— E aí cara! Vamos para o Donnut's King, quer ir conosco, dar um rolé?

— Cê tá falando sério?

— Sim! Por que não estaria?

— Achei que estivesse chateado.

— Não esquenta, eu sou assim mesmo.

— Então...beleza. Eu vou.

Fomos direto para o vestiário, tomamos um banho rápido, trocamos de roupa para ir à lanchonete. Kate e Lana estavam nos esperando próximo ao carro de Kevin. Ele costuma estacionar no mesmo lugar, tinha uma vaga perto e coloquei o meu carro. Um pequeno fio de esperança pairou em meu coração, gostaria que Kate viesse comigo, mas depois da reação de Kevin, terei problemas para ficar com a irmã dele.

Chegamos na tal lanchonete, estava bastante movimentada. Haviam muitos alunos da escola por aqui, deve ser um ponto de encontro. Para mim, o lugar é novo, não existia quando eu fui embora. Tem uma decoração vintage, bem anos 60, eu gostei. A comida é deliciosa, bastante tradicional. Estamos nós quatro em uma mesa. Pedimos o velho hambúrguer com fritas e refrigerante. Estou faminto.

Apesar de sentir bastante fome, estou de certa forma constrangido em comer na frente de Kate. — O que ela vai achar de mim? — Conversamos amenidades. Eles fizeram muitas perguntas sobre a Flórida, pois nunca foram pra lá. Respondi a todas sempre deixando claro que eu gosto mais daqui. A vantagem de morar na Flórida é o clima mais ameno e a grande faixa litorânea. O mar é lindo demais, chega a ser assustador.

Descobri algo sobre Kate, que pode ser a chance que eu precisava para me encontrar com ela sem a presença do seu irmão. Ela pratica atletismo e amanhã fará um pequeno treino na hora do almoço. Esse não perderei por nada desse mundo.

Continuamos a nossa conversa, trocamos os números dos celulares, estava sempre atento a qualquer informação sobre Kate. Pelo o que percebi, eles são de família rica, não entendo o que fazem estudando em uma escola pública. Apesar de que, nossa escola é antiga e bastante conceituada.

🏀🏀🏀

No dia seguinte...

Como Rachel me dispensou e não fui pegá-la para ir à escola, hoje cheguei mais cedo. Ainda no estacionamento, encostado em meu carro, olhei para os lados e ninguém havia chegado. Pensei em falar com ela, porém, no momento em que digitava uma mensagem, Kevin estacionou ao meu lado. Kate estava sentada atrás do banco do carona, ela sorriu para mim no instante em que me viu. Não consegui me controlar, esse sorriso e esses olhos mexem demais comigo, deixando-me ofegante, ansioso, doido para tê-la em meus braços e beijar sua boca até perder o fôlego.

Lembrei-me de Allison. Desde que cheguei aqui, só falei com ela uma vez e porque ela me procurou. Quando vejo Kate, fico louco, desestabilizado. Nunca me senti assim antes por ninguém, mas ela...ela mexe demais comigo, abala o meu interior.

Fomos juntos para o pátio da escola, eu conversando com Kevin e Kate com Lana. Disfarçadamente nossos olhares se encontravam e quando isso acontecia, seu sorriso se abria para mim. Ela é meiga, de gestos discretos, lindamente tímida, já o seu irmão parece que é hiperativo, completamente elétrico.

Para minha surpresa, descobri que são gêmeos, filhos de um empresário rico. Outro empecilho para o meu relacionamento. Dinheiro não será problema para a minha vida, infelizmente, mas saber que por manter uma vida simples e viver da pensão e do salário da minha mãe, isso vai atrapalhar o meu objetivo.

O sinal tocou e não me encontrei com Rachel, hoje priorizei o meu coração. Mandei uma mensagem para nos encontrarmos nas mesinhas da pista de atletismo, assim... enquanto espero por ela, posso admirar a minha garota em seu treino.

🏀🏀🏀

Quando deu a hora para o almoço, saí praticamente correndo em direção a pista de atletismo que ficava nos fundos da escola. Onde estudamos é muito grande, tenho que dar muitos passos, percorrer muitos corredores até chegar lá atrás. Faço isso com satisfação, pois a recompensa será gigante. Poder observá-la, ficar perto dela sem o Kevin, não tem preço. 

Cheguei no local, alguns alunos estavam por ali, na sombra das árvores ou sentados em uma das mesas do local, procurei uma mesa vazia, joguei os meus livros e ali me sentei. Ela ainda não havia chegado, o que foi triste para mim. Mas não desistirei, ficarei aqui até a hora de voltar para as salas de aula. Peguei o meu celular para dar uma olhada nas minhas redes sociais, meu celular vibrou no mesmo instante, era uma ligação da Allison. Pensei, repensei e não atendi. Kate pode chegar a qualquer instante, não quero perder esse momento.

