Vinícius Miller:

Descemos para a cozinha e encontramos os outros ali, nos observando, inclusive o rapaz da assistência social.

— Como ele está? — perguntou Celina, com preocupação na voz.

Calvin apertou ainda mais nossos dedos entrelaçados, e meu coração disparou, como se soubesse que a resposta poderia mudar tudo.

— Está dormindo. Parece que a cantiga que você cantava para mim quando eu era criança, pai, funcionou com ele — disse Calvin, e notei que Bianca olhava para nossas mãos entrelaçadas. — Ele deve estar cansado de tudo o que aconteceu hoje.

— Você devia ter conversado com ele, calmamente — comentou o assistente social, antes de estender a mão em minha direção. — Já me esqueci de me apresentar, sou Michael Gutierrez.

— Não, não foi culpa sua — disse o senhor Jones docemente, e Michael ficou um pouco envergonhado, assim como o próprio senhor Jones, que se recuperou após alguns segundos. — Nós esquecemos da relação deles e achamos que tudo ficaria bem se fizéssemos desse jeito.

Anastácia olhou para Isaac e Celina, e os três sorriram de lado. Eu não entendi nada.

— Vou preparar algo para ele comer — disse Calvin, indo em direção à cozinha. Fui atrás, afinal, ele ainda estava com minha mão entrelaçada na dele, e isso me deixava completamente acelerado, como se fosse ter um ataque.

Se recomponha, Vinicius!

Murmurei para mim mesmo, no mesmo momento em que uma voz soou atrás de nós.

— Vai fazer alguma coisa com a mão do Vinicius entrelaçada com a sua? — perguntou Isaac, cruzando os braços. — Não vai atrapalhar um pouquinho?

Calvin se deu conta e, meio contrariado, soltou minha mão, o que me fez sentir uma pontada de saudade do seu toque contra minha pele.

— Vini, por que não ajuda ele? — sugeriu Bianca, cutucando Angel.

— Sim, poder ajudar a preparar a comida para o Jonathan — concordou Angel.

Olhei para os dois e assenti, percebendo que tinham notado minha saudade do toque de Calvin.

— Sim, eu vou ajudá-lo. Afinal, como ele vai estar ocupado, não vou poder começar meu trabalho — falei, me aproximando de Calvin. — Vamos começar.

Isaac ia dizer algo, mas Anastácia e Celina deram socos em seus ombros, enquanto Angel tampava a boca do meu irmão, que ficou irritado por alguns segundos.

Calvin confirmou com um aceno de cabeça, parecendo um pouco feliz. Um sorriso surgiu em seus lábios, e me senti feliz ao ver isso.

— O que ele gosta de comer? — perguntei, olhando para Michael.

— Ele come de tudo. O único problema é com amendoim — respondeu Michael. — Ele é bastante alérgico, então nada que contenha amendoim na receita.

— Que tal um sanduíche e um copo de suco de maracujá? — sugeriu Celina. — Todos que conheço dizem que é uma boa refeição para dar a alguém depois de acordar.

— Boa ideia, Celina — concordou Calvin, quase encostando seu corpo no meu. — Vih e eu preparamos tudo sozinhos.

Todos no recinto olharam atentamente para ele.

— Podem ficar aqui — continuou Calvin, e Anastácia e Celina iam retrucar.

— Sim, vamos sair daqui — disse o senhor Jones, virando a cadeira para o lado oposto da cozinha. — Vamos, pessoal!

Todos foram saindo, e Isaac ia abrir a boca para falar algo, mas Anastácia o puxou para a direção oposta. Ficamos apenas eu e Calvin, a caminho da cozinha, e depois no espaço da mesma.

— Vamos começar — falei, mas não olhei para ele. Por alguma razão, fiquei tímido ao me ver sozinho com ele em um espaço enorme. — Temos que ser rápidos, pode pegar os ingredientes para mim

Ele foi até a geladeira enquanto eu me dirigi ao balcão da pia, esperando ele trazer os ingredientes. Não sabia qual sanduíche ele queria fazer, afinal, há várias maneiras de se preparar um.

Respirei fundo, tentando entender por que estava ficando tímido só por estar sozinho em um espaço com Calvin. Ele era meu chefe, mas conseguia mexer demais comigo. Depois de passar o fim de semana pensando nele, ainda tinha que lidar com o Axel perguntando sobre o "tio bonitão e legal".

— Aqui estão os ingredientes — disse Calvin, colocando-os no balcão. Seus olhos encontraram os meus, e por um momento, senti uma conexão mais profunda.

— Ótimo, vamos começar — respondi, tentando esconder meu nervosismo.

Começamos a preparar o sanduíche, nossos movimentos se sincronizando de forma natural, quase como se tivéssemos feito isso mil vezes antes. Cada vez que nossos olhares se cruzavam, sentia meu coração acelerar um pouco mais.

Então, reparei que estávamos fazendo um queijo quente.

— Estou surpreso que quis fazer um queijo quente — falei, soltando um risinho. — Você não para de me surpreender.

Calvin me observou por alguns segundos antes de rir também.

— Sei que é algo simples, mas quando eu ficava nervoso, igual o Jonathan, minha mãe fazia um queijo quente maravilhoso com suco de maracujá que me acalmava completamente. Sei que vai ajudar ele — disse Calvin, com os olhos brilhando ao falar sobre a mãe carinhosa. — Era incrível como ela colocava um pedaço de queijo que eu amava, pão de forma, tomate, orégano, prensava, e depois uma mistura de ketchup e maionese. O suco era delicioso, tão docinho.

— Você sabe como se faz? — perguntei, e ele assentiu. — Mãos à obra, pois notei que só eu estou fazendo o trabalho de cozinhar.

— Eu sei fazer, mas quando cozinho, é uma coisa horrível — confidenciou Calvin, parecendo envergonhado. — Tentei melhorar, mas não consigo. É uma das minhas limitações.

— Não fique assim — falei, dando um tapinha no ombro dele. — Você está com alguém que tem amigos cozinheiros e me ensinaram a melhorar minha culinária! Vou te ensinar a fazer uma comida que ninguém vai achar horrível.

— Quero ver — disse Calvin, divertido. — Pode começar a ensinar a cozinhar!

— É um desafio? — perguntei. — Pois se for, eu aceito! Vamos lá!

Fui explicando enquanto cortava o tomate em rodelas, pegava o pote de orégano e preparava a máquina prensadora. Nem precisei fazer o suco, pois já tinha na geladeira. Peguei o ketchup e a maionese para fazer a mistura.

Depois de alguns minutos, já tínhamos dois sanduíches de queijo quente em um prato e um copo de suco de maracujá.

— Experimente para ver se ficou bom — disse Calvin. — Seja sincero.

Peguei um sanduíche, levei à boca, mordi, mastiguei e engoli.

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Calvin Jones:

Olhei ansiosamente para a expressão de Vih após ele morder um dos sanduíches que fizemos e engolir. Fiquei encarando-o, esperando pela sua opinião, notando o quanto ele era incrivelmente belo em todos os seus detalhes.

— Está incrível — respondeu ele, sorrindo para mim. — Você realmente trouxe a receita da sua mãe à vida.

— Ficou realmente bom? — perguntei. — Pode ser sincero de verdade, posso aguentar.

— Bem, eu pensei que não tem como errar nada em um sanduíche de queijo quente — disse Vih, colocando o sanduíche de lado. — E você, de alguma maneira, conseguiu deixar com um gosto doce e amargo.

— Sério? — perguntei, pegando o sanduíche que ele tinha colocado de lado. Realmente estava com um gostinho de doce e amargo!

— Como eu consegui fazer isso? — perguntei, completamente confuso.

— Também quero saber — falou Vih, rindo. Devo admitir que gostei da risada dele.

Quando ele ri, forma um sorriso lindo com covinhas, e me peguei entrando em um transe com aquele sorriso.

— Bem, pelo menos temos um sanduíche único — disse Vih, ainda rindo. — Talvez devêssemos tentar de novo.

— Concordo — respondi, tentando não me perder no encanto do sorriso dele. — Vamos fazer outro.

Enquanto preparávamos outro sanduíche, nossos movimentos se sincronizavam novamente, e a sensação de estar ao lado dele se tornava cada vez mais confortável. A presença de Vih transformava o simples ato de cozinhar em algo especial, quase mágico.

Realmente estou amando ele de verdade, só quero que ele me deixe entrar no coração dele.

— Do que vocês estão rindo? — ouvi a voz de Anastácia e Celina. — Fizeram o sanduíche?

Saí do transe da risada e do sorriso do Vih e olhei na direção da porta da cozinha, onde vi Celina e Anastácia.

— Sim, o Calvin que fez — respondeu Vih, virando-se para elas. A expressão das duas mudou. — Está muito gostoso.

— Não está não — retrucou Anastácia. — Se eu fosse chutar, diria que está amargo ou agridoce.

— Qual dos dois? — perguntou Celina, se aproximando.

— Com ambos os jeitos — disse Vih. — Mas dá para comer, pelo menos.

— Como você conseguiu fazer isso com um sanduíche de queijo quente? — perguntou Anastácia. — É algo tão simples de fazer. Onde você adicionou o ingrediente para mudar a receita?

— Nem eu sei como consegui — falei, mordendo outro pedaço. — Pelo menos não queimou como das outras vezes!

— É um avanço, então! — disse Anastácia, soltando uma risada. — E o suco ficou como?

— Ficou como suco de maracujá — respondi, enquanto elas olhavam para o suco. — É o que tinha na geladeira.

— Até um suco ele consegue estragar? — perguntou Vih, curioso.

— Sim, às vezes o suco que ele faz, de alguma maneira, fica salgado ou com cores estranhas — explicou Celina, pegando o celular do bolso e mostrando uma foto para Vih. — Esse foi o último suco que ele tentou fazer.

Na foto, um copo com um líquido gosmento.

— Era suco de quê? — perguntou Vih, me encarando.

— Era pra ser suco de manga — respondi, e Vih riu.

— Pelo menos conseguimos usar como produto de limpeza — disse Anastácia. — Calvin, nunca cozinhe novamente.

Vih não aguentou e começou a rir, e novamente me peguei em um transe com sua risada e sorriso com covinhas.

Anastácia me cutucou.

— Limpa a baba da boca — sussurrou ela, e fiquei envergonhado.

— Desculpe, é que... — tentei me explicar, mas o riso de Vih era contagiante e hipnotizante para mim.

— Não precisa se desculpar em ser ruim na cozinha — disse Vih, ainda rindo. — Acho que é melhor eu te ajudar a evitar mais desastres na cozinha.

Senti meu rosto esquentar, mas a ideia de passar mais tempo com ele na cozinha parecia um convite irresistível.

— Concordo — disse, tentando não demonstrar o quanto estava feliz. — Vamos fazer isso juntos.

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Gostaram?

Até a próxima 😘