
28-foi uma péssima ideia.
Samantha point of view
72 horas antes...
Terminamos nossa viagem da melhor forma, e todas as fotos que eu tirei com a minha câmera eu revelo e coloco na minha parede.
Depois da viagem, fico na minha casa porque Diego disse que precisava falar comigo pessoalmente.
— Amor, você não quer ficar? — Paloma pergunta.
— Eu adoraria, princesa, mas meu irmão disse que precisava falar comigo pessoalmente — falo.
— Tá bom, mas qualquer coisa você tem a chave da minha casa, amor — ela sorri ao se lembrar disso.
— Minha casa vai estar sempre aberta para você, e você sabe que qualquer coisa é só girar a chave — Paloma me lembra.
— É só a casa que vai estar sempre aberta? — falo, rindo das minhas piadas de 5ª série.
— Você é demais — Paloma fala, me jogando um travesseiro.
Começamos uma guerra de travesseiros, só que depois eu paro porque Diego está me ligando.
— Eita, o negócio parece ser sério — Paloma fala em um tom preocupado.
— Amor, prometo voltar logo. Vou ver o que ele quer e já tô voltando — me despeço, dando um beijo nela.
Chego em casa e encontro meu irmão nervoso, o que me deixa preocupada.
— O que houve, Diego? — chamo sua atenção.
— Irmãzinha, tenho uma notícia não muito boa — ele fala em um tom preocupado.
Ao ver minha reação, ele se apressa com suas palavras.
— Eles estão voltando de viagem! — ele fala rápido, e eu me sento, pensando que estou ferrada.
— Mas que caralho! Por que decidiram vir tão cedo? — Tento me lembrar de alguma data comemorativa para justificar a visita repentina, mas não consigo pensar em nada.
— Você precisa contar. Eles certamente já sabem do seu namoro — Diego fala, preocupado, porque se lembra do que aconteceu quando me assumi.
Anos atrás...
Eu sei que eu tenho 12 anos, mas sinto que sou um pouco diferente das minhas amigas. Elas apenas falam de garotos e nunca sobre garotas também. Eu não queria apenas falar sobre garotos, eu também queria mencionar as mulheres, queria falar o quão linda elas são. Ontem eu beijei o Jason e gostei....mas abri meus olhos enquanto estávamos nos beijando, e foi o exato momento em que eu a vi.
Heather caminhava com maestria sob o pátio da escola, com seu cabelo castanho ondulado, com as pontas coloridas com a cor azul. Ela sempre retocava o gloss, e assim, que terminei o beijo com o Jason. Nossos olhares se cruzaram. Enquanto ela passava seu gloss de cereja, senti uma imensa vontade de experimentar. E isso era estranho, porque eu tinha acabado de beijar o Jason e senti aquele mesmo desejo por Heather.
Mas fiquei paralisada ao lembrar de uma conversa que eu ouvi minha mãe ter ao telefone. Ela dizia que gostar de meninas era errado. Ela conversava com uma amiga dela, a amiga descobriu que a filha dela gostava de meninas, e queria mandar ela para o colégio interno. Espera... Se eu estivesse gostando da Heather, eu também vou para o colégio interno?
Merda, eu estou pensando demais.
Acredito que isso é muita coisa para uma pessoa de 12 anos pensar. Então apenas ignorei o pequeno caos que se formava em minha mente .
Naquele mesmo dia, eu troquei algumas palavras com o Jason. O coitado perguntou se beijava bem. Ele era bonito, mas garanto que depois da minha confirmação ele iria esperar eu virar as costas para zoar os amigos que ainda não perderam o bv. Me retirei do pátio e fui em direção ao banheiro.
Enquanto lavava o rosto, eu acabei esbarrando com a Heather e ela estava super nervosa porque queria ficar com um menino, mas ela não sabia beijar. Eu e Heather éramos bem amigas, então sugeri gentilmente que a gente se beijasse. sim, eu ensinaria Heather a beijar.
—Mas não é estranho? — Heather pareceu hesitante.
— Como assim? — perguntei, confusa.
