【 PRÓLOGO 】
𓏲 . METANOIA . .៹♡
PRÓLOGO
─── MARCADO
— MAIA, ESTOU COM MEDO.
Maia olhou para o irmão, que a encarava com um olhar quase suplicante.
É assim que as coisas sempre foram. Fora da casa, Draco era o forte, o osso duro de roer, aquele que sempre tinha um sorriso malicioso no rosto e um brilho zombeteiro nos olhos; e a Maia ficou com o papel secundário, ela mal falava, só balançava a cabeça na maioria das vezes e era a moça educada. No entanto, dentro dessas quatro paredes, as coisas mudaram. O menino estava assustado, obediente e complacente, e era Maia quem carregava o papel forte e maduro.
Maia parou de olhar para Draco. Ele soltou a respiração que estava segurando, resignado. Ele sabia que, embora Maia tivesse sido sua protetora por toda a vida, não havia nada que ela pudesse fazer por ele desta vez.
— Não há nada a temer, Draco. Graças a você, estaremos seguros. Mãe, pai, você e eu. — a loira murmurou. Com um movimento de pulso ela arrumou a gravata do irmão. — Você é muito corajoso. Não há nada para se preocupar, Draco. Eu prometo que ficaremos bem.
Draco não se sentiu corajoso. Na verdade, ele sentia tudo menos isso: qual era o sentido de ser corajoso desta vez, se ele realmente não tinha outra escolha? Ele estava sendo um covarde por não ser contra isso. Por não ter repudiado todos aqueles pensamentos quando ainda podia fazê-lo. Fechou os olhos e se deixou levar pela situação: era tarde demais. Ele tinha dezesseis anos, mas não tinha o poder de tomar as decisões em suas mãos.
Sua irmã engoliu em seco sem que ele percebesse. O menino não entendia por que Maia estava tão composta e ele estava tão atordoado. Desde crianças ele admirava aquele aspecto de sua irmã, sempre tão calmo, a sangue frio. Ele não tinha sido capaz de cumprir as decisões que seu pai tomou por ele, e agora ele enfrentava as consequências. Ele se deixou levar por seus sentimentos, não como Maia, e foram esses sentimentos que o fizeram estremecer naquele momento.
Nenhum deles disse mais nada. Tanto um quanto o outro sabiam que não havia palavras para consertar aquela situação, então permaneceram em silêncio pelo que pareceram horas. Draco olhou para Maia enquanto ela estava tricotando um pedaço de pano. Era uma tarefa que, desde o início, pertencia aos elfos de sua mansão, mas Narcissa a considerava algo que toda jovem deveria aprender. Maia terminou o trabalho e entregou aquele bordado ao irmão.
Era um pequeno pedaço de pano verde. No centro, prateado, um D maiúsculo. Draco olhou para ela brevemente, e então colocou o bordado no bolso do paletó. Maia pegou a mão do irmão e a acariciou. A mão de Draco estava fria, e ela podia senti-la tremendo um pouco. Ela entrelaçou os dedos com os dele e sentiu a dureza da pele dele contra a sua, fina e suave.
— Eu te amo, Draco. Aconteça o que acontecer, eu estarei com você. Eu vou lutar ao seu lado. Você é meu irmão, e estou orgulhosa de você. — Maia murmurou. Seu irmão olhou para ela com carinho; eles nunca disseram essas coisas, então quando aconteceu, ambos sabiam que era real. — Nada é sua culpa. Não é sua culpa que nascemos em uma família de covardes.
O loiro estremeceu com as palavras de sua irmã. Seu eu de 11 anos a teria repreendido que isso era uma mentira, ele teria perguntado por que ela falava sobre seus pais assim. Mas o Draco de dezesseis anos não estava mais cego pelas mentiras. Ele havia aprendido há muito tempo a realidade. Draco apenas assentiu com as palavras de Maia, que ainda estava acariciando sua mão.
Um barulho na porta fez os dois se virarem. Narcissa Malfoy se permitiu vislumbrar e observou a cena com a tristeza de que nenhuma mãe deveria sofrer.
— Está na hora, Draco. Ele está aqui. — o jovem Malfoy estremeceu novamente, desta vez mais visivelmente. No entanto, algo em sua cabeça o fez parar. Ele não podia mostrar todo o medo que tinha, ou tudo poderia dar errado. Ele colocou seus olhos cinzas em sua irmã e depois em sua mãe. Ambas sabiam da preocupação de Draco, entretanto, Lucius havia desconsiderado completamente o medo de seu filho. Ele só queria que o nome Malfoy fosse tão importante quanto há algum tempo atrás, e ele arriscaria tudo por isso, até mesmo seu filho.
