Capítulo Dezessete
Vinicius Miller:
Dias depois...
— Parece que as roupas que vocês estão desenhando iriam arrasar em um desfile de moda. — Carlos disse, pegando meu caderno de design e o de Angel.
Vários dias se passaram desde que começamos a trabalhar na mansão dos Jones, e como forma de comemoração, decidi expressar minha alegria com todos. Nossas risadas e diversão preenchiam a sala de jantar.
Axel ficou encantado ao me ver desenhando nos finais de semana, resultando em roupas desenhadas para meu adorável filho e meus queridos sobrinhos.
Angel aproveitou a oportunidade e fez o mesmo, criando peças ainda mais encantadoras uma após a outra.
Carlos, com um sorriso natural, folheou os papéis das roupas, soltando palavras de elogio.
— Deixa eu ver, papai. — Axel pediu, fazendo um biquinho, e o tio passou os papéis para ele. — Quero ser um coelhinho.
Ele apontou para a folha que mostrava uma fantasia de coelho e até começou a pular no lugar.
— Axel, você vai ficar uma fofura vestindo uma fantasia de coelho. — Angel disse enquanto Max e Verônica vieram correndo para a sala, seguidos por Patrick, que imitava um dragão.
— Fica longe, senhor dragão. — Verônica disse, escondendo-se atrás de Carlos. — Meu papai vai me proteger.
— Eu vou te defender, prima. — Max falou, abraçando a cintura de Patrick. — Você não vai mais se mover.
Patrick fez uma cara como se fosse rir. As crianças gostavam de ler vários livros durante as horas da soneca ou que comprássemos diversos livros infantis, e é por isso que ele estava entusiasmado com as oportunidades de recriar as cenas de algumas das suas histórias fantásticas.
— Oh, bravo herói. — Patrick disse, imitando as palavras. — Você nunca vai me vencer.
— Eu vou derrotar o temível dragão. — Max falou, abraçando ainda mais as pernas de Patrick.
— Não, meu papai que vai me salvar do temível. — Verônica disse, escondendo-se ainda mais atrás de Carlos.
— Não, eu que vou salvar vocês. — Axel disse, entrando no meio dos primos com os bracinhos para cima.
Isso era engraçado de se ver, pois até poucas semanas atrás, eles nem tinham aprendido a comer de forma limpa. Até então, nunca haviam tocado na capa de um livro antes do meu terceiro desfile de moda. Esse evento passou de maneira semelhante à minha infância, com a única diferença de que eu permito que meu filho brinque com o que quiser, em vez de gritar com ele o tempo todo.
Antes, as crianças preferiam brincar a ler e vestiam-se com as melhores fantasias que podiam sonhar. Isso também acontecia porque era tudo o que sabiam fazer, mas, ao aprenderem a ler e serem autorizados a ler alguns livros, suas mentes se expandiram, criando o desejo diário de se envolverem em brincadeiras de faz de conta.
Quando eu era muito jovem e vivia com pais ignorantes, recordo-me de como tropeçava em alguns dos livros que outras crianças gostavam e os memorizava, mesmo diante do meu estado de cansaço. No entanto, meus pais nunca ligaram para isso e só desejavam me controlar.
Eu só podia receber elogios quando estava fora de nossa casa, tendo que sufocar minha imaginação. Era natural que outras crianças, capazes de recitar suas próprias histórias como ninguém, fossem mais elogiadas do que eu, que recriava histórias mecanicamente, ao contrário dos livros que havia lido escondido.
Essa diferença entre a forma como eu era criado e como agora permito que meu filho e sobrinhos cresçam é notável. A liberdade de explorar a imaginação deles, seja por meio de fantasias ou da leitura de livros, é algo que valorizo profundamente.
Ao longo das semanas, observei as crianças passarem de meros brincadores a verdadeiros contadores de histórias imaginativas. Essa transformação aqueceu meu coração, pois sabia que estavam descobrindo um mundo novo e emocionante.