—Nós duas nos beijarmos. Somos duas meninas.
— Eu não vejo problema nisso. Seria um beijo de amigas, e isso ficaria só entre a gente. Mas, se você não quiser, tudo bem. Eu posso chamar outra pessoa.
Heather respirou fundo e pareceu ceder.
— Tá bom, eu confio em você. Se eu beijar mal, por favor, me avise.
—Vem! — eu puxei Heather para a cabine do banheiro. Ela me olhou um pouco apreensiva.
—Olha, se você quiser, eu posso pedir para um menino te ensinar. A gente não precisa se beijar se você não quiser.
Antes que eu pudesse falar alguma coisa, Heather tomou a iniciativa do beijo. E acho que ela se lembrou do conselho que eu dei antes: quando ela me beijasse, era para ela imaginar o menino que ela queria. E funcionou. Ela sabia beijar, ela só precisava do esforço certo. Tenho certeza que o menino vai adorar o gloss de cereja dela.
Fomos interrompidas pelo sinal. e um pouco sem jeito, separamos nossas bocas enquanto rimos descontroladamente.
— E aí, como eu fui?
— Foi bem. Se ele não gostar, é porque ele não curte meninas.
— Obrigada pela ajuda Sasa.
— Amigas servem para isso.
Éramos de sala diferentes, então ela me agradeceu novamente e fomos para nossos respectivos lugares. Na verdade, eu que deveria agradecê- la. Estou um pouco apavorada em lembrar daquela conversa no telefone que a minha mãe teve, mas, depois de ficar meses confusa, tive uma confirmação. Eu gosto de meninas e meninos. Isso não pode ser ruim, né?
Volto para a casa pensativa e, enquanto assisto à televisão, lembro que vi em um filme que a primeira coisa que devemos fazer é contar para os pais. mas os meus nunca estão em casa. Então, eu me levanto e pego um calendário que está perto da minha penteadeira eu sempre anoto quando meus pais vão viajar e quando vão voltar. E parece, que eles voltam hoje do México.
Antes que eu elaborasse mais ideias, a mulher que ajuda a cuidar de mim bate na porta e me avisa gentilmente que eu tenho visita. Eu rapidamente sorrio para ela, e vou disparada abraçar meus pais.
Quando meus pais chegam, a mulher se despede e vai embora. Espero meus pais guardarem as mala no quarto enquanto eu me sento no sofá, balançando minhas pernas um pouco agitadas.
— O que que aconteceu para você ficar que nem uma abelha atrás da gente? — Minha mãe arqueia a sobrancelha. Ela odeia enrolações.
Então, eu decido ser direta:
— Mamãe, papai, tenho uma coisa importante para conversar com vocês — falo, nervosa.
— Fala, Samantha — minha mãe diz ríspida, dando de ombros, com os olhos no celular.
Meu pai está tão concentrado na televisão que nem sequer me dá atenção.
Tento ignorar essa falta de consideração e ir direto ao assunto...
— Vocês podem, por favor, olhar para mim? — falo, chateada.
— O que você quer de tão importante?— minha mãe retruca, enquanto larga o celular.
— Eu sou bissexual. Eu recentemente descobri que eu gosto de meninos e meninas. Queria falar agora, em vez de esconder. Eu vi em um filme que a primeira coisa a se fazer é contar para os pais— falo, apreensiva.
No filme que eu assisti, no mesmo instante que a menina se confessou para os pais, eles vieram em direção a ela para abraçar-la. Porque os meus pais não fizeram isso? Todos nós estamos parados, eles estão me encarando e eu começo a ficar sem jeito.
Tento dizer alguma coisa mas a minha mãe me corta imediatamente.
—Esqueça isso.
—Porquê?
—Samantha, isso deve ser uma fase. Você apenas está confusa.
—Tá, mas, e se for? Você não poderia simplesmente me apoiar até eu saber o que eu quero?
—Querida, isso de gostar de homem é mulher não é verdade.
—Você não está me entendendo mãe, eu estou te falando o que eu estou sentindo.
—Mas o que você está sentindo é errado.
