7. Os Escravos de Shakespeare
OS OLHOS DELA estão tristes. Erin está decepcionada e sua frustração só aumenta com a fala da Srta. Cameron.
— Já se passaram duas semanas desde que anunciamos as audições e só temos três inscritos — a professora diz, se encolhendo com os arquejos de descontentamento. — Não podemos apresentar Sonho de uma Noite de Verão com três atores.
— Mas, o material está quase pronto. O cenário, o figurino, o roteiro... — Mack Mackenna exclama ao meu lado, passando os dedos por uma mecha colorida.
Abigail Cameron sorri tristemente, e suspira antes de dizer:
— Eu sei, Mackenna. Mas, sem atores suficientes, vamos ter que cancelar.
Burburinhos enchem o auditório. Rick Miller se levanta e dá uma risada de escárnio, seus olhos se voltam para Erin, que está de cabeça baixa ao lado de Abigail.
— Isso é tudo culpa do clube de poesia — ele diz, andando até ela com uma postura que não me agrada nem um pouco. Levanto do palco. — Agradeça ao seu cunhado por isso, Erin.
— Rick, cala a boca! — digo, indo em sua direção.
Erin olha para mim. Rick também.
E quando ele está prestes a rebater...
— Você ouviu ele, não ouviu? — Mariam intervém, se pondo em frente à amiga.
Os burburinhos voltam, enquanto Rick e Mariam trocam faíscas com os olhos. Erin se retira, caminhando devagar até o camarim.
Vou atrás dela.
Minha garota favorita está escondida entre os figurinos pela metade. Os olhos fechados, o corpo inclinado contra a parede. Linda.
— Oi — sussurro, para não assustá-la.
Erin abre os olhos. Suspirando.
— Mike. — Ela tenta sorrir. — Por que está aqui?
Ignoro o pânico que ela luta para esconder e me aproximo com um passo. Seu corpo se desencosta da parede quando pego sua mão.
— Você está bem?
Ela descola os lábios. Então, os fecha de novo.
— É a minha peça favorita, sabia? Só porque é a que mais me faz rir.
Ela não está rindo agora.
Dou mais um passo, ela desvia o olhar para o chão.
— Rick tem razão. Desde que o clube de poesia voltou, o teatro perdeu muita gente. A maioria das pessoas nos clubes pensa apenas nas extracurriculares para a universidade. E, a poesia é mais fácil do que teatro.
Seus dedos se perdem nas ondas castanhas.
— Vamos dar um jeito — digo, com sinceridade. Estou disposto a qualquer coisa para não vê-la assim.
Ela ergue a cabeça.
— Como?
Mais um passo.
Ela arqueja.
Estamos dividindo o mesmo oxigênio agora.
Ela expira. Eu inspiro.
— Você confia em mim? — A tensão em seus ombros é substituída pela postura divertida que é comum nela e ela hesita em responder. Dou risada. — Ah, qual é? Agora você me ofendeu.
Um sorriso maroto nasce em seus lábios.
Me pergunto se ela consegue ouvir a melodia atrapalhada que meu coração está tocando. Ainda seguro sua mão, traçando um ziguezague no dorso.
— Aí está! — suspiro, mal controlando o calor no peito. — Adoro esse sorriso.
A diversão some de seu rosto, e suas íris brilham com algo muito mais profundo.
Ela é inexplicável. O que faz comigo é inexplicável.
Sou incapaz de explicar ou identificar como e quando isso começou, mas agora não quero que acabe.
Não quando ela ergue os olhos de mel para mim, entrelaçando nossos dedos, e se aproxima um pouco mais.
Seu perfume doce e confortável se impregna ao meu e não quero sair daqui.
Shakespeare disse: "somos escravos de nossas paixões", o que, em sua maioria, é verdade, mas nessa situação, ele errou.
Não sou escravo de Erin.
Não. Ela nem precisou me prender.
Qual o sentido de prender alguém que já se rendeu?
Estou rendido agora mesmo.
Me rendi naquele dia no parque. E estou repetindo o ritual ao tocar seu rosto devagar, traçando as linhas invisíveis que conectam cada sarda que pinta o céu em suas bochechas.
Inclino a cabeça.
Nossos narizes se tocam.
Ela fecha os olhos e...
— Hum — alguém pigarreia atrás de mim. Erin afasta o rosto, mas toco sua cintura quando ela tenta ir mais longe, impedindo-a. — Erin, a Srta. Cameron está te chamando.
É a voz de Mariam, seu tom revela que não gostou nenhum pouco do que viu.
Erin se desprende de mim e vai na direção da amiga. Sem dizer nada, ela volta ao palco.
Não me movo.
— Michael, não é? — Mariam diz, fazendo com que eu vire o corpo, devagar.
— Mike — murmuro.
Ela caminha até mim.
— Michael — a de cabelos negros rebate, o tom autoritário, assustador. — Eu quero mesmo que a Erin seja feliz, então não vou interferir no que quer que esteja acontecendo entre vocês, mas se machucá-la...
Mariam inclina o queixo em direção ao meu rosto, o dedo indicador apontado para meu nariz.
— Eu mato você, entendeu? — completa, baixinho.
Antes que eu possa responder, Erin entra no camarim, outra vez. O rosto tomado pela confusão.
— Mariam, ela disse que não... — ela interrompe a fala quando percebe o olhar ameaçador da amiga sobre mim.
— Ops! Engano meu. — Mariam se afasta de mim e, sorrindo para Erin, nos deixa a sós.
— O que aconteceu? — minha favorita pergunta, se aproximando.
Balanço a cabeça, dispensando uma resposta.
Ergo um dos cantos da boca.
— Onde estávamos?
Ela revira os olhos, mas o vermelho nas bochechas revela sua vulnerabilidade.
— Boa tentativa! Ainda me deve o melhor encontro de todos.
Meus lábios se expandem e arrisco ir mais fundo.
— Então, quando pagar minha dívida, terei a recompensa? — sussurro.
Erin não decepciona. Deixando o desconforto de lado, seu queixo se ergue e ela estreita o olhar, os lábios se esticam, só um pouquinho.
— Quem sabe?
Agora, estou apenas tentando controlar a frustração por Mariam ter aparecido. Mas, Erin tem razão. Vou fazer por merecer.
Porque não sou um escravo.
Oi, oi, mestres? Como vai o universo de vocês?
Peço perdão pela demora, mas semana passada foi bem complicada. Mas, enfim, agora tá tudo bem e no domingo vai sair mais um capítulo para compensar.
Agora, acho que já perceberam que as coisas em MdU acontecem mais rápido do que em PdN e o foco nos protagonistas é maior. O motivo é: não tenho intenções de fazer de MdU um romance, mas sim uma novela. Não quero me estender tanto como em PdN, mas prometo fazer jus à nossa menina Erin.
Enfim, é isso. Amo vocês!
Votem, comentem e compartilhem! Um beijo.
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