eu sei, é brincadeira. Mas agora, chega de conversa e vamos trabalhar. Fred, te vejo amanhã. — Se despediu o treinador.
— Certo. Até mais senhor. — O cumprimentei.
— Seja bem-vindo. — Disse-me Kevin, acenou com a cabeça e saiu.
Me virei para deixar a quadra e não levar uma bolada ou um tropeção, porém, algo maravilhoso chamou a minha atenção. Kate e Lana estavam na arquibancada, conversando enquanto o treino começava. Ela acenou para mim e sorriu. Retribui com o coração na mão, vidrado em seus olhos. Fiquei tão distraído que não percebi quando alguém veio em minha direção e interrompeu o nosso breve momento. Em uma disputa de bola com Oliver, Desmond esbarrou em mim, caímos os dois no chão. Caralho! Está cego que não me viu?!
— Fred! Você está bem? — Perguntou Kevin, ajudando-me a levantar. Não disse, nome difícil de esquecer.
— Estou mano. — Respondi já de pé.
— Fred, precisa ter mais cuidado, não dá para ficar parado em uma quadra de basquete. — Desmond não mudou, e continua o mesmo boçal.
— Tem razão, terei mais cuidado. — Respondi.
Resolvido o problema, saí da quadra e fui ao encontro de Rachel. Ela está no campo, deve estar fitando o seu amado, Jason Walsh. Será que ele lembra de mim?! Mal nos falávamos.
Andei apressado para encontrar a minha irmãzinha, pensando em Desmond. Seu deboche…fico em dúvida se ele percebeu o meu leve flerte com Kate. Ela não pode se envolver com um carinha como ele. Desmond, assim como Oliver, não vale nada. São dois mau-caráter que só querem tirar proveito das meninas.Tratam as mulheres feito os machistas do século retrasado.
Encontrei minha irmãzinha, conversamos um pouco. Ela me falou sobre o seu aniversário. Continuei fingindo que não lembrava. Por um momento, senti que Jason estava com ciúmes dela comigo. Ver Rachel ao meu lado, despertou o seu interesse a tal ponto que não mediu esforços em abandonar o treino para vir falar conosco. Tocar nos cabelos de Rachel deve ter sido a ignição para tal sentimento. Se for isso mesmo, sei como ajudar Rachel a conquistá-lo.
Caminhávamos para fora do estádio, devagar, atualizando a conversa, quando vi o Jason vindo em nossa direção. Olhei disfarçadamente por cima do ombro da minha irmãzinha, puxei ela pela cintura e a beijei quase tomando os seus lábios nos meus. — Argh! Nem fodendo! Ela é minha irmã, isso pra mim seria incesto. — Mesmo assim, continuei com minha provocação. É visível a irritação de Jason Walsh, ele está com ciúmes de Rachel e comigo. Estou sorrindo por dentro igual a uma hiena. Ele não era assim antes de eu viajar para a Flórida, mal olhava para ela. Já sei como posso ajudá-la a conquistar o seu amor.
* Capítulo sem revisão
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro