Capítulo Quarenta e Três
Vinícius Miller:
Escutei a porta abrir novamente e, ao olhar na direção do som, vi Jonathan com sua habitual expressão emburrada.
— Já viu o que ele tinha? — perguntou Jonathan.
— Já vi, Jonathan. E também consigo ver o quanto você estava preocupado — respondeu Calvin, com um tom sarcástico. — Dá para notar toda a preocupação nos seus olhos.
— Nossa, estão se consolando nos braços um do outro — retrucou Jonathan. — Ainda não entendo por que me trouxe aqui. Prefiro ficar em casa.
— Talvez porque você é meu filho, o Vinícius é meu namorado e o Axel também é meu filho — disse Calvin, soltando-me e sentando na cama. — Vocês são importantes para mim, são minha família. Eu me preocupo com você, assim como com os outros.
— Penso que não é bem assim — disse Jonathan, cético. — Continuem se amando. Em breve, vão me mandar para o orfanato mesmo, ou meu irmão sairá da cadeia e virá nos buscar, a mim e ao Igor, para que voltemos àquela vida.
— Ele não vai voltar tão cedo. Vai ficar preso por um bom tempo, até que vocês dois se tornem adultos — respondeu Calvin. — Aceite que você tem uma família que te ama e se preocupa com você.
— Ninguém nunca é confiável. Minha família anterior prometeu me proteger e nunca fez isso! — gritou Jonathan, exasperado. — A única pessoa em quem posso confiar é o Igor. As outras pessoas neste mundo não se importam com pessoas como eu.
Jonathan saiu do quarto apressado, e Calvin foi atrás dele, chamando seu nome.
Eu sei que Jonathan é um adolescente fechado, carregando traumas profundos em relação aos adultos e a qualquer pessoa em geral. Sua confiança foi quebrada diversas vezes.
Calvin quer que Jonathan confie nele, mas isso não tem sido fácil. Todas as vezes que estamos na mansão, Calvin tenta falar com ele, mas não consegue. Jonathan sempre se afasta ou se tranca no quarto.
Calvin não sabe o que fazer, já que está mais acostumado a lidar com crianças pequenas. Posso dizer que Bobby e Alberto são muito mais calmos em comparação com o desafio que Calvin enfrenta com Jonathan.
Jonathan está quase na adolescência, e pelo que sei, adolescentes não costumam falar muito ou socializar com suas famílias, apenas com amigos em quem acreditam confiar verdadeiramente.
Talvez exista uma maneira de fazer Jonathan confiar em nós. Não posso esperar que seja como foi comigo, já que nossos traumas são bem diferentes.
Levantei-me da cama e fui atrás de um caderno de desenhos velho que tenho em casa. Encontrei-o, peguei alguns lápis e comecei a elaborar meu plano.
****************
Saí do quarto, encontrando Carlos prestes a ir embora. Sem que eu perguntasse, ele já indicou que Calvin e Jonathan estavam na cozinha, junto com Axel.
Cheguei à cozinha, onde o clima tenso entre Jonathan e Calvin era palpável, enquanto Axel brincava no colo do pai.
— Já que vocês dois vão ficar com esses bicos — falei, jogando o caderno na mesa. Todos me olharam curiosos. — Vou ser o responsável por construir a relação de vocês.
— Como se isso fosse dar certo — Calvin disse, desanimado. — Ele não suporta ninguém. Já tentei de tudo para fazer ele confiar em mim, mas nada funciona.
— Não suporto pessoas mentirosas. Então por que continua insistindo em ter algum contato comigo? — retrucou Jonathan.
— Para que serve o caderno, papai? — perguntou Axel baixinho enquanto o tirava do colo de Calvin. — Vamos desenhar?
— Não, são para esses dois pegarem duas folhas e desenharem o que estão sentindo. Sempre funciona com a gente — expliquei, com Axel assentindo. Os outros dois me olharam surpresos. — Apenas façam isso de uma vez!
Fui para a sala, encontrando um Carlos risonho à minha espera.
— Você sabe que nem todo mundo tem os mesmos métodos que você para se abrir. Pode funcionar com o Axel, que é seu filho... — disse Carlos, mordendo a língua. — Isso não vai dar certo.
— Claro que vai. Em breve, veremos uma relação linda de pai e filho — falei, e Axel me olhou curioso.
— Ele vai ser meu irmão? — perguntou Axel.
— Sim, vamos ser uma família bem feliz — respondi decidido. — E você terá um irmão mais velho.
Meu filho bateu palmas.
— Quero muito um irmãozão — gritou Axel, empolgado.
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Ficamos na sala vendo um filme com Carlos e os outros, mas estranhei que o clima na cozinha não parecia prestes a explodir. Levantei para ver o que estava acontecendo e me surpreendi ao ver que nem Calvin nem Jonathan haviam tocado no caderno ou nos lápis.
— Não vão fazer nada? — perguntei, irritado. Nenhum dos dois respondeu. — Parem de ser crianças!
Ainda sem resposta, comecei a ficar frustrado. Quando ia falar de novo, ouvi a voz de Carlos atrás de mim.
— Posso falar algo? — disse ele, aproximando-se. — Talvez eu saiba como resolver essa situação.
Carlos se sentou à frente deles, mas o clima na cozinha ficou ainda mais pesado. Ele cruzou as mãos e começou a falar.
— Calvin, explique por que você quer proteger o Jonathan — disse Carlos calmamente. — Faça com que ele entenda.
— Sou o pai dele, mas parece que não prestei atenção o suficiente. Tenho muito a descobrir sobre o que Jonathan quer — começou Calvin. — Não vou dizer que não fico frustrado com as coisas que o Jonathan faz na escola.
— Ou seja, sou uma pessoa horrível! — interrompeu Jonathan rispidamente.