—Não é não, porque ontem eu beijei uma menina e um menino e gostei .
Meu pai automaticamente esboça um olhar bravo e furioso para minha mãe, depois do que eu falei, eu finalmente chamei a atenção dele e minha mãe logo faz outro comentário:
— Você é maluca? — ela pergunta, e eu fico confusa.
— Não entendi — retruco, franzindo a testa.
— Você vai sujar o nome da família! — meu pai finaliza o que minha mãe começou a dizer.
— O que você acha que eles vão pensar quando virem a filha dos Evans com um garoto no sábado e uma garota no domingo? — minha mãe fala com repúdio.
— Eu não quero saber o que eles vão pensar! Eu só quero ser eu mesma e amar quem eu quero! — falo aos prantos, ouvindo toda aquela merda.
— Não inventa, Samantha. E, se falar muito, não vou deixar você ir para aquela viagem — meu pai diz friamente.
Automaticamente cruzo os braços e olho para um ponto fixo, tentando esconder as lágrimas que se formam nos meus olhos. Cansada de esconder o que sinto, apenas solto minha deixa e vou em direção ao meu quarto.
— Muito obrigada pelo apoio. Vocês são ótimos pais.
Atualmente...
Parece que a Samantha de anos atrás não esqueceu aquelas palavras, e toda vez que vê seus próprios pais se sente mal por lembrar de tudo aquilo.
— Samantha! — Diego chama minha atenção.
— Tô ouvindo — respondo, um pouco desnorteada.
— Eu odeio o que eles fizeram com você. Odeio saber que você ainda os ama, porque tem um ótimo coração — Diego fala.
— Eu me odeio por continuar gostando deles, mesmo depois de tudo aquilo — falo, chateada.
Antes que pudéssemos falar mais alguma coisa, eles chegam e forçam uma simpatia.
— Mamãe sentiu saudades dos meus dois filhotes! — ela fala com um sorriso forçado.
— Trouxemos presentes! — diz meu pai.
— Que animação é essa, crianças? — ela pergunta, cínica, enquanto Diego coça a cabeça, sinal típico de que está perdendo a calma.
— Não somos mais crianças, mamãe — ele dá ênfase na última palavra.
— Diego! — Meu pai o repreende.
— Não dá para a gente ser uma família normal. Alguém sempre acaba estragando tudo! — ela fala, forçando um choro.
Isso me dá raiva, e eu deixo escapar:
— Por que será, mamãe?
Minha mãe bate forte na mesa ao lado, nos fazendo dar um salto para trás. Ela se apressa em falar:
— Eu vim porque fiquei sabendo de algumas coisas e não tolerarei qualquer desrespeito da parte de vocês. Ainda sou a mãe de vocês! — ela fala ríspida.
Ouvindo aquelas palavras, engulo seco. Quando achei que ela demoraria mais, ela solta outra bomba.
— Faz tanto tempo que não vejo vocês. Vou tentar ser mais presente. E aí, filha, largou aquela ideia de ser... qual é o nome mesmo? — ela debocha, e meus olhos se enchem de água.
Eu me sinto estúpida por acreditar que ela mudaria.
Eu aguentei tantas coisas que agora fugiram do meu controle. Tentei sentir nada e acabei sentindo tudo. As palavras que tanto guardei foram as mesmas que falaram por mim. Ao longo do tempo meu corpo deu sinais de que eu não estava bem: minha cabeça parece doer constantemente , minhas mãos começaram a tremer, e antes que eu sinta falta de ar, tento falar, ainda com dificuldade:
— Se chama bissexual. E não, não tem como largar o que eu sou! — falo, tentando conter as lágrimas.
Eu sempre tento conter as lágrimas, mas eu constantemente fracasso.E quando me dou conta, uma lágrima insiste em sair.
— Isso é uma bobagem, Samantha! — meu pai rebate.
— Bobagem é o preconceito de vocês! — Diego murmura.
— Estamos conversando com a Samantha. Quando for a sua vez, você fala. Não esqueça que ainda somos seus pais, mocinho — meu pai retruca, agarrando o braço de Diego, que logo o solta brutalmente.
— O que vocês fazem me enoja. Sabem que esse é o ponto fraco da Samantha e, mesmo assim, tentam feri-la. Isso é coisa que pais fazem? — Diego fala, andando de um lado para o outro, com as bochechas vermelhas e a mão na cabeça.
A pressão, a briga, o ambiente pesado me deixam tonta. Não consigo me defender e sinto que tudo aquilo contra o qual estava lutando veio direto para mim. Eu lembro de tudo e sinto falta da raiva. Num ato impulsivo, solto tudo:
— Vocês sumiram, mal ligavam para saber de nós, nem nos visitavam, e agora querem nos tratar desse jeito? — falo, indignada.
— Por que está tão rebelde, moça? — minha mãe me repreende.
— Sabe, mãe, depois que vocês foram embora e despejaram aquelas palavras para mim, eu me senti incapaz de tudo. Me afastei de tudo e todos, e demorei um bom tempo para me reerguer novamente. Você diz que me ama, mas agora quer me ver no buraco novamente? — rebato.
— Você só me decepciona, Samantha. Primeiro escuto boatos de que está namorando uma menina, e agora está querendo levantar a voz para mim! — ela fala com cara de decepção.
Reviro os olhos, incrédula pela minha mãe se fazer de sonsa por tanto tempo.
— Não são boatos. Eu estou namorando uma menina.
— Eu te falei, Carla. Essa menina ainda está nos envergonhando — meu pai fala frio, como sempre.
Você sabe como é a sensação de não pertencer a um lugar? É exatamente assim que me sinto. Depois que me assumi, parece que virei outra pessoa para os meus pais. O amor virou ódio. Mas eu não fiz nada de errado. Não quero que me tratem como se eu tivesse cometido um crime cruel.
Eu só queria me sentir eu mesma perto deles, e não uma estranha que criou uma personalidade para agradar, mas que nunca foi suficiente.
Minha mãe estala os dedos para chamar minha atenção.
— Seu irmão só não controla a língua, mas você poderia ter seguido o exemplo dele. Namorar pessoas do gênero oposto. Não tem essa de mulher com mulher ou homem com homem.
— Por que esse preconceito todo? Eu não vou mudar quem eu sou só porque vocês querem. Por que não podem aceitar? — pergunto, soltando outra lágrima.
Diego, sentado na cozinha, ouve minhas palavras, balança a cabeça e deixa escapar uma lágrima junto comigo.
— Nunca! — meus pais gritam ao mesmo tempo.
O grito foi alto, me assustando e fazendo com que eu chorasse mais ainda.
— Não sei o que fiz para tamanha decepção. Perdi até a fome — minha mãe diz, indo para o quarto de hóspedes com meu pai.
Eu ainda estou olhando para um ponto fixo,absorvendo todas as palavras negativas que eles disseram. Eles jogam o veneno e, depois, vão embora, como se não importasse o que eu sinto.
Depois que Diego vê que eles saíram, ele tenta conversar comigo:
— Irmãzinha?
— Desculpa, mas agora não posso — falo, correndo e trancando a porta do meu quarto.
Minhas mãos estão tremendo enquanto começo a chorar compulsivamente, pensando que não é isso que Paloma merece. Ela merece uma namorada que a apresente para os pais. Ela merece alguém muito melhor, ela merece tudo aquilo que eu não posso oferecer no momento.
Por que meus pais apareceram do nada e querem me controlar? Penso nisso até pegar no sono. Sempre tentei fazer tudo perfeito desde que me assumi, mas sei que, para eles, passei de filha perfeita a filha que só dá dor de cabeça. Eu sempre me cobrei demais para que minha sexualidade não virasse pauta nas conversas.
Eles são cruéis. Eu tento agradar, mas erro uma vez e já é motivo de falatório. No final, o que sempre acontece é: eu chorar no meu quarto e me sentir insuficiente. Tentar ser a filha perfeita dói. E dói pra caralho.
Ainda me sinto uma farsa. Pareço sempre sorrir na internet para esconder minha verdadeira realidade. Por mais que eu tente, sempre fico triste, porque nada me dói mais do que o desprezo dos meus pais.
