Capítulo Cinquenta e Oito
Patrick Thompson:
Quando comecei a recuperar minha consciência, abri os olhos lentamente e fui ofuscado por uma luz branca intensa, o que me fez fechá-los com força. Esperei alguns instantes antes de tentar abri-los novamente. Desta vez, meus olhos começaram a se acostumar com a claridade e percebi que estava em um quarto de hospital. Lembranças de que desmaiei na lanchonete invadiram minha mente.
Afastei esses pensamentos no momento em que levei minhas mãos à barriga. Essa criança precisa estar aqui dentro, não posso ter perdido sem nem perceber.
Minhas mãos tremiam cada vez mais enquanto as colocava sobre a barriga, e pensamentos assombrosos dominavam cada parte da minha mente.
— Ele ainda está aí dentro — ouvi uma voz dizer, trazendo-me de volta à realidade.
Olhei para o lado e vi Carlos sentado em uma cadeira ao lado da cama. Ele sorriu para mim, fazendo com que meu coração se acalmasse um pouco.
— O bebê está bem — Carlos disse novamente, devagar, como se quisesse garantir que eu entendesse suas palavras com calma.
— O que aconteceu? — perguntei, chamando sua atenção. Ele me olhou e sorriu docemente, como um irmão mais velho olhando para o irmão mais novo.
— Você desmaiou na lanchonete. Foi um susto, mas trouxeram você rapidamente para o hospital. Os médicos disseram que foi uma queda de pressão, provavelmente causada pelo estresse e cansaço — Carlos explicou, ainda com aquele sorriso tranquilizador. — Além de ter uma leve tontura e um pouco de estresse que causaram seu desmaio, não precisa se preocupar — Carlos disse calmamente. — Mas está tudo certo agora. Imagine minha surpresa ao saber que Théo Thompson trouxe você ao hospital. Isso deve ter causado seu estresse.
— Ele que me salvou de bater contra o chão? — Perguntei, curioso e ainda com uma mistura de descrença.
— Pode parecer loucura, mas foi ele que te ajudou. Ele estava bem desesperado quando chegou à recepção do hospital — Carlos disse, e eu fiquei surpreso. Ele apenas sorriu para mim. — Um médico te atendeu e disse que não era nada grave, só desmaiou pelo estresse e pelo perfume do Théo, que é agridoce. Isso me fez lembrar que, na sua gravidez do Max, foi a mesma coisa; não podia sentir esse cheiro sem passar mal.
Assenti, lembrando como ficava enjoado ou até mesmo tendo pequenos colapsos de tontura ao sentir o cheiro de qualquer perfume agridoce.
— Contou para alguém? — Perguntei, e Carlos assentiu.
— Contei para o Arthur e o Tayler, já que eles estão no hospital vendo o bebê da Emma. Além do mais, eles estavam por perto quando eu estava falando com o médico que te atendeu — Carlos disse, e olhei curioso para ele. — Arthur estava aqui no seu quarto até agora. Tayler e eu fizemos com que ele saísse para dar a notícia sobre você para Emma, que estava preocupada. Aqueles dois deixaram escapar para ela. Antes que eu esqueça, já mandei uma mensagem para os Coopers avisando do ocorrido. Eles ficaram preocupados, mas tratei de acalmá-los.
Assenti e olhei para o teto.
— Minha família é muito dramática — falei, soltando uma risada, e Carlos me acompanhou.
— Tenho que concordar, mas mudando de assunto — Carlos disse. — Patrick, o que vai fazer em relação ao Théo Thompson? Ele ainda está esperando para falar com você e só vai embora quando você mandar.
— Não sei ao certo o que deveria fazer — falei, voltando a olhar na direção de Carlos. — Sinto como se, toda vez que o vejo, algo acontece no meu coração e me sinto devastado, com várias memórias vindo à tona, como se uma inundação me afogasse. — Suspirei. — Eu sei que agora ele quer meu perdão por alguma situação que aconteceu com ele, mas não posso fazer isso.
— Quer ouvir um conselho? — Carlos perguntou.
— Se for para me ajudar a resolver tudo isso, só quero viver minha vida sem arrependimentos — falei, soltando um suspiro. — Cuidar dos meus filhos sem que alguém do meu passado tente me ferir ou a quem me importo.
— Não sei como você se sente ao ver pessoas do seu passado — Carlos disse, pegando minha mão. — Mas sei que deve seguir sem arrependimentos. Quando minha mãe era viva, sempre dizia que, quando algo ou alguém nos machuca, devemos afastar isso de nós, porque desejamos sofrer em vez de ser felizes. Se quisermos ter essa pessoa em nossas vidas um dia, deixe as coisas acontecerem naturalmente, em vez de forçar algo.
Olhei atentamente para Carlos.
— A família Thompson te magoou muito, isso ninguém pode negar — Carlos continuou. — E toda vez que o Théo se aproxima, algo acontece com você. Então, escolha afastar essas pessoas da sua vida e da sua família. Eles só trouxeram dor para seu coração e ainda mais para sua mente. Sei que o Théo nunca fez nada de mal para você diretamente, só via as provocações dos outros e não fazia nada, ignorando sua existência como ele podia.