Recordo-me de como, na minha própria infância, tropeçava em livros que outras crianças gostavam e os memorizava mesmo em meio ao cansaço. No entanto, meus pais ignoravam esse interesse e buscavam apenas controlar minhas ações. A diferença de abordagem é evidente na forma como agora incentivo ativamente a curiosidade literária das crianças.
Na minha casa, antes, receber elogios era algo que só acontecia quando estava longe dela. Minha imaginação era suprimida, e eu me via recriando histórias de maneira mecânica, em contraste com os livros que lia escondido.
Hoje, testemunho o oposto para meu filho e sobrinhos. Eles não apenas absorvem histórias, mas também as recriam com uma criatividade surpreendente. Isso não só os enche de alegria, mas também alimenta minha própria esperança de que eles cresçam valorizando a liberdade de expressão e a riqueza da imaginação.
— Vini, no que está pensando? — Carlos perguntou, balançando meu ombro. — Está no mundo da lua de novo?
Percebi que as crianças e Patrick haviam saído da cozinha; agora, as risadas vinham da sala.
— Está pensando no Calvin? — Carlos provocou, rindo.
Balancei a cabeça rapidamente, sentindo minhas bochechas esquentarem. Percebi que Carlos teve que resistir a rolar no chão de tanto rir por causa da minha timidez.
— Seja sincero, você está ignorando as ligações que ele faz nos finais de semana para conversar contigo. Por que está com medo de sofrer como aconteceu na adolescência? — Carlos falou. — Isso é completamente oposto ao passado. Ele gosta de você de verdade, e posso dizer com a mesma intensidade que você está sentindo. — Carlos continuou, olhando-me com uma expressão de compreensão.
— Vini, você não precisa carregar o peso do passado para sempre. As pessoas mudam, e parece que o Calvin realmente gosta de você. Ignorar as ligações dele pode ser interpretado de forma diferente do que você imagina.
Senti meu coração acelerar diante das palavras de Carlos. Era difícil deixar para trás as cicatrizes emocionais do passado, especialmente aquelas ligadas à adolescência, quando as experiências amorosas eram mais intensas e, muitas vezes, dolorosas.
— Mas e se eu me machucar novamente? — murmurei, expressando minha preocupação.
Carlos sorriu, colocando a mão em meu ombro.
— A vida é cheia de riscos, Vini. Às vezes, para encontrar a felicidade, precisamos arriscar. O Calvin parece disposto a fazer isso por você. Não deixe que o medo do passado atrapalhe o presente.
— Angel, você concorda com ele? — perguntei, revirando os olhos e observando o rosto de Angel. Ele estava olhando para nós com a boca firmemente fechada, como se estivesse com medo de dar sua opinião. — Seja sincero, não precisa esconder sua opinião sobre esse assunto que o Carlos trouxe.
— Antes disso, lembra que o Axel quer ver o "pai" dele, ele entrou na brincadeira disso — Carlos falou. — E até agora, você não sabe o que dizer e não tem ideia do que fazer depois de todos os últimos dias com o trabalho, e ainda mais com o Axel perguntando quando você e o tio bonitão vão sair juntos.
Senti-me desconfortável com o rumo que a conversa estava tomando, um assunto trazido à tona por Carlos. Sorri sem jeito apenas ao pensar nisso, mas meu coração apertou.
— Até o Patrick está andando lentamente, com a relação dele com a do Arthur. — Carlos continuou. — Mesmo que o assunto de paternidade tenha entrado no meio das conversas deles, ambos se entenderam perfeitamente... quero dizer, do jeito que as personalidades deles são, é meio complicado de se dizer.
— Eu não sei se posso me permitir fazer isso e se algo ruim acontecer. — Falei, me defendendo. — Agora, tenho que pensar em como o Axel está sofrendo. Ele é só uma criança, logo vai esquecer esse assunto.