48 horas antes....
Eu acordo com o barulho do papagaio da Abigail, minha vizinha que nunca está em casa e que por curiosidade do destino hoje ela está. Ótimo o dia já começou bem, mas algo havia mudado o silêncio me fez refletir bastante, fiquei minutos perdida em meus próprios pensamentos.
Meus pais mexeram novamente com minhas inseguranças, e eu me sinto uma péssima namorada por não conseguir dividir minha atenção de forma justa com Paloma. Ultimamente, tudo parece bagunçado demais. Amar a mim mesma é exaustivo. Sempre minto dizendo que estou bem, mesmo quando Paloma percebe que algo está errado. Ela apenas respeita meu tempo, e isso faz minha vontade de chorar crescer ainda mais. Como pode ela ser tão perfeita para mim, enquanto eu sinto que sou tão insuficiente para ela?
É como se Paloma estivesse dando tudo de si, e eu estivesse aqui... presa. A tristeza consome todas as partes boas de mim, e, sempre que penso que estou melhor, eles me testam novamente. Odeio fracassar. Odeio ter perdido a conta de quantas vezes prometi que não choraria mais, que não deixaria essas coisas me afetarem. Mais uma promessa quebrada.
Eu não estou muito a fim de sair do quarto e olhar para a cara da minha mãe. Então, decido me deitar novamente e conversar com a minha garota. Ela não vai gostar de saber o que estou pensando. É como se eu sentisse algum prazer em me autosabotar. Toda vez que estou feliz, lembro dos meus pais, e é como se toda a felicidade sumisse. Não me sinto uma pessoa digna de ser feliz.
Quando estou com Paloma, esqueço dos meus problemas e finalmente penso que mereço ser feliz, mas ela merece mais do que isso. Ela merece segurança. Eu a amo, mas me sinto instável com essa pressão. Estou tão perdida nos meus próprios problemas que tenho medo de não dar a atenção que ela realmente merece.
Eu preciso vê-la. É como se meu corpo precisasse do calor do corpo dela. E, por mais que eu vá fazer a pior merda da minha vida, vai ser tudo por um bem maior. Paloma não merece a bagunça que eu sou.
Estive tão feliz ao lado dela que não percebi que, nos dias ruins, eu apenas ficaria no meu pior estado. Respondi às mensagens dela já chorando, porque, por mais que eu vá me arrepender, foi o que achei certo. Paloma percebeu que havia algo errado, porque nada passa despercebido por ela. No desenrolar da conversa, ela me convidou para ir à casa dela. Ela queria vir aqui, mas tive que recusar gentilmente por conta dos meus pais ainda estarem aqui.
Rapidamente, levantei da cama e fiz minhas higienes básicas. Paloma não poderia ver o caco que eu estou.
Como Diego está trabalhando, não trocamos nenhuma palavra. Infelizmente, só meus pais estão em casa, eu caminhava até a porta e tentei ignorar meus pais sorridentes na cozinha. Tudo o que eu senti era vontade de vomitar, como eles parecem tão sorridentes enquanto eu passei quase a noite toda chorando pelo que me disseram?
Enfim, o foco não é esse. Eu apenas quero ver a minha namorada.
O caminho parece demorar uma eternidade, ou talvez eu só esteja ansiosa. Decidi caminhar para ver se eu me sentia melhor, mas não deu muito certo. Só me dei conta de que eu estava perto da casa dela, quando ela me gritou e me tirou dos meus pensamentos. Era como se eu estivesse vagando sem rumo.
— Que isso amor, tá errando o caminho?
— Desculpa vida, cabeça cheia .— falo com desdém.
Paloma parece me analisar de cima a baixo e fica calada.
— Entra princesa. — ela me puxa até o sofá, e senta na minha frente.
Ela está sentada me analisando e eu apenas mantenho a minha cabeça baixa, eu não consigo olhar nos olhos dela. A que ponto eu cheguei?
— Querida, desembucha.
— O que?
— Samantha, o que está te incomodando?