— Deixa ele terminar — disse Carlos, surpreendentemente calmo.
— Sei dos problemas que ele tem na escola, dos alunos que estavam provocando ele. Só pararam porque chamei os pais deles e conversei. Nunca aceitaria que alguém que me importa fosse humilhado — continuou Calvin, enquanto Jonathan abaixava a cabeça. — Sei que ele tem problemas como qualquer ser humano, que deseja resolver tudo sozinho. Isso nunca é bom. Me arrependo muito de nunca ter contado alguns dos meus problemas aos meus pais durante a minha adolescência. Jonathan, só peço que me deixe cuidar de você de agora em diante, que me permita protegê-lo, para que você cresça bem e feliz, sem os traumas do seu passado. Todos sofrem na vida, mas desde que me tornei pai em dose dupla, não sei como agir ou o que fazer quando você está sofrendo. Não quero que me afaste, então, por favor, me deixe fazer isso. Pais são aqueles que devem cuidar dos filhos e estar sempre lá por eles. Eu estarei ao seu lado.
As palavras de Calvin me emocionaram. Sei como é ter problemas e sofrer por eles sem contar a ninguém, especialmente para aqueles que deveriam me proteger e cuidar de mim.
— Jonathan, sua vez — disse Carlos. — Diga o que pensa, fale o que está guardado dentro de você.
— Minha família tinha um lema: confiar em outras pessoas era como ingerir veneno. Pode remover todas as nossas fraquezas, mas ainda coloca a vida em risco. Tudo que fizeram comigo e com o Igor foi para nos proteger deste mundo, onde só existe dor — começou Jonathan, de cabeça baixa. — Se realmente formos membros daquela família, "um membro da família Dumont, que derruba os outros para não ser derrubado", seria melhor perceber isso antes que alguém te traia. Meu irmão não queria seguir esse lema. Dizia que até na nossa família tinha pessoas venenosas. Eu confiava nele a todo custo. Me perguntei quando iria entender? Ele me enganou, planejou a morte dos nossos pais, me batia junto com o Igor e me fez ver que só poderia confiar no meu primo.
— Jonathan... — Calvin estava sem palavras.
— Eu conheço essa sensação — disse, aproximando-me de Jonathan. — Houve um tempo em que não conseguia confiar em ninguém. Mas quanto mais tentamos afastar pessoas que querem nosso bem, mais negamos a ajuda que estão nos oferecendo. Pode ter se sentido sem forças para confiar em muitas pessoas no passado, mas posso dizer que poderá confiar naqueles que estarão ao seu lado a partir de agora. Não precisa se preocupar, não estará sozinho. Agora você tem uma família que o ama muito e lhe dará carinho. Crescerá sendo completamente feliz.
Jonathan não disse nada, mas assentiu. Sabíamos que o caminho à frente seria longo, com seu medo de confiar nas pessoas.
Mas vamos dar um passo de cada vez.
Jonathan assentiu, mas a tensão ainda pairava no ar. Todos sabíamos que construir essa confiança levaria tempo. Calvin deu um passo à frente, tentando quebrar o gelo.
— Jonathan, eu sei que você passou por coisas difíceis, coisas que nenhum garoto deveria enfrentar. Eu não posso apagar o passado, mas posso prometer estar aqui para você, todos os dias, de agora em diante.
Jonathan levantou a cabeça, encontrando o olhar de Calvin pela primeira vez com menos desconfiança.
— Você sempre diz isso, mas e se você mudar de ideia? E se, no final, eu acabar sozinho de novo? — Jonathan perguntou, a voz tremendo levemente.
Calvin respirou fundo, aproximando-se mais um pouco.
— Entendo seu medo, Jonathan. Mas eu estou disposto a provar a você, todos os dias, que você pode confiar em mim. Não é só falar, é agir. Vou estar aqui nos momentos bons e ruins, porque é isso que uma família faz.
Axel, ainda no colo de Calvin, olhou para Jonathan com um sorriso encorajador.
— Vamos ser uma família de verdade, Jonathan. Você vai ver! — disse Axel, inocentemente otimista.
Jonathan olhou para Axel e, por um breve momento, seu semblante suavizou. Havia uma faísca de esperança em seus olhos, algo que não víamos há muito tempo.
— Talvez... talvez eu possa tentar — Jonathan disse, hesitante. — Mas não prometo nada.
— Ninguém está pedindo promessas, apenas um esforço — respondeu Calvin, com um sorriso sincero. — Vamos dar um passo de cada vez, juntos.
Carlos, que observava tudo de perto, sorriu e assentiu em aprovação.
— Isso é um bom começo, pessoal. A confiança não se constrói do dia para a noite, mas vocês estão no caminho certo.
Levantei-me e fui até a cozinha, pegando o caderno e os lápis que estavam abandonados na mesa.
— Que tal começarmos com algo simples? — sugeri, entregando uma folha para cada um. — Vamos desenhar algo que nos faça sentir felizes. Pode ser qualquer coisa.
Jonathan olhou para a folha em suas mãos, pensativo, e depois para Calvin e Axel, que já estavam com seus lápis prontos.
— Ok, eu vou tentar — disse Jonathan, finalmente pegando um lápis.
Sentamos todos à mesa, e por um momento, o clima pesado começou a se dissipar. Cada um de nós se concentrou em desenhar, e aos poucos, os sorrisos começaram a aparecer.
Enquanto desenhávamos, percebi que aquele era apenas o início de uma longa jornada. Mas, com paciência, amor e compreensão, acreditava que poderíamos superar qualquer obstáculo. Afinal, estávamos juntos nisso.
Calvin, Jonathan, Axel e eu. Uma família, pronta para enfrentar o futuro.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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