2-A festa
Chego à escola e não param de falar sobre a festa. Só quero ver se o que estão prometendo vai se concretizar. O corredor está cheio de alunos guardando seus materiais e conferindo a grade de horários. Felizmente, estou na mesma sala que minha amiga, mas vejo a Rebeka reclamando na minha direção.
— Mais que porra! Agora que não vou conseguir conversar com aquela gata da sua sala, vamos ficar a maior parte do tempo separadas! Não vai dar nem para matar um pouco da aula para beber água e ver a Mencía no corredor.—Ela franze a testa.
— Vai estudar, piranha! Você só quer saber de mulher! — diz Geo, e acabo soltando uma risada.
— Aaah, então meu pequeno desabafo faz vocês rirem? quer saber, vou deixar as duas palhaças aí, que eu vou para a aula! — Ela finaliza o pequeno diálogo mostrando o dedo do meio. Comportamento típico de Rebeka.
— Já que nosso entretenimento já foi, vamos para a aula — diz Geo.
A aula parece não acabar nunca. É sempre assim quando estamos ansiosas por algo. Então, quando já estava morrendo de tédio, o sinal toca.
— Bom final de semana a todos — diz Alexia, antes de se retirar.
Patrick sempre organiza festas memoráveis e, sejamos sinceros, ele sabe como proporcionar entretenimento. Beka nos apresentou em uma chamada de vídeo, tendo sido transferida de Las Encinas recentemente, junto com Mência e Isabela.
Assim que chegaram, Rebeka e Isabela atraíram muitos olhares, em parte devido ao seu estilo marcante e também pelo número considerável de seguidores que ambas possuíam.
Eu não seguia nenhuma delas e comecei a recordar como a nossa amizade se formou.
**Flashback:**
O dia estava ensolarado e rumores circulavam de que novos alunos poderiam ingressar na escola.
Apesar de ser um colégio com muitos alunos, a chegada de novas pessoas sempre parecia agitar o restante, que ficava sedento por "carne nova".
"Todos" queriam saber quem eram os pais, quantos seguidores tinham e outras futilidades.
A maioria dos alunos se relaciona apenas por interesse; embora muitos tenham condições financeiras, a ganância prevalece, pois eles só pensam no que o outro pode oferecer: popularidade, seguidores e visualizações nos stories.
Aqui em Boulevard, a superficialidade e o interesse são predominantes. Felizmente, estou acompanhada de minha amiga de infância, Geo. Temos dinheiro, mas não precisamos ostentar, como a maioria faz. Temos consciência de nosso valor.
Mesmo voltando das férias e conhecendo cada um que está aqui, ainda fico perplexa com algumas situações. Enquanto eu e Geo fechamos nossos armários e seguimos em direção ao pátio, notamos uma movimentação estranha.
— O que será isso, dessa vez?
— Não sei, talvez sejam os novos alunos. — Respondo, indiferente, enquanto leio o último parágrafo do meu livro.
— Você deve ser vidente, pois ali estão duas alunas novas. — Ela comenta.
Fecho o livro com um marcador e decido olhar discretamente na direção em que ela aponta.
Algumas meninas próximas a nós pareciam fofocar, expressando decepção por não serem dois garotos, mas, ao menos, as novas alunas eram atraentes.
Eu e Geo reviramos os olhos ao ouvirmos aquele comentário; esse pessoal vive em busca de atenção.
Havia tanta gente pedindo fotos e tentando se exibir para as meninas que elas pareciam desconfortáveis, olhando ao redor em busca de um lugar para se esconder.
Então, meu olhar se encontrou com de uma das meninas, uma loira que sorriu para mim. Imediatamente, estendi a mão, e ela puxou a outra que estava com ela na nossa direção. Elas se aproximaram e perguntaram se poderiam se sentar. Eu e Geo concordamos sem hesitar.
— Odeio quando me tratam como uma "celebridade". — A loira fez aspas com as mãos e expressou tédio ao dizer isso.
Sorrindo, respondi:
— Aqui, a maioria só vai se aproximar de vocês com algum interesse.
— Por que ninguém veio atrás da gente? — Perguntou a outra menina, curiosa.
— Porque sabem que eu e Paloma expelimos todos à velocidade da luz. — Geo respondeu, orgulhosa.
— Adorei vocês! — A menina curiosa sorriu.
— A propósito, meu nome é Isabela e essa menina aqui do lado, se chama Rebeka. — Isabela disse, apontando para Rebeka.
— Meu nome é Rebeka, com K. Se alguém errar, eu corto a língua. — Ela falou de maneira divertida, e Isabela a repreendeu, fazendo com que eu e Geo ríssemos. Isabela era loira, de pele clara, com cabelo médio e ondulado, maquiagem básica e olhos azul-claro, e estava com brincos prateados e batom rosa claro que realçava seu tom de pele.
Rebeka, por outro lado, aparentava ser mais simples que sua amiga. Buscava conforto, sem se preocupar com extravagâncias. Tinha pele morena, cabelo levemente ondulado e usava uma touca cinza, brincos de argola dourados e estava sem maquiagem.