Eu consegui pesar o clima sem dizer uma única palavra.
— Eu não consigo desabafar.
— Por que?
— Não quero que meus problemas atrapalhe nosso relacionamento.
— Isso tem haver sobre aquela conversa que vc e seu irmão tiveram?
— Sim e não sei o que fazer.
— Me conta o que houve, podemos resolver juntas... — ela me olha apreensiva, enquanto entrelaça nossas mãos.
Era como se, com essas simples palavras, toda a bola de neve que eu vinha acumulando pudesse se desfazer. Eu me permiti sentir tudo que eu estava reprimindo, e , sem perceber, eu estava chorando nos braços dela.
Ela tem um efeito único, consegue me desmontar com uma simples palavra. Com ela, eu posso ser eu mesma. É como se todas as muralhas que eu construi ao meu redor, desmoronassem com apenas um toque. O toque dela.
Depois de alguns minutos em silêncio, eu consegui me recompor com alguns cafunés que ela estava fazendo. Então ela levantou meu queixo e enxugou minhas lágrimas e me deu um beijo na testa e um selinho. Eu fiquei paralisada, Paloma é a mulher dos meus sonhos mas eu não posso namorar ela assim, eu preciso resolver meus problemas. Tentei afastar-lo mas acabei trazendo ela para a minha confusão.
Depois desse ato de carinho, eu finalmente olhei, um pouco envergonhada para a Paloma e entrelacei nossas mãos.
— Você sabe que eu sou completamente apaixonada por você e que eu moveria montanhas apenas para sentir o calor dos seus lábios,mas...
— Por favor, não fala isso. — Paloma retruca, enquanto faz carinho na minha bochecha.
Nosso relacionamento sempre foi baseado em amor e respeito. Fizemos um acordo de que a sinceridade sempre ficaria em primeiro lugar. Caso algum lado quisesse terminar, não poderia mencionar a palavra"término". E entre todos os motivos, nunca seria sobre falta de amor.
Eu nunca achei que falaria isso, mas eu preciso me cuidar para ter um futuro e uma boa qualidade de vida ao lado dela.
— Me desculpa, amor, mas eu vou precisar de um tempo para me organizar. Eu não queria te envolver nessa bagunça.
Paloma está bem calma e compreensiva, e parece está estudando meus olhos.
— Você tem outra pessoa?
— Não, nunca. Você é a única dona do meu coração. Mas eu preciso desse tempo, para resolver coisas pessoais. Não tem nada a ver com você. Você é perfeita e é o amor da minha vida. Mas eu não posso te carregar nessa bagunça que está em minha mente.
—Tudo bem, amor. Espero que você consiga alcançar aquilo que deseja e não se esqueça que eu sempre vou estar apoiando você. Eu amo muito você.
—Eu te amo, Paloma. Você é a garota mais doce que eu já conheci. Obrigada por você ser você.
—Eu também te amo, Samantha. Você é a garota mais forte que eu conheci. Saiba que eu sempre vou estar aqui.
Depois de conversarmos sobre outras coisas, minha mãe me liga e aviso à Paloma que estou de saída. Ela me pergunta, meio sem jeito, se poderia me levar em casa. Eu pensei um pouco por conta dos meus pais, mas a companhia dela é tão boa que prontamente aceitei seu pedido.
O caminho parece mais rápido. Só que eu não queria que esse momento acabasse, eu não quero ficar longe da Paloma.
Estamos tão envergonhadas por não saber lidar muito bem com a situação que, assim que chegamos perto da minha porta, nos beijamos. Sim, talvez um beijo de despedida?
O beijo era cheio de saudades e sentimentos. Paloma tem aquele gosto viciante de menta, no qual me alucina. Ela segura possessivamente a minha cintura enquanto minhas costas batem na parede próxima à porta. No mesmo instante, o beijo demorado se torna algo a mais quando a sua língua pede passagem para passear na minha boca, e eu logo cedo a permissão que ela tanto ansiava. Me sinto completamente viciada no toque dela. Enquanto me beija,
distribuo mãos bobas entre seu pescoço e seio. Sinto como se estivesse queimando por dentro.