Não respondi, mas sabia que Carlos estava certo. Era o momento de desfazer essa ponte que existia entre mim e meu passado.
— Disse que ele não iria embora até que eu falasse com ele, não é? — Perguntei.
— Sim, está lá fora querendo notícias suas — Carlos disse, se levantando. — Vou dizer para ele entrar.
Assenti e o observei sair do quarto. Instantes depois, Théo entrou.
— Como você está? — Théo perguntou com grande preocupação.
— Estou bem — respondi. — Mas preciso conversar com você. Acho melhor você parar de vir atrás de mim. Não somos parentes de sangue, nem pai e filho, nem temos qualquer outra relação.
— Entendo o que está pedindo — Théo disse. — Não tenho o direito de participar da sua vida, nunca tive. Eu não sabia como sua irmã era, nunca imaginei que ela pudesse fazer algo assim! Posso não ser seu pai biológico ou nunca ter dado o carinho que você merecia, mas jamais desejei sua morte! Quando fui ao restaurante, foi para dizer que não te desejo mal, mas...
O interrompi, levantando a mão.
— Mas você não podia ter dado carinho a uma criança que não era sua. Preferiu descontar a traição da Lorena em uma pessoa inocente que não tinha nada a ver com as escolhas de uma pessoa maluca — falei friamente, fazendo com que ele abaixasse a cabeça. — Como já disse, o passado se foi e nunca voltará. Agora eu sei que nunca fomos nada além de estranhos. Essas são as minhas palavras: somos estranhos que não precisam nunca mais se ver ou querer saber da existência um do outro.
— Não, eu... — Théo começou, mas o interrompi novamente.
— Você se arrepende pelo passado ou quer ser melhor no futuro? Agora não importa, porque eu não estou disposto a ter você na minha vida neste momento — falei, e sua expressão se tornou desolada. — Talvez um dia, mas agora não é o momento certo para mim — suspirei. — Seria mentira dizer que não existe mágoa dentro de mim em relação a você. Se você quer o meu bem, apenas se afaste de mim.
Pedi, e assim que falei, seu olhar vacilou por segundos. Sabia que era o único jeito para eu ser feliz de verdade.
Fechei rapidamente os olhos, buscando forças. Doía dizer essas palavras, mas eu não conseguia perdoar agora, não depois de tudo que aconteceu, coisas que ele poderia ter mudado anos atrás ou ter feito as víboras da família dele irem embora da cidade muito antes.
Mas ele não fez isso. Só ficou observando, na encolha, enquanto tudo se desenrolava.
— Só estou pedindo que, pela primeira vez em toda a minha vida, você me dê algo que eu quero: me deixe em paz — falei friamente, mas com a dor visível em meus olhos.
— Tudo bem — Théo disse em voz baixa. — Mas, de verdade, desejo que você fique bem. Mesmo que não seja seu pai biológico, você me dá muito orgulho da pessoa que se tornou.
Ele virou as costas para mim e saiu do quarto, fechando a porta com um leve estalo.
Soltei um suspiro profundo e fechei os olhos, sentindo-me exausto de tudo isso. Apesar da tristeza, sabia que essa foi a melhor decisão que tomei na minha vida, para finalmente buscar minha verdadeira felicidade.
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Só queria relaxar por mais tempo, mas sabia que isso não iria acontecer. Faltava pouco para Arthur entrar no quarto. Em segundos, a porta se abriu com tudo e Arthur entrou como um furacão.
— Você acordou! — ele disse, pegando minha mão. — Como está? Mesmo que o médico tenha dito que foi só um desmaio, não acreditamos. Foi coisa daquele Théo. Se eu conseguir, vou matá-lo.
Tayler passou pela porta, fechando-a atrás de si.
— O que ele queria? Te ameaçou por causa da prisão da filha dele? — Tayler perguntou, e vimos que Arthur estava prestes a explodir.
— Não, ele só quis pedir perdão pelo passado — falei, massageando as têmporas. — Agora, podem parar de fazer tempestade em um copo d'água, já resolvi esse assunto. Agora me falem do bebê da Emma e dela.
— Ela está bem, assim como a criança — Tayler disse. — Foi duro para a coitada, mas é um bebezinho lindo.
Arthur me mostrou o celular, e vi a foto de um bebê de cabelos ralos que, em vez de estar dormindo no berçário, estava acordado com enormes olhos escuros.
— Qual o nome? — Perguntei.
— Magnus — Arthur disse. — Gostei do nome. Bem que ela gosta de coisas com significado. Esse nome significa "o grande".
— Também gostei — falei, pensando. — Tenho que pensar nos nomes do meu futuro bebê.
— E dessa vez, você não vai estar sozinho — Arthur disse, beijando meus lábios com delicadeza. — Estarei ao seu lado.
— Eu sei que você estará presente desde o início, seu bobão — falei, rindo.
— Claro que eu serei o padrinho — Tayler disse, e olhamos na direção dele. — Se não fosse por mim, vocês nem estariam juntos.
— Vamos ver, senhor Tayler — Arthur e eu falamos juntos.
A risada compartilhada encheu o quarto de uma leveza que não sentia há tempos. Mesmo com todas as dificuldades e desafios, eu sabia que, com esses dois ao meu lado, poderia enfrentar qualquer coisa.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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