Depois de muita conversa, nos tornamos amigas e nosso duo rapidamente se transformou em um lindo quarteto.
Rebeka comentou que a primeira impressão é a que fica, e que ela geralmente não se engana. Fiquei lisonjeada.
**Flashback Off:**
Depois do almoço, decidi tirar uma soneca e acordei apenas com o som do alarme, tempo necessário para me preparar. No entanto, isso não fez diferença, pois acabei chegando atrasada. Peguei meu celular e enviei uma mensagem ao grupo.
— Meninas, já decidiram qual look vão usar na festa? — perguntei.
— Olha, não sei qual look usar, mas se a pergunta for se vou beijar a Mencía, a resposta é sim! — Rebeka respondeu. Rolei os olhos enquanto lia.
— Vou usar um vestido vermelho com salto preto. — disse Geo.
— Gente, eu vou com um conjunto preto maravilhoso e meu incrível coturno. — Escreveu Rebeka.
Vamos arrasar, meninas! Às 19h30, Geo vai passar aqui para me buscar. Elas visualizaram minha mensagem e saio do WhatsApp para me arrumar.
Fui ao banheiro, abri uma playlist da Lana Del Rey enquanto tomava banho, tentando cantar meu verso favorito. Acabou que até esqueci que meu inglês não era dos melhores!
Depois do banho, abri meu guarda-roupa, indecisa sobre o que vestir, mas optei por um vestido preto básico e um coturno. Quando já estava quase pronta, coloquei brincos de argola e passei um batom vermelho, na medida certa entre o forte e o fraco. Parei de me admirar no espelho ao ouvir uma buzina.
— Vamos, Paloma! Já são 20h20, estamos te esperando! — disse Geo, referindo-se a ela e Beka.
Na festa...
— Meninas, comportem-se e divirtam-se moderadamente, ok? — avisei, enquanto Geo e Beka estavam ao meu lado na pequena fila para entrarmos.
— Pode deixar, irmã! — elas disseram em coro.
Quando chegamos à entrada, um segurança apontou para um lugar com uma placa que dizia: "Beba um shot ou pague 50 reais".
Patrick sempre arranja uma maneira de extorquir dinheiro das pessoas. Com minhas amigas, fui até a moça responsável pelos shots, que oferecia várias opções; escolhemos vodka com energético. Mas, para minha surpresa, o energético era só para dar cor; era pura vodka.
Depois, a moça sorriu para nós quatro e nos conduziu a uma porta vermelha ao lado dela.
A festa estava incrivelmente decorada e cheia de gente. Cumprimentei meus amigos, mas, como todos estavam acompanhados, decidi ir buscar algo para beber, já que era open bar.
— Opa, quero um energético com vodka e uma gin tônica! — pedi ao bartender.
— Aqui está! — Ele me entregou dois copo e outro copo para uma garota muito bonita.
— Obrigada! — disse ela, sorrindo encantadoramente. Acabei encarando-a um pouco mais do que o devido.
— Oi? — Ela se virou para mim e sorriu, um pouco alterada.
Olhei ao redor, percebendo que éramos as únicas sozinhas ali. Apontando, conferi se ela estava falando comigo e ela assentiu com a cabeça.
— Meu Deus, estava tão na cara que eu estava te encarando? — perguntei, envergonhada.
— Relaxa! Já estava na hora de eu fazer isso. Você é linda, com todo respeito. — Ela sorriu novamente, enquanto sentava em uma cadeira próxima a mim.
Ri e decidi me apresentar. Sempre imaginei que a história começava assim em livros românticos. Tentei não parecer estranha ou excessivamente emocionada, então tomei um gole da minha bebida.
— Meu nome é Paloma, prazer! — disse, sorrindo sem mostrar os dentes.
— Paloma, que nome lindo! Meu nome é Samantha, prazer! — respondeu, retribuindo o sorriso.
— Já que nos apresentamos, quer dançar? — ofereceu, levantando-se e estendendo a mão para mim.
Samantha exibia uma segurança admirável e tinha um charme único. Usava um vestido médio roxo com um decote em V, que realçava suas curvas. Ela tinha pele clara, olhos verdes e uma franja que lhe caía perfeitamente.
— Claro! Vamos agora! — disse, dando uma rápida golada da bebida.
...........................
Enquanto dançava com Samantha, sentia a música alta, a visão de pessoas se beijando, meus amigos embriagados e as luzes coloridas. Beka estava se declarando para Mencía; parecia que estavam se divertindo sem levar nada a serio. Notei também Geo conversando de costas com um menino, feliz ao ver que todos estavam aproveitando.
*Começa "Gangsta" - Kehlani.*
— Essa é minha música favorita! — comentou Samantha, empolgada enquanto dançava.
— A minha também! — respondi, entusiasmada, me aproximando de Samantha para falar em meio ao barulho.
Paloma e Samantha dançavam em perfeita harmonia; parecia que a embriaguez não as afetava.
"Um pouco 'altinhas', como dizem os jovens hoje."