Até que somos interrompidas por um barulho na janela. Era minha mãe. Acho que ela viu tudo, porque ela estava com uma cara de poucos amigos. Ela pareceu encarar Paloma e depois foi embora, quando me virei, vi paloma com as bochechas coradas.
— Me desculpa, Loma.
— Tudo bem, esse pode ser considerado um beijo de até logo né?— ela faz piada, para quebrar o clima enquanto se vira para ir embora.
— Se cuida princesa. — eu lanço um beijo no ar chamando a atenção dela .
— Até logo querida. — Ela sorri enquanto finge pegar o coração.
Espero ela ir embora para eu poder entrar em casa. Ai, eu queria cavar um buraco na terra e sumir agora.
Dependendo do que minha mãe viu, ela deve falar pra caralho .
Bom, como Diego vai ficar fora por mais dois dias. Meus pais estão aqui me perturbando. Mal entrei em casa e minha mãe já veio me insultando, perguntando se eu não tinha vergonha. E, como eu já estava um pouco alterada, ao invés de ignorar, eu acabei respondendo.
— Vergonha de quê?
— De ficar se atracando com aquela garota aqui em casa.
Eu sorri enquanto vinham alguns flashbacks na minha cabeça. Ai, se ela soubesse que eu já fiz coisa pior aqui em casa. Ela se irrita com o meu humor e logo decide provocar.
— Impressionante a forma que você não liga para nada, Samantha.
— Porque está tão preocupada?
— E se algum paparazzi doido estivesse vigiando a casa e tivesse visto o seu beijo?
— Ué, a foto estaria rodando por toda Los Angeles.
—Exatamente, e eu não quero que você fique fazendo essa falta de vergonha.
— Ah, por favor! Meu rostinho lindo estaria estampado na primeira manchete do Jornal:"Samantha Evans aproveitando a adolescência escondida dos pais que não apoiam ela". — Sorrio da minha própria piada enquanto faço sinal de aspas com a mão.
— Chega! — A mulher que eu chamo de mãe acabou de me dar um tapa.
Eu coloco a mão no rosto, que instantaneamente parece arder com o tapa, e a olho com cara de poucos amigos.
— Me bateu Por que?
— Samantha, você fumou drogas?
— Porque a pergunta?
— Porquê você parece que está maluca, presta atenção no que eu estou falando com você.
— O que você está falando comigo exatamente?
Dessa vez, ela parte novamente para cima de mim e coloca o dedo no meu rosto.
— Você está testando a minha paciência hoje.
Ai, que chatice. Não posso ter um segundo de paz que essa mulher vem dar sermão.
— O que está acontecendo aqui ?— meu pai murmura, se referindo ao barulho.
— Mamãe está revoltada porque me viu beijando a minha namorada.
Sim, terminamos, mas ninguém precisa saber que não estamos mais juntas. Principalmente meus pais.
— Ficou louca Samantha? — Meu pai fala enquanto penteia seu cabelo no estilo Leonardo DiCaprio.
— Porque estão tão incomodados sobre eu namorar alguém do mesmo gênero?
Meu pai retruca enquanto se senta no sofá: — Porque temos outros planos para vc, filha.
— Ao invés de nos dar dor de cabeça, você poderia dar uma chance para o menino dos Montgomery, o irmão da Madison. — Minha mãe rebate.
Eu apenas reviro o olho.
Fiquei cansada de tanto discuti e foi tentar dormir, minha cabeça estava explodindo.
24 horas...
Me tranquei no meu quarto — um lugar que, em dias bons, é minha calmaria, mas que, em dias ruins, parece me devorar viva. Hoje, as paredes não me confortam; elas me sufocam. Estou esgotada. Apenas escrevo para aliviar, mas até isso é interrompido pelas lágrimas que caem no papel ou pela voz da minha mãe, que ecoa do outro lado da porta, criticando-me. Eles falam sobre o quanto sou ingrata, sobre como não retribuo os esforços que fizeram por mim.
