36
— Yunjin vai acordar logo, não vai? — perguntei a Jennifer. — Não vai?
Jennifer ficou olhando para mim. — Não quero mentir para você, Chaewon, mas eu não posso garantir isso. Ela pode acordar amanhã, daqui a uma semana, ou daqui a de dez anos.
— Isso não pode ser verdade... — disse, com as palavras quase inaudíveis. Limpei uma lágrima que escorria pelo meu rosto.
O estrago já está feito.
O assassino conseguiu o que queria.
Havia duas pessoas importantes que conheciam sua identidade, ele matou uma delas e a outra estava em coma.
Tudo funcionou a favor do assassino.
— Então, o que você vai fazer, desistir? — perguntei.
— Não. É claro que não! A investigação continuará com ou sem a Yunjin. — ela colocou as mãos em meus ombros para me tranquilizar. — Tudo ficará bem. Você tem que ser forte.
— Como posso ser? — sussurrei.
Minha melhor amiga estava morta, e a mulher que eu amava havia entrado em coma, com a possibilidade de nunca mais acordar.
Achei que não conseguiria me manter forte por muito mais tempo.
Eu estava sozinha nisso, e o assassino estava lá fora.
— Posso vê-la?
Jennifer encolheu os ombros. — Chaewon, é melhor que você não faça isso.
— Eu quero fazer isso! Você não pode me impedir!
E, é claro, isso não aconteceu.
No momento seguinte, eu estava andando pelo longo corredor do hospital em direção ao quarto onde Yunjin estava.
Quando entrei no quarto e vi-a deitada com todos aqueles fios presos ao corpo, era de partir o coração e eu não conseguia suportar vê-la daquele jeito.
Fiquei ali sentada por algumas horas até que Jennifer me disse que eu tinha que ir embora.
— Mas e se o assassino vier aqui e tentar machucá-la? — perguntei.
— Temos dois seguranças do lado de fora do quarto. Um médico e uma enfermeira que fazem rondas regulares. O assassino não terá como entrar. Eu disse à equipe do hospital para não permitir visitas além de nós as duas.
Olhei para Yunjin.
Jennifer suspirou, entendendo meu dilema. — Vá para casa, Chaewon.
[...]
Ning e eu sempre conversamos sobre o que eu usaria em seu casamento como dama de honra, mas nem em meus piores pesadelos imaginei que estaria escolhendo um vestido do meu guarda-roupa para o seu funeral.
Eu me olhei no espelho.
Meu cabelo estava amarrado em um coque e meu rosto parecia cansado, com olhos vermelhos e inchados.
Como se eu me importasse.
Naquela manhã, chorei tudo o que estava guardando.
Quase desmaiei, mas Sunghoon me pegou em seus braços antes que eu caísse no chão.
Ele me abraçou com força enquanto deixava as lágrimas escorrerem.
Sunghoon não disse uma palavra para me tranquilizar, assim como não disse uma palavra quando nossos pais morreram.
Nós nos comunicamos melhor por meio do silêncio.
Estava nublado naquela manhã; o céu tinha um tom feio de cinza, como se meus sentimentos estivessem sendo transmitidos pelo clima.
Eu estava sentada no corredor central da igreja, onde reconheci algumas das enfermeiras que tinham sido amigas dela.
A maior parte da equipe do ForestVille estava aqui, incluindo a diretora, Dra. Hwang.
Vi a Dra. Uchinaga sentada no último corredor, usando um vestido preto. Seu cabelo estava bem penteado. Seus olhos estavam vazios, sem sinais de tristeza ou remorso.
Ning não era muito próxima dela, mas eu sabia que elas se davam melhor do que Aeri e eu.
De repente, seus olhos encontraram os meus por uma fração de segundo antes de me virar para a frente.
A igreja estava imersa em conversas silenciosas.
Todos estavam vestidos de preto, com rostos brancos como lençóis.
Eu odiava essa sensação.
Era como se nada estivesse certo novamente.
Por mais feliz que você fosse na vida, um dia ela chegaria ao fim.
Para algumas pessoas, isso aconteceria tragicamente cedo, para outras, mais tarde na vida.
O mais importante era viver a vida ao máximo, sem arrependimentos, e acho que Ning tinha feito exatamente isso.
Pensei nela lendo um livro, bebendo uma taça de vinho e preparando o jantar enquanto guardava um pacote de batatas fritas.
Eu ri com a ideia e, naquele momento, percebi que não era a melhor coisa a se fazer em um funeral, porque todas as cabeças se voltaram em minha direção.
— Sinto muito. — murmurei.
Vi os pais de Ning conversando com um parente distante.
Sua mãe estava especialmente perturbada, soluçando em seu lenço. Lágrimas rolaram pelo meu rosto quando me lembrei de como ela costumava brincar e me provocar com as coisas.
Tudo parecia tão irreal.
O serviço funerário foi lento.
Ning teria algo a dizer sobre seu penteado se pudesse vê-lo.
Eu disse algumas palavras em memória dela, curtas e doces, diretas ao ponto. Não consegui terminar porque ia chorar de novo.
A mãe de Ning se agarrou ao pai e soluçou com mais força.
Dei o meu último adeus a Ning, olhando para seu rosto pela última vez, pensando que ela abriria os olhos a qualquer momento.
Enquanto colocava a sua flor favorita no caixão, notei marcas de pontos em seu pescoço.
Fiquei até o momento em que todas as pessoas que estavam de luto se despediram e o caixão chegou ao chão.
Meu coração se partiu em vários pedaços ao ver a terra sendo colocada em cima do caixão.
Começou a chover.
Dei alguns passos para trás e me abriguei em uma grande árvore.
Isso não ajudou muito, pois as gotas de água continuavam encharcando minhas roupas.
