Mentes Quebradas

Amanda subiu a ladeira do morro, onde era sua casa. O sol escaldante queimando a nuca da mulata, que mesmo assim não perdia a pose.
Com seus saltos finos e coloridos, caminhava rebolando. Atraindo olhares para seu corpo esbelto.
Era rainha de bateria da quadra na favela. Treinava o samba, todo santo sábado, com seu brilho invejável. E ainda ralava noite e dia para na mesa não faltar comida.

Chegou em casa, portão enferrujado, chão de cimento batido e lugar mal arejado.

- Adriano! Vai comprar pão, o dinheiro tá embaixo do colchão!!!! - Gritou, enquanto prendia os longos cabelos, negros e enrolados.

O telefone tocou, era mais uma hora de trabalho. Ia na casa de cliente, subir mais morro pra fazer unha e arranjar uns trocados. Tomou banho e se embelezou. Mais outro micro vestido colado, batom vermelho de dia, sem culpa, e já estava pronta para a luta.

Amanda ouviu elogios, ganhou sorrisos e até um convite para o baile funk da próxima noite. Ficou séria e olhou para o lado, onde dois caras em um beco a observavam mal encarados.

Fez sinal para o único moto táxi estacionado, deu o endereço e subiu no veículo toda empinada. Era seu jeito, seu estilo e não importava.

"Ao inferno os que a condenavam, eles é que não prestavam para nada."

Entre buracos e subidas, mato alto se erguia. E numa casa abandonada, a mulata arfava, assustada e da moto descia. Gritando desesperada, ordenava que o moto táxi a levasse de volta. Mas da porta do barraco, caindo aos pedaços, ela percebeu que de nada adiantava. Os dois homens do beco se divertiam com seu desespero. Riam da sua cara e do seu grito, que foi sufocado. Amanda chorou, quando seu vestido preferido foi arrancado.

E toda aquela crueldade foi apagada no silêncio alto, da mata fechada.

Um mês depois, Adriano de 14 anos, olhava horrorizado, o vestido vermelho de sua mãe que foi achado. E a avó fervorosa, só repetia, que era culpa do rendado colado e do maldito rebolado, da saudosa filha.

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Oi pessoal, obg pela leitura. Espero que tenham gostado ♥.