Dançamos por alguns minutos, e depois eu já estava experimentando as bebidas que Samantha sugeria.
Até que meu cabelo caiu sobre meus olhos e gentilmente,Samantha arruma meu cabelo para o lado e sussurrar em meu ouvido.
— Ei, gata, quer ser minha gangster esta noite? — Ela me encarou, como se tivesse o poder de ler meus pensamentos.
Fiquei sem saber se era a piada sem graça ou sua beleza que me encantava.
— Com certeza! — disse, dando a permissão que faltava.
Samantha, satisfeita, me beijou intensamente e, em seguida, nossas línguas se encontraram em perfeita harmonia. A segurei pela cintura, como se nossos corpos pudessem se fundir, mas, por falta de ar, acabamos nos soltando.
— Uau! Você beija muito bem! — afirmou Samantha com um sorriso gentil.
Naquele instante, parecia que a luz do lugar iluminava ainda mais seu rosto. Eu fiquei hipnotizada.
— Você também! — continuei dançando com ela.
Tentei manter a calma, pois era meu primeiro beijo depois de velha. Sempre fui bem tímida, Gente! Nunca consegui beijar direito sóbria, imagine bêbada.
Então, alguém se aproximou, puxando delicadamente o braço de Samantha, que não compreendeu de imediato. Antes que pudesse se expressar, a pessoa disse:
— Samantha, estava te procurando. Precisamos ir agora. — O desconhecido falou em um tom sereno.
— Espera mais um pouco, Diego! — Ela começou a dançar novamente, ignorando o que ele disse.
— Samantha, precisamos ir agora! — Ele insistiu, fazendo uma careta. Parecia haver uma comunicação em sinais, e ela assentiu.
— O que está acontecendo? — perguntei, confusa.
— Preciso ir, gata! — deu um beijo na minha bochecha e saiu com o rapaz.
Fiquei paralisada, tentando compreender o que aconteceu, perguntando a mim mesma se ele era o namorado dela. Ela saiu às pressas, e decidi olhar as horas; ainda não eram nem 3 da manhã.
Esse dia parecia estranho porque eu exagerei na dose de bebida, beijei uma desconhecida e depois ela foi embora às pressas. Me senti igual ao príncipe quando a Cinderela foi embora, só que, ao invés de a minha Cinderela ir embora à meia-noite, ela só foi às 1:50. Ai, meu Deus! Eu estou fazendo referência a filmes. Porra, eu tô muito bêbada! Penso rindo sozinha da minha própria piada.
Samantha tinha aquele ar de ser a famosa "inimiga do fim".
— Ah, dane-se! — pensei. — Vou encontrar minhas amigas, para ver se ainda estão vivas.
— Oi, putas! Como vocês estão? — perguntei, levemente alterada.
Confundi Mencía com Geo, que fez uma careta ao ouvir a palavra "puta", mas pareceu levar na brincadeira.
Não tinha muita intimidade com Mencía, mas Beka tinha bastante. Ela me contou que tiveram um rolo na escola anterior, mas não deu certo; mesmo assim, ainda nutria sentimentos por Mencía. Eu achava Mencía legal; parecia ser uma boa pessoa.
— Nossa, Paloma! Para quem não costumava beber, você caprichou na dose! — Mencía disse, rindo enquanto parecia estranha.
Notei uma certa euforia que achei que fosse pela bebida, mas a boca dela estava um pouco seca e ela estava rindo bastante enquanto olhava para a Beka. Elas pareciam estar se comunicando com uma linguagem que só elas entendem.
— Espera aí! Vocês duas estão chapadas? — disse, confusa. Então elas se entreolharam.
— Merda! Como você descobriu, Sherlock? — riu Mencía.
Olhando para a esquerda, percebi que estavam dando doces e algumas outras coisas; meu estômago roncou imediatamente.
Quando olhei de volta para elas, vi que estavam se beijando, e isso foi meu sinal de retirada.
Peguei algo para comer e, com a mão esquerda, mexi no celular, enquanto com a direita segurava um espetinho.
Foi então que percebi Isa se aproximando e perguntando o que eu estava fazendo ali. Antes que pudesse responder, ela me puxou para a pista de dança.
— Amiga, vem! — Isabela puxou-me para dançar.
Dançamos com energia; Isabela me ensinou alguns passos e continuamos até nos cansarmos. Então, escutei meu celular tocar, quase deixando-o cair. Peguei-o e abri os olhos para ver quem ligava. Era Geo.
— Paloma, vamos para casa. A festa está quase acabando. — disse ela, um pouco embriagada também.
— Claro! Também já estou perdendo a capacidade de ficar em pé. Vou chamar Isa e Beka.
— Vou dirigir, porque sou a menos bêbada! — disse Isa, percebendo meu estado e ouvindo a voz de Geo.
Nunca fui adepta de festas e bebia apenas em poucas quantidades, mas senti que nunca mais voltaria a fase do ensino médio e que talvez não tivesse mais chances de viver as experiências da adolescência. Às vezes, sentia que precisava parar de ser tão rabugenta e deixar a vida fluir, mas com moderação, é claro.
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