Senti uma presença ao meu lado, e a chuva não estava mais caindo em mim.
— Sinto muito pelo que aconteceu com Yizhuo. — Aeri Uchinaga se aproximou até ficar repugnantemente perto, segurando o guarda-chuva sobre as nossas cabeças.
Seu perfume forte invadiu meu nariz. Ela me surpreendeu ainda mais ao estender um lenço para mim.
Fiquei olhando para ela, incrédula.
E se ela tivesse borrifado veneno no lenço para que eu morresse ao cheirá-lo?
— Bem, eu também sinto muito. — respondi, enxugando as lágrimas.
Eu não estava com vontade de falar agora, e definitivamente não com alguém como Aeri, mas eu realmente não queria fazer uma cena no funeral da minha melhor amiga.
— Há alguma razão para estar sendo tão gentil? Desculpe-me, Dra. Uchinaga, mas isso é um pouco hipócrita. A senhora não me suporta. — lembrei-a, devolvendo o lenço e dando um passo à frente.
— Bandeira branca, Kim. Começamos com o pé errado, eu disse algumas coisas horríveis que não deveria ter dito e peço desculpas por isso. — falou, dando um passo em minha direção.
Nunca pensei que veria um dia em que Aeri Uchinaga, minha inimiga mortal, me pediria desculpas.
— Quero saber, por que você foi tão má pessoa comigo?
— Você quer uma resposta honesta?
— Claro que sim.
— Eu tinha ciúmes de você. Por causa da forma como você era tão próxima de Hanni. Ela sempre falava de você e me enchia de inveja porque eu queria estar no seu lugar. Eu queria ser a favorita dela, e então você se interessou em Huh Yunjin, que ela odiava. O que fez com que vocês se afastassem...-
— E isso te deixou feliz — concluí para ela.
Aeri assentiu. — Sim, mas percebi o quanto estava errada e que não faz sentido lutar constantemente. E se eu morrer amanhã ou em alguns dias? Toda essa luta seria em vão.
— Quem é você e o que fez com Aeri Uchinaga? — provoquei, olhando de lado para a mulher.
— Temos um inimigo em comum, Chaewon.
— O que você quer dizer com isso?
— Exatamente o que eu disse. Muitas pessoas morreram, e nós podemos ser as próximas na lista do assassino.
Foi a primeira vez que concordei com Aeri.
— Eu sei disso. — respondi. — Sinceramente, eu poderia estar falando com o assassino neste momento, e você poderia estar rindo de todos nós por não suspeitarmos de você.
A expressão séria de Aeri se transformou em um sorriso diabólico. — Sinto-me muito lisonjeada por você achar que sou inteligente o suficiente para ser a assassina, mas eu poderia dizer o mesmo sobre você. Talvez a atuação dupla seja apenas sua maneira de distrair os investigadores de si. Talvez seja você quem está rindo de nós.
— E você acha que eu tentaria matar a Yunjin?
— Hipoteticamente falando, é possível que você tenha um motivo oculto. Se você for a assassina, atacar Yunjin seria simplesmente uma vantagem para você. Todo mundo sabe que você é a namoradinha dela... Ou como eles te chamam agora. Ninguém suspeitaria de você, então é uma boa fachada.
— Está falando sério? — olhei para ela com nojo.
— Eu disse que isso é hipotético. Não estou aqui para brigar. Apenas vi algo ontem à noite e achei que deveria avisá-la. — disse Aeri, ficando cada vez mais séria, o tom sensível estava lá.
— Sobre?
Aeri se inclinou. — Ontem à noite, quando terminei o turno das vinte e quatro horas, eu vi algo...
— O que você viu? — perguntei.
A curiosidade levou a melhor sobre mim.
— Lembro que alguém me disse que você viu uma marca de sapato na lama do lado de fora da casa de Ning.
— Foi quase como se alguém a tivesse matado e tivesse tentado fugir a pé. — acrescentei.
— Pois é. Mas só entendi isso depois que o assassinato foi cometido. — ela baixou ainda mais a voz. — Uma hora antes de ouvir a notícia do assassinato de Yizhuo, eu estava passando pela secção fechada do hospital e vi uma mulher com pegadas enlameadas. Ela estava lavando freneticamente a sola do sapato no banheiro feminino.
— Quem era, Aeri?
— Era... — ela olhou em volta. — Era a Dra. Hanni Pham.
— Não acredito em você. — eu disse imediatamente.
— Eu sabia que você não faria isso. Eu não acreditei, mas não é difícil ligar os pontos. Ela saiu cedo naquela noite, dando uma desculpa esfarrapada. Parecia que ela queria estar em outro lugar. — para provar sua teoria, acrescentou. — Você a viu no funeral? Ela também era próxima de Ning. Por que ela não apareceria em seu funeral se não fosse a culpada?
Era verdade.
Eu tinha visto quase todo mundo, exceto Hanni, e isso era bastante estranho.
— Você deveria falar com os detetives. — sugeri.
— Eu vou fazer isso. Só queria avisá-la. — disse Aeri. — Algumas pessoas não são o que parecem ser.
E se Aeri estivesse dizendo a verdade?
Ou seria possível que a amizade delas fosse apenas uma encenação para esconder algo mais?
Confiar na Aeri era como confiar em uma cobra para cuidar de uma dúzia de ratos bebês.
Minha cabeça começou a girar.
A ideia de que Hanni fosse a assassina era muito perturbadora.
Eu precisava falar com Jennifer.
Eu estava caminhando para o meu carro quando meu celular tocou, tirei-o do meu bolso e limpei as gotas de chuva que haviam caído sobre ele.
Uma mensagem de um número desconhecido apareceu.
Apenas quatro palavras arrepiantes.
Você é a próxima :)
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tudo trambiqueiro aqui viu
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