Minha consciência pesou, não nego, mas não quero alimentar um sentimento que não existe para mim. Não estou apaixonado por ela e manter esse relacionamento poderá causar mais sofrimento a nós dois. Depois que vi Kate pela primeira vez, ficou mais do que claro, que não estou apaixonado pela Allison e se um dia eu fui, esse sentimento se foi. Agora, mais do que nunca, tenho certeza disso. Enquanto observava o celular, perdido em meus pensamentos, como se um ímã me puxasse para o lado, vi Kate caminhando com o pequeno uniforme de atletismo, ao lado de sua amiga Lana.

Ela estava linda, com sua barriguinha de fora e seu short colado mostrando suas curvas tão tentadoras para mim. Sua pele branca, parece tão macia, seus lábios em um batom vermelho, os cabelos presos em um rabo de cavalo expondo o seu pescoço... — Que vontade de dar um beijo, bem ali, na curva do seu pescoço. — Kate se mostra a cada dia mais encantadora e não tem nada a ver com sexo ou atração física, é muito mais do que isso. Sei que é cedo para falar em paixão, mas... ela me fisgou literalmente e quanto mais eu me aproximo dela, mas fissurado eu fico.

Estou sentado, completamente hipnotizado por ela, observando os seus movimentos, enquanto se prepara para correr. Lana faz o mesmo e ajuda sua amiga com alguns exercícios de aquecimento. Nem percebo quando Rachel chega perto de mim, esqueci completamente dela. Minha irmãzinha brinca comigo, dizendo que iremos transar aqui e agora. — Como assim?! Ficou louca só pode. — Grito um não em alto e bom som, ao mesmo tempo faço questão de enfatizar os meus sentimentos de irmão afirmando que seria um incesto se isso acontecesse. Temo pelo o que Kate irá pensar sobre essa brincadeira. Na hora fiquei furioso, mas seu jeito meigo e brincalhão me renderam completamente e cai na gargalhada, envolvido naquela farsa.

Me deixei levar pela sua travessura e nem percebi quando Kate saiu da pista e chegou perto de mim. — Será que ela não gostou ou entendeu tudo errado? — Estou ferrado, muito ferrado se isso acontecer. Por sorte, Jason apareceu e deu um piti com ciúmes de Rachel, não sabe ele o quanto me ajudou.

— Fred! — Kate me chamou ao mesmo tempo que Jason chamou Rachel.

— Oi...não vi você chegar.

— Deu para perceber que estava bem ocupado com sua namorada. — Ela disse constrangida, me cortou o coração.

— Quem? Rachel? Minha namorada? Você não me ouviu falar em incesto?

— Eu ouvi e confesso que não entendi já que vocês não são irmãos.

— Posso não ser irmão de sangue, mas somos de coração. Amo Rachel como uma irmã e é recíproco. Se você observar bem, ela está agora se resolvendo com o amor de sua vida, Jason Walsh.

— Jason Walsh?! Coitada, não sabe a fria em que está se metendo.

— Olha, é uma longa história. Por enquanto você só precisa saber que eles se conhecem desde que nasceram e que ele é louco por ela, só tem medo de assumir o que sente.

— Certo! Você sabe onde está o meu irmão? Se o vir diz a ele que eu Lana vamos ao shopping depois das aulas.

— Pode deixar que eu aviso.

— Se você quiser pode nos encontrar lá depois, junto com ele. — Não escondeu o seu interesse pela minha presença.

— Tudo bem, eu vou.

Olhei rapidamente para Rachel que parecia discutir com Jason. Na certa aprontou mais uma das suas, vacilão! Voltei meus olhos para Kate, com um sorriso discreto no rosto. Temi em demonstrar minha felicidade pela sua curiosidade. Era tudo o que eu precisava, uma chance de esclarecer o que sinto por Rachel.

Enquanto conversávamos, sua treinadora a chamou para voltar à pista. Estava bom demais para ser verdade. Por mim continuava conversando com ela até anoitecer. Agora preciso resolver outra questão, Allison. Não dá mais para continuar com esse namoro a distância, tenho que ser sincero, falar dos meus reais sentimentos e terminar de vez.

Me aproximei de Rachel devagar, escorei em uma das mesas que estavam perto dela e esperei o desfecho desse embate entre os dois. Jason parece se humilhar, se rastejar para que ela o perdoe e atenda o seu pedido. Mas Rachel parece irredutível. Essa é minha irmã. Quanto mais difícil ela for e mais próximo eu ficar, ele vai se desesperar, se já não está assim, desesperado, angustiado pela sua resposta negativa.