Todo o amor e admiração que Draco Malfoy sentia por seu pai havia desaparecido quando ele entendeu que ele era apenas mais uma peça em seu jogo, tão importante quanto um mero peão poderia ser. Se Draco continuasse com aquela farsa era para proteger sua irmã e sua mãe, as pessoas que realmente o amavam e o protegeriam com sua vida. E ele estava disposto a fazer o mesmo por elas.
Então ele se levantou da cadeira, tirou as mãos das da irmã e assentiu. Ironicamente, era a ocasião perfeita para mostrar a quem sua lealdade realmente pertencia.
Narcissa beijou a têmpora do filho e sussurrou: — Vai dar tudo certo. — o menino deu um último olhar para sua irmã, que assentiu. Ela se levantou, pronta para seguir seu irmão. Narcissa fechou a porta do quarto atrás deles, e eles encontraram todos os elfos domésticos da mansão reunidos ali com suas cabeças baixas, como se estivessem prontos para obedecer. Maia entendeu que Voldemort estava esperando por eles lá embaixo.
Foi assim. Maia apertou o maxilar ao ver aquilo na sala de sua casa. Ele carregava a varinha em suas mãos e um sorriso largo, mas perturbador. Ao seu lado, todos os seus capangas também baixavam a cabeça, e Maia não entendia que isso era uma tradição quando alguém ia se juntar às suas fileiras, para se tornar um Comensal da Morte.
Bellatrix Lestrange sorriu quando viu seu sobrinho se aproximando do Lorde das Trevas.
— Ele é meu sobrinho Draco, meu Senhor. Tenho certeza que você vai se lembrar dele.
— Oh, sim, querida Bellatrix. Claro que eu me lembro de Draco. Você é bem-vindo entre os meus. Eu aprecio seus pensamentos e seu desejo de se tornar um de nós.
De longe, Narcissa e Maia observavam a cena. Narcissa só queria que seu filho estivesse seguro, e Maia ficou horrorizada com aquela cena. As duas mulheres observaram Draco erguer a manga de sua jaqueta. A ponta da varinha de Lord Voldemort atingiu a pele pálida e cheia de veias. Por favor não, ambos pensaram.
Soltaram um gemido imperceptível quando a varinha penetrou na pele do menino e ele tentou abafar um grito. Os Comensais da Morte ao redor deles já haviam levantado a cabeça e permaneciam impassíveis. Bellatrix estava bem ao lado do Lorde das Trevas, que concentrou seus esforços em marcar Draco. Ela sorriu largamente e olhou para o sobrinho com alegria. O que para ela era uma honra, para ele era a pior experiência de sua vida.
— Ele está machucando ele. — Maia sussurrou. Seu rosto mostrava indiferença, mas seu coração explodiu com a imagem.
— É parte do processo, Maia. Draco vai ficar bem, não se preocupe. — sua mãe respondeu no mesmo tom de voz. Ela tremeu suavemente, e Maia ficou feliz.
— Você é tão culpada disso quanto o papai. Eu sei que tipo de homem ele é, mas eu não entendo você. Draco é uma criança, ele está com medo, e você o força a arriscar sua vida dessa maneira.
— Nós não temos escolha, Maia! Você sabe. Tudo foi escrito desde que você nasceu. Você teve sorte de não ser um menino, ou estaria na mesma posição que seu irmão agora.
— Eu teria muita sorte se não tivesse nascido nesta família. Você diz que se importa conosco, mas não faz nada para nos proteger. Não sei o que ele quer fazer comigo, mas se ele não me marcou como Draco, é porque ele tem algo em mente. Se algo acontecer com Draco ou comigo por causa disso, espero que não te deixe dormir. Se agora eu não vou sair daqui com meu irmão, é porque, apesar de tudo, somos uma família.
Narcissa olhou preocupada para a filha. Seus olhos cinzas inquisitivos a encaravam acusadoramente, e Narcissa estremeceu. Ela sabia que sua filha estava certa, o que ela não sabia é quando sua pequena Maia abriu os olhos e descobriu o que realmente estava acontecendo ao seu redor. Às vezes, Narcissa ainda via sua garotinha loira de tranças, com olhos quentes e um sorriso no rosto. Em outros, como aquele, ela só via uma jovem, impassível, impenetrável e forte. Seus olhos cinzas não eram mais quentes, eles eram inexpressivos. Seu rosto era pálido e magro, com feições pontiagudas. Ela era alta e esbelta, não havia vestígio da menina gordinha que tanto carinho havia dado.
Maia saiu da sala assim que o processo de Draco terminou.
As coisas iam mudar naquele ano.
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