Decido tomar um banho. Pela janela, vejo que está ensolarado lá fora, o que é irônico, porque, aqui dentro, tudo parece cinza e sem graça. Caminho até o banheiro e, no trajeto, cruzo com minha mãe. Ela me lança aquele olhar de reprovação que conheço tão bem. Não me esforço para esconder meu estado, porque, desta vez, é um pedido de socorro. Mas ela interpreta como afronta. Enquanto me afasto, escuto sua voz na sala, me insultando.
No banheiro, tiro meu roupão, mas decido entrar na banheira de calcinha e sutiã. A água está gelada, como eu me sinto por dentro. Fria. Tento agir como se nada disso me afetasse, mas a verdade é que estou me afogando por dentro. A água fria é um alívio temporário, uma pausa da dor. Mergulho, e, por um instante, nunca me senti tão viva.
E se a solução para não sentir dor fosse parar de sentir tudo?
Essa ideia passa por minha mente, irônica, porque eu não sou suicida. Não quero morrer. Mas essa dor reprimida, que cresce e me consome como fogo, é insuportável. O som da água enchendo a banheira é o único barulho que me acalma. Meus pensamentos vagam, e meus olhos caem sobre minha bolsa de cuidados. Lá está ela. Uma oportunidade.
Tudo parece calmo. O grito da minha mãe se apaga, e o único som que resta é o da torneira enchendo a banheira. Eu continuo ouvindo enquanto a água transborda. Ergo meus braços, e nunca me senti tão tranquila.
A vida é feita de escolhas, e hoje farei a minha.
Escrevo cartas. Para meus pais, Paloma e Diego. Cada uma com um motivo, cada uma com um agradecimento. Quando termino, tomo coragem. A lâmina brilha, e, quando me dou conta, está coberta de vermelho, combinando, de forma cruel, com meu esmalte. Sinto uma ardência, mas sei que a dor logo passará. A água ao meu redor reflete o que estou tentando evitar há anos.
Enquanto perco a consciência, vejo algo. Vejo ela.
Paloma.
Eu sorrio. Não achei que seria tão... pacífico.
De repente, estou em um campo de rosas, exatamente como Paloma prometeu que faríamos juntas quando morássemos uma com a outra. Corro para abraçá-la.
— Eu te amo — digo.
Ela retribui, mas seus olhos, geralmente doces, estão cheios de preocupação.
— Amor, o que está fazendo aqui? — ela pergunta.
— Ué, querida, estou com você.
— Não é sua hora ainda — ela responde, séria. — Esse campo de rosas ainda precisa florescer.
— O que está dizendo?
— Sasa, você precisa ser forte e resistir. Eu moveria céus e montanhas por você. Não me faça levar suas flores preferidas ao seu velório. Não me faça te perder agora. Prometemos que ficaríamos velhas juntas, lembra?
Ela segura meu rosto com as mãos e sorri, enquanto eu, confusa, me pergunto: O que eu fiz? e Será que realmente valeu a pena?
Paloma parece ler minha mente. Ela entrelaça nossas mãos, beija minha bochecha e me conduz por um caminho reto.
No mundo real, o som de batidas ferozes na porta me tira desse transe.
— Samantha, o banheiro está vazando! — a voz de minha mãe soa furiosa.
Quando ela percebe que a água em seus pés não está mais clara, mas tingida de vermelho, tudo muda.
— Augusto! Corre aqui agora! — ela grita, em pânico.
Meu pai chega, e seu rosto empalidece ao ver a cena. Minha mãe chora, desesperada.
— Samantha, o que você fez? — ela grita, enquanto tenta enrolar meu corpo fragilizado em uma toalha.
O motorista, alto e apressado, corre até o banheiro e me carrega. Meu pai vai com ele até o hospital, enquanto minha mãe, tomada pelo choque, fica para trás, tentando se recompor.
E agora resta a pergunta: Será que eles demoraram demais, ou chegaram a tempo? apesar de estar empenhada em tomar essa decisão, vou reorganizar minhas palavras e contar o que realmente me levou a isso, o ato já foi feito mas tenho que voltar um pouco no tempo.
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