Como eu pensei. Ele aponta para mim algumas vezes, está claro a sua insegurança em relação a nós dois. Vejo que estou no caminho certo. Rachel o dispensa, me puxa pelo o braço e vamos embora. Coloco o braço sobre o ombro dela, olho para trás com a boca curvada em um sorriso sarcástico. Faço um "até logo'' como se batesse continência, ele me mostra o dedo do meio. Sorrio por dentro. Sigo para longe dele, converso um pouco com minha irmãzinha, que desabafa contando o que ele fez. Babaca! Ele vai ceder, ou não me chamo Fred. Ela me perguntou sobre Kate, apenas deixei subentendido o meu interesse, para todos os efeitos ainda estou namorando a Allison.

Mais tarde, saí eufórico da escola em direção ao shopping juntamente com Kevin. Ele me acompanhava pela estrada, dirigindo o seu carro. Chegamos no estabelecimento, estacionamos um ao lado do outro e fomos ao encontro das "nossas" garotas, que nos esperavam em frente às salas de cinema, com sacos de pipoca nas mãos e refrigerante. Estranhei o fato de estarem somente com dois copos.

Entramos para ver o filme de ação, adoro! Eu sentei em uma ponta, as meninas ficaram no meio e Kevin sentou ao lado de Lana. Adorei a combinação das duas. Percebi que o copo de refrigerante tinha dois canudos. Era um copo grande, com capacidade para um litro.

— Tem dois canudos, acho que o atendente colocou errado.

— Não colocou, não. Foi eu que pedi. É muita bebida para mim, você não acha?

— Acho sim, claro!  — Com dois canudos podemos dividir.
Perfeito!

Nos encaramos brevemente, até sermos interrompidos por Kevin. Ele é tão protetor e terrivelmente desconfiado, pediu para trocar de lugar com Lana e sentar ao lado de Kate. E ainda solta uma piada.

— Não pense que sou otário, estou de olho recém-chegado.

— Não precisa se preocupar, Kevin. Entendi perfeitamente a nossa conversa na quadra.

— Bom pra você! — Pisca pra mim, com um sorriso debochado.

Isso vai ser mais difícil do que imaginei. Ele parece que é pai dela e não irmão. Porra! Terei que me esforçar ao máximo para fazer ele confiar em mim, ou seja, nunca pensei que diria isso, mas...terei que conquistar primeiro o irmão dela, para depois conquistar a minha garota.

— Não liga pra ele.

 
— É fácil pra você dizer isso.

— Ele nem vai assistir o filme, vai beijar Lana durante a sessão inteira, é sempre assim.

— Tem certeza?! Ele não me conhece, não sabe que pode confiar em mim.

— O que ele te disse? — Olhei para ela desconfiado. — Não faz essa cara, quero saber o que foi.

— É melhor não. Se fizer confusão com ele por causa disso, só vai piorar tudo.

— Não vou, eu prometo.

Ela bebeu um gole do refrigerante, marcando o canudo com o batom, depois colocou o copo no braço da cadeira com o canudo marcado virado para mim, batendo algumas vezes com seu dedo indicador como se tivesse me dando permissão para usá-lo. O que ela quer dizer com isso? Que posso beijá-la, será? Meu coração veio à boca e voltou para o lugar. Engoli em seco a minha saliva, tentando controlar minha respiração. Peguei o copo e coloquei o tal canudo na boca, sorvendo a bebida gelada. Kevin beijava Lana sem pudores, Kate aproveitou o momento e deslizou delicadamente a sua mão sobre a minha. Quando o beijo cessou, ela soltou minha mão rapidamente, olhou para mim, com um sorriso zombeteiro, igual a uma criança que apronta escondido dos pais. Não acreditei no que estava acontecendo. Voltamos ao jardim da infância? Pra quê isso? Não sei se minha decepção é por ela, ou pela superproteção do irmão. Apesar de tudo isso, fico eufórico com as demonstrações de interesse dela.

O filme rolava e como ela disse, Kevin passou quase toda a sessão aos beijos com Lana. Sempre que podia, ficava de olho em nós. Não quis decepcioná-lo, levantar suspeitas, dar motivos para não confiar em mim. Kate, sempre que podia, tocava em minha mão, meu braço, por alguns instantes entrelaçou os nossos dedos como um casal de namorados. Não sei se faz por interesse em mim, ou para desafiá-lo. O que eu sei, é que estou adorando o seu toque, o seu olhar, esse clima de namoro escondido feito crianças travessas, estou me divertindo muito com tudo isso.    

— Mano, preciso de um favor seu.

— Pode pedir.

— Você deixa minha irmã em casa? — Isso está acontecendo mesmo?

— É sério? Claro que sim, mas você está tranquilo sobre isso?

— Se não estivesse, não pediria. — Bateu em meu ombro. — Você se comportou direitinho hoje, sei que posso confiar em você.

Eu não teria tanta certeza...