Mesmo assim, minhas palavras não diminuíram a tensão no ambiente, pois sabia que Carlos estava certo em apontar essas questões. Ele encorajou que voltássemos a nossas atividades enquanto se levantava da cadeira, segurando os papéis para começarmos a preparar o jantar.
Peguei minha bolsa, guardei meus desenhos e os coloquei debaixo da mesa. A refeição daquele dia não foi muito satisfatória para mim, afinal, minha mente estava longe, pensando nas palavras de Carlos.
****************
Me deitei cedo, perdido em meus pensamentos, relembrando uma das primeiras coisas que fiz após começar a trabalhar para os Jones e o que Calvin fez no dia em que vi Wesley: tentar descobrir que tipo de família eram os Jones.
Pesquisei e descobri que, no início, Alan Jones era de origem humilde e não tinha boas maneiras até estar prestes a se formar na faculdade. Devido às experiências e aprendizados da última década de sua vida, ele tentou adotar gestos elegantes sempre que possível. No entanto, seu aprimoramento só aconteceu quando conheceu sua esposa, Freya, uma mulher incrível e batalhadora. Segundo Anastácia e o sobrinho dela, Freya era uma mulher que impunha ordem por onde passava.
— Você teria gostado dela. — Anastácia falou no mesmo dia. — Ela seria a primeira a discutir com Calvin se ele fizesse alguma bobagem. Daria um puxão de orelha no filho que poderiam ouvir do outro lado da cidade.
— Ou até duas cidades daqui. — Bobby falou rindo, e o irmão concordou.
— A tia Freya era uma mulher incrível e colocava qualquer pessoa no devido lugar. — Alberto disse. — Uma vez, um garoto tentou me intimidar, e a tia Freya chegou à escola e colocou o garoto no canto, assim como os pais dele, que ficaram bastante assustados com ela.
Aquilo me fez desejar ter conhecido Freya Jones, e também fez com que ela se tornasse alguém que eu gostaria de ter na minha família de verdade.
Naquela noite, deitado em minha cama, fiquei refletindo sobre como a dinâmica familiar dos Jones parecia tão distante da minha própria experiência. A determinação e a presença de Freya na vida deles eram qualidades que eu ansiava em minha própria jornada.
Percorrendo os relatos de Anastácia, Bobby e Alberto, podia imaginar o quanto Freya era respeitada e admirada. Ela não apenas impunha ordem, mas também defendia seus entes queridos e corrigia injustiças. Seus atos ressoavam na memória deles como exemplos vívidos de uma figura materna forte e carinhosa.
Ao fechar os olhos, pensei no contraste entre essa imagem inspiradora de família e o meu próprio passado tumultuado. Lembrei-me dos dias em que minha busca por reconhecimento e afeto era constantemente frustrada.
Ouvir sobre Freya Jones e sua influência positiva me fez desejar ardentemente que ela fosse parte da minha vida, uma presença constante que poderia ter preenchido os vazios emocionais da minha infância. No entanto, sabia que a realidade era diferente, e minha jornada estava moldada por escolhas que eu não pude fazer na época.
Enquanto a noite avançava, essas reflexões permearam meus sonhos, misturando-se com a esperança de que, mesmo nas circunstâncias atuais, eu pudesse construir uma nova e calorosa conexão com a família Jones e, quem sabe, encontrar um sentido de pertencimento que sempre busquei.
Meu celular vibrou, indicando uma chamada de Calvin, e eu hesitei em atender. Neste momento, tinha muito em mente para ponderar, e ouvir a voz dele poderia complicar ainda mais as coisas. Por que tinha que me apaixonar pelo meu chefe? A pergunta ecoou em meus pensamentos, aumentando a confusão que já pairava sobre mim. Optei por ignorar a chamada, buscando um momento de tranquilidade para organizar meus sentimentos antes de enfrentar qualquer conversa com Calvin.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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